After Midnight escrita por Mare


Capítulo 2
Two-Coloured eyes




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Se passaram alguns dias desde que Amaya finalmente conseguiu sair do quarto, uma bateria de testes seguiu por quase 9 horas seguidas. Sua força agora era sobre humana, e sua memória alcançava níveis inéditos, comparáveis apenas a de seu irmão. Quando ela finalmente acabou, se trancou no quarto de seu irmão, o único lugar onde ela sabia que seus pais não iriam.

A família Merrick, apesar de ser formada por um casal de famosos cientistas e seus filhos prodígios, era extremamente reservada. Tinham que ser, seus segredos jamais deveriam sair das paredes daquela casa localizada na colina. Amaya e Dorian foram educados por seus pais até os 12 anos, idade em que foram para a escola para aprender um pouco sobre convívio social. Nessa idade eles já entendiam bem seus pais quando eles diziam “ não fale nada sobre o que acontece na casa”.

Amaya Merrick sempre foi uma criança quieta, porém cativante. Sempre disposta a cuidar e proteger os outros, nunca se importando com o tamanho ou com o que a pessoa fez. Agora, com 19 anos, Amaya ainda não mudou, mesmo que isso seja um defeito em alguns momentos.

Dorian Merrick era cativante como sua irmã, mas longe de ser quieto. Ele era a criança popular, o capitão do time de natação, todos eram seus amigos e ninguém estava disposto a ser seu inimigo. Dorian, com 20, sempre foi protetor com Amaya, eles eram os irmãos perfeitos da cidade.

Se ao menos alguém soubesse sobre os segredos da casa na colina.

Amaya se encostou na parede, seu cabelo castanho escuro cai por seus ombros até encostarem em suas pernas. Seu corpo pequeno era bem construído, aquele tipo que só era possível dentro de uma academia. Ou com um super liquido que te transformava em algo sobre-humano. Suas pernas escorregam pelo chão de madeira e suas mãos dão dois tapinhas em sua coxa.tap, tap. E pronto. Seu irmão tem a cabeça encostada em suas pernas esguias. Dorian tinha seu cabelo castanho escuro raspado nas laterais, deixando apenas seu topete para que sua irmã bagunçasse, seu corpo era bem maior do que de Amaya, músculos saltados e alto.

–Você viu o que o soro fez com nossos olhos?—Dorian sussurrou.—Irado, né?

Dorian se referia a heterocromia causada. Um pequeno efeito colateral da combinação entre aplicações de força e memória. Enquanto um de seus olhos tinha o brilho castanho comparável ao chocolate, o outro tinha se tornado azul safira.

–Não sei…Acho estranho.—Amaya disse distraída, mexendo no cabelo do irmão, sua pele levemente bronzeada contrastando com a pele muito branca do irmão.

–Você é morena igual nossa mãe.—Ele disse, observando com cuidado os traços do rosto da irmã. Na verdade, Amaya era uma Allegra mais nova. As curvas leves do corpo, a pele, o nariz perfeitinho, os olhos grandes e curiosos.

–E você é uma versão dela com a pele do nosso pai.—Amaya disse ainda distraída com o cabelo dele.

–Você não quer conversar?—Dorian disse pegando a mão dela que estava mexendo em seus cabelos. Amaya ergueu seu rosto e soltou um longo suspiro. Seus olhos se reviraram enquanto seu irmão não olhava.

–Dorian, eu estou cansada e acabei de virar um tipo de super humana. Conversar sobre coisas não vai me fazer feliz.—Ela disse, agora uma de suas mãos passava por seu próprio cabelo. Ela devia cortar e pintar o cabelo de azul claro, ficaria lindo.

–Eu sei Amaya, não é fácil. Te entendo melhor que ninguém.

–Porque não fomos embora ainda, Dorian? Antes que eles contem para seus superiores?—Amaya soltou a pergunta que apertava seu coração desde que seu irmão foi modificado.

–O que os superiores deles tem a ver?—Dorian se levantou do colo da irmã e se sentou a sua frente. Eles tinham que sussurrar, quem sabe se seus pais não estavam ouvindo? A casa era vazia e silenciosa, afinal.

