O Justiceiro de Bela Vértice escrita por Farrel Kautely


Capítulo 9
Capítulo 07 - Isca Pequena Para Peixe Grande




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Coloraram Arthur numa sala de interrogatório a espera dos dois. Quando entraram, o prisioneiro disse, com certa diversão na voz:

– Pensei que seria a ultima vez que o veria, quando me prendeu.

Taylor se prostrou ao lado da porta e ficou em silêncio, enquanto Wallace foi sentar na frente do prisioneiro.

– Gosto de visitar antigos casos. Não fui eu quem o prendi, apenas descobri onde você estava e mandei outros irem atrás de você – Wallace respondeu, como se fossem amigos que conversassem sobre problemas chatos de trabalho.

– Outros bem incompetentes, não? Dei muito trabalho para eles.

– Sim, muito trabalho. Mas você deu muito mais que trabalho, deu um prejuízo imensurável a três famílias.

– Três? – Arthur perguntou, fingindo surpresa – Porra, matei aquelas três porque se pareciam bastante. Pensei que fossem irmãos. Pensei que estivesse causando dor em uma única família.

Taylor não soube dizer se o que irritou seu parceiro foi o que o outro disse, ou se foi o tom utilizado. Wallace deu um tapa extremamente forte no rosto do prisioneiro, que o fez virar o rosto num angulo bem grande.

Ainda que desorientado, Arthur percebeu a presença de Taylor ali. Quando conseguiu falar perguntou:

– E esse aí? Quem é?

– É o filho da puta que veio libertar você – Wallace respondeu, irritado.

Arthur virou-se para dar uma boa olhada em Taylor, que o encarou sério. Voltou-se para Wallace sorrindo.

– Sério? Parece mais que ele está com você.

– Certamente está. Chegamos aqui juntos, não é mesmo?

– Então veio apenas se despedir de mim? – Arthur perguntou, irônico.

– Não, vim prometer que o prenderei em breve, novamente. Você não vai continuar sujando as ruas desta cidade.

– Acha que ficarei aqui? Com certeza fugirei desta cidade. Deste estado... talvez eu suma deste país. Não ficarei aqui com ele tal justiceiro por aí.

Aquilo pegou Taylor de surpresa. Não havia pensado nessa possibilidade. Wallace, no entanto, continuou na mesma, dizendo com indiferença:

– É, certamente é o que eu faria. Mas sua liberdade é condicional, não poderá sair da cidade.

– Falando em minha liberdade – Arthur disse –, por que estou sendo solto mesmo?

– Pergunte ao miserável atrás de você.

Arthur voltou-se para Taylor, fazendo um gesto na cabeça como quem pergunta “e aí?”.

– Você está sendo solto por bom comportamento. Mas é uma liberdade provisória e com restrições. Ficará em liberdade condicional até o seu julgamento – Taylor disse, pensando em como Thais fora extremamente eficiente em conseguir isso tão rápido.

– Bom comportamento? Pensei que havia sido preso por mal comportamento. Vai entender essas leis.

Arthur disse isso e ficou calado por um tempo, antes de dizer:

– Quem garante que não irei matar mais criancinhas por aí? Sabe, se alguma chorar perto de mim por exemplo. Odeio choro de criança.

Wallace levantou, deu a volta na mesa e ficou de frente para Arthur e disse:

– Você não vai fazer isso, pois eu não vou deixar, seu desgraçado.

Então, com um movimento rápido e forte, bateu a cabeça de Arthur na mesa, fazendo com que este desmaiasse.

– Chip de fácil implementação, você diz? – Wallace perguntou, enquanto Taylor se adiantava para o sujeito desacordado.

– Sim, ele não fará ideia de que isso está no pulso dele – Taylor respondeu, tirando uma seringa do bolso e injetando o pequeno chip rastreador no pulso do braço esquerdo de Arthur. – Nenhuma coceira, nada. Você pode fazer. Veja, a marca resultante é imperceptível. Enfie uma seringa em outro lugar do braço e ele não irá desconfiar de algum outro furo que tenha sido feito nele.

Terminaram e saíram da sala.

– Mas e então? – Wallace perguntou, enquanto caminhavam para a saída da prisão – Depois de tê-lo ouvido falar, acha que teríamos conseguido convencê-lo a nos ajudar?

