Entre Irmãs escrita por Cristabel Fraser, Paty Everllark


Capítulo 3
Retorno


Notas iniciais do capítulo

Boa noite cheirosos, sei que demorei, mas tive uma semana apuradíssima, mas acredito que agora se normalize tudo. Aqui está um capítulo que muitos aguardam o POV do Peeta, ele é um sonho ainnnnn não me canso em dizer isso. Agradeço a todas as leitoras que vem me animando e incentivando a continuar, um super beijo a vocês e bora ler... espero de coração que gostem.



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POV PEETA

Era inevitável não olhar o horizonte e sentir que algo me incomodava. Já era estrando eu estar me adaptando a cidadezinha pacata, mas o que eu não esperava aconteceu novamente. Durante a noite sonhei com ela. Aqueles olhos castanhos, tão brilhantes quanto me lembrava. Seus lábios sorriam de um modo angelical e quando levei minha mão para tocá-la ela sumiu como fumaça. Tanto tempo convivendo com esta dor e nunca conseguia me acostumar.

O calor era intenso, estávamos apenas na segunda semana de junho. Após o almoço bebi a última Coca-Cola que os rapazes trouxeram no isopor. Trabalhávamos uma obra grande e cada um tinha uma função a cumprir.

— Ei, Mellark! – gritou Ramiro e bem sabia que eu era de poucas palavras e pelo meu olhar não esperou respostas e prosseguiu: - Gerald quer falar com você.

Suspirei cansado já imaginando o próximo sermão que levaria. Acenei com a mão que iria descer e assim fiz. A laje era alta e ao invés de me dirigir a escada principal, fui pela a da lateral da construção a qual subíamos os materiais que não eram tão pesados.

Antes de entrar no escritório improvisado - feito de madeira - retirei meu capacete de segurança e ajeitei meu cabelo suado.

— Mandou me chamar? – foi minha primeira fala nos últimos dois dias que se passou.

— Sente-se. – o homem corpulento apontou para a única cadeira de metal e fiz o que pediu – Peeta, sabe que estou gostando muito do seu trabalho, aliás você está sendo o melhor funcionário de construções que tive até hoje, pois eles só sabem me pedir adiantamento e não vejo resultado algum...

— Dinheiro não é tudo, senhor. – o cortei e ele soltou apenas um resmungo e continuou a falar.

— O que eu quero dizer é que, estou percebendo que está trabalho além da conta. – eu não o encarava, mas assim que vi o barulho da armação do óculos de grau sendo colocado na mesa levantei meu olhar. Ele apertou os dedos nos olhos fechados e tornou a abri-los antes de me encarar – Peeta, a fiscalização não brinca no ponto e sei que estão averiguando outras obras. Quero pedir para que saia daqui na hora que os outros saírem. Infelizmente não posso pagar extra a você e não é só isso. Você precisa se divertir, beber, sair com alguma garota. Olhe para os outros caras, fazem isso até além da conta.

— Eu quero apenas trabalhar, senhor. Eu bebo em casa. – todos os dias para ser mais especifico, pensei.

— Por favor, Peeta venha às 8h amanhã e quero que saia às 16h, combinado? – como não respondi ele foi mais categórico – Ou terei que tomar outras medidas.

— Como o senhor quiser. – respondi já me levantando e saindo dali.

Como o faria entender que eu descarregava toda minha angústia no serviço braçal. Quanto mais eu trabalhava, menos tempo de pensar nela tinha.

— O que foi Cavaleiro Solitário, o chefe te deu um aumento ou chutou o seu traseiro? – Pablo, um dos assentadores de blocos zombou quando me dirigia até a betoneira para verificar se tinha massa pronta para continuar meu trabalho – Falei com você. – vendo que não lhe dei ouvidos senti se aproximar de mim, mas logo Ramiro o apartou.

— Volte para seu trabalho e pare de cuidar da vida alheia.  – Pablo resmungou alguns palavrões e afastou, senti a mão de Ramiro em meu ombro – Não ligue para ele, isso é somente inveja. – como eu não disse nada ele continuou – Pode subir que já, já envio massa para continuar. – balancei a cabeça em concordância e voltei para onde estava há pouco.

(...)

Mais um dia de trabalho se passara e antes do sol se pôr tive que voltar para o pequeno cômodo que eu alugara desde que cheguei. Bem que eu gostaria de me distrair, mas como se a única coisa que conseguia era me lançar no trabalho para tentar esquece-la? Não iria passar meu tempo com mulheres, mesmo que alguns me dissessem que isso era algo normal de se fazer depois de um tempo sozinho. Mas não me sentia um viúvo como outros. Talvez alguns conseguissem se casar novamente, mas não me sentia à vontade nem passando uma noite ao lado de uma mulher que não fosse minha Daphne.

