Apenas mais uma de amor escrita por PostModernGirl


Capítulo 4
Eu a amo


Notas iniciais do capítulo

L e Chiara se encontrarão novamente e há muito que eles querem saber em relação um ao outro.
Esse capítulo tem alguns diálogos inspirados no filme Antes que Termine o Dia.



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Chegou a hora marcada para o Sr. Yagami e L se dirigirem ao endereço que estava escrito no cartão deixado por Chiara na noite anterior. Watari abriu a porta de trás do carro para L entrar, mas foi o Sr. Yagami quem assumiu o volante. Sem se preocupar em pôr o cinto de segurança, L agachou-se no banco no lado contrário ao motorista e encostou o polegar na boca como se costume. Ele não dormira aquela noite. Apesar de sempre dormir pouco, ele sentia falta de umas poucas horas de sono para descansar a mente. Mas naquela noite, não haveria possibilidade de descansar. Ele não poderia se permitir descansar com tantos eventos acontecendo ao mesmo tempo. Misa Amane estava sendo torturada há dois dias e nada falou. Ele não gostava de ter que expor uma jovem moça a esse tipo de violência, mas seu senso de justiça o obrigava a resolver seus casos a qualquer custo. Além disso, tinha a ruiva. A mulher que conseguiu chamar a atenção do detetive que até então não costumava dedicar seus pensamentos a nada que não fossem seus casos importantes. “Ela é só mais um caso, afinal. Não devo me desconcentrar do caso Kira. O mundo inteiro espera que eu o pegue e isso é uma questão de justiça”, pensava.

O carro parou em frente a um prédio cinza não muito alto. Como ela havia dito, era bem em frente à sede da TV Sakura. O Sr. Yagami e L desceram do carro e se dirigiram à portaria, onde encontraram um sorridente senhor de meia idade.

— Boa tarde, senhores!

— Boa tarde. Por favor, gostaríamos de ir ao apartamento 303, da senhorita Chiara Torrente.

— Ah, vocês estão procurando a Chiara? Ela não está! – Respondeu o homem, ainda sorrindo - A Chiara tem saído muito ultimamente, desde que o noivo morreu. Deve ser difícil pra ela ficar sozinha naquele apartamento.

— Você sabe muito sobre ela? – Apesar da expressão de indiferença, L estava ouvindo tudo.

— Está brincando? Eu a amo! – O porteiro soltou uma gargalhada - São poucas as pessoas que sequer dão bom dia ao porteiro. Chiara e Sam sempre me cumprimentavam e conversavam comigo às vezes. Apesar de tentar disfarçar, ela ficou infeliz quando ele morreu. Antes, ela era alegre e sorridente, como se amasse a vida. Ah, se eu fosse alguns anos mais novo...

— Sabe que horas ela volta? – Indagou o Sr. Yagami.

— Não vai demorar. Aos sábados, ela dá aulas de música voluntariamente às crianças de um abrigo aqui perto. Foi a única coisa que ela não deixou de fazer depois da morte do noivo. É a dois quarteirões daqui, se quiserem ir até lá.

—Muito obrigada – O Sr. Yagami e L já se dirigiam ao carro.

Ao chegarem no abrigo, os dois homens foram encaminhados para a sala onde Chiara dava aulas. Ela viu quando eles entraram, e sinalizou pedindo um tempo para interromper a aula. O Sr. Yagami e L sentaram em um sofá e observaram enquanto Chiara dava sua aula.

Ela estava diferente do que eles viram no dia anterior. Talvez fossem as roupas. Usava um vestido verde militar com alças largas e alguns detalhes pretos. Seus cabelos estavam soltos. Eram ondulados, nem curtos, nem longos, e cobriam totalmente a tatuagem na nuca, o que frustrou L, que estava curioso para saber o desenho. Mas ele pode ver os colares: uma corrente com um pingente circular com algum tipo de desenho que ele não conseguiu ver de longe e outro com um pingente pequeno em forma de cilindro. Ela usava também um bracelete no braço esquerdo, alguns centímetros abaixo dos ombros. L notou mais duas tatuagens, uma na parte de trás do ombro direito, uns rabiscos que pareciam uma assinatura, e outra no braço direito. Eram duas frases que percorriam horizontalmente o braço dela com uma letra delicada. L tentou imaginar o que estaria escrito.

