The five dreams escrita por Yasmin


Capítulo 10
Capitulo 10 — Impericia


Notas iniciais do capítulo

Oiiii....podem brigar com essa autora desmiolada, que teve um bloqueio criativo dos infernos que não passava.
Enfim, segue um capitulo para vcs e espero que gostem!
Ainda na narrativa do meu loiro.
boa leitura.
Obrigada, Monks, pela betagem... Vc é ótima.



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— Katniss, por favor! Me escuta! — Seguro seu braço, assim que ela chega à calçada.

— Escutar o quê? Que me enganou? Lembra que te perguntei se você tinha alguém e você disse que não?

— Lembro e eu não menti! Vamos conversar Katniss.

— Pra você me engabelar mais uma vez? Hoje não, obrigada.

— Katniss, eu não tenho noiva nenhuma! Minha mãe se enganou.

— Se enganou? Agora quer culpar sua mãe pelos problemas que tem para justificar? — Ela se afasta. Tento segurá-la   novamente, mas ela está tão nervosa, que mal permite meu toque.

— Eu ia te contar! Iríamos conversar hoje mesmo. Mas minha mãe te viu na praça e tudo aconteceu.

        — Agora tem algo pra me contar? Cada hora diz uma coisa. Quer saber?  Me deixa em paz, esquece o que eu disse, não tenho tempo para as suas mentiras. —Ela acompanha o olhar para minhas mão que seguram seu braço e diz: —Me solta, está me machucando.

—O que está acontecendo aqui? — Minha mãe aparece na companhia de Madge e Maia.

— É ela mãe. — Ela me questiona com olhar, pois ainda não entendeu. — Sobre quem eu disse no carro!

— A Katniss ? — Ela pergunta sorrindo.

          — Eu o quê? — Katniss pergunta, cruzando os braços.

 — Eu vou levar minha mãe pra casa! Venha comigo, que aí explico tudo.

— Não quero, nem agora e nem depois! — Ela fala com os olhos tristes que me fazem ter vontade de me esmurrar por não ter dito sobre esse relacionamento fodido que tive na minha vida, quando foi possível.

         — Deixa ela, Peeta, amanhã vocês conversam, não irão resolver nada com esse nervosismo todo.

         — E Katniss , me desculpa, eu falei demais. Mas como eu poderia saber sobre vocês? Aceite conversar, só ele poderá lhe explicar.

         Minha mãe percebe meu desespero e tanta me ajudar. Fico ansioso esperando que sua intervenção surta algum efeito, mas nada animador acontece. As duas se abraçam dizem algo que não escuto a depois Katniss, vai para seu carro.

         Me desespero por dentro só de imaginar que estou tão perto, mas longe ao mesmo tempo. Sinto que a forma que foi revelada esse meu falso compromisso. Fará, Katniss, pensar que a usei esse empo todo. E que sou a última pessoa que ela quer ver essa noite.

         Quando omiti isso dela, não foi por dúvida ou nada. Só é complicado sair falando assim dos meus problemas. Não quis assustá-la. Que mulher vai querer se relacionar com um homem ainda atrelado à ex, maluca, que não dá sossego? Que faz de tudo para me infernizar. Foi nisso que pensei. E foi nela que pensei, quando decidi encerrar de uma vez com essa farsa.

         Assim que ela e Madge se vão. Minha mãe e eu seguimos para o nosso carro.

         — Quanto tempo vocês...? — Minha mãe pergunta sorrindo.

         — Há algumas semanas!

         — Foi por isso que ficou, pegou suas férias?

         — Também.

         — Sei!

         — Fale  logo o que quer saber.

         — Deveria ter sido honesto com ela, e ter me dito sobre o envolvimento de vocês. Assim eu não teria falado sobre seu casamento.

         — Não sei por que falou! Expliquei que esse noivado nunca existiu. Mas agora já foi, não adianta ficar choramingando.

