Entrei no camarim encontrando Tom e Alice com roupas diferentes de mais cedo.

"Uou, eu entendo todo esse negócio de emoção familiar, mas estamos atrasados, raio de Sol." Ali comentou enquanto eu me sentava no sofá tentando digerir tudo o que Anne havia dito. "E sem chances de você ir ao festival assim. Só se você quiser sair de lá pelada e com os dois pés esmagados pelas groupies."

"Não trouxe outra roupa."

"Claro que não, já esqueceu que essa função do anjo da guarda, e que no caso sou eu?" Alice piscou para mim. "Agora tome um banho rápido naquele banheiro enquanto eu separo umas opções para você."

Atrás dela, Thomas soltou um risinho e Ali deu uma cotovelada suspeita em sua barriga.

"Qual a graça?" perguntei.

"Nada, é só que Alice é meio louca." ele se esforçou para que sua voz saísse.

Peguei uma das toalhas brancas sobre a bancada e entrei no banheiro.

As palavras da minha madrasta iam e vinha na minha mente.

Principalmente:

Harry não te esqueceu, não te superou, sei o que digo.

Eu queria realmente que aquilo fosse verdade, mas se fosse, ele já não deveria ter me procurado?

Tudo bem que eu pensava que não estava preparada para um reencontro, mas ele não deveria ao menos tentar? Eu isso era o meu papel?

Nem minha mensagem agradecendo pela força com a editora ele respondeu.

Certamente, se Harry não veio atrás de mim antes, não viria agora que estava fazendo um enorme sucesso com sua boyband. Todas aquelas fãs lindas dispostas a lhe dar atenção...no mínimo.

De maneira alguma, ele deveria estar carente da maneira que eu estava.

Não quero dizer que eu havia virado celibatária depois dele. Naquele um ano, eu tinha saído com dois ou três caras, mas era tudo muito impessoal, muito morno. Sabia que, pela manhã, nenhum de nós dois ia querer de fato manter contato um com outro.

Fazia uns três meses que eu havia parado de tentar tapar buraco com outras pessoas.

Eu precisava do beijo dele, do toque dele, da voz dele. Dele, para ser mais sincera.

"ASSSS, tive uma ideia genial, como sempre." Alice gritou do lado de fora. "Eu e Thomas vamos na frente para pegarmos um lugar legal, e quando você estiver pronta, liga para mim."

"Combinado!" gritei de volta. Na verdade, eu não estava nem um pouco no humor de ir nesse show.

Como se lesse minha mente, ela berrou de novo:

"Nem pense em me dar um perdido, Aster Duchassel, a menos que você tenha um motivo excepcional."

"Eu nunca pensaria nisso." disse com uma voz brincalhona.

Saí debaixo do chuveiro a tempo de ouvir Tom sussurrando:

"Você tem certeza disso?"

"Quieto. Você precisa me ajudar para eu te ajudar. Vamos." ouvi Alice responder e abrir a porta da saída.

Tateei uma das prateleiras tentando localizar minhas lentes e depois de lavar as mãos e colocá-las, eu pude me olhar no espelho.

Comparada com há um ano, eu estava bem diferente. Parecia mais adulta, mais mulher e menos menina.

Entrei novamente na sala do camarim vendo as opções que Alice tinha separado para mim.

Eu ainda me perguntava como ela fazia para caber tudo aquilo na sua bolsa minúscula.

Escolhi um macaquinho jeans, uma blusa escura de manga comprida e botas. Não tinha um pingo de atitude para usar as roupas de Alice, mas aquela era a mais modesta ali.

Ajeitando a maquiagem ouvi a respiração funda de Alice e passos.

"Ué, eu pensei que você tinha dito que..."

Quem aparecera atrás de mim no espelho não era Ali, mas sim o garoto mais lindo que eu já havia visto.

                                                                                                      *

"Harry?"

"Aster." sua voz não tinha um pingo de hesitação.

"O que faz aqui?" eu me virei para encará-lo e ter certeza que não era apenas uma visão no espelho.

Mas era ele mesmo ali.

Harry levantou uma mão que segurava um exemplar do meu livro.

"Sei que o horário já acabou, mas será que eu ainda consigo um autógrafo?" ele deu um sorriso de canto que fez meu coração entrar em um estado de looping contínuo.

Engolindo a seco e tentando soar firme, arqueei uma sobrancelha e questionei:

"Foi essa a desculpa que você deu para os seguranças?" ele aumentou um pouco mais o sorriso.

"Talvez seja a desculpa que Alice deu a eles, eu não falei com ninguém para entrar aqui e estava no armário há um tempo. Aliás, ele bem confortável para seus livros, mas um inferno para humanos."

Alice. É claro. Maldita.

Ela não parava de mexer naquele armário.

"Se essa expressão significa que você está fazendo planos de matar Alice, por favor me inclua como ajudante porque aposto que aquela infeliz me colocou ali por pura vingança."

Arqueei ainda mais as sobrancelhas porque eu não era capaz de mexer nenhuma outra parte do corpo.

Eu estava paralisada. Não conseguia nem falar direito.

