Premonição Chronicles 3 escrita por PW, VinnieCamargo, Felipe Chemim, MV, superieronic, Jamie PineTree, PornScooby


Capítulo 3
Capítulo 03: A Águia, a Cobra e a Raposa


Notas iniciais do capítulo

Escrito por PornScooby.



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Uma mulher é como um saquinho de chá, você nunca saberá quão forte ele é até que ele esteja na água quente
―Eleanor Roosevelt


Cabo da Praga - 02h33min

Thereza estava com os olhos fixos na água densa e negra, o ambiente era úmido e a neblina era espessa, o que tornava aquele local muito mais assustador do que realmente era. Ela observava o local, sentia o vento frio percorrer sua nuca e causar-lhe um calafrio.

A loira estava sobre um bote de madeira quase que caindo aos pedaços, o bote deslizava sobre as águas negras de um estreito rio. Não sabia exatamente onde se encontrava, mas não sentia boas energias vindas daquele lugar. O rio cortava - o que Thereza deduziu ser - uma caverna. As estalactites no teto eram afiadas e compridas. Na margem do rio, a mulher podia ver um caminho de areia que levava a uma entrada ainda mais escura que a caverna, na entrada desde túnel havia uma pequena caveira desenhada no topo. A mulher virou o rosto quando outro calafrio atingiu o seu corpo. Ao virar o rosto pra frente, notou uma presença que até então não tinha percebido.

Uma figura alta e encapuzada estava na proa do bote, Thereza conseguia ver apenas as mãos cadavéricas do condutor do bote, em cada uma delas havia um remo, era ele quem estava guiando-a o tempo todo.

–Com licença, senhor? – as palavras saíram da boca da loira como um sussurro.

O condutor emitiu um som que lembrava muito um grunhido.

–Senhor, eu não sei onde estou, mas eu gostaria ao menos de saber para onde estou sendo levada – seu tom de voz agora era forte e autoritário.

Sem obter uma resposta, Thereza foi se aproximando lentamente do barqueiro, a cada passo ela podia sentir o clima ficando mais frio.

–Eu exijo que responda! – disse já apenas a alguns centímetros de distância. – Para onde está me levando?

Um calafrio percorreu sua espinha, ouviu um barulho metálico que fez suas pernas tremerem. Então, sem virar o rosto, ou fazer qualquer movimento, o barqueiro deu-lhe sua resposta.

– Para seu Destino Final.

Thereza deu um pulo da cama, estava suando frio.

***

Falcon Magazine - Cabo da Praga, 08h10min.

O liquido vermelho espalhou-se sobre a superfície branca do mármore, lambuzando pilhas de documentos e tudo mais que estava ali perto.

– Ah, Droga! – Exclamou a ruiva – Maldito Catchup! - disse Amy largando sua coxinha de frango com catupiry e pegando a pilha de documentos que estavam sobre a sua mesa e que agora eram sujos de catchup.

– A merda dos currículos... Puta que pariu! – disse para si mesma, tentando limpar o único currículo que fora estragado.

Na folha, o nome “Emily Fagundes” - que agora estava quase ilegível - vinha ao lado da foto 3x4 de uma garota de cabelos e olhos castanhos. Amy deu uma rápida olhada nas informações contidas ali, mas ao ver que nas informações adicionais a garota havia colocado, ao lado de vários cursos da Microlins, um Minicurso de Moda Neon. A ruiva amassou a folha e arremessou-a no lixo. “Neon? Em qual universo essa menina pensa que vive? Deve se vestir igual placa de motel.”, pensou e logo em seguida soltou uma risada quase que maquiavélica.

Your peacock, cock, cock

Your peacock

A moça assustou-se com o toque de seu celular, dando um pequeno gritinho. Fez uma nota mental para mudar o seu toque de notificação e pegou o celular de dentro da sua gaveta, na tela aparecia a mensagem: “ALERTA-TIFFANY!! MARCELA ACABOU DE ENTRAR NO PRÉDIO!!”.

