De Repente É Amor escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 34
Capítulo 33 - A Verdade.


Notas iniciais do capítulo

...Voltei, e voltei com o capítulo da fanfic que eu mais chorei escrevendo! Foi escrito regado a músicas tristes e eu realmente espero que vocês se surpreendam, e sintam a emoção tanto quanto eu!

Boa Leitura!



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Ponto de vista: Florence Elliott.

Eu corria pelo calçadão da praia de modo desajeitado, enquanto tentava prender meus cabelos em um coque, durante aquela manhã ensolarada, a alça do meu vestido deslizava por meu ombro, por conta do meu mal jeito ao me movimentar, e um sorriso enorme se destacava em meu rosto. Esbarrei em um cara que aparentava ser um turista, e gritei um “Desculpe”, acenando, logo que  as sandálias nas minhas mãos, por pouco não deslizavam  entre meus dedos e caiam no chão. Podia estar quase desesperada para chegar em casa, antes que Agatha chegasse da  de Faraize  e notasse que não dormi na nossa, assim como ela, mas, me encontrava feliz, muito feliz.

              Logo que cheguei na escadaria da minha casa, puxei as chaves de dentro da bolsa, e a passei na maçaneta, adentrando dentro da mesma com facilidade. Soltei um gritinho animado por minha aparente rapidez, mas, minha animação diminuiu gradativamente, quando notei Agatha sentada no sofá sala de um jeito que denunciava que ela já estava aqui há bastante tempo.

—Eu sei...Eu sei que devia ter avisado que dormiria fora, mas, aconteceram algumas coisas na exposição, Nathaniel precisou de mim, e uma coisa levou a outra...— comecei a explicar, colocando minhas sandálias sobre a mesa de centro.

—Primeiro você some no dia do seu aniversário e não diz onde está por horas, e agora isso...Parece que alguém aqui acha que por completar 18 anos, ganhou regalias. — Agatha acusou se levantando, e eu me surpreendi.

—Claro que não, isso não vai ficar se repetindo, foram só duas ocasiões especiais...E não é como se você fosse lá um grande exemplo de responsabilidade e maturidade tia Agatha, qual é! Você permitiu uma festa com bebidas na sua casa há pouco tempo atrás! Festa essa que eu tentei rejeitar! — lembro a ela, sem entender o porque de seu comportamento.

—Esse não é o ponto aqui, Florence...O ponto é que eu sou sua responsável e tenho que ser informada de todos os seus passos, até mesmo quando não estou em casa. — soa extremamente séria quando diz isso, e eu franzo as sobrancelhas para sua hesitação.

—O que está acontecendo com você? Por que está agindo como se eu tivesse assassinado alguém? Eu só dormi fora e não me lembrei de te avisar, como a adolescente que você sempre esperou que eu fosse, faria. — quero respostas, pois seu nervosismo é incoerente.

             Agatha passa a mão por seu rosto e suspira. Nunca vi ela assim tão atordoada e preocupada, parecia que algo grave havia ocorrido, ou então estava prestes a acontecer.

—Eu sinto muito, querida...Só...Recebi uma noticia que me tirou um pouco dos eixos. — me comunica tentando sorrir.

—Do que se trata? — agora sou eu que estou preocupada.

—Me ligaram do hospital central do Canadá...É a senhora Harvey, ela está nas últimas. — aquilo me afeta, pois aquela mulher faz parte de uma parte da minha vida que tenho tentado superar, só que o que se sobressai é meu estranhamento sobre Agatha soar tão abalada a respeito dessa situação, digo, ela nem a conhecia, certo?

—Isso é horrível. — digo fazendo uma careta.

—Sim, você tem que ir até lá, Florence...Você precisa falar com ela. — franzo as sobrancelhas para aquele comentário, completamente confusa.

—Por que eu iria? Eu não tenho nenhuma ligação com ela, além do fato de que meus pais iam uma vez por ano até a casa dela, e que foi  por causa de uma dessas visitas que eles morreram.  — tento não soar rancorosa ao falar isso.