Ela estava sentada em cima do piano fechado com um violão na mão, acompanhando as crianças que pareciam estar repassando uma música já aprendida. Eram umas quinze crianças, na faixa de 7 a 12 anos, que estavam entre violões e baterias.  L achou engraçado o desafino das crianças. O ambiente de abrigo infantil lhe remetia à sua infância, mas ele escolheu não pensar sobre isso.

— Ok, pessoal. Vamos ter um intervalo de 5 minutos pra vocês descansarem e então tocamos a música completa e fazemos o nosso gran finale, certo? – Ela sorria.

As crianças largaram os instrumentos e correram em todas as direções. Chiara se dirigiu aos dois homens sentados no sofá. Andava devagar para ter tempo de mascar mentalmente a figura do detetive que conhecera ontem, agora sem máscara. Ele tinha um olhar intenso. Seus olhos eram de um preto fosco e haviam as olheiras, que denunciavam seu estilo de vida. Parecia que ele não dormia há muito tempo. Tinha também o nariz fino e o rosto anguloso, que faziam com que sua expressão o fizesse fazer parecer perspicaz ou inocente, dependendo do ângulo. Chiara tentou imaginar como seria a vida daquele homem. Ela já sabia que ele era muito inteligente, o melhor detetive do mundo, mas não sabia do que ele gostava, do que fazia no dia a dia, qual a sua filosofia de vida. O trajeto feito por ela não foi longo o suficiente para concluir seus pensamentos, então teve que interrompê-los.

— Se vieram me prender, por favor, esperem até eu terminar a aula. – Ela parecia realmente pensar que seria presa.

— Bom dia senhorita Chiara – Disse L.

— Por favor, apenas Chiara – Ela interrompeu, e sentou-se no sofá ao lado de Soichiro. L estava em outro sofá – A propósito, bom dia.

— Gostaria de conversar com você novamente, Chiara. – Introduziu L, que disfarçava enquanto tentava ler as frases da tatuagem do braço dela – Na verdade, gostaria que me contasse tudo o que você levantou até agora sobre o caso Kira.

— Pelo que eu vejo, você não desconfia mais que eu sou o segundo Kira.

— A sua inteligência e personalidade não batem com o perfil do segundo Kira. Além do mais, eu já tenho um suspeito em custódia.

Chiara contraiu o rosto em resposta à notícia. L percebeu o quanto aquilo era importante pra ela.

— Mas você não vai me contar quem é, não é mesmo? – Ela já imaginava que ele não daria uma informação dessas de forma leviana.

Soichiro apenas observava a conversa. Antes que L pudesse responder, uma das crianças surgiu entre eles, de cabeça baixa.

— Senhorita Chiara, eu não quero mais tocar. – Disse o menino, que deveria ter uns 8 anos.

— Por que você diz isso, meu amor? - Chiara o colocou sentado ao seu lado no sofá.

— Sou um músico ruim – Respondeu o menino fazendo bico.

Chiara segurou o queixo do menino e virou o rosto dele em direção ao seu.

— Olha, isso é impossível! Por que se você fosse um músico ruim, eu seria uma professora ruim. E acontece que eu sou uma professora fabulosa! – Ela disse a última frase movendo os ombros pra enfatizar. O menino parou pra pensar um pouco.

— É verdade! Eu a amo senhorita Chiara!

Ela gargalhava enquanto observava o menino sair correndo. L e Soichiro assistiram a toda a cena. “Que mulher estranha”, pensava o Sr. Yagami. Já L, apesar de não demonstrar, achou engraçado o argumento que ela usou para convencer o menino. Ele achava interessante o fato de que não era fácil prever as ações dela. A maioria das pessoas segue as convenções, fala o que se espera que seja dito, faz o que se espera que seja feito. Mas ela não. Conversar com ela poderia ser instigante: falar e não saber a resposta.

