O mistério do Serval. escrita por YounieSambream


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Desculpem por não terem postado um novo capítulo, é que meu computador tinha bugado ^^' Mas depois de tanto tempo percebi que não tenho muitos leitores :/ Acho que vou acabar abandonando a fic.



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Pata de Serval, no fundo, gostaria de ainda estar dormindo. Queria decifrar seus sonhos, pois sinceramente, andavam confusos. Quando filhote, lembrava que apenas sonhava com o cotidiano.                                                                                                                           Esquecendo tais coisas, ele deu um passo para fora da toca e observou os gatos perto do túnel de tojo. Com um aceno de cauda de Estrela do Anoitecer, os gatos começavam a atravessar a entrada, e Pata de Serval se apressou em segui-los. Viu, com alívio, que Pata de Carvão estava entre eles. Assim, poderia acompanhar o amigo, ambos em sua primeira assembleia. Pelagem de Deserto ficou para trás, enquanto olhava o aprendiz trotar até o grupo.

            Quando finalmente atravessou o tojo, percebeu que Pata de Carvão o esperara.

            – Vamos! – Disse simplesmente o amigo, voltando a correr. Logo, estavam junto aos gatos.

            – Como achava que vai ser? – Perguntou Pata de Serval, arfando pela corrida.

            – Não sei. Provavelmente terá algumas discussões. Ah! Os grandes guerreiros devem estar lá, como Labareda Fugaz.  – Disse um animado Pata de Carvão. Pata de Serval, curioso e interessado, miou: – Labareda Fugaz? –

            – Sim. Já ouvi falar dela. Ela virou guerreira com dez luas, de tão habilidosa que já era! – Pata de Carvão olhou para o céu, imaginando. Pata de Serval aquiesceu, indicando que entendera. Não sabia se isso era bom ou ruim, já que quebrara o ritual.

            – Labareda Fugaz pode ser uma boa guerreira, mas não merece confiança. – Os dois aprendizes foram surpreendidos pela voz grave de Olho de Folha, e se viraram. O gato estava com uma expressão séria e até mesmo pensativa. – Estrela de Hera errou em quebrar o ritual correto, nomeando-a duas luas antes do que devia. – Ele grunhiu com desprezo, enquanto mexia as orelhas.

            Pata de Carvão e Pata de Serval trocaram olhares pensativos. Subitamente Pata de Serval lembrou-se das palavras de Presa de Falcão. “Gatos do Clã das Sombras nunca são confiáveis.” O gato estaria certo? Talvez, nem todos os gatos fossem assim. Pata de Serval varreu esses pensamentos quando chegaram à árvore da coruja. Agora, estavam pertos, e antes de perceber, Estrela do Anoitecer já estava agachado, enquanto os guerreiros esperavam o sinal.

            Pata de Serval rastejou até ficar ao lado de Neve Selvagem, que observava com atenção os gatos que se reuniam ao redor da pedra do conselho. Pata de Serval imaginava quais os gatos eram dos determinados clãs.

            Pelo canto do olho, viu que Estrela do Anoitecer dando o sinal com a cauda. Os gatos se levantaram e entraram na clareira iluminada pela lua.

            Três gatos estavam sentados na rocha que brilhava ao luar, e logo Estrela do Anoitecer se juntou a eles. Pata de Serval andou até Pata de Carvão, que estavam perto de Cauda de Sol.              – Veja como Estrela de Hera está. Aposto que está tramando alguma! – Miou Pata de Carvão, em tom mais alto do que deveria. Por isso, a líder passou olhar pelos gatos ao redor.

            – Fale mais baixo! – Sibilou Pata de Serval, no ouvido do amigo. Ele voltou novamente à atenção para os líderes, curioso. Estrela do Anoitecer conversava baixo com Estrela Nevada. Estrela Nevada era um gatão branco e peludo, com o pelo levemente cinza em algumas partes, que, ao luar, brilhavam como prata. 

            – Nessa época sem folhas, o Clã do Rio estará mais forte – Miou Cauda de Sol, logo atrás deles. Os aprendizes se viraram e o olharam com interesse. – Com o rio cheio de peixes, eles não terão problema algum com presas! – O guerreiro arrepiou os pelos subitamente, e Pata de Serval viu seus bigodes estremecerem. – Ataques podem vir por aí. –

            Pata de Serval observou o felino mais uns instantes. Cauda de Sol podia ser medroso, mas ainda sim era esperto.