—Confie em mim, você tem mesmo que ir...Talvez, essa seja sua única chance de acertar as coisas deixadas de lado em sua vida. — odeio o fato de que aquilo soou enigmático.

—Não. Não tenho que superar nada sobre isso. Não a culpo pela morte dos meus pais, Agatha, se esse for seu ponto, espero que ela tenha paz, e para mim é o suficiente. — lhe comunico.

—Eu já comprei suas passagens, Florence...Você precisa mesmo ir. — olho para ela sem acreditar.

—Por que fez isso? Eu não posso sair da Austrália agora, eu tenho a escola, lembra? Preciso de notas para ter um futuro. — não entendo porque ela cometeu aquela loucura.

—Serão só alguns dias. Dois no máximo...Por favor não vá contra isso, um dia você me agradecerá. — ela estava a ponto de chorar, e isso me desarmou de alguma forma. Parecia realmente importante. — Só faça as malas. — é o que ela pede.

           Confusa, tocada e preocupada, eu simplesmente assinto, e pego minhas sandálias de novo, indo rumo ao meu quarto. Encontro Booh no tapete, mas, não me dou ao direito de acaricia-lo naquele momento, ainda estou incrédula sobre a situação que acabara de acontecer.

           Dentro da minha bolsa, meu celular começou a tocar, meio no automático o peguei. Nathaniel estava ligando, me aproximei da janela do meu quarto, espiei lá fora pela cortina, então simplesmente atendi a ligação.

Hey, fiquei realmente preocupado quando acordei e não te encontrei aqui, sei lá, me perguntando se você se arrependeu sobre o que fizemos. — sua voz estava séria, e eu podia sentir seu medo daqui.

            Como eu poderia estar arrependida de uma experiência que me causou uma felicidade instantânea? Quase sorri de novo.

Não, eu não me arrependi...Só precisei correr...Literalmente...Para tentar chegar em casa antes de Agatha. — ele soltou uma risada, completamente aliviado.

E conseguiu?  — questionou calmamente.

Para falar a verdade, não...Só que isso não é importante...Eu cheguei aqui e me deparei com uma situação louca. —  sendo meu namorado, ou conseguindo qualquer outro possível título, ele ainda era e sempre seria meu melhor amigo; A pessoa com quem eu podia desabafar.

O que aconteceu? — ele estava em alerta.

Eu vou ter que ir para o Canadá, as pressas...Enfim, é bem estranho explicar, só que eu aparentemente tenho que estar lá. — houve um breve silêncio do outro lado da linha.

É, isso é realmente estranho, mas, eu estou vendo que nem você entendeu isso ainda, então não pode me explicar...Você precisa de mim? Quer que eu te leve ao aeroporto? —  completamente prestativo, ele não deixa de ser o cara fofo nunca.

Não...Digo, Agatha provavelmente me levará, já que tudo isso é ideia dela. — respondo de pronto.

Como se sente...Sobre voltar para o Canadá? — quando ele me fez essa pergunta, encarei a foto do meus pais presentes em meu quarto e suspirei.

Sinceramente? Não sei...Como você disse, nem mesmo digeri ainda a ideia de que irei... — aquilo é realmente verdade.

—Se precisar de mim, saiba que vou estar colado ao celular...Eu te amo, se cuide. —  finalmente consigo sorrir de novo.

Não está com medo de que eu não queira voltar para cá, se for para lá? — brinco.

Estou confiando todas as minhas fichas nesse relacionamento Florence...No entanto, é bom sempre garantir, então por favor, volte para mim, Florence Elliott. —  se eu soubesse...Se naquele momento eu soubesse que Florence Elliott nunca voltaria, eu seriamente não sei se teria ido.

      Porque, às vezes, coisas acontecem com você e mudam tudo em sua vida. Uma verdade, a qual você nunca desconfiava que existiu é jogada na sua cara, e todo o resto deixa de fazer sentido, ou começa a parecer mentira. Eu não pedi por isso. Não pedi por uma reviravolta. Não pedi para que minha vida fosse diferente, mas, ela era. E droga! A parti do momento que você tem conhecimento sobre isso, não tem como nada voltar a ser como antes, não tem como você ser como antes. Porque o antes era errado, e o agora, ou o futuro, por mais inacreditável e injusto que soe é o que você deve ser, ou deveria ter sido. É o certo.