         — Eu sei! Que boca grande a minha não é?

         — É! — Respondi sério, mas ela começou a rir como nunca e depois disse:

         — Uma bela troca! Katniss é linda! Mas sabe que vai ter um grande desafio para contornar a situação. Ela é uma boa garota, mas não tolera mentiras.

         — Obrigado por me animar. Sei de seu otimismo, mas não precisa se empenhar tanto. — Falo impaciente, pois justo hoje minha mãe está com seu humor negro.

         No caminho, sou bombardeado de sermões. Ela  me chama de lerdo, burro, cafajeste e me coloca medo dizendo que Katniss  não me perdoará tão cedo.

         Quando chegamos em casa, a primeira coisa que faço é ligar no celular dela, mas chama várias vezes, até cair na caixa postal.

         Depois que me deito, ligo de novo, mas só dá desligado. Me levanto procurando uma roupa. Não vou esperar até amanhã para resolver isso.

         No meio da noite, dirijo até sua casa. Desço do carro apressadamente. Toco a campainha umas dez vezes e ela não aparece. Pelos fundos não vejo seu carro na garagem. Uma preocupação natural certamente me invade.

         — Madge, a Katniss, está com você? — Falo assim que ela atende, não vi outra saída senão ligar pra ela.

         — Peeta, é você? — Ela responde de com voz de sono.

         — Sim, estou na casa da Katniss. Mas ela não está aqui. Ela está com você?

         — Não, ela me deixou aqui e disse que ia para casa.

         — Madge, por favor! Estou preocupado. Diga  a verdade!

         — Eu estou dizendo e te digo mais, se alguma coisa aconteceu com minha amiga, acabo  com você seu cafajeste. Vou ligar para Rue, pra saber se ela está lá. E é bom que esteja, Mellark.

         Assim que ela desliga, tantas coisas passam por minha cabeça...  Um desespero fora do comum me invade e mal consigo raciocinar onde ela pode estar.

         Batata logo retorna dizendo que ela não apareceu na casa da outra amiga. Dirijo depressa até a cidade, porque lembro dela ter falado da senhora que limpa sua clínica e que também é sua amiga.

         Assim que chego à clínica, toco a campainha da casa que fica ao lado. A senhora chamada Greasy diz que não a viu desde sexta. Na clínica ela também não está, pois não vejo seu carro.

         Dou várias voltas pela cidade e nada.

         Quando volto para a rodovia, vejo um dos cavalos selvagens na direção do farol. O sigo com esperança que essa maluca esteja lá.

         À primeira vista vejo seu carro, um alívio me invade. Mas algo está fora do lugar. Um carro de polícia está estacionado ao lado do seu. Bato a porta do meu carro com muita força, querendo assim esvaziar toda a adrenalina que sinto agora.

         Subo os duzentos degraus dessa torre batendo o recorde de velocidade.

         Assim que chego ao topo, escuto  sua doce voz misturada com a de Gale.

         Eles estão lado a lado. Katniss  com a jaqueta do pangaré que fica gigante no seu corpo.

         Enquanto eu estava a procurando feito um idiota, a encontro aqui se divertindo com ele.

         — Peeta! — Ela fala meu nome assim que me nota.

         Gale, me olha de forma inexpressiva. Minha vontade é  de socar ele e gritar com ela  que obviamente  não deveria ter vindo aqui. Ainda mais com ele! Um dia depois de tudo que vivemos e dissemos neste lugar.

         — O que  está fazendo aqui? — Ela pergunta com a voz trêmula.

         Eu mal consigo raciocinar e formular o que responder, meus  olhos se prendem em qualquer direção, menos na  dela.

         — Eu que te pergunto — falei  com frieza e com os punhos cerrados.

         Ela abaixa o olhar, volta a olhar para o Gale, pede delicadamente para ir e agradece a companhia.

         — O que veio fazer aqui, Peeta? — pergunta  novamente, assim que ficamos a sós.