– Não – Taylor respondeu, com sinceridade.

– Então, você fez algo que considera errado por uma boa causa – Wallace disse, num tom divertido e muito sugestivo.

– Nem de longe tem a mesma magnitude, Wallace.

– Exatamente – o amigo disse, rindo consigo mesmo. – Lembre-se disso quando refletir novamente sobre a diferença entre roubar uma galinha e roubar milhões.

Taylor odiou-se por não saber o que dizer naquele momento.

Horas depois, estavam os dois sentados em sua sala na central. Wallace lia seu jornal distraído e Taylor usava seu laptop para ler alguns artigos.

– Quer fazer um teste com o rastreador? – Taylor perguntou ao parceiro, de repente.

Arthur havia sido solto a pouco mais de duas horas, e um desses repórteres que ficam parasitando arquivos, delegacias e a própria central, ou algum policial que passa informações a mídia, fez com que um jornal televisivo vespertino gritasse no ouvido dos cidadãos que a injustiça havia sido feita e o prisioneiro monstruoso havia sido solto por bom comportamento sendo que ninguém (graças a Thais) soubesse informar de onde havia partido a autorização.

“Como sempre, um trabalho muito bem feito e elaborado pela policia belo verticinense. Ou deveria dizer trabalho mal feito?” o apresentador do jornal falou. Pelas ruas já havia quem dissesse que era apenas uma questão de tempo até que o justiceiro o pegasse.

– Deixe-me dar uma olhada como funciona esse seu rastreador – Wallace disse, arrastando sua cadeira até a mesa do parceiro.

Taylor virou o laptop e abriu um programa. Pouco depois apareceu um mapa mostrando algumas ruas e quarteirões da cidade. No meio deste mapa havia um ponto azul no que parecia ser...

– Está é a casa dele – Wallace disse, olhando o nome da rua. – Bem, vamos torcer para que seu plano dê certo.

– Tenho fé em Deus que terá – Taylor disse, feliz. – Veja isso.

Taylor digitou um comando no programa e a tela mudou. Em questão de trinta ou quarenta segundos, foi mostrando-se gradativamente um mapeamento em três dimensões o que parecia ser o cômodo em que Arthur estava.

Em linhas e traços brancos num fundo azul escuro, montou-se uma imagem em três dimensões de um quarto com alguns moveis e uma cama. A imagem rodava para que pudesse ver outros aspectos do quarto. Arthur estava, aparentemente, deitado.

– Ele provavelmente sentia saudade da cama dele – Wallace comentou, impressionado. – Seu rastreador faz esse mapeamento?

– Faz sim.

– Como isso é possível?

– Ele libera uma pequena onda, uma espécie de sonar. Essa onda se espalha rapidamente pelo ambiente e, ao encontrar algo sólido, retorna rapidamente para o rastreador. Após isso, libera novamente outra onda que tende a ignorar o primeiro obstáculo, como se desse a volta por ele e seguisse até o próximo obstáculo. Isso acontece muito rápido. O intervalo entre uma onda liberada e outra é pequeno. Quando algumas mesmas ondas encontram um mesmo obstáculo cinco vezes, é sinal que encontrou uma barreira instransponível, como uma parede. Deste modo sabe que chegou ao fim daquele cômodo. Vou usar isso para saber se o ambiente onde Arthur está se parece com um cativeiro antes de nos movermos para libertá-lo.

Wallace contraiu os lábios impressionado antes de dizer:

– Bom, muito bom. Onde conseguiu um desses?

– Comprei na internet ano passado – Taylor respondeu, rindo. – Tinha esperança de usar algum dia. Como nunca surgiu uma oportunidade, pensei seriamente em colocar na minha irmã quando me mudei para cá. Espero poder recuperá-lo quando prendermos Arthur novamente. Você não faz ideia de como isso é caro.

– Ele é bem tecnológico, não? Não é rastejável? – Wallace perguntou, intrigado.

– Se estiver ligado, sim. Por isso posso ligá-lo e desligá-lo a distância. Irei ligá-lo por breves instantes a partir de agora, de tempo em tempo. Quando ele estiver em algum lugar suspeito libero o sonar rapidamente.

