A Vida de uma Anônima escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 5
Lembranças parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680422/chapter/5

Depois das Olímpiadas eu não falei mais com Diego, nem soube o que ele queria falar comigo. Depois de um tempo começou a namorar Jennifer, segundo algumas meninas que passaram a conversar comigo depois que fiquei com Arthur. Passei a andar mais com a turma do Arthur, conheci e fiz mais amizades, era reconhecida por todos da escola. Passei a me cuidar e ser menos tímida.

***

Janeiro 2009

Era uma tarde preguiçosa de verão, estava na sala assistindo televisão quando a campainha tocou. Fiquei um tempo esperando alguém abrir a porta, como parecia que ninguém da minha casa escutou , fui atender. Assim que abri o rosto de Arthur surgiu na porta com um embrulho na mão. Abri um sorriso largo para ele e lhe dei um beijo. Ele me segurou e me ergueu, como era boa a sensação de estar em seus braços.

Já estávamos indo para o terceiro mês só ficando, pois ele iria embora para outra cidade fazer o curso de Administração então não iriamos nos comprometer. Ambos concordávamos que namorar a distância não daria muito certo. Na verdade, éramos para ter parado em Dezembro ao término das aulas. Porém, ele passou a vir em casa todos os dias até hoje, seu último dia na cidade.

— Achei que não viesse aqui hoje! – falei enquanto o abraçava – Achei que ficaria com sua família?

— Eu passei a minha vida toda com eles, não tem nada demais passar meu último dia com você – disse dando um beijo na ponta do meu nariz.

— O que vamos fazer hoje? Programou alguma coisa com a turma para sua despedida? – perguntei enquanto o puxava para dentro de casa.

— Na verdade, primeiro gostaria de falar com seus pais – disse parando no corredor – Eles estão em casa?

— Sim, vai subornar meus pais para me deixar sair com você? – brinquei apontando para o embrulho – Espero que tenha trago ouro suficiente. Senta aí na sala que vou chama-los.

Fui até o quarto dos meus pais que estava assistindo televisão. Bati a porta.

— Mãe, Pai, podem vir na sala um momento, preciso falar com vocês – disse através da porta.

— Já vamos – respondeu meu pai.

Eu não tinha ideia do que Arthur tinha para falar com meus pais o que me deixava intrigada.

***

— Dona Renata, Seu Humberto. Meu nome é Arthur e preciso conversar com vocês – começou Arthur sentado no sofá de frente aos meus pais – Eu já vim algumas vezes na casa dos senhores ver sua filha, mas hoje eu gostaria de falar sobre algo sério.

Eu estava sentada ao seu lado segurando uma de suas mãos que era balançada pela sua perna. Ele estava muito nervoso, seu rosto suava e sua boca tremia a cada palavra.

Meus pais já o tinham visto aqui em casa esse mês quase todos os dias, mas nunca falaram nada a respeito. Meu pai estava sério, sua pele era queimada do sol das obras em que trabalhava com supervisor, olhos castanhos escuros, cabelos castanhos grisalhos, lábios finos cerrados. Minha mãe tinha pele clara, cabelos lisos curtos castanhos, assim como seus olhos curiosos que desejavam saber o que aquele rapaz queria com eles.

—Eu gostaria de pedir a mão da filha de vocês... Em namoro – finalizou olhando para mim. Eu estava muito feliz, pois ele queria namorar comigo. Sua mão apertava a minha cada vez mais – Amanhã vou para outro estado, eu passei em Administração em uma excelente Universidade, mas eu gostaria de ir comprometido com a filha de vocês, além de querer leva-la para sair hoje e me despedir. Então... Vocês autorizam eu namorar a filha de vocês?

— Achei que já estivessem namorando – disse meu pai levantando do sofá– Essa coisa de pedir em namoro já está ultrapassada, rapaz. A mãe dela talvez discorde comigo, então pode tentar convence-la. Vou para o meu quarto, bem vindo a família.

Minha mãe tinha recebido carta branca, ela era muito durona com os namorados da minha irmã mais velha. Ela abriu um sorriso para Arthur e disse:

— Eu aprecio que tenha vindo até nós pedir a mão da nossa filha. Eu gostaria de saber como esse namoro que será em cidades diferentes vai funcionar?

— Podemos nos revezar, ela vai no meio do ano e eu venho no fim do ano. Até nos formarmos. – disse confiante – a gente ainda não discutiu o assunto.

— Tudo bem, eu permito o namoro, mesmo sabendo que isso já estava rolando antes. Não vou autorizar a saída dela hoje, ela tem vestibular amanhã, precisa estar descansada. E esse rodízio, não acho que vai funcionar, mas se ela aceitar isso, por mim tudo bem. Prazer em te conhecer oficialmente, vou para o meu quarto. Qualquer coisa é só chamar.

Quando a minha mãe saiu da sala, Arthur se ajoelhou aos meus pés e me deu o embrulho que estava em sua mão. Ele era retangular e muito grande para ser uma caixa com anel de namoro. O que me deixava aliviada, pois eu não gostava muito de alianças.

— Eu sei que você não gosta de aliança – disse como se estivesse lendo meus pensamentos – Então comprei algo que realmente gosta.