         — O que vim fazer? — Dou alguns passos até sua direção, ficando próximo o suficiente, me permitindo sentir o cheiro de cigarro emanando da jaqueta. — Fui a sua casa, rodei a cidade. Já estava indo a polícia. Porém você é mais rápida.

         — O que está insinuando? — Sua voz se mistura com o zumbido do vento.

         — Não insinuo, estou afirmando que, enquanto eu estava preocupado, você estava aqui se divertindo com outro cara.

         — Cala a boca, Peeta. Você não tem o direito de vir aqui e me acusar. Acabei de descobrir que tem uma noiva. Que mentiu pra mim. Não queira inverter os papéis. O infiel aqui é você, não eu.

         — Infiel? Quando eu fui infiel com você?

         — Comigo não, mas com sua noiva, sim! Você não deve nada para mim e nem eu para você.

         — Você ficou com ele?

         — Descubra você, Peeta, mas já disse: Não sou como você!

         Ela me encara por alguns segundos e depois se inclina pegando umas sacolas ao chão. Me viro e respiro fundo, buscando ar nos meus pulmões.

         Amar pode ferir às vezes mas é a única coisa que nos faz sentir vivos!

         Nas minhas memórias, busco o dia em que me apaixonei por ela, mas penso que não foi em um só dia. Aconteceu um dia após o outro: a cada olhar, cada sorriso. Tudo em mim ama tudo nela.

         Mas, se ela não quer meu amor, não poderei mais insistir nisso. Não farei com ela o que Betrice faz comigo.

         Quando me viro, vejo que não está mais presente, então faço o mesmo caminho descendo da torre.

         Assim que chego  a minha casa, subo para o quarto. Tento dormir ,mas sinto uma dor latejante em minha cabeça. Tomo um analgésico e decido por trabalhar, sempre fiz isso, era o que me remendava, uma hora estava na plataforma, outrora na montadora e sempre no escritório do apartamento que mantinha em Releigh. Desde criança eu era bom em desenhos, e com o incentivo do meu pai, passei a desenhar carros, motivado pelo ato de que cresci com graxa nas minhas fraudas.

         Então, quando chegou a vez da faculdade, optei pelo curso de engenharia mecânica e depois fiz uma especialização em Projetos Automobilísticos. Atualmente estou desenhando um novo modelo com identidade própria, diferente desses que estão no mercado. Penso em um veículo com maior segurança e resistência às tempestades que banham nosso estado, meu objetivo é projetar um veículo que possa resistir a um tornado e garantir a vida de quem for sugado por ele.

         Me concentro nisso, faço alguns esboços mas nada parece bom o suficiente, tento não pensar naqueles olhos cinzas, porém é como se eles estivem gravados para ocupar meu subconsciente. Então, desisto do que estou fazendo, tiro minha roupa e me esparramo pelos lençóis. O que foi uma péssima ideia. Seu cheiro está impregnado nos fios de algodão egípcio. Lembro de sua cara de entusiasmo quando reconheceu os lençóis caros. Disse que a madrinha dela a presenteou com vários jogos, mas estava esperando o momento certo para usá-los.

         Como um zumbi, desço as escadas procurando algo de útil para fazer, deve ter algo por aí  precisando de um conserto.

         Ando até a varanda e me jogo em uma das espreguiçadeiras, não...não achei nada mais quebrado do que eu! Uma vez pela vida e agora pela Katniss!

         A maré está alta e a lua cheia deixa a paisagem completamente prateada. Com essa pouca luz, vejo meu labrador correndo com Bee pela areia. Os dois brincam como eu nunca tinha visto, pois a fêmea de minha mãe sempre fora quieta e mal humorada. Ela não é de muita conversa.

         Quando o Ruffus se acalma, ela o provoca e depois sai saltitando pela areia. Ficam nisso por alguns minutos, até uma sombra feminina se juntar a eles. Me levanto rapidamente para ver quem é a abusada invasora de propriedades privadas. Apesar de a praia ser publica, esse pedaço é da minha família por mais de vinte anos.