            Pata de Carvão estalou a língua, desconsiderando: – Que nada! Eles são fracos comparados a nós! Olhem para Estrela Nevada; Deve ter mais pelos do que músculos! –

            Pata de Carvão foi respondido por um sibilo raivoso, e quando se virou,  viu que era um guerreiro do Clã do Rio que mostrava os dentes. Pata de Carvão se encolheu, sem jeito, e Cauda de Sol o envolveu com a cauda. O guerreiro grunhiu com desprezo. – Saiba que guardarei suas palavras, gatinho – Disse com a voz sombria e logo após se misturou aos demais gatos presentes.

            Pata de Carvão soltou uma risada pequena e curta, tentando diminuir a tensão.

            – Ele quase arrancou meu rabo! Graças ao Clã das Estrelas que estamos em assembleia. – Porém, Pata de Serval olhou apenas de relance. Estava distraído olhando os líderes; Ou melhor, apenas Estrela de Teixo. Ela é uma líder jovem, Pata de Serval ouvira dizer. Pata de Serval suspirou ao perceber o que estava fazendo. Deixando esses pensamentos de lado, desviou os olhos da líder, culpado.

            Quando o aprendiz abriu a boca para falar com Pata de Carvão, ele já não estava, e Estrela de Hera uivou, indicando o inicio da Assembleia. Estrela do Anoitecer deu um passo a frente:

            – Nossos filhotes estão agora grandes e saudáveis. Dois deles já viraram aprendizes – Ele baixou o olhar para Pata de Serval e Pata de Carvão, e miados positivos vindo do Clã do Trovão s elevaram. O líder continuou: – Nosso clã agora está forte, e resistiremos do mesmo modo à estação sem folhas. – Ele dizia aquilo com um tom ameaçador, e Estrela de Hera semicerraram os olhos verdes, mantendo-se calada.

            Estrela de Hera deu um passo à frente. Ela tinha um brilho esperto no olhar, e começou:

            – Essa estação está sendo difícil para nós. – Ela dizia com lamento na voz. – Há pouca água e poucas presas em nosso território, e os filhotes estão com Tosse Branca ultimamente. Por isso – Ela fez uma pausa, e lançou um olhar para Estrela Nevada. – Pedimos que deixamos caçar em seu território, Estrela Nevada. –

            Pata de Serval sentiu o pelo arrepiar de empolgação. Ele olhou para Estrela Nevada, que estava pensativo. Uma nuvem negra passou pela lua, deixando os quatro carvalhos dominados pela escuridão. Os gatos começavam a murmurar coisas, e Asa de Coruja – curandeira do clã das sombras – olhou para o tule de prata, os olhos arregalados. Seria uma profecia para o Clã das Sombras? Ou para o Clã do Rio?

            Estrela Nevada se adiantou a dizer, no mesmo instante que a nuvem se dissipava:

            – Não, Estrela de Hera. O rio ultimamente está muito congelado, e está difícil caçar. Um de nossos guerreiros já morreu afogado tentando pegar um peixe. – Os gatos do Clã do Rio abaixaram a cabeça, com tristeza.

            – Afogado? Pensava que seus gatos sabiam nadar! – Acusou Estrela de Hera, que arrepiava os pelos. Estrela Nevada continuou calmo.

            – Sim, mas ele ficou tempo de mais embaixo d’água. O gelo impediu de sua cabeça emergir para a superfície. – Suspirou. Estrela de Hera grunhiu com insatisfação.

            – Então, não podemos evitar um... –Estrela de Hera começou ameaçadora, porém, Estrela de Teixo intervir:

            – Sabemos que os clãs passam por dificuldades ultimamente. Os coelhos resistem bem ao frio, por isso, deixo que Estrela de Hera cace em minhas zonas de caça. – Ela elevou a voz para seus guerreiros: – Por isso, se virem um gato do Clã das Sombras, não o ataquem – Por ora.  Completou.  A líder apenas balançou a cauda em agradecimento.

            Pata de Serval olhou com admiração para a bondade de Estrela de Teixo. Olhando ao redor, percebeu que alguns gatos ainda murmuravam sobre a nuvem que cobrira a lua.

            Seria uma profecia ou apenas um acaso? Ele queria saber. Com súbita curiosidade, resolveu que iria falar com Dente Manchado depois.

