O Mestre da Batalha escrita por Psycho Ray


Capítulo 2
Capítulo 1 - O Machado Congelado


Notas iniciais do capítulo

Sempre serei um escritor lento.
Entretanto, a 2ª fase dos vestibulares e o primeiro semestre na USP simplesmente mataram qualquer chance dessa história ganhar um 1º capítulo.
Até agora.

Curtinho, feito no bloco de notas e sem revisão, mas, finalmente, o primeiro capítulo!



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Kayaba não estava brincando.

Ray precisou de tempo para superar o choque e recobrar os sentidos. Mas, antes disso, bem... sua primeira reação foi correr. Um ato patético, claro, mas não incompreensível. Correu até se sentir afastado o suficiente do resto dos jogadores, sem prestar muita atenção à cidade à sua volta. Sentiu que não poderia sustentar os olhares desesperados que o cercavam.

E então a culpa tentou dominá-lo, mas Ray se esforçou para bloquear o sentimento. Kayaba era o responsável por isso. Ele liderou o projeto, criou boa parte daquele mundo fantástico... e os prendeu nele.

Ray sabia com quem estava lidando. Não haveria brechas, não haveria falhas. Seria tal como Kayaba planejara, como sempre foi. Mas por quê? Essa era a dúvida proibida, o pensamento que, nesse momento, não o levaria a lugar algum. Estava cada vez mais ciente de sua condição como prisioneiro, e de que ninguém conseguiria tirá-lo de lá.

Passou a caminhar enquanto tentava acalmar seus pensamentos e aceitar a nova realidade. Não sairia correndo como um garotinho (de novo), nem se ajoelharia aos prantos como boa parte dos jogadores ao seu redor. Faria apenas aquilo que sempre fez: analisaria a situação e resolveria o problema da melhor forma possível.

Dessa vez, porém, as palavras tornaram-se amargas em sua boca. Não mais pareciam palavras ordem e liderança, como haviam sido durante toda a sua vida, enquanto as pronunciava frente a problemas cotidianos, medíocres. Pareciam palavras vazias de um garoto que acabara de se tornar órfão e buscava conforto. Não, não seria tomado pelo desespero — nem pelo próprio, nem pelo das vítimas que o cercavam. Estava certo de que seria capaz de analisar a situação e sair com alguma coisa, mas, para fazer isso, não poderia perder a confiança em si mesmo.

Primeiro, não tomaria nenhuma decisão sem antes colocar a cabeça no lugar. Ray era um cientista: Movido pela lógica, sustentado pela razão. Deveria agir como tal.

Segundo, precisava de uma bebida.

Isso nada tinha a ver com ser um cientista, claro. Também nada tinha a ver com lógica, mas a universidade que o ensinou lógica não o ensinou o que fazer caso o prendessem em um jogo online. Ela o ensinou a beber, e isso Ray aprendera bem.

Seria demais esperar que existam bebidas alcoólicas dentro de um VMMORPG? Esperar que elas o deixassem bêbado com certeza seria. Porém, andar com algum destino em mente lhe ajudaria a recobrar a sanidade.

Por fim, parou em frente a uma construção de arquitetura mais antiga, mas igualmente limpa — se é que isso tinha alguma importância dentro de uma realidade virtual, ou que SAO pudesse simular sujeira. Era uma taverna. Como qualquer bom jogador de RPG, ainda que abalado, não pôde controlar seus músculos faciais e logo esboçou um sorriso. Aquela era uma visão surpreendentemente acolhedora.

O estabelecimento estava espremido entre duas construções maiores, e contrastava fortemente com a cidade à sua volta. Cada parede era uma mistura elegante de pedras rústicas e cinzentas até sua metade inferior, enquanto em sua metade superior retângulos de tons mais claros e emoldurados por grandes tiras de madeira conferiam uma visão clássica e amigável a seu exterior.

Acima da porta estava uma placa com o nome do lugar, dependurada na haste de um ornamentado machado de uma mão. A magnífica arma pairava imponente sobre qualquer visitante que por ali passasse, enquanto a placa rangia e balançava em ritmo preguiçoso. Ray achou curioso que o metal tivesse sido colorida em tons de azul e branco, com exceção da haste preta e dourada, mas o nome do local explicava a decoração exótica: O Machado Congelado. O nome pareceu-lhe estranho, mas não para uma taverna. Mesmo assim... não conseguia afastar a indecifrável sensação despertada pelo pedaço de madeira antiga e a grafia antiquada. Era muito mais antiga que qualquer construção ao seu redor.