[...]

                 Peggy surtou quando eu liguei para ela lhe comunicando que tinha que fazer essa viagem, já no aeroporto, e pediu que eu a ligasse de novo logo e explicasse tudo. Concordei rapidamente.  Solicitei também que ela dissesse a nossos amigos sobre isso e comentei que Faraize resolveria minha falta com a diretora. No começo da tarde, minha tia me deixou no aeroporto, e ainda meio confusa com tudo isso, me despedi dela.

              Mandei uma mensagem para Kentin avisando que eu estava indo. Pelo menos havia uma boa parte boa nisso. Eu podia reencontrá-lo, e até rever Violette. Ele adorou a novidade, tanto que disse que me esperaria no desembarque.

            Foram dezesseis horas de viagens regadas a muita música calma e livros de romance, então logo no começo da manhã do dia seguinte, desembarquei no aeroporto internacional de Vancouver. O frio típico da minha cidade me abraçou com carinho logo que desci do avião. Por sorte, minha documentação estava em dia, então minha tia resolveu a parte burocrática da viagem com facilidade.

                Conhecendo aquele lugar bem, eu tinha vindo preparada, muito bem agasalhada. Me encolhendo dentro do casaco, puxando minha mala, em me encontrava perdida em meio as estruturas daquele lugar. Varri todo o local, em busca do meu melhor amigo de infância e um sorriso de orelha a orelha se abriu em meu rosto, quando o avistei parado perto do telão dos voos. Acenei para ele, quando o mesmo notou minha presença e corri até lá, mesmo exausta pelo voo longo. Me joguei em seus braços, rindo igual uma boba, me sentindo estranhamente em casa agora, com sua presença.

—Eu senti sua falta. — tive que o comunicar disso, quando nos separamos, ele apertou meu nariz já vermelho pelo frio, e sorriu para mim.

—Eu também...E depois dessa sua visita estranha a senhora Harvey, podemos comer alguns cookies. — ofereceu me abraçando de lado, e segurando minha mala.

—Na verdade...Acho que antes de ir para o hospital preciso fazer uma coisa...Ir a um lugar. — mesmo sem saber do que se trata, ele assente.

[...]

             Observei a neve caindo pela janela durante todo o caminho. Eu estava emocionada por ainda lembra o caminho, por me recordar dos detalhes mais bobos e por ainda me sentir verdadeiramente parte disso. Quando desci do carro, e paramos no lugar que eu pedi para ele me trazer, reuni toda minha coragem e suspirei com vontade. As lágrimas que segurei por todo percurso, finalmente escaparam por meu rosto, quando encarei a fachada da casa que um dia foi meu lar.

              Ela estava tão diferente, mas, ainda sim, tudo ali era tão real para mim. Se fechasse os olhos e me esforçasse um pouco, ainda podia ver minha mãe em frente a ela, se despedindo do meu pai, antes dele ir para o hospital, cumprir algum turno. Se tentasse só mais um pouco, podia sentir o amor exalando por aquele ar. Amor que Mila Elliott colocava em tudo que fazia. Sua presença ainda se encontrava ali, era assustador como eu podia supor isso.

—As flores se foram. — notei em um sussurro, ao ver que não havia nenhuma delas ao redor da residência.

—As pessoas que a compraram são alérgicas a pólen. — Kentin me diz calmamente e eu dou um meio sorriso em meio as lágrimas, ao lembrar que Nathaniel também é. Lembrar dele de alguma forma me faz sorrir.

—É uma pena...Elas realmente deixavam o ambiente mais bonito. — comento, tentando enxugar meu rosto.

—Pelo que eu lembro, não era isso que deixava esse lugar bonito. — Kentin pisca para mim, e eu dou uma risada.