 Daphne.

Só a menção de seu nome em meu subconsciente já doía. Jamais encontraria outra mulher como ela. Com este pensamento abri a porta sem vontade alguma. Antes de entrar tirei as botinas sujas de concreto. Atravessei o pequeno cômodo e retirei as roupas sujas e suadas. Precisava de um banho gelado para aplacar o calor que sentia percorrer meu corpo. Ao olhar no pequeno espelho do minúsculo banheiro vi a barba que tapava boa parte do meu rosto. Qualquer colega da minha antiga vida acharia que a imagem refletida no espelho era um andarilho e não àquele Peeta Mellark o qual muitos admiravam e respeitavam. Por um segundo este pensamento me doeu, mas não por muito tempo, pois aquele Peeta não existe mais.

Ao terminar o banho liguei o velho rádio e me arrependi no mesmo instante. Escutar Eva Cassidy não ajudaria em nada, ainda mais sendo uma das canções que minha mulher mais adorava. Procurei outra estação e um jogo de beisebol estava passando. Fui até a velha geladeira e encontrei metade de uma pizza, peguei uma cerveja para acompanhar.

Ficar ali esperando o sono vir não ajudaria e com este pensamento calcei um tênis velho e mesmo vestindo uma regata e bermuda saí porta fora e fui correr sem rumo. Havia poucas casas na redondeza e nem me dei conta de que tinha corrido tanto quando cheguei ofegante até o outro lado do campo. Escutei alguns trovões e não demorou para que um dilúvio caísse.

Voltei correndo para casa e de nada adiantou estava encharcado. Tirei o tênis e a roupa molhada, em seguida deitei e esperei meu corpo adormecer. Demorou um pouco, mas enfim o sono chegou e como sempre ela veio junto. Geralmente os sonhos se tornavam em pesadelos em segundos e quase sempre eu acordava na madruga sussurrando um “desculpe”. E, nesta noite não fora diferente.

— Me sinto exausto. – disse eu para ela.

— Olhe o que está fazendo consigo mesmo. De nada adiantará. — devolveu com sua habitual voz suave.

— Não faço ideia o que farei a partir de agora. – continuei a falar com sua imagem quase que materializada à minha frente.

— Vá para casa.

— Não consigo... – senti minha voz embargar.

— Está partindo meu coração, Peeta.

Antes que eu sussurrasse um “sinto muito” sua imagem desaparecera como fumaça. Tapei meu rosto com as mãos e desejei que minha respiração parasse de uma vez por todas.

(...)

Passei os últimos dias sem animo algum. Chagava à obra no horário que me foi estipulado e na hora de ir embora era quase que um martírio. Acordei em uma manhã sentindo a garganta doer e um calafrio pelo meu corpo. Estava com febre, pelo menos uns 38 graus. Mal me levantei e comecei a tossir forte, sem nenhum analgésico para tomar fui até o pequeno banheiro e fiz minha higiene pessoal. Ao abrir a carteira notei que estava quebrado, era hora de partir.

Como já tinha dado o aluguel do mês. Apenas deixei um bilhete agradecendo ao Sr. Randon, informando-lhe que eu não voltaria.

Joguei meus poucos pertences dentro da mochila e caminhei até a autoestrada. Sentia minha testa arder cada vez mais e sei que sucumbiria a qualquer momento. Caminhei uns poucos quilômetros e me deparei com um posto de gasolina. Meio cambaleando fui até a loja de conveniência e comprei aspirina, logo engoli uma sentindo a garganta raspar. Restara cinco dólares para o café.

Assim que pisei do lado de fora da loja senti as primeiras gotas de chuva que logo caíram sem cerimônia alguma.

— Droga.

Eu sabia o que tinha que fazer e mesmo a chuva caindo corri até a cabine telefônica. Disquei o número e esperei até a telefonista pedir para eu aguardar na linha para ver se a outra pessoa atenderia minha chamada a cobrar.

— Quem fala?— escutei sua voz cheia de compaixão e senti o nó em minha garganta.

— Nick, sou eu...

— Peeta? — sua voz exasperou e tentei concentrar minha mente.

— Oi maninha, como está? – foi tudo o que consegui dizer.

— Oh, Deus... Peeta há quanto tempo não nos falamos? Sete meses, pelo menos. Estava preocupada com você.

— Eu sei... sinto muito, mas como está minha sobrinha?

— Está bem.

Senti que algo não estava tão bem assim.

— O que está acontecendo?

— Nada.— respondeu rapidamente, mas depois suavizou a voz – Estou com saudades do meu irmão mais velho e necessito de um abraço dele. Está retornando para casa?