         Com uma corrente, Katniss está tentando prender a labradora que pensei ser Bee, mas na verdade é Maia. Sua cadela de pelo caramelo foge de seu contato a deixando irritada. Começo a rir e então ela percebe minha presença.

         — Ela o seguiu! — diz com os olhos assustados. — Por isso eu vim! — conclui nervosa.

         — Tudo bem! — respondo

         Olho para ela, tentando captar se está tudo bem com nosso afastamento, mesmo que isso tenha acontecido há poucas horas. É pouco tempo, mas me sinto um lixo, então eu gostaria muito que ela também se sentisse tanto quanto.

         Ela continua na sua tentativa falha de prender Maia, não sei de quem ela está com mais raiva, de mim ou da fêmea arteira que se esquiva a cada tentativa que ela faz para pegá-la.

         A mim, ela dirige um olhar assassino como se eu fosse o demônio em forma de gente.

         — Maia! — chamei  por ela, que rapidamente me obedeceu, olhou na minha direção, deu uma corridinha, parou de novo e com um impulso pulou apoiando suas patas no meu peito. — Boa garota! — Afago seu pelo enquanto ela sorri com a língua de fora e baba na minha camiseta regata.

— Obrigada! — Katniss murmurou sem me olhar nos olhos.

         Ela passa a fivela pela coleira barulhenta da cadela e antes dela se afastar, seguro  seu braço. Não quero que ela se vá, se escorregue de mim. Não é isso que quero.

         Ficamos nos olhando fixamente por algum tempo, nenhum de nós pisca. E então, abro a boca tentando formular alguma frase para iniciar uma conversa.

         — Eu...eu não vi quando ela me seguiu! — É tudo que consigo dizer.

         — Claro que não! — Ela responde, quebrando nosso contato. Olha para o lado e depois fixa seu olhar em Ruffus que está sentando e nos fita virando a cabeça para os lados como se estivesse tentando entender o que há de errado conosco e por que não os deixamos brincar debaixo da luz da lua.

         — Estava cego demais! — Ela diz com firmeza e puxa seu braço.

         — Como gostaria que eu ficasse? — Dou  um passo à sua frente. — Me diz? Em nossa primeira briga você corre para os braços de outro cara. E não quer que eu me importe? — digo  com ódio e ironia.

         — Eu não corri para nenhum cara!  E caso tivesse feito, você não tem nada a ver com isso. Assim como eu não tenho que questioná-lo sobre seu casamento ou  ex-casamento. Me poupe de suas loucuras!

         Ela fala já se virando e, outra onda de raiva que estou sentindo dela invade meu ser.

         — Isso, finja que não se importa! Mostre o que você é de verdade, só mais uma afetada da cidade que quer se passar por boa moça.

       Assim que me escuta, vira seu rosto pra mim, sorri sarcasticamente, mas não se manifesta. Age com uma frieza impressionante enquanto me desespero.

         Ela está jogando, fazendo o papel de quem se importa menos! Geralmente quem se importa menos sempre sai, menos magoado.

         Mas,  o que ela não sabe é: Que também sei jogar, que sou perito em fazer o papel do desinteressado e penso que se for pra alguém sair machucado dessa história, que seja ela. Então minto:

         — É verdade sobre o casamento! — Ela para de andar e se vira para mim. — Beatrice, terminou comigo hoje cedo. Viu as marcas do seu batom na minha camisa. Eu sinto muito!

         — Sente muito? — Ela sussurra com os olhos marejados. Fiz merda e me arrependo disso.

         — Katniss! — chamo seu nome, mas ela passa a correr, então corro atrás dela.

         — Me solta, seu cafajeste! — Ela diz depois que a agarrei por trás.

         Ela faz um enorme esforço sacudindo seu braço para se desvencilhar de mim.

