Área 51 escrita por Fenix


Capítulo 2
Um segredo bem escondido




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Liam estaciona o carro um pouco antes do mirante da Montanha Brown. O local permanece aberto para visitações, apesar da procura da polícia local pelos desaparecidos.

– O que esse pessoal faz aqui? - Selena solta à pergunta no ar quando todos saem do carro.

– Tem maluco pra tudo - Jennifer fecha a porta e dá alguns passos em direção à traseira do veículo.

– Vamos começar a trabalhar - Liam caminha para o porta-malas e retira de uma sacola preta uma filmadora profissional.

Os três caminham percorrendo o caminho até o mirante e admiram a bela vista do local. Com as montanhas em volta e as nuvens que se destacavam no céu azulado.

– Por onde vamos começar? - Liam pergunta, sem parar de filmar por um segundo.

– Eu conheço uma mulher que mora um pouco mais acima, ela diz já ter visto essas luzes antes - Conta Selena.

– Porque alguém viveria num lugar como esse? - Comenta Liam.

– Ela é Ufologa. Viver em lugar como esses faz parte do trabalho - Selena responde apoiando-se no muro do mirante.

– Dizem que as luzes aparecem nessa região, mas já tiveram relatos de que foram avistadas da Rodovia Blue Ridge e da Autoestrada 181 - Diz Jennifer - Elas são vistas apenas durante a noite.

– A família que virou a capa do jornal Charlotte Daily Observer, deixaram o carro no mirante e foram acampar aproximadamente a uns seis quilômetros daqui - Liam passou noites sem dormir para quando chegasse ao local, soubesse exatamente para onde ir.

A Montanha Brown ficou famosa por essas luzes que costumam aparecer no céu. Cientistas já tentaram estudar o fenômeno, mas todas as pesquisas já feitas até hoje foram inconclusivas. Especulações sobre o local começaram incessantemente logo após suas primeiras aparições. Alguns acreditam que a Montanha Brown seria o local de enterro de uma antiga tribo indígena, o que explicaria o tom sobrenatural destas luzes. Entretanto, antropólogos e historiadores afirmam que ali não há nenhuma espécie de cemitério indígena americano. O motivo dessas luzes permanecerá um mistério por mais alguns anos, pois a ciência não tem explicação para o que ocorre naquele canto dos Estados Unidos.

Eles chegam à casa da mulher que Selena havia comentado. A residência é localizada ao meio da floresta de árvores secas, deixando impossível a passagem de carros ou qualquer coisa do tipo. O isolamento da cidade é essencial para estudar aparição de extraterrestres, devido ao céu ser mais limpo luminosamente. Liam bate na porta e espera que a moça abra a porta.

– Em que posso ajudá-los? - Ela pergunta pela pequena janela em frente a eles.

– Viemos falar com a senhora a respeito dos desaparecimentos recorrentes que acontece nessa área - Responde Liam.

– Mariah! - Selena aparece em seu campo de visão, convencendo-a abrir a porta.

– Entrem - Mariah deixa-os entrar.

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– O que querem saber? - Mariah, uma senhora de cinquenta anos que mora sozinha nessa casa por mais de dez anos. Ela se afastou da família para poder se concentrar no trabalho, e depois de tanto tempo longe, eles não voltaram mais para visitá-la.

Ao julgar pelas fotos que Jennifer observou na estante de madeira da sala, aquela senhora não tem filhos, mas já foi casada com um senhor. Provavelmente ele deve ter falecido, pois não havia sinal de qualquer outra pessoa vivendo nessa casa e apesar de tudo ela ainda mantinha a aliança na mão.

– Selena comentou que você já viu essas luzes - Jennifer dá início a conversa pelo qual estão ali.

– Sim. Quando se fica no meio da floresta por tanto tempo, você tem que acabar vendo alguma coisa.

Não demora muito para que eles acomodassem no sofá da sala de estar. Os móveis de madeira não eram tão desconfortáveis quanto aparentavam.

– Vocês querem café ou algo assim? - Mariah pergunta gentilmente.

– Não, obrigada! - Jennifer responde - Como foi avistar essas luzes?

– Eram como bolhas brilhantes de gás que apareceram aleatoriamente e em diversos lugares - Ela conta - Todos viram claramente o que eram aquelas coisas.

– Mas isso ainda não explica os relatos de abdução por aqui - Diz Jennifer - Não explica a observação de criaturas extraterrestres no local.

– Elas aparecem e desaparece como se fossem fantasmas - Relata Mariah - Mas minha jovem, eu sei que o que eu vi naquela noite não foram efeitos da natureza como a Aurora Boreal. Elas se alinhavam em perfeita linha reta. Parecia que quisessem que ficássemos olhando pra eles.

