Entre Irmãs escrita por Cristabel Fraser, Paty Everllark


Capítulo 2
Coração em Pedaços


Notas iniciais do capítulo

Boa noite galerinha linda, segue mais um cap revisadíssimo kkkkkk, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/683570/chapter/2

POV KATNISS

Era uma manhã agitada. Havia pastas e mais pastas de processos sobre minha mesa. Fora as caixas numa das prateleiras no canto da sala. Sabia que iria me atrasar se não saísse agora. Paylor já devia estar encerrando alguma sessão com um de seus pacientes. Sem pensar muito agarrei minha bolsa e saí do meu escritório.

— Elisa, caso alguém ligue querendo marcar alguma reunião peça para vir na próxima semana, pois nesta já estou bem atarefada.

— Entendido, Katniss.

— Estou dando uma saída, mas retornarei antes do almoço. – ela assente e assim vou em direção ao elevador.

Delly Cartwright era minha sócia, nossa empresa de advocacia abrangia desde o oitavo até ao décimo segundo andar do prédio comercial. Ela era uma excelente advogada trabalhista e eu atuava mais na área de divórcios. Era meu ponto forte, eu defendia aquelas ou aqueles que foram injustiçados em um matrimônio. Nunca fui muito de expor minha vida pessoal a ninguém. Delly era uma mulher jovem e bonita e nunca fez questão de especular essa parte da minha vida, resumindo ela fazia seu trabalho em pró da empresa e eu fazia o meu.

De fato, minha terapeuta estava à minha espera e assim que me sentei no divã e recostei, ela aguardou pacientemente que eu iniciasse meu monólogo.

— Dá para imaginar o quanto minha sala está abarrotada de processos a serem resolvidos antes do verão terminar? – comecei desabafando minha agitada semana.

Ela ajeitou a armação de aro dourado em seu rosto antes de comentar:

— Que tal iniciarmos de onde paramos na última sessão?

Sacudi um pouco os ombros tentando me alongar e virei meu pescoço em direção a janela. Lá fora pude notar o quão o céu estava adornado por um magnifico azul. Sempre gostei desta cor, em parte é uma cor que me tranquiliza bastante. Um grande amigo me disse uma vez que geralmente as pessoas agitadas gostavam dessa cor, pois acalmava os nervos tencionados.

— Katniss, já faz tempo desde seu término com o Sr. Odair.

Institivamente fechei os olhos e apertei as pálpebras, com toda certeza trazer aquele assunto à tona estava fora do planejado para o dia de hoje.

— E daí? Qual o problema nisso? Naquela semana eu estava de TPM. Sempre fico chorona e sensível, aliás, a maioria das mulheres ficam.

Na semana passada eu praticamente não consegui pronunciar nada em nossa sessão, pois numa das idas ao shopping vi meu ex com sua esposa entrando em uma loja de bebês. Ah, que lindo o casal maravilha esperavam um bebê.

— Sabe muito bem que, estou aqui para te ajudar, trabalhar nos pontos que te incomodam.

— É, sério isso? – virei para o lado onde tinha uma pequena mesinha com água gelada e virei o copo de uma vez só, bebendo o líquido transparente – Paylor, não me sinto incomodada com isso.

Claro, após ter meu coração em pedaços, nada mais me incomodava.

— Ah, não? – questionou retoricamente.

— Não mais. E, quer saber? Não estou nem aí pra ele.

— Tudo bem então. E sua irmã, a quanto tempo não a vê?

— Oh, aí você foi mais fundo ainda.

— Katniss temos que trabalhar na raiz do seu problema, para assim eu poder ajuda-la.

— Raiz do meu problema? – repeti levantando-me e como se a sala de repente tivesse diminuído comecei a andar de um lado para o outro como uma leoa enjaulada.

Entendia muito bem o que ela queria e não poderia deixar que isso acontecesse.

— Vamos, Katniss quanto tempo faz que você não vê a Prim?