         — Não, eu não vou lhe soltar ­— digo com a respiração entrecortada. — Por que faz isso? Por que quer me enlouquecer? Uma  hora diz que me ama e depois finge que não se importa. Que não passei de uma diversão.

         — Eu não te amo! — Ela diz com um quê de certeza. — Por favor, me deixe ir!

         — Não, eu não vou deixar! — grito  com ela e a aperto mais sobre meu corpo. — Você me enlouquece, me faz perder a compostura. Me faz deixar de ser um cavalheiro e ficar transtornado de ciúmes. Por favor, diz que você não ficou com o Gale?

         — Peeta... — diz em suplica, então afrouxo meu aperto e giro seu corpo para que responda olhando para mim. — Que diferença isso faz? —Ela pergunta chorando silenciosamente.

         — Toda! — respondo a abraçando e enterrando meu rosto no seu pescoço. — Eu te amo.

         — Mas ia se casar com outra pessoa. Só não fez isso porque ela descobriu sua traição. — Balanço a cabeça negando e respondo:

         — Eu não tenho noiva, nunca tive! Não te enganei, por Deus, Katniss.

         — Acabou de dizer isso! — Ela me acusa.

         — Não viu porque fiz isso? — Ela nega, então prossigo. — Porque queria me vingar, queria que sofresse como estou sofrendo nesse momento depois que a vi com o Gale , depois de tudo que dissemos um ao outro.

         Mantenho meu olhar no seu e espero ela dizer o que está pensando, porque eu nunca sei.

         — Eu não...

         Ela não consegue prosseguir, porque Gale se aproxima com uma lanterna. Olhamos juntos para a direção que veio a voz.

         — Achou ela, Katniss? — Ele pergunta.

         Katniss assentiu com a cabeça sobre o que ele perguntou. Que suspeito ser sobre a Maia ter desaparecido. Até nisso os dois estão juntos. Como um casal preocupado com o animal de estimação.

         Nesse momento, sinto que terei um colapso nervoso, mas tento controlar isso, o que fica quase impossível quando o pangaré informa que a levará para casa e ela aceita.

         — Você não vai com ele!

         — Não me dê ordens! — Ela sussurra de volta bem agressiva.

         Mesmo a conta gosto não faço cena, deixo ela ir. Se quer ir, que vá até para o inferno, se quiser.

         Sigo meu caminho entrando em casa, pois ainda faltam algumas horas para o dia amanhecer. Lembro que estou de férias, não tenho que prestar contas para ninguém e nem a Beatrice tenho que fingir um romance.

         Recordar isso me permite dormir mais relaxado.

         O  dia seguinte é segunda-feira , sete anos desde a  morte de Sabrina. Depois do café da manhã, procuro minha mãe pela casa e a encontro no mesmo lugar de sempre. No quarto intocado da filha. Tudo está como ela deixou. Seus CDs, seu pôster imenso da sua banda country favorita e a cama repleta de bichos de pelúcia. Sua alegria ainda exala pelo ambiente! Até consigo ouvir sua risada. Querendo ou não, eu ainda me amaldiçoo por aquele dia. Se eu tivesse a tirado alguns minutos depois daquele carro, talvez ela teria sobrevivido. Mas fui burro e fiz a escolha que mudou tudo em minha vida.

         Então é assim que o dia se passa, melancólico, sofrido e cheio de saudades. Minha mãe não falou muito. Passou horas do seu tempo alisando as costas de Bee. Não se alimentou em momento algum, o que não é muito bom para seu quadro atual. Então, preparo um lanche rápido e saudável. Suspiro fundo e me sento ao seu lado ignorando as algas na areia molhada.

         — Precisa comer!

         Entrego a ela o sanduíche com peito de peru e folhas de alface. Como sempre ela torce o nariz, inventa que seu estômago  não está em um bom dia e tudo mais.