            Estrela Nevada indicou que a assembleia estava encerrada, por isso, os gatos começavam a voltar para os acampamentos. Pata de Serval se levantou e viu que Pata de Carvão corria até ele, meio atordoado.

            – Onde esteve? – Perguntou Pata de Serval, olhando nos olhos amarelo ouro do gato, que tremiam levemente.

            – Por ali – Gaguejou baixinho, e antes que Pata de Serval perguntasse algo, ele se juntou aos gatos de seu clã.

            Pata de Serval estava escondendo algo, e disso ele tinha certeza. Olhando o amigo atentamente, resolveu não perturbar-lo agora.

            – Estrela de Hera não deixará barato para o Clã do Rio – Ele ouviu Pele do Alvorecer murmurar para Arrepiada, que aquiesceu. Arrepiada era um dos anciões que ainda estavam dispostos para sair da toca, igualmente a Pele do Alvorecer, que não estava amamentando nenhum filhote. Ainda.

            – É verdade. Mas agora que o Clã do Vento está ajudando, ela ficará mais forte, e pode até atacar o pobre Clã do Rio. – Disse com sua voz rouca. A anciã tinha uma simpatia pelo Clã do Rio, percebeu Pata de Serval. Seria isso um problema?

            Pata de Carvão estava encolhido perto de Neve Selvagem, que cochichava com o líder. Pata de Serval apressou o passo e ficou ao lado do amigo, tocando-o no flanco com o focinho. O amigo ronronou com a presença do amigo e pressionou seu pelo com o dele, e Pata de Serval apenas acompanhou o amigo. Logo, os dois aprendizes atravessavam a floresta iluminada pela lua, rumo ao seu território.

Ao chegar ao acampamento, Estrela do Anoitecer logo pediu para que os guerreiros que tinham ficado sair em patrulha. Pelagem de Deserto, Lua de Marfim e Pluma Manchada atravessaram o túnel de tojo ás pressas, sumindo sob a luz pálida da lua através do tojo.

            Pata de Serval viu pelo canto do olho um risco branco ir até ele. Pata de Neve parou, arfando, quando estava perto do aprendiz branco e cinza. Pata de Carvão se virou e observou a gata se aproximar. Aparentemente ele estava exausto de mais para conversas, pois logo foi para a toca dos aprendizes.

            – O que aconteceu? – O olhar curioso e ao mesmo tempo tímido da gata fez Pata de Serval ronronar, divertido.

            – O Clã das Sombras está fraco agora. Estrela de Teixo vai dividir as zonas de caça. – Disse Pata de Serval com calma, se sentando para lamber a lateral do corpo. De súbito, sentiu o cheiro do Clã das Sombras; junto com o de Pata de Carvão. Seu amigo estava conversando com os guerreiros do Clã do Rio! Depois iria falar com ele, pois sentiu a curiosidade crescer. Será que ele sabia algumas fraquezas? Pata de Neve interrompeu seus pensamentos, miando:

            – Estrela de Teixo! Ouvi dizer que ela é uma jovem líder, mas sábia. É bom poupar guerras agora. – Miou Pata de Neve, refletindo. Pata de Serval apenas assentiu, concordando.

            – Bom... Vou descansar agora. A assembleia me deixou exausto – Miou Pata de Serval. Pata de Neve ficou menos animada e aquiesceu.

            – Está bem! Mas prometa que amanhã vai me contar mais coisas. – A gata pediu e bocejou, indo em direção da toca do curandeiro. Pata de Serval observou a gata caminhar na madrugada da noite. O acampamento estava quieto, e Pata de Serval se sentiu subitamente observado.

            Desconfortável, o gato se virou para a toca dos aprendizes, onde se deparou com o olhar cor de ouro de Pata de Carvão, fitando-o. O aprendiz branco e cinza suspirou e entrou na toca, enroscando-se no ninho. Queria conversar com Pata de Carvão, mas o sono dominava seus olhos, o tornando pesados. Logo, já embarcava nos sonhos.

            A neve dominava a floresta. Miados desesperados ecoavam pela vegetação rasteira, e os miados mais pareciam com guinchos de filhotes. Piscando, Pata de Serval viu com imensidão o caminho do trovão. Como um tique-taque de coração, tudo se desmanchou.

Pata de Serval acordou com um bocejo. Mexendo as orelhas, ouviu vários miados vindo do berçário. Curioso como sempre, ele empinou as orelhas e saiu da toca. Pena de Andorinha levava seus filhotes para brincar fora da toca, sob a luz do sol. A gata ronronava, observando os pequenos.