Já Chiara estava curiosa em relação ao homem de olhar preto fosco. Ele falava calma e educadamente e era muito difícil esboçar alguma emoção. “O que será que ele está pensando... Ou melhor, o que será que está sentindo?”

— Tenho tudo o que investiguei do caso Kira organizado em um quadro no meu apartamento. Podemos ir lá quando eu terminar, não vai demorar muito.

— Tudo bem. Esperaremos aqui se não se importar – Disse L.

— Eu não me importo – Disse ela sorrindo pra ele enquanto se levantava. Ele gostou do fato de ela estar sorrindo, mas havia alguma coisa diferente do vídeo que ele assistira. Os olhos entregavam a amargura. Era como se a leveza de antes tivesse sido substituída por uma carga invisível.

— Ok, pessoal, vamos tocar a música como a gente ensaiou. Como hoje é o nosso último dia, eu vou cantar pra vocês, mas a letra vai ser em português, porque eu não quero que vocês prestem atenção na letra, mas sim, na melodia – Ela pegou um galho cheio de flores em um vaso próximo – Instrumentos em posição! 3, 2, 1!

As crianças começaram os acordes do violão. Não havia muita precisão nas notas, mas o conjunto ficou agradável. Chiara começou a girar o galho com flores à sua frente acompanhando o ritmo da música*. Era uma canção serena, que combinavam com a delicadeza dos movimentos dela. Em determinado momento começou a cantar, movendo-se ritmicamente e sorrindo.

O Sr. Yagami observou bem a cena. Ela em nada parecia a mulher mercenária que ele conhecera ontem. Ali, cantando e dançando com a flor na mão, interagindo com as crianças, parecia apenas uma menina. Lembrava sua filha, Sayu.

— Ryuzaki, não vou mais prendê-la. Você pode fazê-lo, se quiser, mas não acho que seja necessário.

L apenas assentiu.

Ao final da música, Chiara simulou uma bateria imaginária, que tocou no ar. Quando acabou, todos gargalharam e bateram palmas.

— A tutora de vocês já chegou, então, agora é o nosso gran finale! – As crianças comemoraram – Peguem seus instrumentos, vou pegar um bem barulhento!

As crianças largaram os violões e pegaram chocalhos, pratos, flautas e vários outros tipos de instrumento. Chiara pegou um saxofone.

— Todos prontos? Então 3, 2, 1 e...

Um barulho ensurdecedor tomou conta de toda a sala. As crianças começaram a tocar todos os instrumentos ao mesmo tempo, de forma desordenada. Algumas pulavam nas outras, corriam, outras não se aguentavam de rir e paravam de tocar o instrumento. Chiara não se diferenciava das crianças. Fazia barulho com o saxofone, interrompido pelas gargalhadas. O Sr. Yagami não pode deixar de rir da cena. Até L esboçou um sorriso. A bagunça que eles estavam fazendo parecia mesmo divertida.

— Agora é hora de nos despedirmos, meu amores!

Uma a uma, as crianças foram se despedindo dela, que agora já havia abandonado o sorriso e apresentava uma expressão mais triste.

— Vou sentir falta deles – Disse enquanto se dirigia a L e Soichiro.

— Você tem muito jeito com as crianças, Chiara – Observou L.

— Eu gosto de crianças. Elas são autênticas.

— Podemos ir ao seu apartamento agora? – L estava apressado.

— Sim. Venham comigo – Chiara virou as costas e começou a andar.

L aproveitou pra reparar as tatuagens dela. O cabelo cobria as das costas, mas ele pôde ver a tatuagem do braço. Percebeu que as duas frases estavam em português. L sabia falar vários idiomas, mas português não estava entre eles.

“Vou ter que esperar mais um pouco pra saber, afinal”, pensou.


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Notas finais do capítulo

A quem interessar, a música que Chiara cantou hoje foi essa:

http://www.kboing.com.br/a-banda-mais-bonita-da-cidade/1-1081361/

Chiara e L tem muita curiosidade em conhecer de verdade um ao outro.
Será que eles se permitirão se abrir para isso?
Cenas para os próximos capítulos...



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