– Então está dizendo que o que viu poderia ser um OVNI! - Liam sempre enquadrando os melhores ângulos com a filmadora.

– Se visse o que eu vi, você não teria dúvidas que o que estava acontecendo diante de seus olhos, não era algo desse mundo. Não da pra explicar como elas são. É impossível!

– Sim, mas porque as pessoas desaparecem aqui? - Jennifer pergunta.

– Uma vez que você avista essas luzes... Isso vem atrás de você!

Jennifer observa as mãos de Mariah tremulas enquanto recordava seus momentos quando avistou pela primeira vez as luzes da Montanha Brown. O medo se manifestava pelas pernas que começaram a se balançar com aflição.

– Mas você está aqui hoje - Liam comenta.

– Eu não disse que eu não fui pega - Mariah respira fundo antes de continuar a contar - Quando uma pessoa é abduzida, ela sabe disso pois acontece um lapso de memória. Uma tela preta envolve sua mente e você não consegue se lembrar de mais nada. Eu acordei dois quilômetros de onde estávamos. Tinham cortes superficiais em meus braços, minha roupa estava suja por estar deitada ao meio da lama no chão da floresta.

– Então teve uma luta entre você e o que a pegou? - Liam pergunta.

– Eu não sei... Não lembro! - Mariah responde com sua voz baixa e paciente.

– E como conseguiu escapar? - Jennifer inclina-se para frente com a curiosidade que lhe tomava aos poucos. A história que lhe é contada era intrigante, mas suas dúvidas na veracidade ainda permaneciam.

– Não sei ao certo como escapei, mas obviamente eles não ficam com todos que pegam - Ela responde - Meu marido não teve tanta sorte. Nunca mais o encontrei depois que vimos essas luzes. Lembro que corremos pela floresta em busca do nosso carro, mas eles cercaram a gente. Não posso descrevê-los, não me lembro de seus rostos, mas não eram humanos, não mesmo.

– Já tentou hipnose? - Liam sugere - Há casos de pessoas que disseram que foram abduzidas por OVNIs e conseguiram se lembrar de algumas coisas com sessões de hipnose. Como no caso de Betty e Barney Hills.

– Você acha mesmo que eu quero saber o que fizeram comigo? - Mariah o encara inconformada, como se ele tivesse lhe ofendido.

– Porque continua aqui? - Jennifer pergunta.

– Se eles estão com meu marido, eu quero encontrá-lo. Não importa para onde vão me levar, eu só quero vê-lo de novo.

Jennifer e Liam trocam olhares curiosos. Os relatos contados a eles os convenceram que algo sobrenatural de fato acontece na Montanha Brown, só algo de outro mundo poderia mexer tanto com uma pessoa.

– Eu particularmente acho que a ciência tem a obrigação de estudar e explicar assuntos paranormais - Diz Mariah - Aquela foi a coisa mais horrível que já aconteceu na minha vida.

– Você pode nos levar aonde avistou as luzes? - Jennifer pergunta.

– Eu posso levá-los perto de onde aconteceu - Ela responde.

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April foi para o quarto quando todos saíram de sua casa. Com o notebook aberto em seu colo, ela pesquisou sobre alguns boatos mais intrigantes relacionados à Área 51. Seu pai não lhe contou praticamente nada sobre o local, e a curiosidade foi crescendo a cada vez que se lembrava daquela foto. A inquietação pela resposta lhe perturbava a cada segundo, sem deixá-la descansar por um segundo se quer.

Sua pesquisa não resultou em nada além de histórias de conspiração inventadas por pessoas que juram que a base militar do governo americano está escondendo algo da população.

Lauren abriu a porta com cautela, caso April estivesse dormindo ela não a acordaria. Seu olhar entristece ao perceber que sua filha se mantém acordada pouco mais de vinte e quatro horas.

– April, você precisa descansar - Lauren se aproximou com sua expressão preocupada de mãe protetora.

– Eu sei, já vou deitar - April respondeu fechando seu notebook com calma no instante em que sua mãe começou a se aproximar.

– Se precisar de alguma coisa, é só me falar - Lauren tocou sua mão ao sentar ao seu lado na cama.

– Mãe... Você nunca perguntou ao pai o motivo dele ficar tanto tempo no trabalho? - April a questiona sem alterar sua voz.

– Não, meu anjo. O seu pai trabalhava muito naquele laboratório... Ás vezes eu achava que ele amava mais o trabalho do que a mim - Lauren não se dá conta do que estava dizendo. Sua mente exausta já não analisava mais suas palavras com cuidado.