Amélia trabalhava como secretária em uma famosa revista de moda e entretenimento, a Falcon Magazine, sua chefa não era ninguém menos que Marcela Falcão, Editora-Chefe e Dona da revista. Amy odiava aquela mulher tanto quando a indústria da moda odeia macacões Jeans, porém a ruiva sabia quem deveria ser tratado bem para que ela pudesse subir na vida. Ela acreditava que, trabalhando na Falcon, várias portas se abririam pra ela. Porém, tudo o que passava na cabeça da secretária nesse momento era em limpar a bagunça sobre a sua mesa. Tarde de mais.

–Bom dia, Marcela... – a ruiva tentou comprimir seu riso fazendo uma cara de espanto – Oh, meu Deus! – exclamou.

***

Apartamento da Lola - Cabo da Praga, 08h10min.

Os sons que saiam da boca de Felipe eram quase que indecifráveis, os gemidos de prazer eram tão intensos quando os movimentos de penetração que o rapaz aplicava em Lorelai. A jovem atriz tinha plena certeza que aquela não era a melhor transa da sua vida, mas sabia fingir muito bem um orgasmo quando queria, essa vez seria uma delas. Lorelai ou Lola - para os íntimos – havia conhecido o cara há algumas horas, no elevador de seu apartamento, o Jovem havia ido entregar uma pizza e acabara de receber o melhor troco da sua vida. O entregador apertava-lhe os seios, fazendo Lola gemer de dor.

– É isso ai, gatinha! Mais um pouco e o Big Dick vai te dar leitinho, Sua gostosa! – Disse Felipe entre gemidos, que segundo Lola parecia uma cobra asmática, mas a loira tinha que admitir o membro do rapaz era satisfatório. Lola “cavalgava” com certa intensidade por cima do rapaz, que resolveu ajudá-la dando fortes estocadas. Lola percebera de imediato que o rapaz gozara, então resolveu que chegara o momento de fingir seu orgasmo e assim fez, deixando o jovem entregador louco de tesão.

Lola deitou-se ao lado do rapaz na cama, pegou um de seus cigarros sobre o criado-mudo e o ascendeu. Olhou para o lado e viu que o entregador sorria como se tivesse acabado de ganhar na loteria. Homens são tão idiotas, pensou consigo mesma.

– Você faz o que da vida, além de ser a maior gostosa do universo? – perguntou o rapaz mostrando um sorriso malicioso. Seu rosto era aquilino, porém sua barba, levemente por fazer, fazia-o parecer másculo. Era o tipo de homem que a atriz gostava.

–Sou atriz – disse encarando o teto de seu quarto, onde se encontrava um imenso espelho, exatamente como os espelhos de motéis. Lola sentia excitação com isso. - Estou fazendo laboratório pra um papel que vou começar a gravar hoje mesmo.

–Sério? Que interessante! Você vai ser a garota sedutora? Como aquelas que vão fazer sexo em cabanas abandonadas? – Felipe indagou a jovem e virou-se de lado para que pudesse admirar cada centímetro do rosto da moça.

–Eu serei uma freira. - Lola o encarou, com um olhar desafiador.

–Uma freira? – O rapaz tinha uma expressão de dúvida no rosto, suas grossas sobrancelhas estavam esticadas e questionadoras - Mas freiras não fazem sexo, como isso pode ser um laboratório então? – perguntou.

–Freiras não fazem sexo apenas depois do celibato, uma mulher não virgem, pode se tornar freira. – Disse antes de dar mais uma tragada em seu cigarro. - A minha personagem era uma cantora de bares, era promiscua e alcoólatra. Resumindo a historia: ela atropelou uma criança e agora quer se redimir. Parece confuso, mas o roteiro do filme é maravilhoso. –completou e então ofereceu o cigarro para Felipe, o rapaz aceitou e deu uma tragada, soltando a fumaça lentamente pela boca. Lola tivera a impressão de ter visto uma caveira se formar na fumaça e um calafrio percorreu sua nuca.