Wallace apenas sacudiu a cabeça de forma afirmativa, satisfeito. Parecia achar que aquilo poderia dar certo. Desligaram o rastreador e foram tratar de outros assuntos.

Durante o dia, após passarem cinco horas da libertação de Arthur, ligavam o rastreador de hora em hora por breves instantes para checar, e Arthur continuava na casa.

Após o final do expediente, continuaram na central por mais algumas horas, concordando que deveriam continuar checando. Por volta das dez da noite, Wallace sugeriu que fossem para sua casa e continuassem de lá, de onde poderiam reversar para checar de tempo em tempo. Taylor concordou em ir, curioso para conhecer a casa do Parceiro.

Wallace não morava longe da central. Sua casa ficava em um bairro tranquilo no centro da cidade. Tinha uma aparência rustica e era impressionan-temente organizada.

– Sua casa não se parece nada com sua mesa na central – Taylor comentou, sentando-se no sofá e ligando o laptop para checar mais uma vez a localização de Arthur, que ainda estava em casa. Não havia ativado o sonar novamente uma segunda vez por não ver necessidade.

– Que tipo de pessoa acha que sou? – Wallace rebateu, rindo. – Passo tanto tempo fora que não tenho tempo para bagunçar tudo aqui. Aliás, não sou eu quem limpo minha casa.

– Você tem empregada?

– Não. Tem uma pessoa que parece gostar de vir aqui de vez em quando ajeitar as coisas e me ver. Não vamos falar dela.

– Tudo bem! – Taylor concordou.

Wallace lhe ofereceu algo para comer e ele aceitou. Depois tomaram um café e conversaram sobre diversos assuntos paralelos ao caso do justiceiro, continuando checando o rastreador de tempos em tempos.

Por volta das uma da madrugada, Wallace anunciou que iria tirar um cochilo e pediu para que Taylor o chamasse caso acontecesse algo. Dentou-se no sofá e dormiu.

Taylor foi para a poltrona e continuou checando, sonolento, o rastreador. Assistia a TV que estava ligada a sua frente em volume baixo, que passava o que parecia ser um documentário desinteressante sobre a copula de insetos. Não soube dizer em que momento adormeceu.

Acordou assustado em determinado ponto da madrugada e olhou para o seu relógio de pulso: eram três e quarenta.

Xingando a si mesmo, ligou rapidamente o laptop, ativou o rastreador e se surpreendeu com o que viu.

Arthur movia-se consideravelmente rápido pela cidade, atravessando casas, ruas e avenidas. Soltou um grito chamando Wallace, que acordou assustado. Mostrou ao parceiro a tela do laptop e este só observou por alguns instantes, antes de levantar-se enérgico, dando instruções:

– Pegue suas coisas, leve o seu computador. Vamos para o carro seguir esse infeliz. Parece que ele está pulando muros e passando por cima das casas. Vamos ver onde ele está indo.

Correram para o carro e avançaram pela ruas rapidamente. Arthur estava longe dali, avançando rapidamente sabe-se lá para onde.

Taylor dava as direções e Wallace fazia barulho ao correr pelas ruas de Bela Vértice que, ao menos neste horário, não iria lhes impedir de chegar até Arthur.

Estavam rápidos demais quando tomaram uma das avenidas principais da cidade, avançando para o oeste da cidade. Quando deram por si, encontraram uma blitz policial e tiveram de parar para não atropelar um deles.

– Onde os senhores estão indo com tanta pressa? – um policial perguntou, vindo ter com eles. – Por favor, saiam do carro.

– Sinto muito, meu amigo, mas não vamos parar agora. Somos policiais também e estamos em plena perseguição – Wallace disse apressado, mostrando o distintivo. Taylor torceu para que o outro policial não testasse a paciência do parceiro.

– Perseguição? – o policial perguntou num leve tom irônico – Engraçado, não passou nenhum carro aqui na ultima hora que parecesse estar fugindo de alguém.

– Por gentileza, já mostrei meu distintivo. Deixe-me passar.

– Sim, eu vi seu distintivo senhor investigador – o outro respondeu. – Seu cargo ser maior que o meu não faz de você acima das leis. Documentos do carro, por favor.

– Só pode estar de brincadeira comigo – Wallace disse, ficando vermelho de raiva.

– Seu amigo não diz nada? – o policial perguntou, referindo-se a Taylor.

