O Justiceiro de Bela Vértice escrita por Farrel Kautely


Capítulo 3
Capítulo 02 - Tão Ruim Quanto, Ou Pior




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Wallace era um homem peculiar. Devia ser dez anos mais velho que Taylor. Tinha cabelos compridos que poderiam ser mais bonitos, se fossem bem cuidados, e uma barba por fazer confirmou a noção que Taylor havia tido de sua desorganização, baseando no estado na mesa.

Depois que a porta foi aberta, Wallace apresentou-se rapidamente e jogou em cima da mesa de Taylor os relatórios mal preenchidos dos casos que estava investigando.

– Agora, novamente tenho alguém que me ajude com essas coisas – ele disse, sentando-se em sua mesa, abrindo uma gaveta e tirando lá de dentro um prato com um pão recheado com frango. – Eu estava tentando tomar meu café da manhã quando o excelentíssimo secretário exigiu minha presença para me dizer coisas que eu já sei.

– Você está investigando tudo isso? – Taylor perguntou, surpreso. Havia pelo menos trinta casos em suas mãos.

– Sim. É bastante coisa, mas nada fenomenal. Alguns desses só preciso ir verificar uma coisinha ou outra. Ou melhor, nós temos de ir verificar, então dê uma lida para se inteirar. Já que você chegou agora e acredito que levará um tempo para ficar por dentro dos nossos casos, darei a mim mesmo um dia de folga e amanhã retomamos. Não se assuste com o número de casos. Agora que somos uma dupla, iremos duplicar isso aí. A não ser que você seja um retardado.

– Mal posso esperar para começar – Taylor disse, olhando para os relatórios.

Não achava que precisaria de um dia para avaliar os casos. Todos os relatórios estavam preenchidos com muitos poucos detalhes. Parecia que Wallace usava apenas palavras chaves para descrever os casos.

“Assassinato Rua Alfredo de Lima. Dia 22, casa invadida. Mãe do assassinado desmaiada. Filho morto com facada na barriga” leu num dos casos. Não havia mais nenhuma descrição.

– Esse caso da Rua Alfredo de Lima... – Taylor começou a dizer.

– Ah, sim! É algo interessante – Wallace falou, lendo um jornal. – Neste dia, durante a noite, alguém invadiu a casa dessa senhora e a acertou com alguma coisa na cabeça e a desmaiou. Seu filho estava no quarto contanto dinheiro que ela, aparentemente, acreditava que ele havia ganhado honestamente. Na verdade o garoto estava vendendo drogas na escolha para os amiguinhos. Bastou que eu conversasse com alguns amigos para descobrir, embora eles não estivessem dispostos a contar. Sei ser persuasivo quando preciso.

– Então acha que ele foi morto por traficantes? – Taylor perguntou.

– Não faço ideia. Se foram traficantes, pretendo descobrir. Mas pode ter sido alguém que queria dinheiro e soube que ele tinha algum. Veremos isso depois de amanhã, já que amanhã daremos prioridade para casos mais importantes.

– Você está investigando sobre esse justiceiro também?

– Não.

A resposta pegou Taylor de surpresa.

– Posso perguntar por quê?

– Pode, mas não vou responder – Wallace disse, levantando-se e indo para a porta. – Ao menos não agora, tenho um assunto para resolver.

– É uma investigação? – Taylor disse, levantando-se. – Se for, irei com você.

– Pensei ter dito que investigações ficariam para amanhã. Fique na sua e faça o favor de não me trancar do lado de fora novamente.

– Mas se eu não trancar, podem entrar e pegar minhas coisas.

– Então sugiro que deixe suas coisas de valor em casa. Ninguém entra numa sala para roubar papéis. Principalmente aqui.

Disse isso e foi embora.

Taylor voltou-se para os relatórios e leu tudo o que tinha de saber em pouco menos de uma hora. Sem nada para fazer em sua sala, ligou para a irmã contou como estava sendo o primeiro dia.

Havia deixado Adriely na cidade em que moravam. Ela queria tê-lo acompanhado de volta para a cidade que nasceram, mas ainda tinha de terminar sua graduação.

Taylor e Adriely haviam nascido ali, em Bela Vértice, quando ainda era uma cidade bem mais tranquila que agora. Mudaram-se com os pais no início da infância para morar com os avós, que estavam doentes.

“E cá estou eu novamente” Taylor pensou, “investigador da Central de Polícia e Investigação de Bela Vértice. Quem diria!”

Sua irmã parecia sentir sua falta já nos primeiros dias de distância. Seu período de prova estava aproximando e lamentava não ter o irmão para lhe dar apoio.

– Ei, você é Taylor Hudsom?

Taylor olhou para a porta da sala e viu dois homens ali, olhando-o curiosos.

– Tenho de ir agora Adriely, depois nos falamos – disse e desligou. – Sou sim.

– Meu amigo, tenho pena de você – disse um deles, olhando ao redor da sala.

– Por que teria pena de mim?

– Tu ficou com Wallace. Cara, é muito difícil lidar com ele.

– Sim, estou percebendo. É por isso que ele não tem um parceiro?

– Talvez – o primeiro respondeu. – Ele não é tão organizado e é desmazelado com a papelada. Os parceiros dele sempre tentam lidar com a papelada e ele acaba mandando eles procurarem outro rumo, pois parece querer alguém tão desmazelado quanto ele.

– Cala a boa Fernando – disse o outro, entrando na sala e indo apertar a mão de Taylor. – vai acabar espantando nosso amigo. Prazer, meu nome é Gustavo, e este é Fernando.

