O Curioso Caso de Daniel Boone escrita por Lola Cricket, Heitor Lobo


Capítulo 24
Leave Me Lonely


Notas iniciais do capítulo

*COMO ASSIM, VOCÊ VOLTOU EM UMA SEMANA, JACK?*
Calma, gente. É um milagre a fic ser atualizada em duas semanas seguidas? Sim. Mas é porque "Leave Me Lonely" já estava pronto há mais de cinco meses (!) só esperando ser postado na hora certa. As emoções que eu sentia naquela época me permitiram escrevê-lo inesperadamente, e então o deixei na reserva - assim como tenho outros capítulos na minha pastinha esperando pra serem terminados e devidamente postados ;)
De qualquer maneira, o fato desse capítulo estar pronto há tempos não tira sua credibilidade de "episódio causador de muita bad pros leitores porque ele é bad pra caramba". Até mesmo a música, da Ariana Grande com a Macy Gray, já te leva a um triste sentimento logo no começo... enfim, espero que vejam como Daniel está lidando com a superação de Shawn Hans. Vocês vão revisitar uma cena já vista no episódio "Holy Grail", mas que agora trará um maior desenvolvimento, okay?
Sem mais delongas, boa leitura!



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“É amor quando você rouba minha paz de espírito? É amor quando você chora, chora e chora? Meu coração já cansou de dar e receber. E por mais que eu queira que você fique, você é um amor perigoso. Você não é bom para mim, querido. Porque se você vai me amar e me deixar pendurado aqui, então eu prefiro que você me deixe sozinho… mesmo que isso doa… você é um amor perigoso.”

— Ariana Grande & Macy Gray, “Leave Me Lonely”

Washington, D.C.

21 de Março de 2016

26 dias antes da facada que pode ou não ter me matado

— Daniel — sinto uma cutucada no meu braço direito, enquanto estou sentado numa das últimas fileiras da sala de aula.

Estou aqui porque, nas aulas à tarde que tenho em algumas vezes na semana, não chego a tempo de arranjar lugar na primeira cadeira (tudo graças à minha trouxa atitude de ir pra casa na van [por questões de Shawn Hans estar lá] e meu retorno à escola nas pressas com mamis Ellis) e me vejo obrigado a sentar mais atrás.

— Daniel, está na Terra?

Viro para o cutucador e finalmente percebo que é Edward Hong quem me chama. O líder de sala. O super educado. O super hétero.

Essa última foi um insulto ao pobre menino que tem crush na garota da outra turma, a intocável, a diferentona. Parei.

— Ah, oi, tô sim — sussurro, para não chamar a atenção do professor de matemática — algum problema?

— Você é gay, não é?

Fodeu. Eu não contei isso pra muita gente. Na verdade, as únicas pessoas nesse prédio todo que sabem da minha sexualidade são Peter, Raven, o próprio Shawn e Klaus (este porque o Hans fez questão de contar fora das minhas vistas, SENDO QUE EU PEDI SEGREDO). A não ser que essa joça de segredinho tenha vazado por algum -A da vida real. O que eu não deixaria acontecer em hipótese alguma porque tenho meus contatos.

Mentira, não tenho. Mas seria uma boa.

— Quem te contou esse boato? — Dou uma ênfase absurda na palavra “boato”.

— Olha, eu vou ser honesto contigo porque, apesar de não sermos amigos muito próximos, ainda somos amigos — respira fundo e une as palmas de suas mãos, como se fosse me jogar uma bomba — tem um print de uma conversa circulando pelos celulares de todo mundo nessa escola desde o meio do ano passado. Nessa troca de mensagens, tem um cara se declarando pra outro cara, mas sem admitir que é gay — Ai. Meu. Santo. Tom. Holland. — e por meses esse print circulou sem o nome de quem havia enviado a mensagem, a parte do remetente fora cortada… mas um dia desses eu recebi a foto completa.

Sem nem perceber, já estou mordendo meus lábios de tanto nervosismo.

— Daniel, é o seu nome que está lá. É a sua foto de perfil que está lá. E o destinatário era Shawn Hans.

Ele vazou o print da conversa.

Em outras palavras:

Daniel Boone se declara para Shawn Hans por mensagem de texto.