Decidiu, por fim, afastar o pensamento e entrar pela grande porta oval feita de mesmo material, embora notavelmente mais novo. Foi, então, surpreendido pelo interior rústico, mas ainda muito aconchegante. A composição cuidadosa entre madeira e pedra ganhava vida à luz amarelada das velas, mas continuava neutra e suave, trazendo uma inesperada paz ao jovem programador. À sua direita estava um grande balcão, com pratos, canecas, talheres e outras louças feitas de madeira ou barro. Algumas, Ray não saberia nomear. Duas grandes mesas retangulares estavam à sua frente, sem dúvida esperando os grandes grupos de aventureiros que as frequentariam durante as primeiras semanas de SAO. Seis outras estavam espalhadas à sua esquerda e ao fundo da taverna. Havia também quatro dispostas ao longo do balcão, do qual o taverneiro calmamente observava Ray enquanto fingia tentar se livrar de uma mancha mais persistente na madeira.

O interior era ao menos cinco vezes maior do que aparentava ser, julgando pela entrada. Ray encontrou a explicação: o prédio abraçava os fundos daqueles ao seu redor, ironizando suas primeiras impressões sobre a taverna estar sendo espremida pelos vizinhos.

Após algum tempo admirando a qualidade — ou o gráfico — do estabelecimento, aproximou-se lentamente do balcão. Cada passo foi acompanhado pelo sorriso curioso do taverneiro, que não parou de esfregar a madeira nem por um momento. Ray não prestou atenção em sua aparência, mas quando finalmente alcançou uma banquetas, tinha certeza de que o balcão não ficaria mais limpo, a despeito da determinação do homem.

— Olá.

Era uma boa maneira de começar uma conversa com um NPC.

— Olá e boa tarde, aventureiro. Você parece péssimo.

Em outra ocasião, Ray teria rido da recepção robótica e o sorriso contraditório do NPC. Afinal, um bom programador entende o quanto um sistema pode ser limitado.

— É muito gentil por se preocupar tanto com isso.

Apesar do tom irônico, Ray não estava realmente irritado. E por que estaria? O sistema de Inteligência Artificial de SAO era incrível o suficiente para interpretar sua expressão facial, isso já era mais do que o esperado para um RPG.

Hahahaha, tô só brincando, cara. E aí, dia difícil? - A súbita mudança na postura do taverneiro pegou Ray desprevenido. Não apenas a postura, mas também o tom mudara totalmente. Ele até parou de esfregar o balcão.

Ray não soube o que pensar. Era uma brincadeira pré-programada? Ou um NPC acabara de lhe pregar uma peça por vontade própria?

— É... Digamos que hoje é um dia estranho.

As palavras saíram, mas não se refletiram em sua expressão. Estava mais interessado na figura sorridente com quem conversava.

— Um dia estranho?

O taverneiro era agora extrovertido e muito expressivo. Cada palavra era acompanhada por diferentes sorrisos ou uma careta.

— Aah, não se assuste comigo só porque sou o único NPC com estilo. Aliás, hoje é por conta da casa.

O taverneiro largou o pano e escolheu algumas bebidas sem hesitar. Ray agradeceu-lhe timidamente.

— Sabe, se você der bebidas de graça a todos os clientes que estiverem em dias difíceis...

— ...Eu com certeza vou falir.

Ray riu apenas por um momento antes de se mostrar pensativo. Algo havia chamado sua atenção.

— Na verdade, estou inaugurando hoje, apesar dessa taverna parecer tão velha quanto eu. Você é o primeiro cliente, parabéns.

O homem então serviu uma bebida amarelada, com traços verdes de menta e aparência encorpada. Overdose?.

Espera aí...

— É uma honra... — começou, por hábito, sem realmente prestar atenção em suas próprias palavras.

Ray não esperava que um NPC pudesse ler suas emoções, então rechecou, atônito, os indicadores acima do taverneiro até ter certeza de que não estava falando com outro jogador. Não poderia ser...

— Ei, garoto, tudo bem?

A expressão facial do indivíduo à sua frente era impecável. Uma mistura complexa de curiosidade, preocupação e impaciência por ter sido ignorado.

— S-Sim... Eu apenas não esperava que os NPCs fossem tão complexos — precisou lembrar-se de respirar.

A tecnologia evoluiu de maneira sólida nas duas primeiras décadas do século XXI, mas tal nível de complexidade era impensável...

A menos que você conhecesse o criador de tal tecnologia.

— Você diz complexo, eu digo incrível — mas não muito humilde, pensou Ray. — Olhe, você vai gostar do lugar. Alguns dos lugares são como o paraíso, e todos são divertidos. Claro, tem a questão do seu cérebro poder virar geleia, mas ainda acho que você vai gostar.