— Pare, pare... – de repente minhas mãos começaram a tremer – Prim, tem a vida dela e eu tenho a minha.

— Me responda uma pergunta. – ela ajeitou seu corpo na cadeira e parei para encará-la – Por que vem até mim, se não quer resolver a causa?

— Venho a você para desabafar meu estresse do dia a dia, isso não é o suficiente?

— Katniss, você está usando novamente a ironia como escudo. – disse calmamente e sei que ela prosseguiria, mas ao olhar em meu relógio de pulso vi que nossa sessão estava no fim.

— Que pena, encerramos por aqui. Assim que eu chegar ao escritório peço para minha secretária depositar o cheque. - agarrei firme a alça da minha bolsa. Paylor estava equivocada. Falar sobre minhas decisões, meu passado e os anos solitários que se seguiram não ajudaria em nada. Tudo o que eu podia fazer era carregar tudo isso, imaginando ser uma bagagem pesada, como aquelas que arrastamos por um saguão do aeroporto – Tenha um bom dia, Paylor. – acenei um tchau com a mão e saí.

Se deixasse minha mente me levar para longe – o que não ousaria fazer neste exato momento -, me lembraria de tudo: a discagem no velho telefone, a conversa de minha mãe naquele trailer, a longa viagem até aquela cidade. E, o pior de tudo, as lágrimas que havia enxugado no rosto corado da minha irmã caçula depois de dizer que estava indo embora.

(...)

Após o almoço estava sentada sozinha na longa mesa de reuniões aguardando minha cliente que se encontrava meia hora atrasada. Pensei que cobrando mais de duzentos dólares a hora incentivaria as pessoas serem pontuais.

Divaguei por um instante em minha vida altamente sucedida. Alcancei todos os objetivos que desejei. Me ingressei na universidade, era uma adolescente assustada e solitária. Sempre sonhei com uma vida melhor. E eu tinha atingido esse objetivo. Tinha minha própria firma que estava entre as mais prósperas e respeitadas da cidade.

Sobressaltei-me ao escutar a voz da minha secretária através do telefone avisando que minha irmã me aguardava na linha um.

— Pode passar. E, me avise quando Madge Hawthorne chegar.

— Sim, pode deixar que avisarei.

Pigarreei achando uma coincidência e ao mesmo tempo muito estranho, Prim me ligar. Coloquei meu melhor sorriso no rosto antes de apertar o botão do telefone.

— Prim, a que devo a honra de sua ligação? – fazia muito tempo desde a nossa última conversa.

— Sabe, vez em quando você poderia me ligar, afinal telefones existem para isso. Como vai a vida em Seattle?

— Tranquilo e em Belleville?

— Bem, você sabe tudo no mesmo lugar.

— Entendi. – levantei e sentei na beirada da minha mesa e contemplei o céu através da janela – E, como vai minha sobrinha do coração? O que achou do presente que enviei?

— Ela adorou. – Prim riu, ela contagiava a todos com este jeito dócil – Mas, Katniss, na próxima vez é melhor escolher algo menos perigoso. Meninas não têm muita coordenação para andar de skate.

— Você sempre teve. Nós morávamos no trailer na época.

De repente senti a necessidade de recolher o que disse. Era doloroso rememorar antigas lembranças com ela. Uma época em que eu cuidava dela como se fosse minha filha, algo que nossa mãe não fora capaz de ser.

— Compre um diário ou uma agenda na próxima vez. Ela ficaria feliz com qualquer lembrancinha que você desse. Sabe muito bem disso, não sabe?

Claro que sabia, Becky adorava passar algum tempo comigo, mesmo este sendo bem curto na maioria das vezes. Um silêncio se fez entre nós. Olhei mais uma vez em meu relógio.

— E, como vai o camping?

Resort. – ela me corrigiu de forma categórica - Abriremos em três semanas. Os Fuhrman farão uma reunião em família para cerca de quinze pessoas, durante duas semanas. Acredita? Duas semanas! – disse com empolgação.