Daniel Boone pede segredo a Shawn Hans sobre a declaração.

Daniel Boone se fode nessa história meses depois.

Porque agora o nome de Daniel Boone está sendo escrachado escola abaixo.

E isso vai custar muito para Daniel Boone.

Mas Shawn Hans também pagará seu preço.

 

Washington, D.C.

23 de Março de 2016

24 dias antes da facada que pode ou não ter me matado

Dois dias depois da gota d’água que faltava para eu surtar de vez com Shawn Hans, eu ainda estou magoado. Talvez minha reação não tenha sido a que todos esperavam… no caso, eu simplesmente nada fiz. Deixei quieto. Deixei que ele viesse falar comigo como se ele não tivesse me enganado enquanto tinha uma namorada e como se ele não tivesse vazado aquela conversa para todos os amigos da escola com o intuito de escrachar meu nome. Nossa, adoro usar o verbo “escrachar”, não é? Obviamente eu não tomei a iniciativa de puxar assunto — principalmente aquele assunto — com ele em nenhuma vez, só pra deixar claro o quanto eu estava puto com ele. E ainda estou.

Eu preciso estar.

Então espero que você, querido leitor — provavelmente não resta leitor algum nessa bagaça a essa altura do campeonato porque ninguém está a fim de ler sobre um babaca que se apaixonou por outro babaca e se tornou um trouxa, que seria uma evolução do que é ser babaca — não se surpreenda quando eu te digo que lá vem o Shawn falar comigo.

Estou eu aqui, sozinho — Raven foi embora mais cedo por causa das provas de exatas, que são mais fáceis para ela — esperando somente o transporte escolar chegar para que eu enterre meu rosto no travesseiro e não fale com ninguém pelo resto do dia. Graças a Deus que amanhã é o começo do feriado prolongado da Páscoa. Eu poderia muito bem colocar meus fones de ouvido e ouvir meu mais novo vício do Coldplay, “Oceans”, mas ainda é grande o risco de eu ser assaltado aqui no meio da rua… ainda que haja um porteiro disposto a fazer a única coisa que ele pode fazer quando flagra um assalto.

No caso, ligar para a polícia e para a diretora do colégio.

Mas a gente segue em frente com essa informação.

Resolvo, então, encarar o nada e não pensar no fato de que meu estômago parece estar oco porque não como há mais de três horas e isso seria o suficiente para minha gastrite dar um de seus famosos chiliques aqui mesmo; o universo, porém, não concorda em me deixar ser livre.

— Hey, Danico — ouço a famigerada voz chamar pelo meu apelido.

Eu tento me livrar das pragas, mas as pragas insistem em ficar próximas de mim!

Já que está tudo lascado nessa merda, vamos à merda juntos.

— Oi. — Respondo de forma seca, sem olhar em seus olhos.

Shawn se senta ao meu lado, com a bolsa puxando sua coluna um pouco para trás, seu corpo revestido pelo casaco branco, o qual eu amo quando ele usa. Ou costumava amar.

Isso, Daniel.

Você costumava amar.

Você não pode mais amar quando seu crush usa aquele casaco branco.

— Algum problema?

Santa Adele, como esse cara é cínico!

— Sim — resmungo sem hesitações — e você é o meu problema.

Ainda assim, não sou capaz de encarar seu rosto. Mas sei que ele sabe do que estou falando.

— É sobre a conversa? — Viro a cabeça em sinal de espanto. Ave Maria cheia de graça, ele já sabe? — Meu amigo Vince me contou que você descobriu.

— Mas quem diabos é Vince?

— Ah, se você não sabe, então não precisa saber — franzo as sobrancelhas com a resposta linda e maravilhosa que recebo — mas, e aí…

— Se você quer saber, não é só a conversa.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. O curioso é que antes esses segundos costumavam me matar por dentro… mas agora só falto me ajoelhar e agradecer aos céus por esses momentos sem falar com o Shawn. Claro que essa minha vontade é superficial, porque lá dentro do meu coração ainda rolam faíscas por ele. Muitas, na verdade.

Eu não posso mais negar, gente. Não vou deixar de sentir nada por ele da noite pro dia.

— Já soube da Charlotte?

