O Justiceiro de Bela Vértice escrita por Farrel Kautely


Capítulo 6
Capítulo 04 - Um Banquete Para Vermes




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Taylor estava lendo o jornal em sua mesa quando Wallace entrou, e surpreendeu-se com o que viu.

– Por que o chapéu? – perguntou.

Wallace usava um chapéu da mesma cor que seu sobretudo.

– Tenho de ter algo que o diferencie de mim. Escute, passaremos meus pequenos casos para outros investigadores para darmos prioridade para a investigação a respeito do justiceiro... – olhou para o relógio e registrou as horas – agora.

– Ótimo! Por onde começamos? – Taylor perguntou.

– Vamos começar pesquisando o caso em jornais. Tentar encontrar as conexões existentes.

– Não é um recurso pobre? – Taylor perguntou, desconfiado que o amigo estivesse tentando evitar o caso.

– Meu amigo, os jornais sabem tanto do justiceiro quanto a polícia.

– Pensei ter dito que escondemos algumas informações da imprensa. Se for o caso, talvez tenhamos mais detalhes nos nossos bancos de dados e não nos jornais.

Wallace riu com gosto e disse:

– Não mais. Ontem à noite eu deixei a informação dos falsos justiceiros vazarem.

– Com que intuito? – Taylor perguntou, surpreso.

– Não quero correr o risco de ir atrás de pistas de falsos justiceiros. Depois que demos aquela maldita coletiva, o justiceiro pode querer nos confundir ou qualquer coisa assim. Não devemos facilitar.

Neste momento, Fernando apareceu ofegante na posta da sala e disse aos dois:

– Senhores investigadores oficiais do caso, talvez devam saber que encontraram mais um corpo na Rua Tavares Luxemburgo.

– Vamos lá – Taylor disse, levantando-se e vestindo seu sobretudo.

– Suma daqui – Wallace disse a Fernando, que o olhou de cara feia antes de ir. – Escute Taylor, antes de sairmos, preciso lhe dizer algumas coisas.

– Estou ouvindo.

– Vamos combinar algumas coisas para que não haja problemas nas nossas investigações. Você veio de uma cidade pequena, e as coisas aqui acontecem mais rápido e de forma mais dinâmica. Aqui você vai enfrentar pessoas com armas, e não pedaços de pau e pedras.

– De onde você acha que vim? De alguma aldeia da idade média? – Taylor perguntou, irritando-se.

– Sabe usar uma arma? – Wallace perguntou.

– Você mija em pé? – Taylor rebateu, de forma irônica.

– Não.

Wallace disse isso e saiu da sala. Taylor foi atrás dele sem saber se o parceiro havia falado sério. Enquanto desciam o elevador, Wallace disse:

– Me desculpe se fui grosseiro – ele disse, parecendo não se importar se foi grosseiro ou não. – Mas a questão é a seguinte: se eu lhe disser para fazer uma coisa e meu tom for de urgência, um conselho grande que lhe dou é que faça. Estou dizendo isso agora e é bom que leve a sério. Eu conheço essa cidade muito bem, então se eu disser vire à esquerda, por favor, não vá para a direita, pois eu não vou me esforçar para ir buscar você. E por Deus Taylor, se tiver de usar sua arma, use.

– Não há arma que possa ferir mais seu adversário que um intelecto que o coloque a frente dele – Taylor disse, pomposamente.

– Quem é o filosofo que disse isso? Poucas foram as vezes que ouvi besteira tão grande.

– Na verdade é uma frase minha.

– Quando a força da sua mente fizer um buraco maior que um calibre trinta e oito, fale comigo – Wallace disse, visivelmente segurando-se para não rir.

Saíram do estacionamento na central no enorme carro preto de Wallace, que dirigiu mais rápido que Taylor julgava necessário. Afinal, o dia ainda estava começando e o transito não começara a se intensificar.

Chegaram no local vinte minutos depois, onde um pequeno grupo de curiosos tentava ver o que havia atrás de um arbusto cercado por fita isolante.

Os dois desceram do carro e estavam indo para o local. Taylor tinha o olhar tão fixado no destino que teve de ser segurado por Wallace, pelo cangote.

– Preste atenção onde pisa – o parceiro disse. Taylor olhou para o chão e viu que fora salvo de pisar numa imensa bolha de vômito fresco. Deu uma olhada em volta e viu que outras parte da calçada também tinham vômito, mas de consistências diferentes.

Atravessaram a faixa de isolamento e foram atrás do arbusto, onde uma legista com uma máscara avaliava a situação. Quando chegou perto o suficiente para ver, Taylor entendeu o motivo dos vômitos: além do cheiro desagradável, algumas partes do corpo da vitima continha verdadeiras colônias de vermes.

O homem estava apenas de cueca que deveria ser branca, mas estava com um tom amarelado.

– Esse aí sofreu – Wallace comentou, antes de perguntar a legista: O que diabos aconteceu com o ele? Quem o encontrou fez isso?

A legista olhou para o ponto no abdômen da vitima que Wallace apontava. Havia ali uma boa quantidade de vômito.

– Um dos legistas vomitou no cadáver.

– O quê? – Wallace perguntou, perplexo – Qual deles?

A mulher, que tirava vermes com uma pinça e guardava um saquinho, apenas lançou um olhar para um rapaz que estava a cinco metros dali, observando. Seu rosto parecia ter um curioso tom verde.

– Se você não aguenta olhar esse tipo de coisa, talvez não devesse trabalhar com isso – Wallace disse ao rapaz.

