Tempo Ruim escrita por helenabenett, Lyra Parry


Capítulo 19
Amargurada


Notas iniciais do capítulo

Magali está de coração partido pela segunda vez. Acreditando que foi traída, a magrela decide de afastar de Cascão e busca refúgio na companhia da melhor amiga de todas: Mônica. Mas a dona da rua, além de tomar as rédeas, toma também as dores de Maga, fazendo o elo entre a turminha se romper. Com Cascão e Cebolinha brigados, será que há salvação para os quatro amigos?



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O que é feito daqueles beijos que eu te dei?

Daquele amor cheio de ilusão que foi a razão do nosso querer

Para onde foram tantas promessas que me fizestes?

Não se importando que o nosso amor viesse a morrer

 

Magali

Ao sair da festa, Maga mal conseguia sustentar o peso do próprio corpo. Mal notou que ainda segurava o copo de vodca quase vazio enquanto descia as escadas aos tropeções. A dor que sentia chegava a ser física, e quando por fim conseguiu chegar ao final da escadaria ficou tonta e quase foi ao chão.

Mônica surgiu de repente e segurou seu braço antes que ela levasse um enorme tombo. Ao olhar para o rosto preocupado da amiga, Maga não se conteve e começou a chorar livremente. A dentucinha a abraçou, e pela primeira vez desde que Magali se lembrava, Mô não ficou enfurecida ao ver a sua situação deplorável. Ela só sentia preocupação e profunda pena.

— Magali, o que houve?

— Me tira daqui, Mô, por favor.

— Por quê? Eu preciso saber o que aconteceu pra você ficar assim.

Alguma coisa nos olhos de Magali convenceu Mônica, e a dona da rua começou a caminhar segurando a magrela pelo braço. Ao chegarem no pequeno bosque que ligava a escola a casa de Mô, as duas ouviram a familiar voz de Cassio chamando por Maga. Mas a moça apenas insistiu que apertassem o passo e Mônica a acompanhou como pôde. Quando por fim chegaram à casa de Mô, que era a mais próxima da escola, Maga correu para o banheiro e vomitou por alguns minutos.

— Meu Deus, amiga! O que está acontecendo?

O rosto da magrela estava extremamente pálido, fazendo um enorme contraste com seus olhos vermelhos e inchados. A moça se sentou ao lado da amiga e, tentando ao máximo segurar o choro, contou tudo... Mônica apenas ouviu em silencio até que ela terminasse.

— Vocês estão juntos todo esse tempo, então? – perguntou a dentuça.

— Sim... Sei que vai pensar que sou uma ladra de namorados, Mô, mas não foi minha intenção.

— Calma, Maga. Você não é a errada nessa história, o errado é o Cássio.

— Errado? – ela não estava entendendo onde a dentuça queria chegar.

— Acho melhor que saiba por mim.

— Saber o que, Mônica?

— O Cascão e a Maria nunca se separaram realmente. Quer dizer, eles não eram namorados, mas era de conhecimento geral da turma que eles continuavam juntos.

— C-como assim?

Maga não podia acreditar, ele não faria aquilo.  Ela conhecia Cascão como ninguém e sabia como o sujinho não suportava nenhum tipo de dissimulação. Afinal, ele insistira desde o começo para que revelassem para todos que estavam juntos!

— Isso não é verdade! Ele estava comigo – disse a moça, se exaltando.

—Por que eu mentiria para você, Maga? – rebateu Mônica. – Vai dizer que não sabia que ele vivia na casa da Maria? E que os dois saíam juntos constantemente?

É claro que ela sabia disso; Cas sempre contava sobre esses encontros, e sobre como se sentia mal pelo fato de Maria estar tão sozinha. Lembrava-se de suas palavras exatas: “Ela não tem muitos amigos, Maga. Basicamente, me sinto mal por ela estar tão só”.

— Eles eram amigos ainda – Magali tentou se justificar, embora estivesse começando a duvidar das próprias palavras. – A Cascuda sempre teve poucos amigos, ele se sentia mal por ela!

— Se você acha que são apenas amigos, então por que saiu daquela maneira da festa?

— Eu... Eu não sei. Todos estavam comentando que eles haviam voltado, e como estavam felizes por isso. Eu entrei em pânico! Eu já disse que ele está comigo, Mônica! Ele não me trairia.

— Nós pensávamos o mesmo do Quim.

