Vida e Morte de Zachary Walker escrita por Florels


Capítulo 2
Capítulo I




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PARTE I - PARAÍSO

Junho, verão de 1992

Aquele estava sendo o melhor dos seus dezessete verões de existência desde a costa oeste, pensava o garoto de olhos azuis e cabelos desleixadamente descoloridos enquanto descia a rua a toda velocidade em cima de seu skate. Era ele, ou seja, Zachary Walker, e seus três companheiros, ou seja, Arthur, Carlo e Max. Era sempre eles que traziam barulho para as largas ruas dos subúrbios de Bloomfield, então não foi diferente naquele fim de tarde alaranjado.

Sempre saltavam dos skates quando chegavam no início da campina, e então seguiam correndo por entre o centeio e as flores silvestres, acompanhados pelo labrador de um dos vizinhos que simpatizava por seguí-los nas suas aventuras. A campina terminava em uma cerca de arame farpado. No outro lado via-se um imenso vale, e no horizonte as imponentes montanhas enevoadas da cidade vizinha. Ali eles costumavam se sentar e apreciar o por do sol enquanto compartilhavam um ou dois baseados. Max, o garoto de cabelos encaracolados e mais novo dos quatro, era quem trazia a erva.

Zachary contemplava as queimaduras solares em seus braços expostos entre uma tragada e outra. Ele vestia uma regata branca larga, bermuda e seu par de converses favorito. Carlo, ao seu lado, escrevia em seu pequeno bloco incessantemente. O garoto tinha alma de poeta. Por trás das grossas armações de seus óculos, seus olhos verdes iam muito atentos de uma linha a outra do papel. Arthur, por sua vez, estava em pé dançando e cantando uma melodia desafinada: ele quem trazia a maioria das risadas ao grupo. Os quatro já haviam tentado formar diversas bandas, sociedades de poetas ou grupos de vandalismo. Mas decidiram que era melhor ser apenas eles, sem títulos, o que abria muito mais possibilidades. Até porque já havia um pouco de músico, poeta e vândalo em cada um.

Conforme anoitecia, eles voltaram para a estrada e em seus skates retornaram para seu bairro. No caminho, a garota ruiva de seu passado passou por Zac e lhe deu uma breve olhada. Ele acenou para ela, que lhe respondeu com o dedo do meio e continuou seu caminho. Todos os seus amigos riram e começaram a gritar para Walker, mas naquele momento ele percebeu um leve sorriso despontar nos lábios da garota antes que ela saísse de seu campo de visão para todo o sempre. Ele riu baixinho satisfeito, pois sabia que o jeito durão dela não permitiria que ela demonstrasse muito mais do que aquilo.

Aquele tinha sido o último dia de Zachary na cidade. Naquela noite eles se reuniram na casa de Carlo, onde tatuaram um na coxa do outro a data daquele dia. Parecia memorável e certo de se fazer. Todos brindaram enchendo suas doses de pepsi com vodka. Arthur, no violão, fazia um cover improvisado de Nirvana, uma das bandas favoritas do grupo. Carlo leu seus versos em homenagem ao amigo, e Max lhe deu em uma caixinha um estoque generoso de erva para a viagem, o que fez Walker abrir seu sorriso caloroso que enrugava os cantos de seus olhos. Ele prometeu escrever para eles em breve. E também tirar a paz de sua futura vizinhança, o que gerou uma comemoração geral.

x x x x

Naquela noite ele não dormiu. Um pressentimento ruim lhe surgiu enquanto fitava as caixas e as malas no escuro de seu quarto vazio. Pela primeira vez Zac sentiu medo do desconhecido, o qual ele costumava tão destemidamente abraçar.


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