—Obrigada...Por ter vindo comigo. Significa muito. — lhe conto e em resposta a isso, ele me abraça pela segunda vez naquele dia. Me acomodo ali, tentando achar segurança naquela ação. A garota quebrada dentro de mim grita por atenção, quando nota quando estamos em uma zona sensível, e eu tenho medo, medo de voltar para aquele poço de novo.

[...]

       Música

Quando eu era criança, lembro que de vez em quando, meu pai me levava para o hospital, onde ele trabalhava, e me mostrava as coisas mais interessantes de lá, acho que alguma parte dele ainda tinha esperanças que eu desistisse dessa ideia de ser uma jornalista, e quisesse me tornar uma médica. Isso, essas visitas, acabaram tirando meu medo de ir em lugares como aquele. Com o tempo, acabou se tornando confortável. Eu gostava quando,ele me exibia para seus amigos, dizendo que aquela loirinha curiosa e inteligente era sua filha. Havia tanto orgulho em sua fala. Ele me amava tanto. Sinto falta disso.

             Então não foi difícil quando cheguei ao hospital que a senhora Harvey se encontrava. Digo, rapidamente reuni informações sobre o quarto que ela estava hospeda, me registrei na recepção e subi até lá. Kentin que gentilmente me acompanhou de novo naquele dia, disse que me esperaria do lado de fora. Estava realmente curiosa, pensando se finalmente descobriria porque para Agatha era tão importante que eu estivesse aqui.

              Entrei sem hesitar, e o que encontrei foi uma senhora em um estado muito debilitado lutando pelo último tempo de vida. Era comovente. E reflexivo. Por um momento me questionei como seria se meus pais tivessem tido a chance de chegar até ali. Eles com certeza estariam felizes. Juntos. Como eu sempre os vi.

              Me aproximei da cama, em passos calmos e quando a mulher mais velha notou minha presença, ela demorou um tempo para reagir, só que logo sorriu. Senti uma emoção estranha ao ver aquilo, então me limitei a sorrir de volta.

—Oh...É você mesma, Florence...Você cresceu. — soava emocionada ao dizer aquilo, e por estar conectada há alguns aparelhos que a ajudavam a respirar, sua voz saiu fraca. Nem sabia se era aconselhável ela falar naquelas circunstâncias, de qualquer forma, a mesma parecia bem disposta a isso.

—Sim, passaram-se seis anos desde a última vez que nos vimos...Sinto muito por termos de nos reencontrar assim. — falei hesitante, me referindo ao seu estado.

—O fim chega para todos, querida...Não precisa se lamentar por mim. — parecia estranhamente conformada, o que era triste. Acho que é isso que acontece quando se passa praticamente uma vida inteira sozinha. Eu não sabia da história da senhora Harvey, mas, pude supor que talvez sua ida fosse para ela mais uma libertação do que um fardo.

—Pensei em trazer flores, mas, achei que ia parecer um pouco mórbido...Dado...Dado o histórico dos meus pais com isso. — revelei meio sem graça, soltei uma risada estranha. Ela começou a me avaliar, com seus grandes  olhos azuis que pareciam tão cansados.

—Você está tão linda...Mila estaria tão orgulhosa da mulher que você tornou. — sua voz agora estava embargada.

—Eu espero que sim. — era o que eu realmente  esperava, que um traço do ser humano que eu sou, pudesse honrar os grandes seres humanos que meus pais foram.

—Quando você era pequena, e Mila ia me visitar, ela sempre me contava histórias sobre você, eram coisas bobas para qualquer um, mas, para uma mãe...Era o mundo...Me contava sobre as palavras novas que você aprendia, sobre suas aventuras com Kentin, sobre o que você gostava, sobre o que não suportava... — falava nostalgicamente, olhando para um ponto qualquer. A essa altura, meus olhos já estavam marejados de novo. Ela falava com tanta propriedade sobre aquilo, no entanto, nunca soube que minha mãe era tão intima assim dela. Estou descobrindo hoje, que sei de poucas coisas.  — Quando você disse a ela que queria ser uma jornalista...Lembro que ela ficou aterrorizada, mas, disse para mim que te deu todo o apoio apesar disso...Mila sempre quis que...Para ela...Para ela tudo que sempre importou foi a sua felicidade. — ela começou a gaguejar nas últimas falas e eu me preocupei.

