De Repente É Amor escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 35
Capítulo 34 - Desabafo.


Notas iniciais do capítulo

Estou postando meio as pressas aqui, então não posso falar muito! hahaha
Boa Leitura!



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          Ponto de vista: Florence Elliott.

Era muito para assimilar. Aquilo não tinha como ser real. Não tinha como minha vida ser uma coisa, e em segundos se transformar em outra. Não tinha como os pais leais que eu sempre acreditei serem as pessoas mais justas do mundo, terem mentido assim para mim. Não tinha como o cara que eu conheci e conversei um dia por acaso, ser meu verdadeiro pai.

                      Era uma droga. Não era o que eu esperava para o meu futuro. Era uma verdade a qual eu nunca pedi. Eu podia agora, simplesmente confirmar com a senhora Harvey, minha suspeita de que o Logan que conheci na Austrália era mesmo seu filho, mas, eu sentia, no fundo da minha alma, que não havia o que questionar. Eu havia tido uma amostra grátis do meu passado, antes mesmo de saber que ele era diferente do que eu achava.

              Ela me encarava. Eu sabia. Me encarava enquanto eu andava de um lado para o outro, naquele quarto inexpressivo, com lágrimas banhando meu rosto, e pensamentos nublando minha mente. Eu estava ofegante, confusa e com medo, e tudo o que a senhora Harvey estava me dando era tempo. Tempo para entender a mentira, e de alguma forma aceitá-la. Como se fosse possível fazer isso as pressas e não surtar no processo.

                Por ser querer ser uma jornalista desde o princípio, eu sempre gostei de histórias, dos detalhes, das características únicas de cada personagem, de todos os pontos de vistas presentes e mais ainda das reviravoltas no final. Mas, é diferente quando acontece com você. Não é tão emocionante. É doloroso. No meu caso, ainda é...Bem, eu não sei o que é, porque não vou mentir e dizer que sei como me sinto agora, sobre essa situação. Porque não sei.

          Me virei, finalmente, e encarei aqueles olhos azuis tão idênticos ao cara da lanchonete. Senhora Harvey me encarava emocionada, aliviada e com certeza preocupada. O silêncio predominava ali. Enxuguei um pouco as minhas lágrimas, e finalmente notei o que aquilo significava para ela; Liberdade, de um segredo que nunca foi seu. Liberdade antes de partir. Haviam complicações, dilemas e arrependimentos naquela história sim, mas, a senhora Harvey no fim não merecia a minha parte  amargurada, porque, depois de mim, ela foi a pessoa que provavelmente mais sofreu com essa história. Quase uma vida inteira sozinha, porque quis fazer o certo por mim.

              Me aproximei aos poucos de novo, e tentei sorrir para ela, acho que saiu uma porcaria, mas, aquilo foi o necessário para ela sorrir de volta, bem mais sincera que eu. Encaixei minha mão na dela, e a apertei com carinho, enquanto ela recomeçava seu choro, junto comigo. De forma gentil, ergui a mão dela que eu segurava, e beijei as costas da mesma, que eu segurava.

—Eu nunca...Nunca...Em momento algum, imaginei que poderia haver um segredo assim na minha vida, e eu queria dizer para a senhora, que há uma parte minha feliz com isso tudo, mas, não há. — ela assentiu, só que eu pude ver que ela estava tão triste com aquilo tudo quanto eu.  — Não pelos motivos que a senhora acha, mas, eu...Acabei de saber que tenho uma avó e agora, eu tenho que me despedir dela...Não é justo que eu sempre tenha que perder alguém...Eu estou com raiva, por não ter o que eu poderia ter tido com a senhora, mas, com mais raiva ainda, por não ter tempo para compensar sua falta....Se eu soubesse...Eu não sei... Eu só estou com medo de te dizer adeus. — admito para ela, e a mesma me fita aos prantos.

—Florence, todos meus órgãos estão parando aos poucos, os médicos já me disseram isso, então não há como fugir...E eu realmente sinto muito, pelo que não tivemos, sinto muito que você tenha vivido com tantas mentiras, mas, nesse momento, em que estou indo, tudo que peço é que me perdoe. — quase suplica por aquilo.