Então, eu esqueci de mencionar essa preciosa parte porque estava chocado demais com o snap dele naquela noite triste de novembro de 2015 para detalhar mais coisas do que eu vira. E sim, ele estava beijando a Boa Sorte, Charlie naquela fotografia enquanto esfregava na minha cara — implicitamente e à distância — que eu deveria ter dado a guerra como perdida para o meu lado desde o começo. Mas, qual é! Ele teve dois fucking meses para conversar comigo sobre aquele relacionamento e só vem fazer isso agora que toda a minha vida já está na lama? Nossa, Shawn Graham Hans. Obrigado pela parte que me toca.

Eita. Não posso falar em toque que já lembro do acontecimento do Infinity.

Voltemos ao ponto onde eu simplesmente não o respondi.

— Deixa eu reformular a pergunta, então — o filho de uma égua entrelaça os dedos — já soube da minha namorada?

Autocontrole, Daniel. Você não pode surtar na frente de tanta gente. Autocontrole é tudo.

— Sim — esbravejo em voz baixa, já não olhando mais para ele — há quanto tempo?

Ele sabe o que quero dizer. Por isso logo responde.

— Nove meses — noto que Shawn também está olhando para o nada — mais que uma gravidez, não?

— É — é o único som que sai de minha boca.

— Como você se sente? — Sinto seu par de olhos penetrarem minha mente sem que eu mesmo faça o movimento de virar-me para ele.

E, então, não vejo motivo para não dizer como me sinto. Isso vai mudar a vida dele? Não. Então por que não dizer?

— Imagine uma marreta — soltei.

— O quê?

— Só… imagine uma marreta. Um martelo. Chame do que quiser — finjo que estou segurando uma marreta invisível na mão direita e abro a palma da mão esquerda — agora imagine um coração. Coração esse que está na outra mão aqui — dou ênfase aos movimentos que faço.

— Certo. Imaginei.

— Agora imagine que essa marreta — ergo a mão direita, com o martelo invisível — está batendo no coração. E batendo muito forte. Como uma verdadeira surra.

Deixo as palavras no ar ao ver o transporte escolar chegando lá na ponta da rua, em direção ao ponto onde estamos. Pego minha bolsa, que estivera no meu colo nos últimos minutos, e me levanto, fazendo menção de ir ao encontro da van. Mas antes que eu dê um passo para longe do Hans, o próprio me segura pelo pulso.

— Daniel, olhe para mim — sua mão fazendo força em minha pele me força, quase que automaticamente, a encarar seu rosto.

Sua expressão está indecifrável. Digo isso porque geralmente é fácil decifrar a expressão no rosto de Shawn Hans; afinal, ou ele exalava sarcasmo puro, ou irritação pura, ou seriedade pura. E seu rosto no momento se aproxima mais da última opção, mas não está exatamente como a expressão de seriedade que sempre foi possível ver nele.

Shawn me olha de cima a baixo, ainda com sua mão presa em meu pulso. Esse seria um dos momentos onde eu não moveria uma palha sequer para mudar a situação porque provavelmente estaria gostando de sentir seu toque. Felizmente, algo em mim me faz puxar meu pulso para fora de seu alcance.

— Para sua informação, eu cansei de dar tudo de mim e receber vários nadas nesta merda — começo meu discurso de despedida — e por mais que no fundo do meu pâncreas eu queira ficar perto de você… Deus, como você é perigoso pra mim, Hans. Você não é bom para mim. E se for pra eu permanecer aqui e ser pendurado pra ser seu saco de pancadas, então eu prefiro que você largue do meu pé e me deixe sozinho.

E é dizendo isso que deixo a sua presença, forçando meu rosto a abrir um sorriso quando adentro o transporte e dou um “olá, tudo bem?” para a motorista e para as crianças que agora chegam para as aulas da tarde. Nessas horas eu me pergunto por que a CW não me contrata pra atuar em alguma série, de tão bom que sou em fingir que está tudo bem comigo quando na verdade nada está bem e o problema master de todos os problemas da minha vida está entrando nesse carro bem agora a fim de se sentar no banco da frente mais tarde. E como se ele não fosse nada para mim, me dirijo a uma das cadeiras na última fileira mesmo.