– E você nunca foi visitá-lo?

– O trabalho do seu pai era muito longe, e eu não poderia entrar no laboratório - Lauren responde com paciência - Ele não ficava muito em casa porque era difícil ficar indo e vindo toda hora de Houston.

– É... - April assente desviando o olhar. Sua mãe não fazia ideia de onde Taylor realmente trabalhava. Isso só deixa mais claro o risco que ele correu ao contar isso para sua filha.

– Agora tente dormir um pouco, está ficando tarde e você precisa descansar. Amanhã pela manhã eu não estarei em casa, vou precisar sair para resolver alguns problemas com o atestado de óbito, disseram que seu pai morreu de infarto fulminante, mas tenho certeza que seu pai estava em perfeito estado com sua saúde - Lauren levanta-se com um suspiro - Bom, vou deixá-la dormir. Qualquer coisa me chama. Boa noite! - Então beija April na cabeça e sai do cômodo.

April respira fundo olhando para o teto do quarto. A sensação de algo errado sempre esteve presente para ela. Seu pai era um homem saudável, e a única forma de ter morrido foi se algo tivesse o conduzido a isso. Um assassinato, talvez.

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Liam filmava os últimos raios de sol que passavam por entre as folhas das árvores. Jennifer e Selena caminhavam exaustas pela estrada, suas respirações estavam ofegantes e olhares já concentrados no chão.

– Falta muito? - Liam pergunta a Mariah, que os guiavam.

– Não, já estamos quase lá - Ela o responde tranquilamente.

– Como vocês se conheceram? - Jennifer pergunta a Selena.

– Eu estudei muito sobre casos que já aconteceram aqui e soube um pouco do dela. Vim uma vez para tentar falar com ela e conversar um pouco.

– Hm... - Jennifer cruza os braços e observa Mariah guiando-os pela estrada.

– Estamos chegando ao local onde o incidente com Mariah aconteceu - Liam comenta diante da câmera voltada para ele - Para quem não sabe, a Montanha Brown foi basicamente quem deu início ao projeto Livro Azul.

Selena olhou para trás enquanto Liam gravava suas fitas e volta sua atenção para Jennifer.

– Projeto Livro Azul? - Selena pergunta.

– É um projeto da força aérea americana,uma unidade especial de segurança - Jennifer responde sem perder muito o fôlego - Bom, o objetivo basicamente é determinar se os OVNIs são uma ameaça para a segurança nacional e analisar informações relacionadas com OVNIs.

– E porque não falam isso pra população, temos o direito de saber - Diz Selena.

– Porque não sabemos se estão em ação até hoje. O projeto Livro Azul foi encerrado em 1970, mas acredito que isso seja apenas para acalmar os poucos que acreditam nisso - Fala Jennifer.

– Ninguém vai acreditar em extraterrestres, como se o governo precisasse colocar um ET na mesa e em frente ao público. - Selena não entende o motivo de algumas pessoas serem tão céticas a ponto de não acreditarem em relatos que já foram comprovados como sendo reais. Relatos e filmagens que podem comprovar a existência de vida em outros planetas e que extraterrestres podem vir à Terra.

– É ali! - Mariah para de andar e aponta para frente em direção a alguns carros que estavam espalhados pela pista.

– O que houve com esses carros? - Selena pergunta ao se aproximarem do local.

Incontáveis carros estavam na estrada, alguns com as portas abertas, outros com os capôs, outros cruzavam a estrada como se tivessem tentado dar a volta. A ferrugem na lataria deixava claro o tempo que alguns carros estavam ali.

– Esse lugar é conhecido como o cemitério extraterrestre... - Mariah começa a contar enquanto caminham dentre os carros.

A filmadora que Liam tem em suas mãos, começa a ter problemas estáticos no momento em que passaram pelo primeiro carro de uma imensa fileira que poderiam percorrer. Ele bateu algumas vezes na lateral do objeto, tentando trazer a imagem original de volta, mas algum campo eletromagnético lhe deu uma forte interferência.

– Ainda não sabem o motivo, mas os carros são desligados quando chegam nessa área - Mariah termina.

– É aqui que deve acontecer a primeira aparição - Jennifer deduz com uma bússola em mãos que foi retirada do bolso interno da sua jaqueta.

Selena observa o interior de um carro sport que estava com a porta aberta.

– A agulha da bússola está louca aqui - Jennifer comenta.

– Minha câmera já era - Liam a abaixa com uma bufada. Eles estão indo bem pro centro onde abduções podem ter acontecido e não tem com o que registrar, pois nada mais funciona nessa área - A interferência eletromagnética é uma droga!