—A senhora quer que eu chame um médico? — indaguei de pronto, e a mesma sorriu para mim.

—Não...Eu preciso falar, não sei se terei outra oportunidade de fazer isso, Florence. — me comunica, e calmamente, eu assinto para ela.

—Isso tem haver com o fato de eu estar aqui?...Senhora Harvey, se isso for sobre a senhora se sentir culpada pela morte dos meus pais, a senhora não é...O cara bêbado que os atropelou é...As circunstâncias são...Eu não guardo ressentimentos a respeito disso. — tento lhe tranquilizar, lembrando das palavras de Agatha sobre superação.

 —Sempre tão preocupada com todos...Você também puxou isso da Mila...Você puxou tantas coisas dela. — eu estava começando a ficar aflita. Por que tantas referências a minha mãe? Por que eu estou aqui?

—Eu admito que não estou entendendo muita coisa sobre o que está acontecendo aqui. — lhe conto, querendo falar sobre minha angústia. Ela sorriu de modo carinhoso. —Por que Agatha estava tão nervosa quando me comunicou que eu teria que vir aqui? — quero realmente saber. Quero que as coisas façam algum sentido.

—Ela tem medo da coisa que a maioria das pessoas tem. — me revela calmamente. — Da verdade. — complementa e isso me faz ficar em alerta. — Me diga, Florence, você sabe como seus pais se conheceram? — parecia bastante abalada ao me perguntar isso.

—Sim...Era ação de graças, minha mãe foi levar flores para a senhora, como fazia desde...Sempre, e então esbarrou com o meu pai, em uma praça...Ela, tagarela como era, contou o que iria fazer, e naquele mesmo instante ele se apaixonou por ela. Por sua bondade. — eu não entendia porque, mas, ao passo que narrava o resumo daquela história que tinha ouvido tantas vezes, eu estava com medo. Me sentia aterrorizada.

—É uma linda história. — a senhora falou sorrindo para mim, e eu assenti, em meio as lágrimas que já desciam por minha face. Era a minha história também. Foi por meio dela que eu nasci. — A vida é tão injusta, Florence...Quem deveria estar aqui, agora, te contando tudo era Mila, não eu...Eu nem sei se tenho direito de fazer isso, mas, eu estou indo, e preciso me libertar disso, Agatha não queria que você soubesse...Mas, ela é boa o suficiente para entender que eu não iria e paz, se não te contasse. — aquilo só faz com que eu me assuste mais.

              Aquilo era completamente. Aquela situação era insana. Eu devia sair agora, e manter a minha própria sanidade, mas, eu simplesmente não conseguia me mover, era a curiosidade latente da futura jornalista gritando em mim. Eu precisava saber o que quer que fosse que aquela mulher tinha para me falar.

—Que verdade? — reuni toda minha curiosidade para questionar.

—A verdade sobre como seus pais se conheceram já é um bom começo. — dizia isso com mais calma ainda. Franzi as sobrancelhas. Como assim? O que podia ser diferente da versão que eu sabia? O que podia ser tão importante a ponto de eu precisar de uma viagem de dezesseis horas para descobrir? Algo me dizia que eu não estava preparada para a resposta. — Eles estavam no ensino médio, no último ano para ser mais específica...Sua mãe era o tipo de garota cheia de vida, alegre, que estava sempre nos holofotes, gostava de flores,  de pessoas, e de organizar festas...Oh, Mila era uma grande festeira, tudo era motivo de festa para ela....Apesar dela e Agatha serem sozinhas no mundo, isso nunca tirou o brilho do olhar dela, Mila estava sempre feliz...Seu pai era diferente dela, mais fechado...Era o tipo de rapaz que saia com uma menina diferente a cada noite...Sabe, esses meninos populares em escola? Que praticam esportes, que bebem além da conta e todas as garotas babam por ele? Ele era esse garoto. — sorria, enquanto contava, de novo com aquela expressão de nostalgia.

