O mistério do Serval. escrita por YounieSambream


Capítulo 4
Capítulo 3




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— Um isolado em nosso território?! Que absurdo! – Cuspiu Pata de Carvão, arreganhando os dentes e retesando os músculos, pronto para atacar. O gato na árvore rosnou igualmente e saltou do galho. Ele era magro e fedia. Seu pêlo negro estava machucado e sujo.

                Pata de Serval sacou as garras e rosnou para o gato, chicoteando o rabo. Apesar da hostilidade, estava curioso. De onde ele veio? Provavelmente não era um gatinho de gente. O gato inimigo, apesar de tudo, tinha um brilho triste e doentio nos olhos.

                Antes de Pata de Serval falar algo, Pata de Carvão atirou-se contra o gato negro. Os dois gatos rolaram pelo chão, engalfinhados. O aprendiz cinza e branco percebeu que era hora de atacar, e arranhou as costas do isolado o quanto pôde. O gato negro pulou para trás de se agachou na vegetação, esquivando do golpe de Pata de Carvão, e foi surpreendido com o ataque de Pata de Serval, que o jogou contra a árvore e o deixou no chão, imóvel. Pata de Carvão cuspiu com desprezo.

                – Para um gato adulto, você luta como um camundongo! – Zombou o aprendiz escuro. Ele o bateu com a pata: – Levante-se! – Rosnou. De súbito, o gato atacou o pescoço de Pata de Carvão rapidamente, o prendendo contra o chão, e antes que Pata de Serval atacasse, Pata de Carvão chutou a barriga do gato, o fazendo abrir a boca, e ágil, passou por suas pernas, livrando-se. Rapidamente ele girou o corpo e bateu contra o gato, o imobilizando no chão.

                – Quem é você? O que faz aqui? Diga antes que eu o mate! – Disse furioso. Pata de Serval olhou o amigo com a boca entreaberta. Nunca vira o amigo tão furioso assim.

                – Espere! Você não pode matar ele. – Fez uma pausa, e viu os olhos frustrados do isolado por ter perdido a batalha por um aprendiz pequeno como aquele. – É contra o código dos guerrei...–  

                – Tudo bem, gatinho, deixe seu amigo acabar comigo. É melhor do que ficar sofrendo no mundo dos duas-pernas. – Grunhiu o gato esfarrapado.  Pata de Carvão se acalmava lentamente, e tirou as presas do pescoço do gato, mas ainda o prendendo contra o chão.

                Pata de Serval tocou o ombro do amigo, fazendo-o relaxar os músculos, e voltou seu olhar bicolor para o gato preto.

                – Como assim? – Perguntou com delicadeza.

                – Não direi nada até esse filhotinho me tratar com o devido respeito. – Miou rabugento e exigente. Pata de Carvão rosnou, retesando os músculos e desembainhando as garras, e foi acalmado por Pata de Serval, que o empurrou levemente de cima do gato, que se levantou. Pata de Carvão virou o rosto, insatisfeito.

                Lambendo as feridas, o gato começou:

                – Não sou ameaça para vocês. Sei que são de clãs, também sei que são aprendizes. O velho Pena de Corvo não vai machucar vocês – Ele grunhiu baixo de dor ao lamber uma ferida profunda. Pata de Serval e Pata de Carvão se olharam. – Eu era o curandeiro do Clã das Sombras. Mas resolvi abandonar o clã – Deu de ombros.

                – O que? Sabia que não prestava! Como pôde abandonar seus companheiros de clã? – Pata de Carvão se silenciou com o silvo de Pata de Serval.

                – Mas... Por quê? – Pata de Serval franziu o cenho. Abandonar a vida no clã para ir para o mundo dos duas-pernas?

                – Eu tinha uma mentora. Eu a amava bastante, por isso virei seu aprendiz. Quando ela morreu... Eu abandonei o clã. – Carvão contava com sinceridade, e percebeu que no fundo de seus olhos ele tentava esconder um brilho de tristeza. Ele fitou os dois aprendizes. – O que querem de mim agora? – Bufou. Quando Pata de Serval abriu a boca para falar, um farfalhar de folhas o interrompeu.

                – Pata de Serval? Pata de Carvão? – Os dois aprendizes se viraram surpresos, e viram a face confusa de Neve Selvagem, que vinha com a patrulha do sol alto. – O que fazem aqui? –

                – Um isolado! – Silvou Presa de Falcão, que estava ao lado da representante.

