O mistério do Serval. escrita por YounieSambream


Capítulo 5
Capítulo 4




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Pata de Serval abaixou a cabeça e murmurou, sem jeito:

                  – Desculpe Presa de Falcão. Eu não tive a intenção. – Retorquiu, gaguejando. A insegurança do aprendiz fez com que o guerreiro veterano grunhisse com insatisfação.

                – Saiba que o líder não está nada satisfeito. Gatos do Clã das Sombras nunca são confiáveis – O guerreiro miou, e as palavras soaram como espinhos para Pata de Serval. O aprendiz realmente não tivera a intenção, já que fora Neve Selvagem que decidira. “Não. Ela é a representante, ela não deve ter tomado a decisão errada” Culpou-se.

                Presa de Falcão já estava longe quando um movimento chamou a atenção de Pata de Serval, vindo da toca do líder. Pena de Corvo e Estrela do Anoitecer saíam, e logo em seguida Estrela do Anoitecer pulou na pedra com um só salto. Pena de Carvão sentou-se nos pés da pedra, pelas laterais. Pata de Serval, curioso, observava a expressão gélida do felino negro.

                – Pena de Corvo ficará por um devido tempo no acampamento. Pata de Serval ficará responsável por ele. – Estrela do Anoitecer lançou um olhar para Pata de Serval. O líder estava incomodado com algo, Pata de Serval percebeu. Murmúrios de dúvida percorreram o clã, junto a sussurros de aprovação. Estrela do Anoitecer pulou da pedra e foi até a pilha de presas, indo comer algo. Os gatos começavam a se dissipar quando Pena de Corvo caminhou até Pata de Serval.

                – Obrigado, Pata de Serval. Ficarei o menor tempo possível por aqui – Suspirou o gato. Estrela do Anoitecer passou pela dupla com um camundongo na boca. De queixo erguido, ele parecia ameaçador. O aprendiz branco e cinza resolveu ignorar e voltou à atenção para Pena de Corvo.

                – De nada. Agradeça a Neve Selvagem, que o deixou ficar. – Ele estava um pouco mais calmo. – Está com fome? – Quis saber, pronto para ir caçar.

                – Claro que estou. Quanto mais caçar para mim, mais rápido irei embora. – Aquilo soou mais como uma provocação do que pedido.

O frio fazia o pêlo de Pata de Serval pinicar. Suas patas afundavam levemente na neve que caíra enquanto dormia, na noite passada. Já fazia um quarto de lua que Pena de Corvo estava no clã, e fora o tempo suficiente para a estação sem folhas chegar. Agora, precisava caçar duas vezes mais.

                – Agora seu nome faz mais sentido, Pata de Neve! – Ronronou Pata de Carvão, que foi respondido por um grunhido de Pata de Neve, que jogou neve em sua cabeça. O melhor de tudo, é que Pata de Serval podia contar com seus amigos. Pata de Serval carregava um coelho na boca, que provavelmente tinha escapado do território do Clã do Vento. Esse pensamento fez lembrar que a assembléia estava próxima. A assembléia é um tempo de paz entre os clãs, que se reúnem para falar sobre fofocas inofensivas.

                – Vocês aí, não podem me ajudar a levar essas presas? – Reclamou Pata de Serval, em alto e claro tom. Eles tinham caçado uma pequena pilha, com cinco peças.  Pata de Neve e Pata de Carvão o olharam, e o aprendiz escuro se jogou na neve fria, miando:

                – Sou mais uma presa morta. Levem-me! – O gato colocou a língua para fora, e Pata de Neve e Pata de Serval soltaram um mrriau de riso. Pata de Serval virou-se e o cutucou na cabeça.

                – É só mais um ratinho magrelo! – Brincou. Pata de Carvão o bateu no focinho com leveza, e os dois gatos começaram uma luta de brincadeira. Pata de Neve girou os olhos e carregou sua presa para o acampamento, e logo os dois aprendizes foram atrás.

                Assim que entraram no acampamento, Neve Selvagem os olhou.

                – Muito bem. Leve tudo o que caçaram para os anciões e depois peguem algo para si. – Os aprendizes concordaram com um movimento de cauda e trotaram em direção a toca dos anciões, com as caudas erguidas pelo elogio. Meia Cara dormia no fundo da toca. Orvalho e Arrepiada conversavam quando os aprendizes chegaram, e o cheiro de presa atraiu a atenção dos dois.