— Uau, incomunicável por esse tempo? Por que será que a música-tema de My Tragery me vem à mente?

— Algumas famílias gostam de estarem juntas, Kat.— respondeu sentindo-se ofendida.

— Sinto muito, você tem razão. Sei como ama esse lugar. E, no quanto se empenha para manter tudo em ordem.

— Sim...— hesitou antes de prosseguir — Amanhã estarei indo até Chester.

— Com as amigas? – deduzi – As Five Harmony?

— Sim, isso mesmo, mas agora nem “Five” assim, já que somos em quatro agora.

Prim tinha comentado de uma amiga que havia morrido alguns anos atrás, mas não dei tanta importância ao fato, na época.

— E alugarão a mesma cabana?

— Sim, desde da época do secundário que fazemos isso.

Não passava pela minha cabeça eu tendo um encontro desses. Sempre tive poucos amigos, ou nem isso.

— Só tenho algo a declarar, curta cada momento.

— Ah, com toda certeza vamos. Lembra da Dany...

Antes que minha irmã prosseguisse, fui interrompida pela minha secretária, dizendo que minha cliente tinha chego.

— Me desculpe, Prim uma cliente chegou...

— Ah, claro. Sei o quanto está interessada em saber sobre minhas amigas que não terminaram os estudos, ou não fizeram algum curso superior.

— Não fale assim. É sério...

— Ok, até qualquer outra hora.

Sei que Prim era daquelas que se chateava no momento, mas que depois perdoava.

— Tchau e dê um abraço em Becky por mim. – desliguei o telefone quando minha cliente entrou. Saudei-a e pedi para minha secretária não passar nenhuma ligação.

Madge Hawthorne era uma bela mulher, na casa dos trinta anos. Usava um vestido de algodão, bem solto na parte da saia de estampas leves e sapatos bege. A aliança ainda se encontrava em seu anelar da mão esquerda. Bem típico, a esposa que ama não querer aceitar que tudo acabou. Olhando para ela, jamais imaginaria que o marido dirigia uma BMW prata, que sempre jogava golfe com os maiorais. Ela se matara de trabalhar numa loja de conveniência para pagar a faculdade de Fisioterapia do marido no passado.

— Boa tarde Katniss, perdoe-me pelo atraso. – sorriu sem graça – Tive que deixar as crianças na casa da minha mãe.

— Tudo bem. – indiquei a cadeira para que sentasse e ela parecia que não tinha movimento próprio. Era como se alguém a comandasse e ela obedecia. Coloquei à sua frente uma pasta contendo alguns arquivos. Expliquei a ela que como tínhamos acordados antes contratei um detetive.

— Não deu em nada, não foi?

— Eu não diria isso.

Ela me encarou por um momento estagnada, em seguida levantou-se e dirigiu-se até a janela. Todos adoravam a vista dali, pois dava para a baía do Puget Sound.

— O que ele descobriu? – perguntou com a voz nitidamente tremula.

— Ele tem mais de oitocentos mil dólares numa conta em Orlando, que está no nome dele. Recentemente retirou quase todo o valor do crédito e comprou um apartamento, mas que está em nome de outra pessoa.

Quando minha cliente conseguiu me encarar seu olhar era devastador.

— Nem tinha percebido nada de diferente. – disse com o olhar perdido.

— Pois é, eles são assim mesmo. Fazem você se apaixonar. Promete o que não conseguem cumprir e depois te apunhalam pelas costas.

— Não posso acreditar. – seus olhos brilharam pelas lágrimas.

— O pior ainda está por vir, Madge. – tentei amenizar as seguintes palavras – Ele fez negócio com o sócio e vendeu a clínica.

— Isso não faz o menor sentido. – ela parecia travar uma luta interna.

— Sinto muito.