Por favor, Shawn Hans, penso comigo mesmo. Deixe-me sozinho hoje.

.::.

 

— Está tudo bem, Daniel? — Mãe Ellis me pergunta, quando simplesmente devoro todo o prato do almoço sem dizer uma única palavra — Você está meio calado hoje…

— Só acordei sem muito humor pra conversar hoje.

— Então trate de tirar essa carranca — ela diz isso entre um gole de água e outro — Deus não se agrada disso.

Se Ele não quisesse me ver assim, talvez não deixaria Shawn entrar na minha vida desde 2014, não é mesmo?, penso em dizer. Mas aí eu lembro que ela jamais deve saber disso e me mantenho calado — afinal, é o que eu sempre faço nessas horas e é também o que ela me manda fazer quando eu tento responder alguma coisa. Uni o útil ao agradável (para ela).

— Vou ver se consigo estudar alguma matéria do dia — minto na cara dura — por favor, não bata se não for importante.

— Sempre vai ser importante se eu bater lá, menino — ela revira os olhos — agora vá.

Assim que termino de comer, deixo o prato na pia e corro para me trancar em meu quarto. O único lugar onde eu posso ser eu mesmo; e não há ninguém para julgar minhas ações aqui. Ligo meu computador — fiel escudeiro — abro a página inicial do Tumblr e escolho começar um texto.

Hoje é dia de desabafar.

Dia desses, eu lembrei daquela frase que o Brad Pitt disse no filme Sr. & Sra. Smith: "acho que, no fim, você começa a pensar no começo." E centenas de flashbacks vieram à minha mente, porque nunca antes uma frase fora tão verdadeira na situação da minha vida.

Tudo começou com um simples olhar. (E não, não estou referenciando aquela música da série Violetta, tudo realmente começou com um simples olhar.) Aquele que eu dirigi a você quando nos encontramos pela primeira vez. Quando o destino decidiu que era hora de te colocar nas minhas vistas e fazer-me perceber a sua existência. Por meses eu não me incomodei com isso, porque não éramos próximos. Era só um "oi", seguido de um "como vai?" e outro "você vai no transporte escolar hoje?". Fim de papo. Assim foi o primeiro semestre de nossa estranha relação — que nunca chegou a ser uma relação de fato. Espera, alguma vez nós realmente tivemos alguma coisa? Como posso classificar nossas conversas de anos, nossos gestos, nossas atitudes? Se aquilo não era amizade e nem um relacionamento sério, como posso chamar o que tínhamos?

E então começou o que chamo de "a fase tímida". Você percebeu que eu te lançava uns olhares meio coisados entre uma hora e outra, e pensou que poderia tirar proveito disso. Eu, feito um idiota que não sabia como lidar com a própria situação interna, caí como um patinho no seu jogo de quem quer fazer amizade. E era uma "amizade" diferente, digamos assim. Não passávamos horas jogando papo fora, não tínhamos o número telefônico um do outro, não nos esbarrávamos por aí, não tínhamos o mesmo círculo social. Éramos completamente diferentes. Somos ainda, eu acho. Tenho certeza, na verdade. Você, o popular; eu, o antissocial que tinha uma rodinha menor que o tamanho do Peter Dinklage (sem ofensas). Você, o bon vivant; eu, o inocente garoto que sempre fui, e no fundo ainda sou. Você, o garoto livre para fazer o que bem entendesse sem ser julgado; eu, aquele que só faltava pedir licença pra respirar porque está sempre rodeado de julgadores, que dariam tudo para apontar um dedo e te culpar por tudo. Mas ainda assim você quis investir em mim. Ainda assim, você me notou. Ainda assim, você quis ver até onde isso iria.