—Sua história até poderia ser levada em conta por mim; Se esse cara que você descreveu não fosse completamente diferente do meu pai. Landon Elliott era o homem mais responsável, sério e apaixonado que eu conhecia. Não existiria um universo que ele seria do tipo  galinha. — dou uma risada incrédula para aquele absurdo. A mulher  havia praticamente descrito Dake, e meu pai era completamente diferente dele, se fosse para ele se parecer com alguém, ele se pareceria com Nathaniel.

—Esse é o ponto, doce menina. — agora ela não sorria. Estava terrivelmente séria.

—Que ponto? — ai estava o medo dando as caras de novo.

—Eu não estava falando sobre Landon Elliott. — quando ela soltou aquilo, eu olhei para ela, segurando a respiração. Completamente estática. Okay...Ela...O que...O que ela estava tentando dizer?

          Enxuguei meu rosto com brutalidade, e me afastei um pouco da cama daquela mulher.

—Isso...Isso é louco...Você está querendo dizer que...Que Landon Elliott não é meu pai? É isso que quer dizer? Porque é loucura...Um tipo de loucura das grandes. — começo a negar, ficando ofegante do nada.

         De repente começo a rir para aquele absurdo, isso enquanto ainda choro. A senhora Harvey me encara chorado também. Não! Droga! Não! Isso não está acontecendo. Está tudo errado. É mentira. Tem que ser mentira. Eu me recuso a acreditar nisso.

—Quem? — após alguns segundos questiono isso, do nada. Se aquela droga iria começar a fazer sentido em algum ponto, que fosse agora.

—Meu filho. — há tanta dor quando ela revela isso. Dou um passo para trás, e abafo um soluço. Algo está desabando dentro de mim e não é aos poucos. Sinto todas os sentimentos existentes no universo se revirarem dentro da minha cabeça e de repente, em um clique, a minha vida não parece mais minha. Era como se eu estivesse no corpo de outra pessoa.

         Sem aviso prévio, e sem nem perguntar se eu estava pronta para isso, ela continuou;

— Como eu disse, meu filho era um rapaz cobiçado por todas as garotas, e ele tirava bastante proveito disso, admito...Mesmo sem o pai dele presente, o mesmo morreu quando estava na guerra, eu tentei ensiná-lo a respeitar as mulheres e coisas desse tipo, mas, ele sempre foi um furacão, ninguém conseguia o controlar...Então ele conheceu a Mila, tudo mudou para ele, ele falava de todas as outras garotas como se elas fossem só isso, garotas, mas, quando ele falava de Mila...Havia tanto cuidado, tanta devoção...Os dois se conheceram quando Mila ajudou o time de basquete que ele jogava a organizar a festa da vitória...Eles se apaixonaram instantaneamente. — Não tinha nada haver com aquela situação, e nem momento, eu nem devia me focar em coisas como essa, mas, tudo que pensei naquele instante, foi no dia que contei a Nathaniel sobre como me sentia a respeito de Dake: Ele apareceu na minha vida no momento em que eu mais precisava de alguém, e eu...Me apaixonei instantaneamente.

             Balancei a cabeça, e voltei a ouvir a história — Eles estavam sempre juntos, sorrindo um para o outro, nunca vi meu filho tão feliz, e tão em paz...Eu achei que ele finalmente tinha encontrado seu caminho. Que eu tinha feito um bom trabalho... — não deixei que ela continuasse.

—Achou? — foi quase um sussurro.

—Ele nunca gostou muito do Canadá...Seu sonho sempre foi New York...Ele sempre quis ser... — de novo não deixei que ela prosseguisse. Soltei uma risada de escárnio.

—Um jornalista? É por isso que você falou que a minha mãe ficou aterrorizada, quando eu disse para ela que queria ir para New York ser uma? — se fosse aquilo, era uma ironia maldita. Ou uma herança da qual eu não sabia que podia ter.