         — Vamos, mãe! Se desmaiar de novo, terei de levá-la para o hospital, quer isso?

         — Está muito mandão! — reclama,  pegando o lanche e o come lentamente. Assim   que termina, entrego seu coquetel de comprimidos e um copo de suco natural.

         — O Dr. Benson disse que seu quadro está melhorando! Ainda sente as dores no peito? — pergunto, pois ela quase não fala, tornando bem difícil cuidar dela.

— De vez em quando! — Ela respondeu sem emoção e depois fungou.

         Quando descobrimos a doença, ela já sabia que a tinha, foi ao médico sozinha, mas omitiu isso da família e não iniciou o tratamento. Ao meu ver, parecia algo suicida, o que não me admirou na época, uma vez que seu quadro depressivo era bastante grave. Mas, como passei a ficar mais presente, notei que ela passou a tossir com sangue e sentia dores no peito que a fazia desmaiar. Sua perda de peso foi bastante notável, então foi aí  que a acompanhei ao médico, que nos alertou, dizendo que, se ela não iniciasse o tratamento imediatamente, não viveria por muito tempo.

         Meu chão abriu como crateras de um terremoto, já não bastava a morte da minha irmã mais nova que desestruturou minha família, agora tinha essa maldita doença pra acabar com as esperanças de minha mãe melhorar.  

         Tentei de tudo para convencê-la a iniciar o tratamento, mas foi inútil. Então Beatrice conseguiu uma brecha quando mencionou sobre o casamento, conseguiu manipulá-la com maestria. E se não fosse por essa história, nem consigo imaginar como ela estaria. Numa cama de hospital, por sorte.

       — Já falou com a Katniss?—Ela pergunta mudando de assunto.

       ― Não.

         Ficamos sentados ali por algum tempo, com minha mãe fazendo perguntas delicadamente e eu contando  o que aconteceu na madrugada, mas não tudo. Eu estava triste. Eu estava magoado. Mas havia muito mais, e não queria que ela visse. E principalmente porque eu estava consternado pela profundidade e pela força do meu ciúme. Eu só queria esquecer isso. Cato tem razão, mulher nenhuma merece consideração.

         Logo, mudo de assunto e com muito custo, a convenço de terminarmos a tarde dentro de casa.

         Os dias se passam lentamente, parece até que o tempo foi congelado. Está tudo tão tranquilo que até consigo ouvir os insetos voando pela madrugada.

         — Não sabia que era tão orgulhoso assim, Peeta. — Minha mãe se senta ao meu lado no sofá. — Por que não procura ela? Faça alguma coisa, tire essa bunda branca do meu sofá. Está aí há horas! Vai marcá-lo!

         Realmente, desde que consertei tudo que estava estragado nessa casa, não achei ocupação para meu dia, então assinei um pacote exclusivo de futebol americano na tv a cabo e estou nele há horas. Quanto a procurar por ela (Katniss), não vou mesmo.

      — Não há mais nada que eu possa fazer! Já consertei até a ferradura dos cavalos.

    — Então vá até a casa da vizinha, veja se ela não tem nada que precise de um conserto. — Rio de sua insistência, agora sei de quem puxei minha perseverança.

    — Posso curtir minhas férias? — falo isso, pegando mais uma garrafa de Budweiser no balde de gelo.

       — Se acerte com ela, Peeta! — Ela volta ao assunto “Katniss”.

         Minha mãe tem insistido para que eu converse com Katniss. Confesso que já entrei no carro algumas vezes com a intenção de ir à casa dela. Mas me mantive firme, ela que deve vir. Isso é o certo.

         — Com ela? — Me faço de desentendido.

         — Você sabe com quem! — Ela exclamou decepcionada enquanto recolhia as garrafas vazias. — E chega por hoje! — Ela pega o balde com as garrafas ainda cheias e sai pela porta.

         — Não posso nem beber sozinho ou curar minhas mágoas com uma cerveja na mão? Nem isso eu posso mais?