– Senhor, realmente estamos atrás de um sujeito importante – Taylor falou, olhando para a tela do laptop, vendo que Arthur distanciava-se cada vez mais.

– Sinto muito, mas são os procedi...

O policial não terminou de falar, pois Wallace abriu a porta com força, batendo em seu peito e o fazendo cair sem ar.

– Oh, sinto muito – Wallace disse, saindo do carro e pisando de proposito na perna do policial. Outros policiais vieram correndo ver o que estava acontecendo, ao tempo em que Wallace tirava os documentos do carro do bolso e dizia: Senhores. Senhores, por favor. Aqui estão os documentos do meu carro, e aqui está meu maldito distintivo. Não sei se sabem, mas sou investigador que foi designado a investigar o justiceiro, assim como o meu parceiro, que está no carro. Seu amigo aqui acha que é espertinho e que pode me impedir de perseguir um suspeito que foge enquanto conversamos. Então só vou dizer mais uma vez: me deixem passar agora, ou juro por Deus que vou destruir a carreira de vocês. Ou dar-lhes alguns tiros. Ainda não me decidi.

Alguns dos policiais reconheceram Wallace e nem de longe pareciam dispostos a impedir que ele seguisse seu caminho. Pediram desculpas pelo primeiro policial e disseram que ele poderia ir. Wallace voltou ao carro, não sem antes dar um chute no policial que ainda tentava se levantar do chão e dizer um palavrão.

Saíram catando pneu pela avenida, correndo em direção a oeste, virando ruas e mais ruas.

– Wallace, veja, ele está saindo da cidade – Taylor falou, vendo que agora Arthur parara de atravessar casas e parecia estar seguindo muito rápido apenas por ruas, em direção a uma rodovia a oeste de Bela Vértice. – Acha que ele pode estar fugindo?

– Não sei dizer – Wallace respondeu, parando o carro no acostamento e dando atenção ao laptop. – Ele parece estar indo bem rápido para quem até agora estava a pé. Mas agora está muito mais rápido.

– Sim. Talvez tenha tomado um carro.

– Ligue o tal do sonar – Wallace falou.

– Acho melhor esperarmos um pouco. Talvez ele tenha sido pego pelo justiceiro. Faz todo o sentido um esconderijo afastado da cidade, não? Talvez estivesse fugindo.

Wallace concordou e decidiram esperar. Cerca de vinte minutos depois, viram Arthur parar e ficar no que parecia ser um sitio próximo a rodovia. Taylor desligou o rastreador para evitar que fosse encontrado.

– Vamos esperar um pouco para ligar o tal sonar? – Wallace perguntou.

Taylor fez que sim, então saíram a procura de alguma lanchonete ou padaria que estivesse abrindo. Eram pouco mais de cinco horas e logo amanheceria. Taylor comeu rapidamente, ansioso para ligar novamente o rastreador, mas Wallace o conteve. Quando Taylor não se aguentava mais de nervosismo e urgência, Wallace o deixou rastrear.

Ainda no balcão da padaria em que estavam, Taylor ligou laptop e ativou o rastreador.

– Ele ainda está neste sitio – disse.

– Ótimo! Ligue esse sonar – Wallace falou.

Taylor digitou o comando e gradualmente se surpreenderam com o que viam.

O pequeno rastreador de Taylor construiu uma espécie de galpão retangular de vários metros quadrados com várias cadeiras e silhuetas humanas sentadas. Arthur estava em um canto e havia vários objetos espalhados. Wallace bateu palma e soltou um grito de triunfo, que chamou a atenção de todos que tomavam café ali.

– Acredito que Arthur estivesse pulando muros e correndo pela cidade pare fugir dele, mas acabou sendo preso – Taylor sugeriu. – O que faremos agora?

Wallace tirou seu celular do bolso, discou alguma coisa e disse, enquanto colocava o aparelho junto à orelha:

– Uma rápida mobilização policial.


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Notas finais do capítulo

Olá!
Espero que goste e acompanhe a história.
Caso tenha alguma dúvida, sugestão ou correção (pois posso ter deixado passar algo na revisão), eu adoraria conversar com você.
E-mail: kauty.s@gmail.com
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Site: www.mundokauteriano.com.br



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