– Que interessante. Adoro personagens profundos! – Respondeu depois de dar uma segunda tragada no cigarro antes de devolvê-lo à Lola. A loira ligou o seu rádio, deitou-se na cama novamente. Voltara a encarar seu reflexo no espelho.

And the saints we see

Are all made of gold

– Eu também adoro. – respondeu enquanto olha por dentro de seus olhos azuis diante do espelho.

When your dreams all fail

And the ones we hail

Are the worst of all

And the blood’s run stale

***

Avenida Inês Brasil - Cabo da Praga, 08h10min.

As ruas movimentadas de Cabo da Praga faziam com Marcela se Lembrasse dos tempos de mocidade, quando morava no interior de Minas Gerais, em uma cidadezinha chamada Três Corações. Marcela vinha de uma família humilde e assim que pegou a maior idade resolveu ganhar o mundo e conquistar algo que nunca ninguém da sua família havia conseguido: entrar no ensino superior. Assim quis, assim conseguiu. Hoje Marcela era dona e Editora-chefe de uma das mais importantes revistas de moda e entretenimento do país.

Depois de devanear pensando no rumo que sua vida havia chegado, Marcela se deu conta que seu táxi chegara até a sede da Falcon Magazine.

–Chegamos, Madame - avisou o motorista.

–Freddy, irei precisar de você até às 17h, Tudo bem? – perguntou ao motorista, pois seu carro estava na oficina, na revisão semanal. A morena era muito cuidadosa com qualquer assunto relacionado a segurança devido as diversas experiências do seu passado. Seu carro só ficaria pronto às 18 horas, portanto, os serviços do seu Motorista-Quebra-Galho eram indispensáveis.

–Certo, Madame, mas só se a senhora me pagar uns churros. – Respondeu o motorista, dando uma pequena piscadela pelo retrovisor para Marcela.

–Você ganhou! Mas não vai se empanturrar muito, essas coisas fazem muito mal! – disse apanhando alguns trocados e entregando ao motorista. A morena retirou de sua bolsa também um pequeno espelho de mão e ajeitou suas longas madeixas pretas para corrigir sua maquiagem.

–Até daqui a pouco, Freddy.

– Até mais, madame! – cumprimentou.

A morena saiu do veiculo e começou a caminhar até a grande entrada espelhada da Falcon Magazine. A Editora-Chefe carregava em uma das mãos o editorial da próxima edição da revista, na outra estava uma linda bolsa estilo Hobo preta com detalhes prateados, que combinavam perfeitamente com sua blusa social de seda branca e sua saia social preta. Com anos de experiência no mundo da moda, Marcela não podia vacilar em suas roupas, pelo menos não em publico. Seu cellular tocou.

I, I will be king
And you, you will be queen
Though nothing will drive us away”


Marcela parou a alguns metros da entrada da Falcon e começou a procurar seu celular , foi quando de repente um rapaz que andava apressadamente, carregando um copo extra-grande de cappuccino quente, esbarrou em Marcela, o impacto fez com que o liquido caísse sobre a morena, manchando toda a sua roupa e lhe arrancando um leve grito de dor.

“We can be Heroes, just for one day
We can be us, just for one day”

–Ai caramba, Foi "mals" – disse o rapaz, Marcela notou que ele parecia ter no máximo uns 20 anos, já que seu rosto apresentava feições tão juvenis. A morena sabia que tudo aquilo não passava de um simples acidente, mas quando deu por si estava olhando para todos os lados atrás de sinais. – Você tá bem? – Perguntou o rapaz fazendo Marcela cair em si.

–Hã...Oi? Sim, Ta tudo bem, fora esse pequeno prejuízo. – respondeu Marcela analisando a grande mancha de café que agora estava estampada em sua camisa. Só então percebeu que seu telefone parara de tocar.

–Ta tudo bem mesmo? – O rapaz pôde perceber que a morena ainda possuía um olhar preocupado.