— Você parece decidido quanto a isso.

— Eu estou. Relaxe um pouco, aprecie sua bebida. Deixei-a mais forte que o normal, e mais doce também — exatamente como Ray teria feito — Aah, e meu nome é ...

Ele esta certo. Se apresentou e passou a apreciar a bebida. Era realmente Overdose, uma batida feita com abacaxi, menta, leite condensado, vodka, licor e whiskey. Uma obra de arte.

~/!OMB!~/


Após alguns longos goles, nada mais restava no copo. Na verdade, havia uma jarra vazia ao lado de Ray, que parecia embriagadamente feliz. Os efeitos do álcool lembravam os da vida real, mas pareciam impactar apenas as informações que o sistema enviava ao cérebro, e não seu verdadeiro funcionamento. Em outras palavras, sua visão estava embaçada e o sistema parecia brincar com seu senso de equilíbrio, mas não o suficiente para deixá-lo tonto.

Seus outros sentidos haviam perdido a sensibilidade, então Ray não conseguia ouvir com clareza. A bebida também parecia ter, de alguma forma, estimulado a produção de alguns hormônios, o que explicaria o sorriso em seu rosto.

Mas o álcool não afetou sua capacidade de raciocínio de nenhuma forma. Isso porque não havia traços da substância em seu corpo no mundo real: as imagens eram apenas embaçadas pelo Nerve Gear e enviadas a seu cérebro. Os sons eram abafados pelo mesmo mecanismo. Mas dizer que o efeito era simples seria um insulto. A forma como o seus sentidos era modificada era extremamente complexa e, por isso, gerava efeitos muito convincentes. Era muito melhor do que Ray esperava, e também muito conveniente.

Sendo assim, logo conseguiu relaxar e planejar seus próximos passos.

~/!OMB!~/


Primeiro, pensou em Kayaba, seu pronunciamento e a situação em que todos se encontravam nesse momento. Após confirmar mais duas vezes que o botão de desconectar realmente havia sido removido, Ray não tinha mais argumentos para confrontar a verdade. Ele conhecia Akihiko muito bem, conhecia seu projeto, conhecia sua ambição. Não tinha ideia dos verdadeiros objetivos por trás de SAO, mas via em Kayaba uma genialidade que beirava a loucura.

De qualquer forma, decidiu afastar todos os pensamentos sobre ele, sobre sua vida e até sobre as outras 9998 vítimas, já descontando o infeliz que morreu para um javali.

Sob pressão, Ray conhecia apenas uma linha de pensamento: para frente. E se Kayaba havia dito que a única forma de sair do jogo era chegar ao último andar e derrotar o último chefe, então assim haveria de ser.

— Maldito seja Kayaba — murmurou.

Para derrotar chefes e explorar as mais difíceis áreas de um jogo, é preciso ser forte.

Isso era óbvio para qualquer jogador de MMO. A questão era como ficar forte e o que fazer com toda essa força, pois, Ray sabia, um chefe não era feito para ser derrotado sozinho. Talvez fosse possível, ao menos em teoria, mas apenas se Ray se tornasse extremamente forte. Afinal, conhecimento e habilidade dificilmente seriam um problema.

Entretanto, ainda precisaria de itens e habilidades incríveis.

— Itens incríveis... Ora, esse é meu dia de sorte!

Ray começou a rir como um maníaco, mas o NPC dono do bar não pareceu se importar, quase como se já esperasse por isso.

Afinal, ninguém jamais seria melhor do que eu em conseguir itens incríveis em SAO!


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Notas finais do capítulo

Bagunça de rodapé:

O próximo capítulo está todo escrito, mas ainda em sua forma bruta. Com certeza irá sair, e prometo que será mais rápido que esse, hehe.

Primeiro, vocês devem ter reparado que omiti o nome do taberneiro. O motivo é simples:
Não tenho a menor ideia de como vou chamá-lo, e senti que eu levaria mais uma semana para enviar esse capítulo se eu tentasse escolher um nome definitivo.
Hum... Acho que vou apenas apagar essa fala e deixar para outro capítulo... Feito.

Também acho que " ~/!OMB!~/ " é um tanto estranho como indicador de passagem de tempo ou mudança de cena. Alguma ideia?

Por fim, esse capítulo não está revisado. Mal tenho coragem de falar com minha beta após quase um ano, lol. Quem sabe se eu voltar a escrever regularmente...

É isso, espero que gostem, e até a próxima o/



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