– Prazer em conhecê-los.

– Seja bem vindo, meu amigo. Se precisar de alguma coisa que possamos fazer por você.

– Que tal um almoço? – Taylor sugeriu – Assim podemos conversar um pouco mais.

– Quem convida paga – Gustavo disse.

– Bem, eu vou almoçar agora. Se quiserem ir comigo pela companhia, será ótimo. Mas o novato aqui não vai pagar o almoço de ninguém no primeiro mês. A não ser que seja para Thais.

Estavam num restaurante em frente à CPIBV. Falavam de como as coisas eram na cidade e como Wallace trabalhava.

– Se quer saber – Gustavo disse, com uma coxa de frango na mão –, sugiro que tente entrar na onda do Wallace. Tente agradá-lo e mostrar que é bom de serviço.

– Por que colocam um novato para trabalhar com alguém difícil de lidar? – Taylor perguntou.

– Pensei que já trabalhasse como investigador.

– Trabalhava sim.

– Então você não é um novato – Gustavo observou –, apenas foi transferido.

Taylor apenas concordou com um aceno de cabeça.

– Ninguém trabalha com ele por não conseguirem. Muitos até gostariam, mas sempre acabam desistindo. Ele investiga muita coisa ao mesmo tempo e se envolve com gente perigosa. Há rumores que ele faz tratos e combinados com tudo quanto é tipo de gente para conseguir informações e tudo o mais. Prefiro ficar em casos mais seguros – Gustavo falou.

– E esse tal justiceiro? Vocês têm procurado informações?

– Quem? Nós? – Fernando perguntou, rindo. Olhou para Gustavo e os dois trocaram um olhar cheio de significados.

– Nós não nos empenhamos muito nisso – Gustavo respondeu.

– E por que não?

– O sujeito meio que está fazendo um favor para todos nós. Além disso, por que colocar nossos pescoços em risco tentando capturá-lo, quando aparentemente ele pode sumir com qualquer um e depois deixá-lo por aí, torturado e com um tiro na cabeça?

– Mas ele está torturando as pessoas – Taylor disse, indignado. – Vamos deixá-lo fazer isso? O secretário disse para se empenharem nisso.

– Isso é apenas aparente – Gustavo disse. – Se ele estivesse realmente interessado em capturar o justiceiro, montaria uma força tarefa para isso; não diria para que dividíssemos esse esforço com casos mais simples.

– Você sabe quem são os alvos dele, certo? – Fernando perguntou.

– Somente bandidos pequenos. Por que ele não pega os grandes?

– Os grandes são as mãos, e os pequenos os fantoches – Fernando disse, como quem filosofa. – Sem bonecos não há espetáculo.

– Mas ele tortura e mata apenas os pequenos enquanto os controladores ficam impunes?

– Ficaria feliz se ele matasse os grandes também? – Fernando perguntou.

– Não foi o que eu disse.

Os outros dois se olharam. Aparentemente achavam Taylor um tolo; ou ingênuo.

– Escutem – Taylor falou, sério –, não é assim que se resolve os problemas. As pessoas devem ser presas, e não mortas. Quem dirá torturadas.

– Meu amigo, escute bem – Gustavo falou. – No momento os índices de assassinato está bem alto, mas o índice de assaltos e roubos bem menor, e não para de diminuir. Os bandidos estão com medo de serem pegos e estão pensando duas vezes antes de fazer alguma coisa. Talvez estejam procurando emprego e dando um rumo melhor para a vida, deixando de ser os vagabundos que são. Os assassinatos de agora irão diminuir em breve, quando todos os bandidos estiverem na linha, com medo demais para continuar com a malandragem.

– Mas a que preço? – Taylor perguntou.

– O que vale mais? A vida de alguém que mata para roubar, ou a vida de quem trabalha honestamente? – Fernando rebateu – Há alguns anos, parte das pessoas deste país repetiam uma frase enquanto a outra metade repudiava a primeira: bandido bom é bandido morto.

– Muitos desses bandidos não tiveram a opção de serem pessoas melhores – Taylor disse, perplexo com o que estava escutando.

– Cresci na periferia desta cidade e veja onde vim parar – Fernando disse.

– Mas muitos desses bandidos não tiveram tantas oportunidades quanto você – Taylor disse, começando a ficar irritado. – Mesmo que essas oportunidades tenham sido pequenas.

– Ah, tiveram sim – Fernando rebateu. – Oportunidades sempre aparecem, meu amigo.

– Calma aí, vocês dois – Gustavo interveio. – Taylor, escute. Não podemos ignorar um fato: todos esses que estão aparecendo mortos são pessoas que mataram alguém durante seus crimes. Esse justiceiro, seja lá quem for, aparentemente acredita que essas pessoas ultrapassaram o limite ao matar.

– Então vocês concordam com ele? Afinal, nunca mataram ninguém?

– Já matei, mas sob condições totalmente diferentes – Gustavo respondeu.

– Digam o que quiserem, mas para mim, esse tal justiceiro é tão ruim quanto aqueles que mata. Isso para não dizer que é pior.

Taylor disse isso e chamou o garçom. Iria pedir a conta e voltar para a central. Estava se perguntando se seu parceiro concordava com aquilo tudo.


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Notas finais do capítulo

Olá!
Espero que goste e acompanhe a história.
Caso tenha alguma dúvida, sugestão ou correção (pois posso ter deixado passar algo na revisão), eu adoraria conversar com você.
E-mail: kauty.s@gmail.com
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Site: www.mundokauteriano.com.br



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