 

No ano seguinte, o universo parecia não estar farto do que vinha acontecendo entre nós. Troquei de colégio e de transporte; você fez o mesmo, e ainda veio para tão perto quanto antes. Veio para cima de mim mais vezes do que no ano anterior vezes dois. E eu estava atordoado, porque não sabia se você estava falando a verdade quando alegava interesse em mim na frente de seus amigos. Eu não sabia se você estava sendo sério quando vinha me abraçar nos corredores, quando me conduzia por eles segurando sua mão fortemente na minha, quando passava os dedos em meu rosto e dizia que eu tinha uma certa beleza... assim como eu também não sabia se você estava falando sério quando disse que me amava. Quando disse que queria ter algo comigo. Quando me prensava na parede tão bruscamente como me soltava do aperto de suas mãos. Eu estive tão confuso nessa época que comecei a procurar conselhos de amigos muito próximos — mas muito próximos mesmo. Até porque não é um assunto fácil de sair falando pra qualquer um — para entender o que estava acontecendo. Pra entender o que você vinha fazendo. Pra entender você.

E então, a bomba. Eu joguei a bomba em seus ombros para que você carregasse. Eu te contei sobre meus sentimentos em uma única frase, via mensagem de texto. Assim eu não teria que olhar na sua cara quando admitisse a verdade. No meu pensamento momentâneo, era melhor assim. E o que você fez foi, em suma, mais impressionante do que o que eu pensava que aconteceria. Achei que você me enxotaria de sua vida, que me xingaria de todos os nomes possíveis porque você jura de pés juntos que só se relaciona com garotas, e que por fim me humilharia em praça pública — no caso, o pátio da escola, talvez. Mas não. Você passou reto dessa possibilidade, e na verdade começou a jogar tantas indiretas que foi difícil para mim processá-las. Eu fiquei mais confuso do que já estava; um dia você me abraçava por trás e sussurrava coisas inimagináveis em meus ouvidos, em outro dia você só me ignorava, e quando não o fazia, era somente para escrachar meu nome. Em cada olhar de deboche de seus amigos, eu notei que eles sabiam o mesmo que você. E você sabia o mesmo que eu. Sabia que eu estava ferrado por gostar de você, e ainda assim vazou para todos eles algo que eu pedi para que fosse segredo. Você já era um idiota a partir daí e eu me recusava a crer nisso. Me recusava a crer que você só ia destruir meu coração. Passei a ignorar todos os avisos de que você estava prestes a me quebrar publicamente. Todos que nos conheciam, automaticamente sabiam do que você era capaz... e eu não os ouvi. Deus sabe o quanto eu não os ouvi, e agora Ele sabe o quanto eu me arrependo disso.

Da boca pra fora, você me pedia em namoro pelo menos duas vezes por semana. E eu recusava, não porque eu sabia que era mentira, mas porque queria voltar aos tempos onde eu simplesmente me recusava a admitir que sentia algo por você. Achei que, se tentasse te afastar, as coisas voltariam a ser como eram. Mas não voltaram. E nunca mais voltaram, diga-se de passagem. Você continuou cada vez mais em cima de mim, dizendo que se importava com o que eu dizia. Tentou me beijar várias vezes, em público. Eu dizia que as pessoas estavam vendo, e você simplesmente alegava tacar o "foda-se" e que não ligava para o que elas pensariam de nós. Mas eu recusei. E ainda bem que recusei todas essas tentativas, porque foram nessas recusas que eu me safei de uma humilhação pública, certo? Certo... até que você falou as duas palavras que eu nunca pensei que sairiam de sua boca. "Casa comigo." Eu tremi. Nessa parte do ano, eu já estava completamente rendido aos seus encantos. Mas como eu nunca os deixava óbvios, tratei como uma brincadeira e aceitei. Fizemos planos de morar em New York, comprar uma mansão por lá e ter uma vida a dois mais feliz que quando a classe média consegue comprar um Kinder Ovo. Meu sorriso naquele momento estava mais aberto do que em qualquer outro momento já vivido em tão pouco tempo de vida. Nossa "relação" estava indo de vento em popa. Eu estava completamente cego pela imagem que criei de você. A imagem do cara perfeito pra mim. A imagem daquele que poderia me fazer feliz.

Esse foi o ponto alto da história.

Porque toda ilusão se desfaz.

Toda máscara cai.

Demora? Demora.

Mas tudo se revela ser uma grande falcatrua quando se é uma.

