Autora Pov’s

“Ela não podia ser normal”

Foi aquela a primeira impressão que Nanjoon teve de Chiharu. Sua melhor amiga do jardim de infância.

Sempre brincando de pega-pega e correndo sem parar nos momentos mais aleatórios que existiam.

Eram apenas crianças que não tinham nenhuma tristeza que pesava no coração. A idade abençoada conhecida como infância.

Naquele dia, já com seus 14 anos, ele se pegou pensando nela. Depois de um reencontro e outra corrida disputada entre ambos, ele via que ela não mudou tanto.

Combinaram de se encontrarem nos fins de semana na antiga escola, mas ela não tinha aparecido naquele dia e nem na semana seguinte.

Já na terceira semana em que ela não aparecia, ele voltou para casa mais uma vez. Tentou entrar em casa sem fazer barulho, mas acabou tropeçando em algo, chamando a atenção da tia que estava na cozinha.

—QUEBRA TUDO MESMO! NÃO É VOCÊ QUEM PAGA!

—DESCULPA! – ele gritou em resposta.

—TUDO BEM, NAMJOON?! ESTÁ MACHUCADO?!

Nanjoon deu um sorriso, se levantando.

—EU ESTOU BEM!

Sua tia Adelaide (a tia com o nome mais diferentão da família) tinha esse costume de gritar bem alto e depois de todos esses anos ele começou a falar e gritar em voz alta as vezes.

Adelaide era a tia mais engraçada, esquecida, infantil, teimosa e desastrada que existia naquele planeta ao ver de Namjoon, e se lembra claramente das crises de nervosismo dela quando ela soube que sua irmã tinha morrido e que tinha deixado um menino órfão.

Ela ficava murmurando frases motivadoras para si mesma. Nunca tinha tido um filho e era um completo desastre em tudo.

Entrou no quarto, colocou os fones de ouvido e se deitou na cama, começando a lembrar de todas as histórias engraçadas que tinham.

Uma vez ela tinha deixado uma panela com água no fogo e depois foi dar uma volta.

—A cozinha cheira a queimado até agora – ele disse fazendo uma careta, aquele cheiro não era nada agradável.

Mesmo Adelaide tendo quase matado ele várias vezes (por acidente) isso foi bom para ele. Cada dia era uma coisa diferente, e que acabava dando certo no final.

—PUTA QUE ME PARIU! NAMJOON TRÁS A MINHA ARMADURA!!! – ele se levantou ao ouvir o grito da tia.

Correu até a cozinha, e vendo a tia em uma batalha contra a frigideira com óleo que pulava.

—ARRÁ ACHA QUE CONSEGUE ME VENCER?! EU VENHO TREINADO ANOS POR ESSE MOMENTOS! – ela ameaça a frigideira com uma espátula.

Era sempre assim. Tia Adelaide ainda estava aprendendo a arte de fritar um ovo. Ele já procurava o extintor de incêndios caso algum acidente acontecesse.

E não seria primeira vez! Uma vez ela inventou de apagar o óleo com um copo de água e ...

—Era uma vez uma Adelaide que tentou controlar o óleo com água e quase morreu – ele comenta para si mesmo, controlando o riso.

Quem venceria? Tia Adelaide ou a frigideira?

—Eu aposto na frigideira ...

Um tempo depois ...

—WEEEEEEEEE ARE THE CHAMPIOOOON MY FREEEEEEEND! – ela começou a cantar/gritar.

Ele nem se atrevia a falar alguma coisa, apenas sorriu e viu a tia pegar dois pães, cortá-los ao meio (algumas semanas de duros treinamentos).

—Pão com ovo ... – ela falou colocando cada um deles em um pratinho, colocando os dois na mesa – E FUI EU QUE FIZ!

—Nunca vi um ovo frito tão bonito – ele elogia, batendo palmas.

Na realidade ... Ele não estava mentindo ‘-‘.

Feliz e satisfeita, ela pegou o jornal do dia e começou a folhear, procurando os quadrinhos e logo entregando as outras folhas para o sobrinho.

“Pobre tia ...”

Tia Adelaide era muito instável, sempre se descontrolando e fazendo coisas aleatórias. Tinha frequentes crises de choro por cada má notícia ou sofrimento alheio (quando soube que sua irmã morreu, ela quase se matou, mas ficou pensando em quem cuidaria do sobrinho). Mas quando saía da porta da casa, se controlava ao máximo, forçando a imagem de uma senhorita (NUNCA chame ela de senhora) normal.

“-Talvez eles me acusasse de louca se eu mostrasse como eu ajo, Namjoon. Mas eu não sou louca. Sua tia é perfeitamente normal”

Ele leu a manchete e viu em letras bem grandes.

“MANIPULADA: CORPO DE JOVEM É ENCONTRADO”

—Mais tragédia para esse mundo – ele murmura de forma que só ele ouvisse, começando a ler – Odair Zun, irmã da falecida se recusou a soltar o corpo.

“Mas gente ... Que tragédia ‘-‘...”

Já desanimado, ele continua lendo a notícia ... Até ler um nome que o faz paralisar.

“Chiharu ... Não pode ser você”

—Tia, eu vou ler o jornal no quarto – ele se levanta sem tirar os olhos da manchete.

—ESPERA AÍ! – ele se vira e a vê com uma cara desapontada – Não vai comer?

Namjoon engoliu seco, forçou um sorriso, voltando a comer.

Algumas mastigadas depois ...

Leu letra por letra da manchete. Aquilo não podia ser real.

—Manipulada ... Sem dizer uma únca palavra ... – ele repetiu em voz alta, como se falasse com a própria Chiharu – Você sabe que podia ter me contado ... Eu sou o ovo podre que perdeu a corrida.

Perder uma amiga era uma sensação dolorosa. Ele não conseguia imaginar a garota sorridente, boba e que tentava dar conselhos foi morta com uma bala.

—Você não me disse que seus pais morreram ... Deve ter doído – ele murmura, se lembrando da morte dos próprios pais – Mas eu também nunca contei nada sobre a morte dos meus pais.

Nanjoom nunca soube nada sobre a “melhor amiga”. Ela não sabia muito sobre ele também. Guardaram para si mesmo seus segredos e dores. Nunca mais se veriam novamente

E se arrependeu de nunca ter perguntado se ela estava realmente bem.