                – Estrela do Anoitecer estava certo sobre Pata de Serval – Sussurrou Cauda de Sol, um guerreiro jovem do clã, no ouvido de Pelagem de Deserto. Pata de Serval ouviu e franziu o cenho, abaixando as orelhas, confuso.

                Pena de Corvo olhou para os guerreiros e retesou os músculos, se agachando na vegetação.

                – Viemos chegar o território, como pediu. Este é Pena de Corvo. Ele era o curandeiro do Clã das Sombras – Começou Pata de Serval, mas foi interrompido por Presa de Falcão:

                – Um gato do Clã das Sombras, no nosso território? – Rosnou. O gato veterano arranhou o ar com suas garras afiadas, hostil. Pata de Carvão e Pata de Serval se encolheram, e Neve Selvagem se adiantou:

                – Sim. A época que o Clã das Sombras perdeu seus curandeiros... Foi uma época difícil para eles. – Lamentou, mas ficou novamente séria. – O que ele faz aqui? – Perguntou se dirigindo aos aprendizes.

                – Ele não é do Clã das Sombras. É agora um vadio – Explicou Pata de Serval, e Pata de Carvão bufou baixo, ainda insatisfeito com o invasor. Pata de Serval tentou silenciar Pata de Carvão disfarçadamente, com um movimento de cauda. Assim, parecia que Pata de Serval era o único culpado.

                – Mesmo assim. Não deveria estar em nosso território. Ainda estamos na época das folhas, mas a sua queda logo chegará. – Neve Selvagem estava com um semblante sério. Provavelmente, tinha sido influenciada por Presa de Falcão, concluiu Pata de Serval. Mas uma futura líder poderia ser assim? Rapidamente, afastou os pensamentos. Afinal, é bom receber conselhos.  – Expulse-o daqui. Imediatamente –

                Pata de Serval iria falar algo, mas Pena de Corvo se adiantou: – Ora, gatinho, não gaste suas palavras discutindo com sua representante. Irei embora e morrerei de fome assim que chegar a hora. – Disse. Pata de Serval e Pata de Carvão trocaram olhares confusos. Esse é o orgulhoso Pena de Carvão?

                Pata de Carvão subitamente murmurou: – Não sabia que os gatos de clã agora entregavam os outros para morrer. – Pata de Serval olhou incrédulo para Pata de Carvão. Seu amigo, agora a pouco, queria matar o isolado. Porém, agora, quer poupar sua vida? Confuso, ele olhou para Neve Selvagem. A representante tinha uma expressão pensativa. Provavelmente tinha ouvido Pata de Carvão.

                Presa de Falcão sacou as garras, impaciente, e se preparou para atacar o vadio diante dele. Porém, foi interrompido por Neve Selvagem, que miou:

                – Ele virá conosco. Até ficar forte novamente, poderá ficar lá. Mas depois – A gata fez uma pausa e olhou nos olhos nublados do gato. – Volte para a cidade ou para qualquer lugar, mas não cruze as fronteiras de nosso clã. – Pata de Serval quase pulou de alegria, mas se conteve. Logo, os gatos voltavam para o acampamento.

                Logo atrás do grupo, Pata de Carvão e Pata de Serval andavam lado a lado; Com uma enorme diferença de tamanho.

                – O que foi aquilo? – Sussurrou Pata de Serval no ouvido do amigo. Ainda estava curioso com a fala do gato. Pata de Carvão deu um sorriso lustroso.

                – Sabia que queria poupar aquele gato. – Deu de ombros, orgulhoso de si – Apenas o ajudei. – Pata de Serval mexeu os bigodes. Estava grato pelo amigo, sim. Mas também com um receio distante. Será que Pena de Corvo iria causar problemas? Como os gatos reagiriam? Percebeu que Presa de Falcão não estava nada satisfeito. Ele lembrava Pata de Carvão, afinal. Só que bem mais chato! Pensou, divertido.

Pata de Serval ficou impressionado por terem chegado tão rápido. Antes de perceber, já estavam descendo a ravina. Assim que atravessaram o túnel de tojo, viu que alguns gatos que estavam por perto olhavam com curiosidade e desconfiança para Pena de Corvo. Ele olhava para os gatos quase com provocação, desafiando-os a atacá-lo e ter as orelhas arrancadas por Neve Selvagem.

