Apenas mais uma de amor escrita por PostModernGirl


Capítulo 18
Chuva


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, me desculpem se o capítulo ficou muito fragmentado. Espero que não atrapalhe a compreensão de vocês.
Um dos diálogos daqui foi inspirado no filme Um Amor pra Recordar.
Enjoy!



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O dia de Chiara

Era de manhã cedo e Chiara estava abraçada com as próprias pernas, sentada no chão da sala. Não havia dormido aquela noite. A conversa com Watari não foi da maneira como ela havia imaginado. O velho fez com que as coisas só se tornassem mais difíceis pra ela. A ruiva não compreendia o porquê da hesitação de Watari. Seu plano era perfeito. De toda forma, ele havia sido apenas adiado. Ela deveria somente segurar a onda até o final do dia. Como Misa não estaria na força tarefa até a noite, L estaria seguro. Isso não diminuía a angústia de Chiara. Apesar de ter certeza de ter feito a escolha certa, sentia muito pela consequência que haveria. Após um tempo, levantou-se, deu uma volta no apartamento. Observou o piano que tanto gostava de tocar e dedilhou algumas teclas aleatórias, o que fez soar na sala um som desordenado. Depois parou em frente ao mural de fotos na parede, onde observou os diversos momentos registrados com os amigos. Riu de alguma lembrança boa que lhe veio à mente, mas logo entristeceu-se e lágrimas caíram dos seus olhos. Sentou-se no sofá novamente, e abraçou Jezebel, que se deitou bem ao lado dela. Vencida pelo cansaço, a ruiva adormeceu. Acordou algumas horas mais tarde. Decidiu comer macarronada, seu prato preferido. Comeu tudo, apesar de não estar exatamente com fome. Ela estava apenas esperando o dia passar, para que enfim colocasse seu plano em prática e acabasse com essa ansiedade na qual Watari a tinha confinado. Olhou pela janela e um detalhe lhe chamou atenção: nuvens escuras e pesadas sugeriam que uma forte chuva estava a caminho. Sem demora, subiu as escadas que levavam ao andar de cima do seu apartamento, direção à sacada.

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O dia de L

L também não havia dormido aquela noite. A captura do caderno e de Higuchi o obrigou a resolver uma série de questões burocráticas, além de ele agora ter novos elementos para avaliar o caso Kira. O detetive não estava surpreso pelo fato de haver um Shingami e um caderno mágico. Há muito, ele acreditava no que Chiara dizia, mas como detetive prudente que era, precisava considerar todas as possibilidades. Com o caderno em mãos e Higuchi preso, o caso ainda não estava resolvido. L sabia que havia mais de um caderno de Shinigami e isso fazia sua teoria de que Light e Misa eram os Kiras cada vez mais verossímil. “Light era o Kira e Misa era o segundo Kira. Quando Misa foi presa, ela perdeu a memória e Light se aproveitou disso também para provar inocência e se infiltrar na força tarefa. Mas há uma lacuna importante. Como eles perderam a memória?” pensou. O detetive sabia que ainda precisava de tempo para descobrir todos os mistérios do caderno. Mas ele foi obrigado a libertar Misa, e se ela for o segundo Kira, ele próprio corre perigo. L sempre soube da possibilidade de morrer em alguma investigação que comandasse e sempre conviveu com isso sem grandes problemas. Entretanto, havia algo mais agora. Algo que fazia ele querer viver mais um pouco. Que fazia com que saber da possibilidade de morrer fosse muito mais doloroso agora. Esse algo, ou melhor, esse alguém, fez com que ele percebesse que a vida é melhor do que o que ele conhecia. Ele sentia seu coração apertar ao pensar que poderia se separar dela.

Sem hesitar, o detetive pulou da cadeira onde estava agachado e foi em direção ao apartamento da ruiva. Do lado de fora, a chuva caía forte, escurecendo um pouco a tarde e tornando-a mais fria

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Ao chegar ao apartamento de Chiara, L estranhou o fato de ela não ter vindo abrir a porta. A ruiva sempre escutava os passos dele no corredor e estava pronta para abrir a porta antes mesmo dele bater. O detetive, então, decidiu entrar sem bater.

— Chiara! – chamou, sem resposta.

Jezebel se levantou do sofá onde estava deitada e se esfregou nas pernas do detetive, que lhe fez um carinho na cabeça. L foi à cozinha e ao quarto e chamou por Chiara novamente, mas não obteve resposta. Decidiu procurá-la no primeiro andar do apartamento. Lá havia apenas uma espécie de sala, com sofás, um tapete e várias almofadas no chão e uma saída para a sacada. O detetive viu em cima do sofá os colares e pulseiras de Chiara, e no chão, um par de sandálias. Dirigiu-se então à sacada, onde a chuva ainda caía, porém um pouco mais amena. Chiara estava parada no meio da chuva. Seu vestido vinho, que batia quase em seus joelhos, estava totalmente encharcado e seus cabelos pingavam. Estava descalça.