         — Não!! — Ela diz, ajeita uns trecos dentro de sua bolsa e avisa que irá sair.

         — Posso saber onde vai? — pergunto estranhando. — E com quem?

         Bem humorada ela responde, dizendo que não me deve satisfações, que o filho aqui sou eu, sendo assim eu que lhe devo explicações. Gargalho com sua fala e ela se vai, termino a garrafa e vou até a cozinha em busca de mais.

         Depois de mais uma dúzia de cerveja no meu sangue, me sinto parcialmente bêbado. E fodidamente miserável. Odiando o mundo e todas as mulheres que nele habitam (com exceção de minha mãe).  Já o resto incluindo Beatrice, Katniss... São todas umas demônias oportunistas! Uma me inferniza porque não aceita o fim do relacionamento e a outra... Bom, a outra é uma doida, confusa, impulsiva e traíra. Disse que me amava, me fez gostar dela e agora quer me descartar, porque não contei a ela que tinha uma noiva de mentira. Grande coisa, ter uma noiva! E vale RESSALTAR, que a mesma ficou com o pangaré, por pura vingança. Ou, não ficou, nem sei mais o que pensar, só sei que não estou tendo habilidade pra lidar com isso.

         Procuro um outro canal, porque, se quero esquecer a katniss, esse jogo não está ajudando. Até a camisa do quarterback lembra a morena na minha cama usando a camiseta autografada do meu time de coração.

         Me levanto e decido dormir, é a melhor coisa que posso fazer. Fecho as cortinas e me jogo no sofá.

         Com a ajuda da cerveja o sono chega instantaneamente.

         Depois de alguns minutos ou horas, não consigo dizer com precisão. Sinto beijos delicados pelo meu rosto. Com a escuridão, não consigo ver de quem são. Mas penso que só uma pessoa poderia estar aqui. Katniss! Então, ela se senta no meu quadril jogando uma perna de cada lado. Passo as mãos pelo corpo dela. Está  seminua!

         — É um sonho, Katniss? — sussurro  no seu ouvido e, em retribuição, ela inicia um beijo diferente.

                   A bebida me deixou um pouco devagar, não consigo me levantar, mas retribuo o beijo que ela me dá.  Não estou sentindo as sensações de antes.

         Tentando encontrar a chama que existe entre nós, enfio a mão no seu cabelo, sei que gosta disso.  Porém, é nessa hora que noto a diferença.

Dou um pulo do sofá, tirando-a de cima de mim. Tento localizar a tomada desesperadamente. Quando acendo a luz, vejo quem eu já suspeitava. Betrice! Passo as mãos pelo rosto tentando acordar do pesadelo. Só pode ser isso.

         — Quem é Katniss? — Ela grita, sua pele branca já está com   um leve rubor e os olhos bastante vermelhos.

         Não, não é um pesadelo, penso comigo mesmo.

         Ignoro sua fala tentando controlar que estou sentindo por ter vindo aqui. Ela não deveria estar aqui. Eu pedi um milhão de vezes para não vir aqui.  Pego suas roupas do chão e jogo na sua direção.

         — Se vista e saia da minha casa. — Minha voz saiu rouca pelo sono e pela bebida.

         — Quem é Katniss? Não me respondeu... — Não digo nada, espero que ela comece com os lamentos. Mas ela apenas me olha e depois diz que sabia o tempo todo que eu tinha uma garota aqui. Que era por isso que eu sempre fugia para cá.  Mas que isso não importa. Diz que aceitará eu ter alguém aqui, contanto  que eu seja exclusivo dela quando estivermos em Releigh. E que vai me amar para sempre, não importa o que eu diga ou faça.


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Notas finais do capítulo

Aviso que a autora foi abduzida por alguem super malvado que adora destruir meu pensamentos melosos..rrssrs. Por isso o casal ainda continua "de mal".
Comentem, please.
bjs



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