Aquilo fora baixo, Mônica sabia, mas era melhor que Maga levasse esse balde de agua fria por ela do que pelos outros. Depois ela se acertaria com Cascão; nada no mundo a privaria de se vingar pelo que ele havia feito com sua melhor amiga.

— Ele não é como o Quim – disse Magali, recomeçando o choro. – Você não sabe o que está dizendo, Mô. O Cas estava apenas sendo um bom amigo.

— Tem certeza? Porque a Maria estava convencida de que logo eles seriam namorados novamente.

— Como sabe disso? Você mal fala com ela.

— Eu não falo, mas a Aninha é a melhor amiga dela e contou isso para a turma.

— Isso não faz o mínimo sentindo! Se ele queria ficar com ela e não comigo, por que a deixou para início de conversa? – era difícil, mas Maga estava tentando pensar racionalmente.

— Talvez ele quisesse ficar com as duas, Maga.

Aquilo doeu profundamente em Magali. Será que tudo o que ela sabia sobre Cas era mentira? Não seria a primeira vez que se enganava amargamente com alguém... O celular da moça não parava de tocar, e ao olhar na telinha pôde ver o número do Cas. Talvez ela devesse confrontá-lo naquele momento, mas se sentia totalmente destituída de forças. Tudo que Maga viveu naquele ano pareceu pesar em seu peito. Se sentindo totalmente destruída, Magali deitou-se sem nem ao menos dar um “boa noite” a Mônica e dormiu quase instantaneamente.

No dia seguinte, Mônica a acordou com um sorriso no rosto e uma bandeja de café da manhã.

— Café na cama? Está me acostumando mal – disse a magrela.

Maga olhou para a comida e, apesar de parecer apetitosa, ela mal conseguiu engolir um pedaço de pão e um pouco de café. Isso sempre acontecia quando ela estava profundamente triste, Mônica sabia disso. A raiva que a Mô estava sentindo do sujinho apenas aumentou. Ela havia pensado em esperar a melhor amiga se recuperar um pouco da experiência do dia anterior para lhe contar tudo o que sabia, mas olhando para o rosto abatido de Maga decidiu-se por contar tudo enquanto ainda tinha coragem.

A verdade era que Cascão e Maria ainda eram um casal, e todos na turma sabiam disso. Alguns afirmavam ter visto os dois abraçados mais de uma vez, outros diziam que os dois haviam voltado a namorar pouquíssimo tempo depois do anuncio do termino, e apenas não se deram ao trabalho de informar a turma que haviam voltado.

— Se você tivesse me contado desde o início muita dor poderia ter sido evitada – Mônica a censurou.

Maga assentiu levemente.

— De quem você ouviu essas histórias? – quis saber a magrela.

— Você quer saber pela boca de quem sei destes fatos?

Magali não se deu ao trabalho de responder.

— Cada pequena fofoca – prosseguiu a dentuça – veio de uma boca diferente: Titi, Marina, Carmem... Pensando bem, é um milagre Denise nunca ter comentado nada.

— Nenhuma dessas histórias – retrucou Magali, corrigindo-se assim que Mônica fez uma careta para ela – Quer dizer, desses fatos... veio da boca do Cebola?

— Claro que não. Quer dizer, talvez ele tenha comentado algo. Sabe-se lá o que os meninos conversam quando estão juntos. Pensando bem, conhecendo o Cascão ele com certeza contou pro Cebola que estava com vocês duas.

Isso explicava muita coisa. Em sua ansiedade, Maga criara uma enorme fantasia de que Cebola havia manipulado a todos para se vingar dela. Aquilo era no mínimo ridículo, que interesse ele teria nessa história toda? É claro que ele ainda sentia raiva dela pelo caso com a Mônica, mas ela não conseguia acreditar que ele chegaria a esse ponto. Ao mesmo tempo, no entanto, ela poderia crer que Cas a enganara daquela maneira vil? Ela pensou em Quim... Também confiara plenamente nele, e nunca imaginaria que ele teria coragem de traí-la, mas obviamente ela estava enganada.

Olhando por esse lado, Cebola não ganharia nada em separá-los, porém Cas tinha muito a ganhar nessa história, afinal teria enfim o que ele sempre quis: ela e Maria. Mesmo quando estavam juntos ele havia dito várias vezes em como ainda amava Maria, e ela em sua enorme confiança no rapaz ela vira aquilo como inocente sinceridade. Como fora idiota!