L não compreendeu o que estava acontecendo.

— Chiara! – gritou, ainda assim mantendo a mansidão característica da sua voz.

Chiara se virou e olhou para o detetive, sem responder nada.

— O que você está fazendo na chuva? – insistiu o detetive.

Chiara novamente não respondeu, apenas se virou novamente, ficando de costas para L.

O detetive decidiu entrar na chuva e dirigiu-se à Chiara

— O que você faz aqui?

— Queria tomar banho de chuva – disse a ruiva com um leve sorriso. A escuridão da tarde não permitia que se visse o habitual brilho seus olhos verde-esmeralda. Água escorria pelo seu rosto, e sua franja estava colada na testa.

— Você pode se resfriar – replicou ele, ainda meio desconcertado.

— É só água, detetive! – Chiara parecia menos triste do que pela manhã. – Sabe, ao contrário da maioria das pessoas, eu sempre adorei os dias nublados e a chuva. É tão bonito quando o céu está cinzento! Sempre quando eu ficava triste, eu costumava olhar para o céu nublado e isso me fazia me sentir melhor. Por algum motivo, eu tinha a sensação de que iria dar tudo certo.

— E você está triste agora? – perguntou o detetive, falando um pouco alto por conta do barulho da chuva.

Chiara baixou a cabeça.

— Eu sinto que nós não temos mais muito tempo juntos. – Ela o olhava nos olhos agora.

L sentiu novamente uma pontada no peito. Ele também sentia o mesmo.

— Posso te perguntar algo? – indagou Chiara.

— Sim.

— Você já teve a sensação de estar tão feliz, mas tão feliz que ficou com medo de não ser mais tão feliz como naquele momento?

L parou pra pensar. Era uma pergunta difícil.

— Nunca parei pra pensar nisso. Não sei te responder, Chiara.

— Isso já é uma resposta válida. – Fez uma pausa. – Acho que eu tive muita sorte, sabe? Eu sempre fui muito feliz. Tive muitos amigos e me relacionei com pessoas extraordinárias.

Ao dizer essa última palavra ela apontou pra ele com os olhos.

— É... Eu não tenho amigos e não sei avaliar se fui feliz, mas eu também tive sorte, porque a pessoa mais extraordinária do mundo resolveu invadir meu apartamento. - Também fez uma pausa. - O tempo que eu passei sem você foi só solidão.

Simultaneamente, quase como se tivesse sido ensaiado, os dois se aproximaram e se beijaram com uma intensidade inédita, molhados pelas gotas de chuva que insistiam e deslizar-lhes pela face e misturar-se ao beijo. Suas mãos acariciavam a face e cabelos um do outro com uma urgência de quem sabe que não tem mais tempo, até afastarem-se relutantemente.

— É melhor nós entrarmos – disse o detetive, inconformado com a própria sugestão.

Chiara apenas assentiu com a cabeça e os se dirigiram de volta ao apartamento.

—________________________

Enquanto L esperava no andar de cima, Chiara foi buscar toalhas para que se enxugassem. Ao subir as escadas novamente, entregou-a ao detetive, que ficou enxugando os cabelos enquanto ela se sentou em um degrau da escada para enxugar as pernas.

— Eu posso te ajudar – disse L enquanto se abaixava para enxugar os pés da ruiva.

O detetive reparou no vestido vinho, do mesmo tom do cabelo colado no corpo, denunciando o contorno das penas e as curvas dela. Ao deslizar delicadamente a toalha nos pés da ruiva, como num instinto incontrolável, ele deslizou as mãos nas pernas dela, fazendo um carinho.

— Vá em frente. Não tenha medo – disse a ruiva, já sentindo o coração bater mais rápido.

L não hesitou. Deslizou a mão novamente pelas pernas da moça e foi subindo até afastar um pouco o vestido. Depois aproximou-se e beijou-a calorosamente.

— Posso não ser muito bom nisso... – sussurrou o detetive, ao final do beijo.

— Isso é impossível! - respondeu Chiara, categoricamente.

Da sala de controle, Watari, que observava tudo, desligou os monitores.

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Deitados no tapete da sala do andar de cima, Chiara estava com a cabeça no ombro de L, que estava apoiado nas almofadas que haviam espalhadas no tapete. O detetive já estava novamente vestido, mas Chiara ainda estava apenas de lingerie. A ruiva deslizava as mãos pelo cabelo dele, que a abraçava firmemente. Os dois estavam em silêncio, até que L resolveu quebrá-lo.