— Não é sua culpa. – levantei-me e peguei uma água gelada para tentar acalmar a tremedeira que iniciou em suas mãos - Algo aí dentro explica o porquê de tudo isso? – disse ela apontando para as pastas e abri a primeira, com toda a calma do mundo e retirei uma fotografia.

— O nome dela é Glimmer.

— Glimmer Walker. Agora entendo o porquê sempre se oferecia para pegar Medley nas aulas de balé.

Confirmei com a cabeça. Dali em diante começamos a traçar um plano para o dia da audiência.

 (...)

Eram quase nove da noite quando tranquei meu escritório e saí. Estava quase no elevador quando meu celular tocou. Tirei-o da bolsa e atendi.

— Katniss Everdeen falando.

— Katniss? – a voz trazia nervosismo – É, Madge Hawthorne.

Imediatamente fiquei em alerta.

— O que aconteceu?

— Gale apareceu aqui, estava bêbado e enfurecido. O que está acontecendo?

— Ora, entrei em contato com o advogado dele e disse tudo o que tínhamos descoberto.

— Ele está com raiva achando que você irá afastá-lo das crianças?

— Confie em mim, dará tudo certo. Esse tipo de ameaça serve como um trunfo para conseguirmos mais dinheiro para você e as crianças.

— Acha que o conhece melhor do que eu?

— Meu trabalho é fazer o melhor por você e seus filhos. Se ele se incomodar comigo, ele que aguente. Uma hora se acalmará, afinal sempre se acalmam.

— Você não o conhece o Gale, não tão bem como o conheço. – insistiu ela.

Senti algo de errado em seu tom de voz.

— Madge, está tudo bem?

Escutei seu soluço e insisti em minha pergunta até que exclamou:

— Não! Não está nada bem, ele esbofeteou meu rosto.

— Está aí, um ponto ao nosso favor.

— O que sugere? – perguntou.

— Diremos que ele é uma ameaça a você e às crianças. – expliquei todo a legislação e ela escutou atentamente – Ele poderá perder a licença ou até ir preso.

— Mas isso não o deixará mais irritado ainda?

— Madge, pense comigo por um instante. Imagine que um dia ele se junte com a pé de valsa e as crianças estejam com ele, digamos em um momento de embriaguez. Isso não seria legal, não é?

— Acha mesmo que isso poderia acontecer?

 - Infelizmente, a situação é essa. Não desista de lutar agora.

— Tudo bem, mas o que devo fazer?

Rapidamente expliquei a ela um esquema que sempre usava em situações como esta.

— Vocês ficarão bem. Pode confiar em mim. Quando ele ver o tamanho da sua força, algo que talvez ele desconhecesse, vai recuar.

— E, quando podemos nos encontrar?

— Que tal, às 13hrs, na cafeteria próxima ao tribunal?

— Combinado.

Assim que desliguei já estava parada frente ao meu apartamento. Ao entrar conferi meu reflexo no espelho. Com 33 anos e, sem perspectiva nenhuma de construir uma família feliz, como muitos conseguiam realizar. Me imaginava sozinha e muito mais sucedida no futuro.

Estava uma linda noite. Tirei meus saltos e os joguei em um canto qualquer, deixei minha bolsa no sofá e fui até as portas de correr da sala e as abri. Minha varanda era a única no edifício sem plantas ou móveis. Me recostei ao parapeito e fiquei um tempo observando o céu e depois o restante das janelas dos vizinhos. Talvez amigos e parentes se achavam naqueles lugares iluminados, jantando, assistindo à televisão, fazendo amor ou mesmo interagindo. Não queria ficar tendo pensamentos tolos. Rapidamente tomei um banho, vesti algo mais ousado e rumei ao Athenian. Era um bar que eu costumava frequentar e fisgar alguns gatos - não os bichanos em si -, mas sim homens jovens e lindo que pudessem me fazer esquecer de tudo e me dar uma noite inteira de puro prazer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Nos vemos em breve, beijos amo vocês.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Irmãs" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.