Harry estava ali. De carne e osso. Respirando o mesmo ar que eu. Com o mesmo sorriso no rosto que havia me dado da última vez, como se não tivesse passado um ano desde aquele momento.

Com o meu silêncio, Styles ajeitou sua postura e diminuiu o sorriso.

"Entendo se não estiver preparada para conversar, mas eu realmente vou querer um autógrafo."

"Você realmente quer?" Cruzei os braços e ele apenas assentiu com a cabeça caminhando em minha direção.

Eu estava meio abaixada, meio inclinada para alcançar a caneta quando ele colocou as duas mãos na bancada, cada uma ao lado do meu corpo. Me ajeitei e, graças as botas de Alice, eu estava quase na mesma altura dele.

Tão lindo. E ainda mais perfeito de perto.

Com a mão livre, ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Eu parei de respirar.

Harry estava tão perto que doía, mas não porque nos encostávamos, mas porque parecia longe demais.

Imagens inundaram minha mente, do seu corpo pressionando o meu em todos os lugares certos, me beijando, me dizendo o quanto eu era linda, o quanto ele me amava, o quanto ele amava estar dentro de mim...

Fechei os olhos e quando os abri, Harry me encarava com os lábios levemente separados, como ele a mesma lembrança o atingisse.

Então ele limpou a garganta e se afastou apenas o suficiente para colocar o livro entre nós dois.

O autógrafo, certo.

Ao pegar o exemplar, percebi o quão gasto ele estava e o selo de cortesia. Constatar que aquela era uma das primeiras edições de testes da editora, significava muitas coisas. Muitas coisas que eu não queria pensar a respeito.

Já que parecia que ele não se afastaria mais um centímetro, apoiei o livro em seu peito e comecei a escrever com cuidado.

"Você não deveria estar na Inglaterra? Fazendo shows? Dando entrevistas? Relaxando com a banda? Flertando com fãs?"

A gargalhada profunda que ele deu fez tremer o seu peito, minha letra tremeu um pouco e, principalmente, meu interior que parecia um terremoto de última escala.

"Prefiro flertar com você." sua voz foi baixa mas firme. Olhei por debaixo dos cílios apenas para encontrar seu rosto bem perto. Pelo canto do olho, eu era capaz de ver suas mãos abrindo e fechando como se lutassem para ficar longe de mim. "E eu tenho um show daqui a pouco."

Em várias páginas do livro, tinham marcadores coloridos.

"Você realmente leu?"

Por favor, diga que não. Diga que foi sua namorada inglesa, sua prima, sua tia , sua avó...

Harry abaixou a cabeça como se estivesse envergonhado:

"Por que não consegue acreditar que sou um grande fã do que você escreve? Tenho de admitir que não há uma coisa que você poste publicamente que eu não leia."

Eu o encarei. Ele não parecia estar mentindo.

Harry tirou o livro de minhas mãos quando eu terminei e o colocou sobre a bancada. Não tirei os olhos dele.

"Precisamos conversar, mas tudo o que eu menos quero fazer quando você me olha assim é conversar." Ele olhou para o relógio na parede. "E creio que não tenhamos muito tempo para isso, de qualquer forma."

Ele acariciou o topo da minha cabeça com o seu nariz e eu suspirei.

"Não vamos seguir em frente assim" declarei enquanto suas carícias desciam pelo meu rosto. Ainda assim, nenhuma das suas mãos me tocavam e eu estava quase morrendo por aquilo.

"Não quero seguir em frente se não for com você."

"Mas...a menina...do telefone... você." meu cérebro tentava formar uma frase que fosse uma desculpa convincente para que eu impedisse Harry de continuar, mas minha razão estava perdendo a briga muito rápido para o coração.

"Que menina?" ele se afastou um pouco ofegante.

"Eu te liguei algumas vezes nesse tempo que passamos separados e sempre era uma garota que atendia."

Harry me olhou sério:

"Você acha que eu sou um canalha total para estar namorando e dando descaradamente em cima de você assim?"

"Não é isso, é que... você sabe que quando se trata de nós dois, não somos muito bons em conter nossos impulsos." a risada dele foi tão genuína que me encurralou ainda mais entre ele e bancada.

Jesus, sim.

"Provavelmente, a menina que você ouviu era a minha prima. Eu havia trazido o chip dela para a América e quando voltei, ela nem me deu tempo de salvar alguns contatos ou avisar ninguém. Pelo visto, eu tinha feito ela perder o contato com um cara que ela estava afim..."

"Então sem namoradas?"

"Não quero parecer esnobe, mas não acha que se eu tivesse uma namorada já estaria estampado em algumas revistas."

Então, me atingiu.

Se Harry e eu ficássemos juntos, não iríamos apenas ter que enfrentar o julgamento de pessoas próximas à nossa família, como também de todo o mundo. Literalmente. Ele era uma pessoa pública e eu ainda era sua meia-irmã.

"Não, não. Não faça essa cara como se todo o pouco progresso se fizemos nesses últimos minutos acabaram de ir para o lixo."

Não poderíamos ficar juntos nunca.