– É realmente nojento – Taylor comentou, evitando olhar para o corpo. Ele poderia colocar a mão em um vidro cheio de baratas, cobras, ratos, aranhas e qualquer tipo de inseto, mas não em vermes. Achava repugnante.

– Se for vomitar também, não mire em mim – Wallace disse, antes de dirigir-se à legista: A senhorita poderia nos dizer o que temos aqui?

Ela fechou um dos saquinhos, levantou-se tirando as luvas e gritou pelo fotografo antes de falar com Wallace:

– Quem quer que tenha feito isso é realmente doentio. Fez ferimentos em vários pontos do antebraço e coxas, e provavelmente os deixou abertos e expostos a mosquitos. Os da coxa são piores, pois contem muitos musculos e por isso os ferimentos tem até três centímetros de profundidade. Claro que os vermes se alastraram por baixo da pele. A causa da morte sem dúvida é o projetil na cabeça.

– Quantos pontos vermificados tem o corpo? – Wallace perguntou num tom divertido, como se parecesse querer deixar a coisa toda cômica.

– Três em cada antebraço, quatro em cada coxa. Há também vários em outras partes do corpo, mas não em sincronia. Se houver algo na parte de trás das pernas e nas costas irei descobrir quando o fotografo resolver vir fazer o trabalho dele. Você vai vir ou não?, Infeliz – ela gritou para o fotografo, que parecia com receio de chegar perto.

– Você trabalha com um bando de frescos – Wallace comentou. – Identificaram a vitima?

– Pergunte ao policial ao lado do enjoadinho – a legista falou, lançando um olhar para o jovem legista. Wallace a deixou ali e foi falar com o policial. Taylor agradeceu a legista e foi atrás do parceiro, dando uma última (e boa) olhada no corpo.

Quando viu Wallace chegar perto, o jovem legista se afastou.

– Identificaram a vitima? – o investigador perguntou ao policial.

– Colhi as digitais e descobrimos que o nome do morto é Leonardo Fonseca – o policial respondeu.

– Suponho que eu não tenha de perguntar quais os crimes que ele cometeu – Wallace falou.

– Ele foi preso alguns meses por... Acho melhor vocês mesmos lerem – o policial disse, fazendo um gesto para que eles o seguissem até a viatura. O policial pegou um tablet ali e os entregou, antes de voltar para falar com o legista.

– Vejamos – Wallace disse, antes de começar a ler em voz alta: Leonardo Fonseca dos Santos, data de nascimento tal, estado civil não me interessa, escolaridade que diferença faz?, condenado a vinte e dois anos por assassinato. Escute isso Taylor, parece que esse maluco matou três vizinhos que faziam festas até tarde da noite e achou que seria divertido jogar os corpos para seus cães comerem. Essa cidade está um caco.

– Que horror! – Taylor comentou.

– Então os vermes fazem sentido.

– É uma nova forma de tortura – Taylor falou, com repugnância.

– Você não está entendendo a dele, meu amigo – Wallace falou. – Ele não está apenas torturando, ele está punindo.

– Que forma engraçada de punir alguém.

– Não vê o sentido que faz? – Wallace perguntou, jogando o tablete de qualquer jeito dentro da viatura, que quicou no banco e caiu no chão com um estalo que fez parecer ter trincado a tela (se ouviu, Wallace ignorou) – Para punir esse tal Leonardo, o justiceiro o fez ser comido vivo e lentamente, e o fez assistir. A legista não mencionou, mas você reparou nas marcas que o corpo tinha nos pulsos?

– Não – Taylor respondeu. Evitara olhar demais para o cadáver.

– Elas me fazem pensar que ele teve os pulsos amarrados e presos. Acredito que ele foi mantido preso numa cadeira, num ângulo que o permitisse ter uma boa visão dos seus antebraços e coxas e observar ser devorado por essas coisas nojentas; para que sentisse o horror de ser comido. Isso é para compensar o que fez com aqueles que matou.

– Está sugerindo que cada vitima tem uma tortura específica para o crime cometido? – Taylor perguntou.

– Acredito que não; não vi ligações em outros mortos. Acredito que, às vezes, o justiceiro fica um pouco mais criativo, só isso. Dê uma olhada ao seu redor, pela rua. Quais as suas impressões? Alguma coisa que possa nos ajudar?

Taylor olhou ao seu redor e fez algumas observações:

– Rua de mão única. O cadáver parece ser bem pesado, o que pode indicar que chegou até aqui de carro. Logo, veio daquela direção.

– E não há câmeras aqui – Wallace disse. – Mas, mesmo ele sendo pesado, foi colocado carinhosamente atrás de alguns arbustos ali, de frente a casa. Quem o carregou até ali é forte, ou então foram mais de um que o trouxe. Espero que não more nenhuma criança ali. Não podemos negar que esses acontecimentos possuem seu grau de horror.

– Não há câmeras nesta rua, mas quem sabe não há nas ruas que cortam essa? Talvez possamos encontrar algo.

– São quatro ruas que cortam essa, se não me engano. E mesmo que haja câmeras, como saber qual carro continha o cadáver?

– Talvez um carro grande. Um furgão ou uma van – Taylor sugeriu.

– Talvez, se quisessem evitar sujar o carro. Mas duvido muito que encontremos algo. Para evitar desperdício do nosso tempo, pedirei para que outros façam isso – Wallace falou, fazendo sinal para que o policial viesse a até eles novamente.


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Notas finais do capítulo

Olá!
Espero que goste e acompanhe a história.
Caso tenha alguma dúvida, sugestão ou correção (pois posso ter deixado passar algo na revisão), eu adoraria conversar com você.
E-mail: kauty.s@gmail.com
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Site: www.mundokauteriano.com.br



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