            Pata de Serval se espreguiçou, e Pena de Andorinha voltou seu olhar para ele.

            – Olá, Pata de Serval. – Miou a rainha com simpatia. – Esses filhotes estão cada vez maiores! – A gata observou seus próprios filhos. Pata de Serval mexeu os bigodes.

            – Sim. Eles devem se tornar aprendizes logo! – Miou Pata de Serval.

Um dos filhotes para Pata de Serval. Era o maior de todos, com pelos longos e alaranjados:

            – Estrela do Anoitecer fará nossa nomeação nesse sol alto! – Miou, estufando o peito. Pata de Serval balançou a cauda, mas continuou silencioso.

            – É bom ter novos aprendizes. – Pena de Andorinha miou e lambeu as costas, arrumando os pelos. Pata de Serval se levantou e foi em direção a toca do curandeiro, apenas por instinto, pensando em Pata de Neve. Despediu-se da rainha com um movimento de cauda.

            Pelo canto do olho, o aprendiz viu Pena de Corpo grunhindo baixo, e a forma lustrosa de Filhote de Ouro. O filhote miava dourado, orgulhoso, minorias para o gato maltratado. Até seus pêlos felpudos e cheios da orelha estavam arrepiados.

            – Isolados como você não deveriam estar no nosso acampamento! Você é tão inútil que precisa que cacem para você! Cocô de rato! –

            Pata de Serval não ficou parado. Ele caminhou com passos firmes até o filhote mal educado, chiando.

            – Filhote de Ouro, você deveria estar no berçário! – Reclamou, olhando firme para o filhote, que o olhou desafiadoramente.

            – Não quero! Já tenho seis luas, já vou virar um aprendiz! – Rebateu o filhote. Ele miava mais alto do que o normal. Talvez, por causa de seus tufos de pelos na orelha.

            Pata de Serval chicoteou a cauda e pegou o filhote pela nuca, que se sacudiu, contrariado.

            – Me deixe Pata de Serval! – O filhote guinchou, choramingando, e quando Pata de Serval se virou para deixá-lo no berçário, Pena de Andorinha surgiu correndo. Sem jeito, ela pegou o filhote do aprendiz.

            – Desculpe Pata de Serval. Ele acabou fugindo. – A rainha lançou um olhar de censura para Filhote de Ouro, que se encolheu. O aprendiz apenas deu de ombros. Quando os dois já estavam longe, ouviu Pena de Corvo dizer:

            – Muito bom Pata de Serval. Se não fosse você, acabaria machucando aquele filhote mimado. – Ele estalou a língua com desgosto. O aprendiz ronronou, os olhos bicolores brilhando.

            – Talvez lhe fizesse de lição. – Miou Pata de Serval, mexendo os bigodes. Pena de Corvo deu de ombros.

            – Eu preciso falar com Estrela do Anoitecer. Mas esses ossos velhos não me deixam nem me esticar direito! – Reclamou, se espreguiçando. O aprendiz notou tom de mentira na voz do felino negro, mas não retrucou.

            – Já entendi o recado. – Disse, saindo dali.  Pata de Serval não demorou muito para chegar à toca do líder, já que era perto. Um par de olhos verdes profundos o fitava, quase brilhando na escuridão da toca.

            – Sabe, se pede para entrar antes de “invadir”. – Miou friamente o líder.

            – Desculpe Estrela no Anoitecer. – Gaguejou o aprendiz, sem jeito, tropeçando nas patas enquanto recuava. O líder deu  de ombros.

            – Agora que está aqui, desembuche. – Ele grunhi, desviando o olhar frio. Passou pela cabeça do aprendiz que o líder não sentia simpatia com o aprendiz. Mas porquê? Suspirando, continuou:

            – Pena de Corvo precisa falar com você. Ele me pediu para chamá-lo. – Disse rapidamente, lambendo os pêlos arrepiados.

            Estrela do Anoitecer se pôs de pé: – Diga que estou indo. Agora! – Ele silva. Pata de Serval não hesita e sai da toca quase correndo, aos tropeços. Pena de Corvo o esperava com paciência.

            – Ele está a caminho. – Disse simplesmente. Pena de Corvo respondeu um “está bem” e Pata de Serval rumou, finalmente, em direção a toca do curandeiro.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem desse ^^



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