Meu coração batia acelerado enquanto abria o embrulho. Era a última edição de Depois daquela Viagem, ele se lembrou do livro que eu estava lendo no dia em que ficamos pela primeira vez. Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Abra – pediu sentando no sofá ao meu lado. Dei um beijo nele e abri o livro. Na parte de dentro da capa uma dedicatória:

"Eu não quero ser o Dirceu da Marília,

Eu não quero ser o Peri da Cecília,

Eu não quero ser o Bentinho da Capitu,

Eu não quero ser o Fernando da Aurélia,

Eu não quero ser o Augusto da Carolina,

Eu não quero ser o Conrado da Virgínia,

Eu não quero ser o Armand da Marguerite,

Eu não quero ser Martin da Iracema,

Eu não quero ser Brás Cubas da Virgília,

Eu não quero ser o Olímpico da Macabea,

Eu quero ser o Arthur... O seu Arthur"

Uma lágrima caiu na capa e as outras escorriam pelo meu rosto, o abracei com vontade de nunca mais larga-lo. Ele começou a me beijar apertar mais ainda meu corpo contra o dele.

— Eu vou morrer de saudade de você – sussurrou em meu ouvido – Eu acho que estou apaixonado por você.

— Eu acho que estou também – respondi olhando para ele.

***

Julho 2012

— Amor, sai logo do banheiro. – disse Arthur na porta do banheiro, emburrado esperando eu terminar de me arrumar. Aquela era a décima vez que ele vinha me perturbar – Você vai acabar perdendo o voo e eu ainda tenho de ir para o trabalho, anda.

— Eu sei amor, me deixa só terminar de passar o blush – respondi olhando para o espelho.

Ele deu os ombros e saiu do banheiro contrariado.

A atitude do Arthur já estava me tirando do sério, parecia que queria se livrar logo de mim. Terminei de me arrumar e fui pegar a minha bolsa e a mala no quarto.

—AMOR! CORRE AQUI! – gritou Arthur da sala desesperado.

Eu saí correndo do quarto direto para sala. Ao chegar à sala levei um susto e gritei.

Ali no meio da sala, dentro de um coração de rosas estava Arthur ajoelhado com um anel de diamante em uma caixa aveludada vermelha.

— Desculpa, eu não poderia deixar você partir mais uma vez sem que te pedisse para ser minha , para sempre – disse nervoso – Minha vida fica vazia e sem sentido toda vez que você entra naquele avião. Eu só me torno alguém quando está aqui comigo. Sua presença invade a casa, igual à luz do sol após a tempestade. Estou dando esse anel a você para nunca esqueça, nem por um segundo do amor imenso que sinto por você. A mulher que me tornou o homem mais feliz do mundo. Você é a minha vida, meu destino, minha realidade e meu amor. Aceita casar comigo, para todo o sempre?

— Não - disse com as mãos na boca. Então sorri entre lágrimas para ele que estava com uma cara de tristeza – Desculpa, eu estava apenas testando as possibilidades de isso ser um sonho. Aceito me casar com você, para todo o sempre.

Ele colocou o anel em meu dedo, levantou e me deu um beijo. Depois se afastou e disse:

— Então vamos pegar o avião, pois temos de chegar a tempo para a festa.

— Que festa?

— A nossa festa de noivado – responde pegando as malas – Combinei com nosso pais. Eu realmente quero casar com você.

Então me beijou novamente e foi levar as malas para o táxi. Fiquei ainda um pouco na sala olhando para o anel em meu dedo e para as pétalas no chão. Eu nunca tinha me sentido tão feliz em toda minha vida como naquele momento, precisava guardar aquele momento em minha memória.

***

Junho 2014

Rasg!

Adeus, foto do primeiro beijo. 

Rasg! 

Adeus, primeiro dia em que nos encontramos no Aeroporto. 

Rasg! Adeus, dia do carro quebrado no meio da rodovia. 

Rasg! Adeus, dia do Parque de diversões. 

Rasg! Adeus, dia do noivado. O melhor dia da minha vida.

Rasg! Rasg! Rasg! Rasg! Rasg! Rasg! Rasg!

Adeus, minha vida. Nada daquilo iria me trazer o que já foi.

Depois de rasgar todas as fotos, quebrei todos os cd's. Tirei a foto da proteção de tela do computador, peguei os livros e coloquei na cama, pois iriam para dentro do meu guarda-roupa. Assim que o abri, lá estava: A camiseta do Arthur. Tirei-a do cabide, a segurei, então abracei. Seu perfume estava ali, impregnando meu corpo.

Ali estávamos no meio do meu quarto, podia sentir como se ele estivesse dentro da camiseta, me abraçando. Comecei a chorar, só podia estar louca, pois o sentia. Que saudades, dele, da sua voz, do olhar, do seu sorriso, da sua gargalhada, do calor do seu corpo, do seu beijo, de nós dois, de como eu era quando estávamos juntos. Depois de meia hora, joguei a camiseta na cama. Aquilo precisava acabar. Coloquei os livros no guarda roupa, escondidos entre as roupas.

Olhei para o meu quarto, estava bagunçado, cheio de coisas espalhadas pelo chão, uma história de amor em mil pedaços. A minha história de amor. Achei que aquilo me faria sentir melhor, mas reviver tudo aquilo não me fez bem. Joguei tudo o que estava na minha cama e deitei. A verdade é que desejava tirá-lo da minha vida e ao mesmo tempo o queria de volta. Talvez eu tenha me precipitado, talvez ele estivesse sendo sincero e talvez aquilo tudo fosse só um pesadelo.

Passei a mão na cama e encontrei meu celular. Fiquei por um bom tempo ligando e desligando até criar coragem para discar o número de Arthur, que atendeu no terceiro toque:

— Onde foi que a gente errou? Só amar não foi o suficiente para você? O que faltou? Como posso confiar em você? - perguntei enquanto chorava - Como eu faço para te esquecer?

— Alô? Quem fala? – respondeu uma voz feminina.

Joguei o celular na parede que se despedaçou igual ao meu coração.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Vida de uma Anônima" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.