–Nos matar, Dorian! Revirar nossos cérebros pra descobrir como somos e nos usar como exemplo para mudar outras pessoas e transformar eles em armas de guerra!—Amaya sussurrou.

–Amaya, para os superiores os estudos são apenas sobre perda de memória.—Dorian suspirou, tentando acalmar sua irmã.

–Quem garante que eles não sabem da verdade? Nossos pais? Eu não confiaria nos nossos pais agora.—Amaya segurou o pulso do irmão, uma mania que ela tinha ao se sentir assustada.

–Acalme-se, monstrinha. São só os hormônios falando, é seu cérebro reagindo. Você passou por um estresse enorme essa semana.—Dorian mexeu nos cabelos lisos da irmã. Ele ainda se lembra de sua primeira semana, gritos e movéis quebrados, um braço quebrado e um quase ataque sobre sua irmã. Essa ultima parte ainda o deixava apreensivo quando ficava nervoso com sua irmã.

–Dorian, Amaya. O jantar.—A voz de Allegra ecoou pelo corredor.

–Será que não podemos comer aqui no seu quarto?—Amaya se encolheu na parede, como se por algum motivo ela se misturaria com o papel de parede e pôsteres. Dorian pela primeira vez em anos viu uma garotinha inofensiva e medrosa no lugar da irmã.

–Você sabe como nosso pai ficaria,Amy. E eu vou ficar do seu lado, você não vai surtar no jantar.—Dorian apertou de leve a mão da irmã e se ergueu, levando junto ela. Por um momento os pés de Amaya não tocaram o chão.

Amaya suspirou e novamente revirou os olhos. Assim que Dorian a colocou no chão, ela seguiu diretamente para a porta sem mais nenhuma palavra.

A convivência dos Merrick não era das mais fáceis, entre um experimento e outro, varias brigas se seguiam, principalmente entre Dorian e Thomas, que pareceram aumentar desde o teste em Dorian. Allegra era bem quieta,“submissa é uma palavra melhor”, pensava Amaya. Allegra sempre estava disposta a agradar a todos, isso quando não estava trancada em seu laboratório criando a nova droga que seria estudada por seu marido e testado na criança que suportasse mais. Enquanto isso Amaya se isolava de tudo, seu contato com seus pais era o mínimo possível, o único que parecia quebrar seus muros era seu irmão Dorian, talvez por ser o único ser humano que compreendesse os problemas da jovem garota.

O jantar era silencioso, assim como todos os dias daquele ano foram. Amaya e Dorian se trancavam no quarto pensando em lugares para fugir, enquanto seus pais faziam estudos trancados em seus laboratórios. Amaya pensava em como seu cachorro fazia falta, mas ele foi sortudo. Conseguiu fugir antes que seu pai pensasse em fazer testes nele. Sorte que nem ela nem seu irmão tiveram.

–Querida?—A voz de Allegra ecoou pela cozinha silenciosa.

–Sim?—Amaya ergueu os olhos do prato, o jantar nunca tinha sido tão caprichado desde a transformação de Dorian.

–Eu sei que foi tudo um pouco pesado, mas… Coma mais devagar, ok? Não quero você passando mal.—Allegra disse. Amaya finalmente percebeu que dava garfadas cada vez maiores no prato.

Mas o que Allegra entendia de tudo aquilo? Ela só estudava, nunca virou uma cobaia humana. Não sabe da dor nos músculos durante a aplicação, não sabe dos zunidos no cérebro, não sabe da vontade de morrer.

–Vou tentar,mãe.

Essas foram as únicas palavras ditas durante o jantar. Assim que Dorian se levantou da mesa, Amaya o seguiu. Eles passaram uma hora juntos, sentados olhando para a academia improvisada. Amaya pensava em como fugir dali sem deixar rastros, Dorian pensava quantos dias mais demorariam a fazer aquilo acontecer.

–Quero treinar.—Amaya disse. Dorian apenas concordou e se levantou. Começaram com seus alongamentos antes de subirem no tatame e tirarem do caminho dois sacos de areia que Dorian tinha deixado no caminho. Agora que Amaya estava ali, ele passaria a arrumar melhor.


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