—Eu te perdoo por não contar, por ter ficado longe, e até por estar indo embora...E obrigada. — agradeci com a voz fraca.

—Pelo quê? — não compreende minha gratidão.

—Obrigada por me deixar dizer adeus. — agradeço, porque não tive aquilo com Landon, nem com Mila.  Logo quando a senhora Harvey assente, dou um jeito de lhe dar um abraço desengonçado, que causa soluços sôfregos nela.   — Harvey é um belo sobrenome, vovó. — garanto, já que Logan o rejeitou, ela chora ainda mais pelo título. Ela merecia ouvi-lo pelo menos uma vez.

—E o seu nome, Florence...Sabe o por que você foi nomeada assim? — olho para ela afetada quando ouço isso, e lembro das vezes que Agatha usou o suposto significado dele para me encorajar.

—Há alguns minutos, eu diria que sim, mas, agora, nem arrisco. — dou um sorriso sem humor, me afastando dela.

—Mila sempre quis conhecer Florença, então Logan prometeu a ela, que eles passariam a lua-de-mel deles lá...Tinha um significado especial para eles, e quando você nasceu, ela quis homenagear esse conjunto, mesmo que ele não merecesse isso. —  Era aquilo. Nem mais meu nome tinha a mesma importância antes. De quando eu acreditava, que ele tinha relação com as flores.

—Sabe, vovó...Eu preciso fazer algo, não vai demorar muito, eu volto. — tento garantir a ela, quando decido que vou fazer uma coisa que ficou martelando em minha cabeça.

—Não volte...Não quero que a última imagem que tenha de mim, seja eu morta. — seu pedido me faz ficar arrasada. — Adeus, Florence. — se despede de forma firme.

—Adeus. — digo, logo que já andei o suficiente para alcançar a maçaneta da porta. Me viro para ela, uma última vez,  vendo também, a última pessoa que assistiu Florence Elliott sendo Florence Elliott.

[...]

       Quando cheguei ao corredor movimentado do hospital, tentei me recompor com todas as forças. Eu precisava fazer o certo agora, e meus sentimentos não eram tão importantes nesse momento. Depois de um suspiro, quase dramático, tirei meu celular do bolso e liguei para a única pessoa que poderia me ajudar com isso.

Peggy? Eu preciso de você. —  comunico assim que ela atende, e ao sentir meu tom angustiado, ela não faz questionamentos desnecessários. — Eu preciso que ache tudo sobre Logan Grey, eu mesma faria isso, mas, estou um pouco ocupada...Consiga seu endereço, número de celular e o escambal a quatro. —  lhe peço com a voz embargada.

Por que precisaria de informações desse tipo, a respeito de um dos jornalistas mais famosos da atualidade? — ela ainda é a Peggy, e a Peggy questiona. Eu tinha a escolha de contar a ela sobre o que acabara de acontecer, mas, a verdade é que, não quero que ninguém saiba do que aconteceu, pelo menos não agora.

Para conseguir a bolsa de Harvard, eu ainda preciso de uma carta de recomendação, e eu pensei no quão...No quão seria bom que um jornalista como esse, escrevesse uma para mim. — aquela era uma grande mentira, eu já havia conseguido a carta de recomendação de um jornalista experiente na Austrália, quando mostrei um dos meus artigos antigos a ele.

Okay, me dê cinco minutos. —  pede ainda desconfiada, e eu concordo, me mantendo na ligação por todo esse tempo.  — Certo, a boa noticia é que ele está bem pertinho de você ai, ele é um dos redatores do The Northern Miner, morando em Toronto especificamente, vou te passar o endereço e número dele por mensagem. —  desliguei a ligação, depois de um breve agradecimento.

             Então era isso, o cara foi realmente capaz de voltar para o Canadá depois de rejeitá-lo, e não teve a decência de visitar a mãe. Que belo pai você tem, Florence.

          Quando cheguei a recepção do local, Kentin estranhou minha cara inchada, mas, por sorte não me seguiu, quando me viu, indo em direção ao balcão de atendimento. A loira de cabelos longos presos em um rabo de cavalo, vestida em trajes brancos me pediu que esperasse um pouco, sinalizando com a mão, enquanto digitava algo.