—Me deixei continuar, Florence, por favor. — tossiu um pouco, e eu suspirei antes de assentir. Me perguntei por um instante; Se o problema que estava lhe levando embora desse mundo era seu coração, como ela parecia lidar melhor com a emoção de contar aquela história do que eu que estava ouvindo e era jovem e saudável? Bem, não era o mundo dela que estava girando de cabeça para baixo afinal.

—Sim, seu sonho era ser jornalista, ele sempre foi curioso sobre o mundo, e ele era ambicioso a respeito disso...Mila o apoiava, ela estava disposta a ir onde quer que ele fosse, ela o amava, o único sonho dela era ser feliz com ele, ter uma família. — a senhora Harvey falava aquilo com muita seriedade.

—E o que aconteceu para o conto de fadas acabar? — meu deboche é palpável, mas, quando noto que a interrompi novamente, dou outro suspiro. — Desculpe. — sou educada o suficiente para pedir. Sou educada o suficiente, em meio a uma dor, que me faz querer chorar como uma garotinha que se perdeu da mãe no supermercado. Eu não tinha mais ela. Eu não tinha mais nada. Eu nem tinha controle sobre minha história. Minha história nem era mais verdade.

—Ela engravidou de você. — ótimo, a história só piora. Digo, eu ainda podia ter esperanças que houve uma separação por um acaso do destino, certo? Isso ainda era eu tentando achar o melhor em pessoas que não tem um lado melhor. — Ela contou ao meu filho, e o que ele fez foi dizer a ela que aquilo era um erro...Que você era um erro...Eu odeio o que vou dizer agora, mas, ele disse para que ela tirasse você. — soluçou quando contou essa parte, e as minhas lágrimas voltam com força.  — Ele era tão...imaturo...E ela era tão forte, ela lutou por você, disse que teria esse filho, isso foi na mesma época que ele conseguiu a aprovação para uma bolsa em Harvard, mesmo sabendo que tinha engravidado ela, ele decidiu ir, ele fugiu, sem ela...Eu fiquei arrasada pela ida do meu filho e pelo término sem aparente razão dos dois, e não fazia a miníma ideia de que sua mãe estava grávida...Na ação de graças, mesmo devastada, ela se preocupou em levar flores para mim e me fazer companhia, e foi nessa visita, que por meio de uma ligação minha com meu filho, que ela escutou, a mesma descobriu que ele já estava com outra garota...Ainda com as flores na mão, ela saiu correndo da minha casa. — narrou não se mostrando orgulhosa de nenhuma parte.

—Foi o dia que ela conheceu o Landon. — não é preciso de muito para entender isso.

—Sim, ele era estagiário no hospital local, sua mãe esbarrou nele, chorando e ele deu um jeito de acalma-la. Eles não se apaixonaram naquele dia, Florence, eles se tornaram amigos...Uma semana depois da ação de graças, sua mãe veio até mim, e me contou que eu seria avó. — Avó. Uma coisa que eu nunca tive. A senhora Harvey é minha avó. — Eu liguei para o meu filho, exigi que ele fosse um homem e que voltasse para assumir suas responsabilidades, falei que se ele não fizesse isso, poderia esquecer que tinha uma mãe...Dado o tempo que estou sozinha, ficou claro o que ele decidiu. — chora mais um pouco. — Fiquei ao lado de sua mãe na gravidez, levando em conta que pouco antes dela descobrir que estava, Agatha, sua irmã mais velha tinha se mudado para a Austrália, e ela ficou sozinha...Tentei lhe dar algum suporte, mas, quem fez praticamente tudo por ela foi Landon...Aquele homem...Aquele brilhante homem se tornou seu melhor amigo, e eu pude ver o amor dos dois ser construído com o tempo, com paciência...Quando você nasceu, ele decidiu que seria seu pai, eu estava lá, eu vi ele chorar como um bobo quando te pegou nos braços...Não demorou muito para um se declarar para o outro e Mila ser pedida em casamento. — sobre essa última parte, a senhora Harvey parecia feliz. — Você sabe, os pais do Landon nunca estiveram presentes na sua vida...O caso é que, eles nunca apoiaram o fato dele assumir uma criança que não era dele. Por isso não se candidataram para ficar com você, quando ele morreu. — essa última explicação esclarece muitas dúvidas minhas. Era por isso que eles não gostavam de mim, por isso não me quiseram.

