O Legado de Pontmerci escrita por Ana Barbieri


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos!

Nos vemos no final do capítulo, até lá: Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/670990/chapter/1

3 de Outubro de 1900

Louis Bergerac de Pontmerci era um homem honrado na medida em que um Pontmerci poderia ser. Sendo assim, por mais que desgostasse de funerais, cumpriria a promessa que havia feito a seu pai em seu leito de morte e cuidaria dos preparativos para a cerimônia, sem deixar que qualquer pormenor tivesse que passar pelo aval de sua mãe. Em circunstâncias habituais, ela não permitiria que qualquer acontecimento fosse planejado sem que a palavra final fosse a sua, contudo, aquilo estava muito longe de ser o habitual.

Os Pontmerci não eram boêmios, e, portanto, não sentiam grande necessidade em exaltar a vida. Ainda assim, quando esta se perdia, demonstravam o devido respeito pela passagem de um plano para o outro. Louis sempre fora o mais religioso dos três, sem deixar que sua fé se transformasse em fanatismo, e encarava a morte pacífica de seu pai como uma benção. Fazia um bom tempo que vinha sofrendo com as pontadas em seu coração, mas não sofreu em suas últimas horas. Apenas fechou os olhos e apertou uma última vez a mão de seu precioso menino e de sua esposa.

Sentiria sua falta, pois ali jazia o corpo do melhor homem que conhecera. Em seus olhos, era possível verificar a dor da perda. Bem como a sensação de não saber o que fazer a partir dali. Agora, ele era o homem da casa e deveria cuidar de sua mãe... Sua mãe, a distinta Madam de Pontmerci. Estava sentada ao lado do caixão do falecido, ao passo que seu filho sentava-se na fileira da frente com o resto de seus parentes, o que tornava a missão de não encará-la quase impossível. Louis sabia que ela não estava contente por estar ali. Era uma mulher católica e frequentava a igreja, mas não compartilhava do fervor de seu filho para com a benevolência de Deus.

Lá estava ela, ao lado de seu marido, como sempre havia estado em vida, com sua postura resoluta de ferro, apoiando uma das mãos enluvadas em sua bengala de prata – a qual passara a sempre trazer consigo a partir do momento em que se tornara imprescindível para conseguir manter a cabeça mais erguida do que a de todos. Seu semblante, por mais entristecido que estivesse, não deixava de exaltar um quê de alerta aos presentes para que não procurassem confortá-la. Nenhum lenço à mão. Porém, seu filho foi capaz de vislumbrar uma lágrima solitária em seu rosto.

A princípio, pensara que o intento de seu pai ao insistir para que ele preparasse o funeral fosse simplesmente poupar sua mãe. Contudo, ao vê-la adentrar a igreja com a mesma expressão imperiosa de sempre, sentiu-se compelido a duvidar do julgamento que seu pai fizera dela. Era tão forte quanto seus gestos habituais demonstravam. Todavia, toda aquela calma poderiam esconder muito mais do que o rapaz suspeitaria. Afinal, não seria correto inferir que a conhecia tão bem. Certamente, ninguém conhecia Madam de Pontmerci tão bem.

Havia vivido confortavelmente com Sebastian. E por mais que à luz dos acontecimentos recentes remetessem sua esposa a relembrar o infeliz início de seu casamento, ainda conseguia sentir o sofrimento da perda de um ente querido. Afinal, um começo infeliz nem sempre implica em um final infeliz e uma vida dentro da Assembleia francesa fizera com que Madam de Pontmerci aprendesse a sempre tirar o melhor proveito de uma situação. No entanto, aquele não era um jantar na embaixada, mas sim o funeral de seu esposo e o silêncio seria seu aliado. Resguardaria seu direito de não proferir qualquer som durante o último adeus a Sebastian Depardieu de Pontmerci.

Os sentimentos de seus parentes foram todos dirigidos a Louis, visto que nenhum deles ousaria quebrar a aura negra que cobria a viúva naquele momento em metros de tecido que escondiam sua face. E tão pouco adiantaria oferecer-lhe um aperto de mão, visto que as suas estavam bem fixas na bengala. Da parte de seu filho, não havia nada que pudesse reprovar nela. No enterro de seus pais portara-se da mesma forma, embora o lenço naquela ocasião tivesse encontrado o caminho até seus olhos avermelhados. Decidiu-se por crer que aquela era a forma com que ela encarava o luto.

Quando tudo chegou ao fim, tomaram o carro de volta para casa, silenciosos, e seguindo caminhos separados ao passarem pelo hall em direção às escadas. Madam se recolheu em seu quarto de vestir, retirando o chapéu com o véu e as luvas pretas. A criada entrou em seguida para ajudar-lhe com o casaco, avisando-a de que havia correspondência endereçada a ela em cima do toucador. Já sentindo-se menos pesada, dirigiu-se até a bandeja com as cartas.