—Do que precisa? — questionou me encarando, algum tempo depois, parecia gentil.

—Há uma senhora que está internada aqui, a senhora Harvey, ela está morrendo...E está sozinha...O que é errado, porque quem deveria estar aqui nesse momento com ela, era seu filho...Eles estão afastados por bastante tempo, e ele não sabe da situação da mão...Eu consegui o número dele  e pensei se vocês poderiam ligar para informá-lo. — tentei explicar a situação, e ela assentiu.

—Claro. Pode anotar nesse bloco. — concorda apontando para o bloco e eu rapidamente faço isso.

—Se ele atender, pode lhe dizer uma coisa?  — questiono  de súbito, e novamente ela assente.  — Diga que ele é um hipócrita, por ficar falando sobre não ser covarde e tentar o máximo de vezes que conseguir, mas, nem ao menos tentou uma vez. — ela me olha estranhando o recado, e logo eu tenho certeza que ela não dirá nada daquilo. — Não diga nada. — peço por fim.

              Fui até onde Kentin estava sentado, na área de espera, e me sentei ao lado dele, em silêncio.

—O que aconteceu lá? — ele indaga preocupado.

—Durante a minha vida inteira, fiz todas as escolhas dela serem baseadas em uma tradição sobre bondade. Por ser uma Elliott, sempre segui os seguintes princípios; Ser gentil em todas as ocasiões, e ajudar as pessoas que precisam de ajuda. Muitas vezes senti dor para não causar dor, abri mão de coisas...Tudo, absolutamente tudo,  para seguir esse legado. O legado que a maioria das famílias tem, seja para o bem ou para o mal. Não sei quem eu sou sem isso...Não sei quem eu sou se não for uma Elliott...E agora, Kentin, eu sinto que preciso entender e descobrir quem é  a Florence, sem sobrenomes ou legados. — fiz meu desabafo, e mesmo sem compreender o que está acontecendo, Kentin e me olha com apoio, e questiona?

—E o que fará para descobrir? — eu tinha medo da resposta, a qual venho refletindo sobre desde que descobri a verdade.

—Às vezes, você tem que se perder para se achar. — falei inexpressiva.

[...]

           Foi realmente difícil convencer Kentin me deixar sozinha, mas, eu precisava disso. Caminhando pela praia de areia escura, a qual eu costumava ir quando era criança, eu me encontrava decidida a seguir meu objetivo. Estava distraída, vendo os pássaros e pensando em tudo que estava ocorrendo naquele dia, que nem notei que uma pessoa conhecida vinha em minha direção, só percebi quando meu nome, ou ex nome foi chamado.

—Florence Elliott. — encarei o dono dos olhos mais atrevidos do Canadá e resisti a minha vontade de revirar os olhos. — Uau, quem diria que a nerdzinha ia ficar tão gostosa. — comenta com deboche, logo depois dá um gole na garrafa de Scott que tem nas mãos.

—Ethan, quem diria que com o tempo voce estaria tão...Igual. — respondi no mesmo tom, e um dos ex populares mais egocêntricos da minha infância, ri.

—O que está fazendo aqui? Não sabia que tinha voltado. — puxa conversa e eu suspiro.

—E você?  A essa altura do campeonato já devia estar na faculdade. — ele é dois anos mais velho que eu, então essa seria a lógica.

—Virei mochileiro, fazendo viagens maravilhosas ao redor do mundo, preciso de um tempo para descobrir o que realmente quero para minha vida. — sua revelação, me faz sorrir.

 —Deve ser ótimo...Digo, fugir da realidade um pouco. — falo sincera, e me olha de forma séria.

—Por que não faz isso? — questiona em um tom desafiador.

—Sinceramente? Acho que não sei como começar. — revelo para ele, e o mesmo coloca a garrafa de whisky nas minhas mãos. Olho para ele confusa.

—Então, me deixe te ensinar. — podia ser eu mesma e negar aquilo de pronto, mas, então, o meu eu era Florence Elliott, e tudo o que eu queria naquele momento era deixar de ser ela.


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Notas finais do capítulo

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