E eu não só descobri que você estava me enganando como também tive conhecimento de que mais pessoas sabiam que você estava mentindo para mim. Mais pessoas sabiam que eu estava sendo um trouxa por você. Mais pessoas sabiam sobre "o viadinho que foi se meter logo com o machão do colégio". OK, talvez ninguém tenha pensado com essas palavras; mas de alguma forma, eu fui me apaixonar logo por você e isso foi a pior merda que eu podia ter feito. Não só porque você sempre foi o que foi e eu fui um idiota em pensar que você mudara por mim. Você também tinha seu próprio relacionamento com outra pessoa. Você tinha uma namorada. E todos sabiam, menos eu. Fiquei isolado dessa parte importantíssima da história e fiquei bancando o burro. E nem adianta dizer que eu devia ter notado isso por conta das fotos que você postava com ela durante todo esse tempo... porque eu nunca realmente olhava para a garota nessas fotos. Lembro-me de ficar irritado só porque você estava se exibindo com ela enquanto que no dia seguinte lá vinha você todo cheio de carinho pra cima de mim... e eu acreditava que era especial para você. Eu acreditava que tínhamos algo. E eu senti como se uma marreta martelasse meu coração frágil — o que realmente pode ser tomado como verdade. Meu coração é frágil e você veio logo como uma marreta.

Mas entre chorar as pitangas no isolamento do meu quarto e agir como se isso não fosse destruir minha vida, eu optei por um meio-termo entre essas opções. Não chorei... mas também não agi como se nada tivesse acontecido. Você perguntou como eu me sentia depois da descoberta, e eu fui sincero. Usei a metáfora da marreta. Para demonstrar que você havia conseguido o que queria. Na minha cabeça, muitas coisas poderiam ser ditas, tais como: você está feliz agora, meu jovem? Está satisfeito com os pedaços de meu coração balançando em suas mãos? Está feliz com o fato de que mudei o curso de toda a minha vida por sua causa e acabei me fodendo no final? Mas eu não disse nada disso. Apenas fui direto e disse que estava quebrado. E pela primeira vez em muito tempo, você não insistiu em me fazer de bobo. O jogo estava terminado, você ganhara e não havia nada mais a ser feito para esfregar a derrota na minha cara. Então você parou de dar em cima de mim. Passou a me tratar como um ser humano como qualquer outro... e no momento era tudo o que eu mais queria. Que você parasse de agir como se eu fosse seu brinquedinho. E por mais que eu continuasse te lançando olhares entre uma aula e outra, já não eram mais os mesmos de antes. E você tomou consciência disso.

Agora estamos aqui. Duas almas completamente diferentes. Sendo que minha alma tenta seguir em frente, aprendendo com os erros e tentando acertar nesta nova jornada que vem por aí. Sua alma talvez nem ligue mais para os meus sentimentos. Sua alma está mais preocupada em fazer sua gêmea feliz, depois de esmurrar uma outra alma por tanto tempo... e por mais que eu queira que você me deixe em paz, algo me diz que essa história não terá um fim tão próximo.

Então, na moral, por que eu fiz esse texto sobre "no fim, você começa a pensar no começo" se de fato ainda não estamos no fim dessa história? Ah, que droga, hein! Vou apagar e fingir que nunca fiz esse desabafo, meu jovem. Vamos seguir em frente, escondendo nossas emoções e nunca revelando um ao outro o que realmente se passa dentro de nós quanto a essa "relação". Afinal, não é isso que tanto eu como você temos feito nos últimos dois (quase três) anos?


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Notas finais do capítulo

O que acham das atitudes de Daniel e Shawn nesse capítulo? Causaram revolta em vocês a parte em que foi revelado o namoro do Hans com a Boa Sorte, Charlie? *em mim também causou isso, relaxem* Deixem seus comentários, por favor. Adoro quando vocês surgem com suas opiniões por aqui ;)
PS. Na próxima semana teremos o último episódio de 2016, e depois só voltaremos em janeiro de 2017 porque somos filhos de Deus e merecemos comemorar o fim de ano com as pessoas que nos importam sem ter um computador na mão toda hora HAHAHAHA :)
PS². Procurem no Spotify "A Curiosa Playlist de Daniel Boone", com todas as músicas (ou pelo menos as que estão disponíveis lá) que já apareceram na história!
PS³. Falem de OCDB para todos os seus amigos e conhecidos, vamos levar a fic para mais gente!



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