— Cebola deixou claro para mim que sabia de tudo – ela disse para Mônica. – De fato, pareceu sentir um enorme prazer em jogar isso na minha cara.

— Ele é um imbecil.

— Não mais que o Cascão.

— Parece que enfim você acredita em mim – sorriu a dentuça.

Infelizmente, Maga acreditava.

***

Mônica foi a melhor amiga do mundo na manhã de segunda-feira. Se não fosse por ela, Maga jamais teria conseguido aparecer na escola de cabeça erguida. A pedido da magrela, Mô não disse uma única palavra sobre o que acontecera entre Magali e Cássio. Para o desespero delas, no entanto, todos estavam comentando sobre a briga entre Cássio e Cebolinha. Quando Mônica e Maga entraram na sala, as meninas estavam tagarelando no maior alvoroço:

— Eu estava bem ali do lado quando o Cascão pegou o Cebola pelo colarinho e deu um soco daqueles! Foi um golpe e tanto – afirmou Denise, empolgadíssima.

— Mas você sabe por quê ele fez isso? – perguntou Aninha?

— Será que foi por causa de alguma menina? – sugeriu Marina. – Eu não vi o Cebola com ninguém na festa aquele dia.

— Não sejam tontas – afirmou Carmem –, só pode ser porque o Cascão e a Maria voltaram! Eles dançaram juntos a festa inteira, até ele ir lá bater no Cebola. Com certeza o Cascão ficou com ciúmes, porque eu vi o Cebola cochichar alguma coisa com ela mais cedo.

Magali se encolheu toda diante do comentário de Carmem, enquanto Mônica lhe lançava um pesaroso olhar que dizia “eu avisei”. Felizmente ninguém reparou no sofrimento silencioso da magrela, e seguiram especulando sobre o motivo da briga dos dois amigos. Como sempre acontece, cada pessoa inventou sua própria versão da história e a fofoca se alastrou como fogo no pasto. As meninas mudaram rapidamente de assunto quando Maria chegou, mas a capitã do time de voleibol percebeu de imediato que havia alguma coisa estranha no ar. Quando Cascuda exigiu saber do que estavam falando, o alarme para o início da primeira aula soou e todas correram para a sala.

Magali fingiu não notar quando Maria passou por ela. Será que a capitã do time sabia que fora enganada também? As duas não eram particularmente amigas, e Maga não conseguia apagar da memória a imagem dela e de Cássio dançando juntos, abraçadinhos, como se nunca tivessem se separado de verdade.

A chegada de Cas, atrasado como sempre, a tirou de seus pensamentos. Seu coração doeu ao olhar para ele: parecia tão arrasado... Mas quando o sujinho lançou um olhar triste e gelado em sua direção, Maga se esforçou para que sua expressão fosse a mais indiferente possível. Ela não lhe daria o gostinho de saber o quanto a magoara. Com sua visão periférica, ela percebeu que Maria e esperando por ele no corredor. Sentindo-se enjoada, Magali quase correu para se sentar em seu lugar. Enfiou a cara no livro de História e permaneceu quase que na mesma posição durante toda a manhã. No final da manhã Cas tentou falar com ela, mas Mônica foi rápida em impedir que ele se aproximasse e a tirou dali logo em seguida.

As duas foram para a casa de Mô e passaram a tarde fazendo o dever de casa e penteando os cabelos uma da outra, como não faziam desde que eram crianças. Mais uma vez Magali ligou para seus pais pedindo para dormir na casa de Mônica, e as duas contaram histórias de terror e beberam chocolate quente até pegarem no sono.

Mônica a despertou na manhã seguinte com um sorriso terno.

— Vem logo, a gente vai chegar atrasada!

Magali se arrumou do jeito que deu e as duas correram até a escola, apostando quem chegaria primeiro. Por alguns segundos, Maga ganhou.

— Isso não é justo! – disse Mônica, arfando. – Você tem as pernas compridas!

— Cada um luta com as armas que tem – gabou-se a magrela.

As duas entraram juntas, rindo como se fossem crianças. Mas o sorriso de Maga murchou assim que percebeu que todos estavam olhando para ela e cochichando.

— O que tá acontecendo, Mô? – ela cochichou no ouvido da amiga.

— Não sei, mas vou descobrir já, já! – respondeu a dentuça, encarando ameaçadoramente qualquer um que se atrevia a olhar para Magali. A magrela, por sua vez, assumiu sua expressão impassível.