E lá estava a pergunta mais difícil.

— Não sei... as pessoas ainda lembram do que aconteceu?

— Não me questionam como antes, mas isto não importa Peeta. Preciso de você... — eu não tinha certeza se conseguiria encarar tudo de novo, na verdade, não tinha certeza de nada – Volte para casa, você não pode viver assim para sempre. Por favor, Peeta...— disse em um sussurro e senti sua voz falhar.

— Não chore. – pedi sentindo dor em minha alma.

— Estou cortando cebola. – fungou – Sua sobrinha anda enjoada para comer, tenho que inventar mil e uma receitas. – meu estômago roncou, Nicole é uma ótima cozinheira tão bem quanto mamãe era.

— Faça o macarrão com almondegas da avó dela e problema resolvido. – ela riu.

— Nossa, lembrei agora que o dela era horrível.

— Melhor que o risoto de carne com abóbora. – falei, em seguida o silêncio se instalou.

— Peeta, precisa se perdoar.— com ternura, ela disse.

— Certas situações são imperdoáveis.

— Pelo menos volte para casa, então. Há pessoas boas aqui que gostam de você e sentem por tudo o que aconteceu.

— Eu sei... – respirei fundo e olhei a chuva bater com força no vidro da cabine – Não consigo mais viver nessa situação, Nick.

— Espero que esta ligação signifique algo. – como não respondi ela concluiu – Estou te aguardando. Te amo.

Coloquei o fone no gancho e cambaleei para fora daí indo em direção da cobertura do posto. Um motorista de caminhão que abastecia observou meu estado e sem muito questionamento me ofereceu carona. Sem ter muito o que falar seguimos quase que a viagem toda em silêncio a não ser pela música country no rádio. Sobressaltei-me quando Evan pisou no freio.

— Chegamos rapaz.

Abri a porta e saltei colocando meus pés - depois de anos - naquele chão.

— Muito obrigado.

— Não há de que. – respondeu simpático – Tem certeza que não quer ir em frente? Aqui não tem nada.

— Você se surpreenderia. – murmurei mirando a rua comprida.

— Está certo, boa sorte então. – então ele se foi.

Ajeitei a alça da mochila nas costas e andei alguns metros me deparando com a placa BEM VINDO A BELLEVILLE. Nada havia mudado, tudo parecia no mesmo lugar. Os estabelecimentos eram em sua maioria os mesmos: o restaurante Suzi, a floricultura Beth, o bar Monk’s, o supermercado Marvin e a cafeteria Lancaster, onde entrei e tomei um rápido café. Ao passar no caixa fui tomado por tantas lembranças, pois uma das melhores amigas de minha falecida esposa se encontrava bem à frente cumprimentando-me. Procurei ser gentil, mas resolvi retomar meu rumo ignorando os olhares sobre mim.

Como se não bastasse na rua eram os mesmos olhares. E, mesmo que eu tenha aparado um pouco a barba os conhecidos me identificavam. Escutei alguém dizendo: Não é, Peeta Mellark? Mas baixei a cabeça e ignorei. Segui meu caminho até a rua Flor de Lótus. Andei até o fim dela e passei a travessa, avistei a caixa de correspondência que agora lia-se Klein, mas há muito tempo fora Mellark. A casa era dos meus pais. Fomos criados aí e o jardim continuava impecável. Mamãe adorava mexer com a terra e até papai a ajudava a plantar algumas mudas. Eles sempre nos orientavam a cuidar bem deste lugar e com toda certeza minha irmã estava fazendo um ótimo trabalho.

Observei a casa de madeira por um tempo e notei que a pintura continuava a mesma – um amarelo puxado para o marfim -, a borda das janela e portas eram brancas como o beiral da varanda. Subi os quatro degraus de madeira e respirei fundo antes de bater à porta. Fora um esforço para estar aqui. Não sabia ao certo se era uma boa ideia regressar para um lugar onde me traz tanta dor e tanas lembranças que parecem pertencer a outra vida. O que na verdade acaba sendo.

Por um instante, não ouvi nenhum ruído no interior então bati novamente e logo escutei passos e um grito de “já vai”.

Quando a porta finalmente se abre ali estava ela parada, vestida com uma roupa larga e surrada, um sapato gasto nos pés, mal conseguindo respirar. Seu cabelo castanho claro era um ninho desgrenhado. Olhou surpresa para mim e começou a chorar. E, foi então que abri os braços.

— Peeta...


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Notas finais do capítulo

Tadinho do Peeta, oh moço sofrido, mas pera lá vamos levantar poeira e cruzar os dedinhos pra dona Kat aparecer logo rss. Próximo cap é da Prim, aguardo vocês nos comentário, beijinhos e até.