                – Presa fresca! – Suplicou Orvalho, olhando os gatos colocarem as presas no chão. Arrepiada assentiu com aprovação e agradeceu aos aprendizes com um movimento de cauda. A velha gata de pêlos espessos e arrepiados abocanhou um rato silvestre. Pata de Serval, Pata de Carvão e Pata de Neve saíram da toca lentamente, apenas movimentando a cauda.

                – Essa é uma época de poucos aprendizes. Nunca tivemos tão poucos assim antes. E agora, na estação sem folhas... – Pata de Serval conseguiu imaginar os olhos com lamento de Arrepiada, enquanto conversava com Orvalho. Mas era verdade. Tinham apenas três aprendizes, porém Pata de Serval ouviu dizer que os filhotes de Pele do Alvorecer estão quase prontos para se tornarem aprendizes.

                Pata de Neve se despediu dos dois e foi para a toca do curandeiro, levando antes um pombo que estava no alto da pilha, provavelmente dividiria com seu mentor.

                Logo, os dois amigos compartilhavam um camundongo gordo para a época. A neve era rasteira no acampamento, o que era bom.

                – Você não deve se esquecer de levar presas para Pena de Corvo – Lembrou ao amigo Pata de Carvão. – Ou sobrará mais trabalho para você. – O pequeno tentou ser o mais bom-humorado possível. Pata de Serval gemeu baixo, descontente.

                – Não entendo porque Estrela do Anoitecer colocou todo o trabalho para mim. – Bufou com insatisfação. Não queria desobedecê-lo, então reclamar era a única opção.

                – Com Estrela do Anoitecer não se pode discutir. – Pata de Carvão deu de ombros, os olhos âmbares mostrando consolo. Pata de Serval de súbito lembrou-se das palavras de Pena de Corvo “Eu tinha uma mentora. Quando ela morreu... Eu abandonei o clã.”. Ele era assim tão fiel a sua mentora? Com súbita curiosidade, o gato levantou-se, o que chamou a atenção de Pata de Carvão.

                 – Aonde vai? – Perguntou.

                – Vou levar alguma presa para Pena de Corvo e garantir que ele está bem. – Respondeu rapidamente, indo até a toca perto da rocha partida onde ficava o curandeiro. Não era mentira, mas também não contara tudo. Ele resolveu falar com Pata de Neve depois, pois provavelmente ela estaria com Dente Manchado.

                Sem demora, o aprendiz logo chegou até o local. Ao ouvir os passos de Pata de Serval, Pena de Corvo ergueu a cabeça, olhando-o.

                 – Olá, Pata de Serval. – Cumprimentou. O aprendiz cinza e branco percebeu que ele estava engordando, desde a primeira vez que o vira.

                – Você está precisando de algo? – Perguntou Pata de Serval.

                Pena de Corvo bocejou, dando para ver as presas amareladas do felino. Isso deve ser por causa do lixo dos duas pernas. Concluiu.

                – Um pouco de bile de camundongo me cairia bem. – Respondeu, se sentando para coçar a orelha. Pata de Serval deu um passo à frente:

                – Bom, eu posso providenciar isso, mas antes – Ele fez uma pausa, vendo os olhos de Pena de Corvo encherem de curiosidade. Continuou: – Poderia-me dizer mais sobre sua vida no clã das sombras? –

                Pena de Corvo remexeu as patas, grunhindo. Toda a curiosidade se desmanchara. – Apenas mais um filhote curioso. Ande, vá buscar minha bile de camundongo –.                                              Pata de Serval abaixou as orelhas, envergonhado, e trotou até a toca do curandeiro. Quase se chocara contra Pata de Neve, que saía.

                – Desculpe Pata de Neve – Miou o aprendiz, sentando-se. – Vim pegar um pouco de bile de camundongo. – Bufou, divertido. – Parece que Pena de Corvo está com pulgas. –

                Pata de Neve soltou um rom-rom bom humorado. – Pode pedir a Dente Manchado? Estava indo pegar um pouco de ervas para ele. – Pediu cuidadosa. Pata de Serval questionou-se subitamente por que ela abandonara a vida de aprendiz para se tornar guerreira, para ser aprendiz se curandeiro. Ela deve gostar de cuidar, e é importante ter novos curandeiros. Pensou.

                – Claro, não tem problema. – Os dois se despediram com um aceno, e Pata de Serval entrou na rocha partida. Ainda sentia o cheiro de Pluma Manchada, mas era antigo. A guerreira já estava melhor do resfriado, e agora podia treinar Pata de Carvão.

                Dente Manchado tirou os olhos das ervas que arrumava e voltou-se para Pata de Serval. O curandeiro o olhou com interesse. – Sim? –

                – Pena de Corvo precisa de um pouco de bile de camundongo. –Disse Pata de Serval.