Quando finalmente encontraram as outras meninas, Denise foi a primeira a falar:

— Magali, em primeiro lugar: não é tão ruim quanto parece.

— O que não é tão ruim quanto parece? – quis saber Maga.

— Estão comentando que você e o Cascão estavam juntos – explicou Marina em voz baixa, com um olhar de pena. – Que você fez com ele e a Cascuda o mesmo que o Quim fez com você.

Magali sentiu o chão sumir debaixo de seus pés.

— Quem inventou essa história horrível? – ela disse, cobrindo o rosto com as mãos. “Isso é um pesadelo, não pode estar acontecendo”.

— É o que eu também quero saber! – a voz de Maria ecoou pelo pátio, alta e feroz. – Denise, se você tiver algo a ver com isso, eu juro...

— Óbvio que não, estou tão perplexa quanto você – defendeu-se a blogueira, com um ar cínico. – Sinceramente, não sei por que não me contam esses babados fortes!

— Então como foi que vocês ficaram sabendo? – perguntou Mônica.

— Quer dizer que é verdade? – exclamou Aninha, visivelmente chocada. Mônica mordeu os lábios e Magali lançou faíscas com os olhos em sua direção.

— Nós saímos juntos algumas vezes – assumiu a magrela, tentando livrar a própria barra do deslize de Mônica –, mas não aconteceu nada demais. Ele só queria conversar comigo e pedir uns conselhos, porque não estava bem com a Maria – Maga reuniu todas as forças que lhe restavam e se forçou a não olhar para Cascuda.

— Viu, foi o que eu falei, eu vi os dois saindo juntos já tem um dias – disse Carmem, olhando de rabo de olho para Mônica e suando frio. – Mas eu não disse que eles ficaram.

— Tanto faz se ficaram ou não – interrompeu Cascuda. – Eu e Cássio não estamos namorando já faz meses!

— Como assim? – perguntou Marina. – Você não estava na casa dele ontem?

— E daí? – retrucou Maria. – A Mônica não vive na casa do Cebola, mesmo namorando o DC? – a dentucinha sentiu a alfinetada, mas ignorou. – Eu e Cássio somos amigos. Ele pode beijar quem ele quiser, e eu também.

— Então por que dançaram juntos na festa, amiga? – perguntou Aninha.

— Que mal tem dançar junto? – respondeu Cascuda. – Fui eu que convidei. Só porque não estamos mais juntos não quer dizer que eu tenho que fingir que ele não existe. Agora, se ele estava com outra pessoa naquela festa e aceitou dançar comigo mesmo assim, isso não é problema meu – ela encarou Magali com uma fúria indisfarçada.

— Mas todo mundo pensou que vocês tinham voltado – justificou Carmem. – E achei meio estranho ele reatar com você, sendo que uns dias atrás tinha saído com a Magali.

— Então foi você que espalhou essa mentira, Carmem? – questionou Mônica.

— Claro que não, eu só estava contando o que eu ouvi.

— Ouviu de quem? – quis saber Magali. Sentindo-se pressionada, Carmem gaguejou:

— Ah... Todos os meninos sabem que você estava saindo com o Cascão – admitiu Carmem. – O Titi disse que eles pensavam que estava rolando alguma coisa entre vocês. Depois o Cássio e a Maria ficaram juntos na festa, e a gente pensou que eles estavam juntos de novo, porque o Cascão bateu no Cebolinha. Aí ninguém entendeu nada. Mas se as duas estão dizendo que não ficaram com o Cássio, então foi só um mal entendido. Nada demais.

— Ai, pra mim já chega! Por que não vão cuidar da vida de vocês? – Cascuda saiu pisando duro, com Aninha atrás dela tentando acalmá-la.

Carmem deu de ombros:

— Só falei o que o Timóteo me disse.

— Desde quando você passa tanto tempo com o Titi? – perguntou Denise, perspicaz. A loirinha ficou vermelha como um pimentão e não conseguiu dar resposta alguma.

— Carmen, pode parar de repetir fofocas agora mesmo! – ordenou Mô. – Ninguém mais vai falar dessa história ridícula. Não estão vendo que estão magoando as meninas?

Depois da bronca, todas foram para seus lugares no mais completo silêncio. Quando Cascão chegou, percebeu os olhares da turma em sua direção e foi até Maria para saber o que estava acontecendo. Magali olhou para os dois de relance: vendo-os juntos era difícil acreditar que não estavam mais namorando, pois pareciam bastante à vontade na companhia um do outro. Mas Cascuda fora enfática, e ela não tinha porque mentir, tinha? Será que ela e Mônica haviam se precipitado em seu julgamento?