Observar a cor esvaindo-se do rosto de seu marido não fizera com que perdesse a sua própria com tanta intensidade quanto ao vislumbrar o conteúdo da primeira que abriu. Não podia ser... foi há tempo demais... tempo suficiente para permitir que o passado permanecesse no passado. Aflita, quase desmaiou; sendo acudida pela criada que gritou por seu filho. Quanta decepção ele teria que aguentar de uma vez só. Assim que a viu sem cor, arqueou as sobrancelhas, tomando a carta de suas mãos. Leu-a numa respiração só, tornando a fitá-la com descrédito.

─ É verdade? – indagou com petulância, provocada pela pancada na memória até então imaculada que possuía de seu pai. Sua mãe resumiu-se a acenar positivamente com a cabeça. – Não. Papai jamais teria...

Mas algo nos olhos dela fez com que parasse e refletisse suas próximas palavras. Louis aceitava não conhecer por completo o coração de sua mãe, mas jamais aceitaria que algo infligisse o caráter de seu falecido pai... que algo o fizesse duvidar do quanto o conhecia. E mesmo assim, os olhos da sua mãe surtiram tal efeito nele. Frustrado, sentou-se numa outra cadeira daquele aposento, ainda incapaz de tornar a olhá-la. Ela aguardou, ansiosa, por sua resposta.

─ Se a carta vem de Londres, então que seja. Vamos para a Inglaterra. Tia Susanna pode nos ajudar, afinal, seu marido não trabalha na polícia? Pode encontrar esse... – sugeriu seu filho após um longo silêncio constrangedor.

A ideia pareceu diverti-la, mas sua mãe não riria.

─ Susanna não pode. Nenhuma força policial tem poder o bastante para um caso desses... ainda mais quando pensamos nas consequências. – contrapôs, mirando Louis com seriedade. Um caso como aquele deveria ser mantido o mais longe possível das mãos da polícia e, por conseguinte, da mídia. Do contrário... não queria nem pensar no que aconteceria a ela e ao seu único filho se aquilo viesse à público.

Outro longo silêncio se seguiu, forçando Louis a se retirar para programar o horário do jantar com a governanta, o que deu a Madam mais liberdade para pensar. Precisava de discrição, alguém em quem pudesse confiar suas vidas, se necessário. E pelo tanto que já vira da vida, ela sabia que acabaria sendo assim. Contudo, onde na Assembleia francesa encontraria alguém em quem confiasse totalmente? Não confiava sequer em seus criados. Jamais fora uma mulher dada a confiar em excesso numa pessoa. Exceto por... Por fim, uma ideia lhe ocorreu. Ousada, é verdade. Mas, momentos de desespero pediam medidas desesperadas.

─ Marie, prepare nossas malas. Estamos de partida para Londres. – anunciou durante o jantar, surpreendendo seu filho.

─ Oui, Madame. – anuiu com uma reverência, saindo em direção aos quartos.

─ Então... vamos falar com tia Susanna? – perguntou Louis, depois de limpar o canto da boca com o guardanapo, ao passo que sua mãe acenou negativamente com a cabeça. – Mas, então...?

─ Apenas confie em mim, querido. E lembre-se de que na minha família, nós jamais cometemos um erro duas vezes. – disse interrompendo-o com uma batida resoluta na mesa, gesto que fazia com que ele se calasse desde a infância.

Naquela noite, quando todos já estavam dormindo, ela adentrou o escritório de seu marido furtivamente a fim de vasculhar seu livro de endereços. Havia muito tempo desde a última vez em que sentira sua consciência pesar por fazer algo errado, temendo o que sua mãe poderia dizer. Finalmente, encontrou o endereço de que precisava. Ao lado dele a foto de um homem corpulento com bastante esperteza e profundidade no olhar. “Eu disse que acabaríamos nos vendo outra vez.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bonsoir, meus queridos!

Eu me desculpo imensamente pela demora. Acredito que alguns de vocês esperaram impacientemente por este retorno, mas, eu garanto que foi uma demora necessária para que eu pudesse desenvolver melhor o andamento desta que pode ser, talvez, minha última história envolvendo Anne Nikolaevna Bergerac Holmes (e não, galera, ela não é parente dos Romanov hahahaha).

Me esforcei ao máximo para que a nova personagem encante vocês e demonstre que vale a pena escarafunchar mais o passado da nossa querida senhora Holmes! Estou felicíssima com o retorno e espero ver todo mundo me contando o que está achando da história. Um bjooo! Um feliz 2016 a todos!! Anne e Sherlock estão de voltaaaa!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Legado de Pontmerci" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.