— Preciso voltar para o trabalho... – disse, tentando se levantar.

— Por favor, fica mais um pouco. O caso Kira ainda vai estar lá daqui a alguns minutos. – O pedido dela foi quase um apelo.

L cedeu.

— O que você achou? – questionou a ruiva.

— Eu não sei porque passei tanto tempo da vida sem isso – disse desinteressadamente. – Você por outro lado é bem mais experiente.

— Não foram muitos – replicou Chiara.

Um breve silêncio irrompeu novamente.

— Como você está se sentindo? – Chiara parecia se incomodar com o silêncio

— Sabe aquela sensação de que você falou agora pouco, de ter medo de não conseguir mais ser tão feliz?

A ruiva sentiu um nó na garganta, e apertou o abraço pra sentir o detetive mais junto de si.

— Independente do que acontecer daqui pra frente, a gente vai sempre ter a lembrança do que aconteceu hoje – sussurrou a ruiva.

— Sim. – L levantou-se um pouco para olhar pra ela.

— É hora de ir, não é? – lamentou ela.

Os dois se levantaram, sentaram-se no tapete e ficaram apenas olhando um para o outro.

— Eu nunca soube dizer o que eu sinto. Mas acho que você já entendeu, não é? – perguntou o detetive.

— Eu entendi. Você sabe que é recíproco.

L deslizou o indicador na maçã do rosto da ruiva e levantou-se. Chiara apenas observou sentada enquanto a figura do detetive ia se afastando cada vez mais dela. Quando ele finalmente se foi, ela não resistiu e cedeu ao que sentia. Uma crise de choro tempestuosa se iniciou e perdurou por alguns minutos. Chiara era forte, corajosa e destemida, o que não significava que era insensível. Ela sabia sorrir quando podia sorrir e chorar quando necessário fosse. O choro era uma forma de ela pôr para fora tudo aquilo que lhe angustiava por dentro, e de certa forma, tornava-a mais forte. Passada a crise, levantou-se e foi tomar um banho. Trocou de roupa, alimentou Jezebel e saiu, em direção à sala de comado. Pegou o celular. Discou para um número pré-gravado, que não demorou a atender.

— Watari, chegou a hora.

—________________________

Na sala de comando, L estava sentando na sua cadeira habitual observando os monitores. Todos estavam esperando pela visita de Misa Amane, que havia sido chamada. Esse era o momento que L estava esperando. Ele havia bolado um plano para não permitir que Misa tivesse acesso ao caderno depois de ver seu rosto, mas tinha consciência de que ainda assim estava arriscando a vida. O Sr. Yagami, Mogi, Aizawa e Matsuda estavam também na sala, cuidando de outros afazeres. Light estava logo atrás de L e ao seu lado, estava Rem.

Quando Misa chegou ao prédio e pôde ser vista pelas câmeras, Rem contraiu o rosto ao perceber que o tempo de vida da garota havia sido cortado pela metade novamente. A Shinigami entendeu que tudo não passava de um plano de Light para matar os investigadores e ainda livrar-se dela. Olhou, então, em direção a Light, repreendendo-o com o olhar.

Light, que estava atrás de L e dos outros policiais e consequentemente, fora do campo de visão deles, encarou de volta a Shinigami e moveu os lábios, para que Rem pudesse lê-los.

— Não esqueça da ruiva – balbuciou, sem nenhum som, vagarosamente o suficiente para que Rem compreendesse.

A Shinigami atravessou a parede e desapareceu.

Apenas uns dez segundos depois de Rem sair, da sala, algo aconteceu. Os monitores começaram a exibir uma mensagem de erro e um som de alerta começou a apitar. L sabia do que se tratava.

— Watari! gritou, da cadeira onde estava.

Chiara, que estava vindo em direção à sala, ouviu o grito de L e correu em direção à escada que dava na sala de comando. Antes que L ou qualquer um dos policiais pudesse ter qualquer reação, houve uma brusca queda de energia e ouviu-se um grito, seguido de várias pancadas. Poucos segundos depois, quando a luz acendeu novamente, Chiara estava caída no pé da escada, com um pouco de sangue escorrendo da sua boca.

Light sorriu por dentro. Tudo estava ocorrendo como ele havia planejado. Rem estava se livrando de todos eles. Olhou para L, aguardando ansiosamente.

“Agora é a sua vez, Ryuzaki!”


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Notas finais do capítulo

Mistério na sala de comando da força tarefa...
Quais são as suas teorias?
Cenas para os próximos capítulos...



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