                – Falarei com Estrela do Anoitecer. – Pensou Neve Selvagem em voz alta, e logo em seguida pediu para Cauda de Sol chamá-lo. O gato atartarugado caminhou quase aos pulos até a gruta do líder. Pata de Serval se virou e viu que Dente Manchado saía da toca, indo até o grupo de gatos. Igual ao curandeiro, alguns gatos do clã se aproximavam.

                – Ei, Pata de Serval, quem é ele? – Uma voz soou atrás de Pata de Serval, e antes que ele pudesse responder á Pata de Neve, viu que agora Pena de Corvo tinha uma expressão pensativa e até mesmo incrédula. Por que ele estava assim? Não estava acostumado com a vida no clã? Pata de Serval percebeu que ele ficara desse modo assim que ouvira o nome de seu líder. Será que estava surpreso por ele ainda estar vivo? Pelo jeito, Pena de Corvo tinha muitas estações de vida.

— Pata de Serval? – Repetiu Pata de Neve, e o gato virou para ela, ainda distraído. Seu olhar bicolor ficou fixo nos olhos de cristais da tímida gata.

                – Oh, sim, ele é Pena de Corvo. Um vadio. – Explicou Pata de Serval, em tom calmo. Pata de Neve esticou as orelhas, subitamente curiosa.

                – E por que está aqui? É prisioneiro? – Pata de Neve se sentou, seu olhar voltado para Pena de Corvo. O aprendiz abriu a boca para responder, mas foi silenciado por um barulho maior; As dúvidas dos gatos.

                – De onde ele vem? –

                – Já o vi em algum lugar. –

                – É Pena de Corvo! Ex-curandeiro do Clã das Sombras! –

                O burburinho foi silenciado pelo silvo de Estrela do Anoitecer, que saía da toca ao lado de Neve Selvagem. Ao ver os gatos, Pena de Carvão abriu levemente a boca, surpreso com algo que Pata de Serval não soube o quê. Neve Selvagem foi até Pata de Serval e sentou-se ao seu lado. Ela ignorou o olhar de dúvida de Pata de Serval, que escolheu ficar calado. Onde está Pata de Carvão?

                Estrela do Anoitecer se aproximou da representante e falou alto o suficiente para Pata de Serval ouvir:

                – Conversarei com ele na toca. Cuide para que isso não vire uma confusão – Ele bufou. Desde que o gato aparecera, estava mal-humorado. Tudo estava confuso para Pata de Serval. Desde que virara aprendiz, vira como era fácil a vida de um filhote.

                Neve Selvagem assentiu e se levantou, enquanto Pena de Corvo e Estrela do Anoitecer entravam na toca. Pata de Serval não conseguiu ler sua expressão a tempo, e logo os dois gatos sumiram por trás da rocha. No mesmo tempo, Pata de Carvão apareceu aos trotes em direção a seu amigo.

                – Olá, Pata de Serval! Parece que Pena de Corvo vai permanecer no clã, não é? – Quis confirmar. Pata de Carvão estava mais feliz do que antes a pouco, e Pata de Serval viu-se intrigado. – Eu estava comendo alguma coisa, quando vi que os gatos começaram a se aproximar resolvi vir. –

                – Tomara que Pena de Corvo fique! Quero pedir a Dente Manchado para que ele seja meu paciente. – Pata de Neve ronronou atrás dos dois aprendizes. Pata de Serval virou-se para a multidão de gatos diante dele. Neve Selvagem respondia algumas dúvidas, sempre calma.

                – Ele não poderá ficar! Vai ser só mais uma boca para alimentar, e estamos perto da estação sem folhas! – Bradou Presa de Falcão, que chicoteava a cauda. Miados de concordância percorreram o clã. Neve Selvagem uivou, os silenciando.

                – Até Estrela do Anoitecer decidir, não faremos nada. – Ela disse e foi até um grupo de anciões. Pata de Serval suspirou e olhou ao redor. Os gatos começavam a se acalmar, conversando entre si. Viu também que Olho de Folha estava deitado nas bordas da clareira, enquanto conversava com Pluma Manchada, que provavelmente estava melhor do resfriado.

               – Não precisamos mais de traidores no clã, Pata de Serval. – Pata de Serval se assustou e sentiu o pêlo de sua espinha arrepiar, culpado. Cabisbaixo, ele abaixou as orelhas e tentou ignorar a voz repugnante de Presa de Falcão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leram até o final! ^^



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