Seria um escândalo para a imagem dele.

Estávamos tão próximos e tão perto de nos acertarmos, mas nunca daria certo. Não era para dar certo.

Poderíamos aguentar o julgamento de algumas pessoas, mas do mundo inteiro?

"Aster?" sua voz transmitia medo. Harry segurou meu queixo elevando-o.

"Não podemos." minha voz foi um sussurro quase inaudível.

Finalmente ele me tocou. As duas mãos em cada lado da minha cintura. Firmes e quentes.

"Por quê?"

Invente qualquer coisa, qualquer coisa servirá... Ignore o quanto você quer beijá-lo e se entregar a ele mais uma vez, pelo bem dele .

"Porque...porque..." Harry me olhou esperando. "Porque eu não sou assim, não consigo fingir, nem esquecer o que aconteceu um ano atrás. Não consigo esquecer que eu abri meu coração para você, despejei meus sentimentos na sua frente, me entreguei de corpo e alma e ainda assim você embora. Partiu sem se despedir depois da nossa primeira noite juntos."

Tentei agrupar todo o sofrimento que passei logo depois que ele se foi, antes de eu realmente parar e compreender o seu lado. Coloquei a mão em seu peito para que ele desse um passo para trás. Não ia conseguir enganá-lo se ele estivesse tão perto.

"Você precisa entender o meu lado."

Eu entendia, Deus, eu entendia, mas precisava terminar o que quer que houvesse entre a gente.

"Entender o seu lado? E o meu lado, Styles? Eu entreguei a você partes de mim que nunca havia entregue a ninguém e mesmo assim você duvidou do que eu sentia, você foi embora." eu abaixei minha voz observando o seu sofrimento. "E me quebrou no processo."

Mentirosa. Mentirosa.

Entretanto, eu sabia que a única coisa que Harry não aceitaria era que eu me machucasse e sofresse, então, se ele acreditasse que ele tinha me feito sofrer de uma maneira inimaginável, talvez decidisse se afastar.

Harry tinha que fazer isso.

O golpe pareceu atingi-lo pois ele deu mais um passo para trás.

"Eu nunca quis te machucar, Aster. Só não queria que você tomasse uma escolha da qual se arrependeria depois."

"Nunca me arrependeria de escolher você, Harry. É isso que você não entende e é por isso que não podemos fazer isso. Além de nossa relação estar desgastada, eu não tenho mais meios de fazer você acreditar no que eu sentia por você."

Harry agora estava distante o suficiente para que eu saísse andando pelo cômodo, mas quando dei o primeiro passo para longe dele, senti sua mão se fechar em volta do meu braço e me puxar para si.

E lá estava a magia que só acontecia com ele.

Suas mãos em meu corpo, seus lábios dos meus, seus cabelos entre os meus dedos. Tão único. Tão nosso.

Foi um beijo que começou desesperado. Cheio de saudade.

Ele desceu as mãos pelas minhas costas até a parte de trás das minhas coxas, me impulsionando para cima..

E eu deixei. Enrolei minhas pernas em volta sua cintura.

"Eu senti tanta falta de você, Aster." ele disse com meu lábio inferior entre seus dentes.

"Harry..." eu gemi quando ele colou minhas costas na parede.

"Não me diz que você acha que isso não vai dar certo, pelo amor de Deus." ele beijou minhas bochechas, meu queixo e meu pescoço. "Você está tão linda...e eu vou fazer com que dê certo, por favor."

Mas não daria. De jeito nenhum.

Reuni toda a minha força para dizer:

"Não, Harry, não." minha voz saiu mais decidida do que qualquer vez na minha vida.

Eu não precisei repetir. Ele parou de me beijar e me colocou cuidadosamente no chão.

Meu corpo queimava nas partes que ele tinha me tocado e me beijado.

A dor em seus olhos era o suficiente para me condenar a prisão por anos por fazer aquilo com ele.

Tinha de ir até o final. Caminhei em direção à bancada pegando seu livro, e então à porta, ajeitando minhas roupas e meu cabelo. Harry não parecia muito preocupado em fazer o mesmo.

"Você queria o autógrafo, certo?" Levantei o livro enquanto abria a porta. "Aqui está! Agora por favor, vá embora."

As lágrimas em meus olhos não eram fingimento. Eu tinha chorado quando ele foi embora da primeira vez, e agora chorava porque eu mesma estava o mandando embora.

Harry caminhou lentamente até mim, sem se importar em arrumar-se ou limpar o meu batom de sua boca.

Só naquele momento, eu notei o segurança enorme, que com certeza não fazia parte da equipe da editora, esperando do lado de fora. Fiquei envergonhada porque, ao menos que aquele camarim tivesse um acústico muito bom, ele havia escutado todo o drama.

Antes de sair, Harry parou ao meu lado e segurou meu queixo dizendo baixinho.

"Eu não vou desistir de você."

Então se foi, levando meu coração novamente junto com ele.

Só queria saber se algum dia ele voltaria a pertencer a mim, acho que eu já o tinha entregado para Harry e nunca mais reivindicado de volta desde os meus 10 anos naquela festa.

*