—Mas, e você...Se você é minha avó mesmo, por que...Por que nunca quis esse título? Por que não esteve comigo quando era criança? Por que não cuidou de mim quando eles se foram? Por que eu nunca soube. — Não. Aquilo não fazia sentido. Aquela história tinha furos.

—Eu não merecia isso. Fui eu que não fui capaz de educar meu filho bem. Eu não merecia a honra de ser sua vó, por isso fiz Mila concordar em me deixar de lado. — aquilo era altruísmo demais. Era quase inacreditável.

—Onde...Ele está agora? — questiono ofegante.

—Não sei...Eu nunca mais o vi...Ele nunca mais me ligou ou deu noticias, desde que desisti dele. — falou aquilo como uma mãe devastada falaria.

—O nome...Você não mencionou o nome dele nenhuma vez. — noto séria, e a mesma suspira.

—É Logan...Logan Grey...O mesmo usava esse sobrenome do pai dele, não gostava do meu; Harvey. — de primeira tudo que fiz foi assentir, então fitei ela fixamente. Aqueles olhos azuis oceano. Aquele nome. Aquela história.

— Você parece familiar. — fala, franzindo as sobrancelhas.

—Devo ter um rosto comum. — digo, incomodada.

—Me desculpe de novo...Mas, da onde você é? — engulo a seco com a pergunta, e ele nota meu desconforto, tanto que complementa. — Digo, você é Australiana? — questiona e eu suspiro.

—Canadense. — digo rápida e ele sorri.

—Deve ser isso, então. Posso já ter te visto por lá. Sou Canadense também. Moro em Vancouver. — ele fala surpreso, com a coincidência e é minha vez de sorrir.

 — Acho que você não deve ter me visto. Vim para cá  com 12 anos, e desde então, não piso no Canadá. — comunico, brincando com meus dedos. Um hábito que eu havia começado.

—Okay...Vou te deixar em paz. — fala, só ficando sem graça agora, por sua abordagem estranha.

     Para me redimir, por meu comportamento hesitante, resolvo perguntar:

—O que está fazendo aqui, na Austrália? — a questão faz ele sorrir.

—Uma matéria. Sou jornalista, e vim conhecer um pouco os aquários daqui. — conta animado, e eu dou um sorriso sincero.

—Que coincidência, estou tentando uma bolsa  para jornalismo, em Harvard. — digo, e ele fica ainda mais surpreso. — A propósito...Sou Florence. — me apresento tarde demais, e ele aperta a mão que eu estendi.

—Logan. — diz de volta.

    Separamos nossas mãos, e ele continua de pé, e mesmo sem entender o motivo, peço que ele se sente.

—Desculpe a intromissão de novo...Mas, por que estava daquele jeito? — não parece curiosidade. Apenas uma preocupação genuína.

—Já machucou alguém que ama de um forma tão profunda, que parece ser errado, ser feliz, enquanto essa pessoa sofre?  — indago, sem me preocupar, com o que ele poderá pensar de mim.

—É a história da minha vida. — fala com um sorriso amargo.

—Ótimo! Isso pode durar uma vida toda.  — debocho e ele suspira.

—Quer um conselho? — questionou e eu assenti. — Não desista de tentar se redimir, por isso. Nunca. — diz sério. —  Perder alguém que ama, porque foi covarde, por não tentar suficiente, é o pior arrependimento que pode ter em sua vida. Porque no fim, a vida não é justa, e as oportunidades de sermos perdoados, acabam antes do que você esperava.


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Notas finais do capítulo

É realmente importante para mim saber o que vocês acharam, desses dois últimos capítulos tão emocionantes para mim!
Comentem!



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