                – Ah, sim, está bem. – Dente Manchado assentiu e voltou-se para as ervas, procurando a bile. Pata de Serval olhou para as fissuras na rocha, imaginando as batalhas já travadas.

                – Tome. Se precisar de mais, pode voltar. –

Pata de Serval se virou e viu o curandeiro empurrando o musgo encharcado de bile com a pata, e se apressou para pegar.

                Se despedindo com um aceno de cauda, o aprendiz voltou para onde estava Pena de Corvo. O gato se lambia, quando Pata de Serval voltou.

                – Ótimo. – Pata de Serval estava pronto para sair, quando Pena de Corvo miou: – Aonde pensa que vai? Trate de voltar e passar essa bile em mim. – Disse exigente. Pata de Serval bufou e se voltou para o gato, melando a pata e logo em seguida pressionando contra as pulgas.

                – Garra Prateada – Disse de repente Pena de Corvo. – O nome de minha mentora era Garra Prateada. – Pata de Serval empinou as orelhas, interessado. Se não tivesse um trabalho a fazer, teria sentado e ouvido. O gato continuou: – Ela morreu em uma estação sem folhas, enquanto atravessava o caminho do trovão. – Os olhos de Pena de Corvo nublaram-se de tristeza, e ele empurrou esses sentimentos para longe piscando os olhos, e mudou subitamente de humor. – Um filhote como você não precisa saber disso. –

                Pata de Serval mexeu os bigodes, confuso. Agora a pouco, Pena de Corvo estava de bom-humor, mas agora, estava rabugento como ele o encontrara.

                – E saia daqui antes que leve uma mordida! – Silvou, batendo nas patas do aprendiz, que saiu de lá deslizando, agradecendo ao clã das estrelas pela mudança de humor do gato.

                Pata de Serval caminhou em direção a toca dos aprendizes. Porém, um miado o chamou a atenção, e virando-se, viu que Neve Selvagem via ao seu encontro.

* * *

                 Era noite quando Pata de Serval voltou no treino com Neve Selvagem. No caminho, vira Pluma Manchada e Pata de Carvão, que se acenaram rapidamente. Agora, os dois conversavam na toca.

                – Pena de Corvo me contou que o nome de sua mentora era Garra Prateada. – Disse Pata de Serval, satisfeito por saciar sua curiosidade. Porém, Pata de Carvão não se mostrava interessado.

                – Pluma Manchada me ensinou a caçar pássaros. Aliás, ela é boa nisso. – Miou Pata de Carvão, enquanto roia um osso de um pardal que dividira com seu amigo. – Ela disse que as habilidades na caça podem ajudar em ataques surpresa. –

                Pata de Serval assentiu e bocejou, indo se enroscar no musgo. – Podemos conversar amanhã? Hoje meu treino com Neve Selvagem foi duro. – Disse o aprendiz branco e cinza, fechando os olhos lentamente. Antes de perceber, já mergulhava no sonho.

                O vento estava forte, fazendo balançar o pelo de Pata de Serval. Olhando ao redor, via apenas neve.

                Um miado estridente chamou sua atenção, e ao longe, viu duas silhuetas felinas engalfinhadas. Miados hostis viam da direção dos dois. Aproximando-se, viu que um deles era cinza com pelos longos e o outro tinha uma familiar pelagem branca e cinza.

                Pata de Serval, confuso, viu que os gatos não estavam brigando, e sim brincando. Os gritos de hostilidade se transformaram em rom-rons divertidos. Seus bigodes se estremeceram ao ver o olho esquerdo do gato familiar coberto por uma folha.

                – Pata de Serval – Um miado quente fez as orelhas do gato se remexer, e abriu os olhos. Olhando ao redor, Pata de Serval viu que estava na toca dos aprendizes. Tinha apenas sonhado, e pouco, já que ainda era noite.                                                                                                             O gato que o cutucava era Pelagem de Deserto. Acordando rapidamente, o aprendiz branco e cinza o olhou. O guerreiro avermelhado ergueu a cabeça, e apontou para fora da toca: – Os gatos estão se reunindo para a assembleia, e você vai com eles. –

 – Assembleia? – Repetiu Pata de Serval. Fazia meia lua que se tornara aprendiz, e isso era pouco para ir a uma assembleia. Porém, não recusou o pedido e se levantou, olhando os gatos em fileiras perto do túnel de tojo. Estava pronto para ir a sua primeira assembleia.


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