Quando Magali fez essa pergunta à dona da rua, durante o intervalo, esta respondeu:

— Pra mim, a Cascuda inventou essa história de término. Acho que ela está tentando se proteger do vexame.

— Então por que ela e o Cascão estão conversando normalmente? – interrompeu Magali, sentindo-se confusa. – Se eu estivesse no lugar dela, não olharia na cara dele.

— Talvez o Cascão não tenha brigado com o Cebolinha por causa dela... – os olhos de Mônica brilharam com a súbita revelação. – Foi por causa de vo...

Antes que Mônica pudesse articular uma resposta, Cas chegou até mesa onde elas estavam e pediu, em um tom sombrio, que Maga falasse com ele a sós. Mas a magrela se fez de desentendida e foi embora. Cas correu atrás dela, insistente.

— Não faz isso, Maga – o sujinho a segurou pelo braço quando ela lhe deu as costas. – Você não sabe o que aconteceu, tem que me deixar explicar.

— Não se atreva tocar em mim – ela afirmou, resoluta, se desvencilhando do sujinho. Cássio a encarou de volta, desta vez não com surpresa, e sim com raiva. Ela retribuiu o olhar e saiu andando atrás de Mônica, que os observava à distância. A dentuça também deu as costas para Cascão e abraçou Magali.

Mô e Maga passaram a tarde juntas outra vez, mas os pais da magrela pediram que ela voltasse para casa aquela noite. Sentindo-se exausta, Maga foi para a cama bem cedo.

Só percebeu Cássio do lado de fora quando acendeu o abajur.

Ele estava sob a amoreira na calçada em frente à sua casa, observando-a pela janela. Esperando por ela. Como faziam todas as noites.

Magali fechou as cortinas e apagou as luzes.

***

Naquela manhã, antes da aula começar, Cássio a estava esperando em frente ao armário do corredor. Magali respirou bem fundo e começou a organizar suas coisas, ignorando a presença do sujinho. Cas falou em voz baixa bem perto do seu ouvido, fazendo-a se arrepiar:

— Você não pode fazer isso comigo, Maga. Eu já disse que o que você viu na festa foi um mal-entendido, e que eu não estou com a Maria há muito tempo. Ela mesma me disse que confirmou isso na frente de todo mundo. Se quer me punir sem nem ao menos ouvir o que tenho a dizer, então jogue limpo!

— Chega! Já estou farta das suas mentiras – ela bateu a porta do armário com força. – Saia da minha frente, Cássio.

— Não até você me escutar – ele cruzou os braços, impassível. – Eu nunca menti para você.

— Então como o Cebola sabia de tudo entre nós? Você me expôs ao ridículo, me humilhou na frente de todo mundo! Como pôde? – ela saiu correndo antes que Cas visse suas lágrimas. Mônica a encontrou no banheiro, mas não disse nada até a magrela se acalmar.

— Vamos lá pra casa? – ofereceu a dona da rua, depois que o choro de Magali havia cessado.

— Acho que preciso ficar um pouco sozinha, Mô.

— Tudo bem. Me ligue se precisar de alguma coisa.

Naquela noite Maga ficou esperando na janela, porém Cássio não apareceu. Amaldiçoando a si mesma, ela apagou as luzes e se enfiou debaixo do cobertor.

Na quinta-feira ela viu Cascão chegar faltando apenas alguns minutos para o início da aula. Ele sustentou seu olhar quando ela o encarou, mas não a cumprimentou. Maga estava a ponto de enlouquecer quando Cebolinha, depois de três dias sumido, finalmente apareceu. Apesar dos comentários, ela não sabia que a briga tinha sido tão feia: o careca ainda estava com um hematoma roxo enorme no rosto.

Magali olhou de relance para Cas, que encarava Cebola com uma carranca horrorosa, enquanto Mônica se aproximava do careca e o arrastava para um canto. Ela sentiu o estômago revirar e saiu dali o mais depressa que pôde. Ao entrar na sala, nem Cascão nem Cebolinha deram a mínima para ela. Apenas Mônica a cumprimentou, e cada um deles se sentou em cantos opostos da sala. “O que aconteceu com a gente?”, refletiu a comilona.

Desconfiava que nenhum deles era capaz de responder.


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