Selena afasta-se do carro e fecha a porta que bloqueava sua passagem. Alguns veículos se denunciavam antigos por seus estilos ultrapassados e até mesmo as cores que não usamos mais hoje em dia. Talvez o mais antigo que eles podiam avistar por enquanto é um carro de 2001, com seus vidros trincados e bancos rasgados. Seu olhar levado ao céu procura algo de diferente, algo que poderia trazer algumas respostas.

– Reconhece algum dos carros? - Liam pergunta ao se aproximar de Selena.

– Não - Ela responde, desapontada.

Jennifer abre a porta de um carro que parecia novo. Ele talvez tenha conseguido passar pelos outros veículos parados na estrada, mas viu algo e freou bruscamente. A evidência de tal ato está nas marcas de pneu que estão ficando mais fracas a cada dia. Ela observou o interior do carro à procura de algo que poderia lhe trazer respostas sobre o que acontecia nesse lugar. Durante sua varredura debaixo do banco do motorista, sua mão tocou em algo semelhante a uma pequena câmera fotográfica. Rapidamente abre a porta de trás do veículo e pega a câmera embaixo do banco.

– Liam! - Jennifer o chama afastando-se do carro.

Ele desvia de alguns carros até chegar a ela.

– O que foi? - Perguntou Liam ao se aproximar - Ainda tem bateria? - É a primeira coisa que ele diz ao observar a câmera nas mãos de sua irmã.

– Acho que não - Ela responde - Vamos levá-la, pode ter alguma coisa aqui dentro.

– Se tivermos sorte! - Liam solta seu tom irônico desacreditado e continua a caminhar.

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Agitada na cama sem conseguir parar sua mente inquieta pra descansar, April levantou irritada retirando o edredom que a cobria. Andou até o banheiro do corredor e acendeu a luz que tinha acima do espelho. Ela se encara enquanto a voz de seu pai ainda ecoava em sua cabeça. Era perturbador saber que Taylor morreu por tentar avisar algo que acontecia na base aérea da Área 51. Não se pode negar o fato da morte dele ter sido por quebra de contrato com o governo americano, fazendo-a ter um forte sentimento de culpa que a culminava a cada vez que respirava.

April sai do banheiro após lavar o rosto com uma boa água gelada da pia, que de fato a acalmou por alguns instantes. Antes que entrasse ao quarto ela observa a caixa de objetos de trabalho do seu pai ao lado do sofá da sala de estar. O sono não dá nenhum sinal por enquanto e seria bom olhar as coisas de seu pai, quem sabe assim ela não pudesse se tranquilizar e dormir?

Sentou ao lado da caixa, onde a iluminação da rua clareava uma parte da sala escura pela noite, e retirou tudo que havia ali. Porta retratos, algumas blusas, objetos que ele deveria usar em sua mesa, caso tivesse uma. O choro não se conteve ao pegar uma foto que ela havia tirado com ele durante as férias de verão em Michigan, há alguns anos. O sorriso que ele dava era o mais sincero e bonito que qualquer filha poderia ter.

A nostalgia manifesta-se com uma lembrança em que eles pescavam na beira de um cais no lago. Taylor sentado na sua cadeira de madeira segurando a vara de pescar e usando seu boné preferido dos Giants. April ao seu lado, com a sua vara de pescar presa por entre as madeiras no chão do cais, e ela sentada na ponta enquanto conversava com seus amigos em um chat do celular.

Essa memória trouxe pra si um peso que ela já não podia mais aguentar quieta, o peso dos próprios sentimentos, do próprio coração. Seu olhar pairou pelos objetos espalhados pelo chão quando avista um pequeno pendrive dentro do bolso interno do jaleco. Esticou o braço pegando a roupa, curiosa para saber se havia visto certo, assim retirou aquele pequeno pendrive que passou quase despercebido por entre todas aquelas coisas. De repente a voz de seu pai soa em sua mente, "A verdade é como uma caixa bagunçada, uma hora você acaba a encontrando!", sem demora ela praticamente jogou todas as outras coisas dentro da caixa e correu voltando para seu quarto.

Seu primeiro ato no instante em que entra no cômodo é pegar seu notebook que estava em cima do banco ao lado e sentar na cama já abrindo a tela do aparelho. April digitou sua senha tão rápido que nem se deu conta se havia escrito corretamente. Seu coração volta a bater rapidamente após dias desacelerado, a adrenalina a faz até roer as unhas enquanto o sistema do notebook reconhecido o dispositivo.


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Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que estão acompanhando e assim que eu puder, postarei mais um capítulo! o/



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