–Fique tranquilo, ok? A culpa foi toda minha, eu parei de repente para atender o celular - Você é que acabou perdendo o seu café, me desculpe. – respondeu ao jovem que ela deduziu ser um estudante de química, devido aos livros que carregava. – Eu vou ficar lhe devendo um café, ok?! – Desculpou-se.

–Não se preocupe com isso. – o rapaz de cabelos escuros tentou amenizar.

– Me procure. Aqui. – insistiu a editora-chefe apontando para a sua empresa. Pegou um cartão de sua bolsa e entregou ao jovem. – Meu Nome é Marcela Falcão.

–Ok – o rapaz respondeu observando o pequeno cartão Azul-Tiffany. – Meu Nome é Erick Menezes.

Marcela olhou seu relógio e percebeu que se não se apressasse, atrasaria todo o funcionamento da revista.

– Eu estou com muita pressa, até a próxima. – despediu-se do rapaz e seguiu para dentro da empresa.

***

–Bom dia, Marcela... – a ruiva tentou comprimir seu riso fazendo uma cara de espanto – Oh, meu Deus! – exclamou sua secretária, assim que passou pela porta.

–Amy, Bom dia – cumprimentou - Você poderia, por favor, providenciar o look de emergência? Tenho uma reunião com uns investidores daqui a uma hora e não posso me apresentar dessa maneira.

A ruiva engoliu a ordem a seco e respondeu com um simples “Pode Deixar”. Marcela entrou em seu escritório jogando suas coisas no divã que ficava no canto da sala, respirou fundo e se serviu com uma lata de Fanta-Uva que estava em seu frigobar.

O escritório de Marcela era a maior sala daquele prédio, a decoração era moderna, em tons de cinza, mas com vários detalhes vermelhos em todos os lugares. Atrás de sua mesa ficava a vista mais bela do Cabo de Praga, Marcela sentou-se em sua cadeira e ficou admirando a silhueta dos prédios.

*FLASHBACK ON*

Búzios, Rio de Janeiro – 2006.

A brisa refrescante trazida pelo mar disfarçava o calor intenso emitido pelo sol, Marcela sentia os raios de sol penetrando a sua pele e a sua vida. Depois da série de tragédias envolvendo seus amigos, a vida da pequena empresária estava entrando em uma maré de sorte. Depois do fim da faculdade de moda, Marcela estava iniciando um projeto ambicioso, iria fundar a sua própria revista de moda. Ela tinha plena certeza que não seria fácil, mas com os contatos que havia feito durante o curso, ela teria o suporte necessário para alcançar o seu objetivo.

–Ricardo, chama a Elisa pra passar bloqueador se não ela vai ficar toda vermelha! – A ideia de passar uma temporada em búzios fora de seu marido.

Ricardo havia acabado de fechar um contrato maravilhoso com uma boyband. Depois de lançar vários artistas de bom som, mas sem apelo popular, a gravadora de Ricardo finalmente conquistara a massa brasileira. A venda do primeiro CD deles havia sido excepcionalmente alta e trouxera bons lucros para a gravadora, então depois de muita insistência de Ricardo e Elisa, Marcela cedeu um tempo longe do trabalho para aproveitar seu tempo com a família.

–Elisa Falcão, venha passar protetor solar – Ricardo chamou a filha imitando o tom de voz usado pelos militares.

– Sim, senhor, Capitão! – respondeu a menina, deixando seu castelinho de areia de lado e indo correndo em direção aos pais, alegre e cheia de vida. Marcela a observava com todo o amor do mundo em seus olhos, Elisa representava tudo na vida de Marcela.

*FLASHBACK OFF*

Marcela acordou de seu devaneio quando ouviu seu celular tocar novamente.

I, I will be king
And you, you will be queen
Though nothing will drive us away”

A empresária pegou rapidamente seu celular, o número que aparecia no visor era desconhecido. Marcela ignorou esse fato e atendeu despreocupadamente.

– Alô, Aqui quem fala é Marcela Falcão.

–Qual o seu filme de terror favorito? – disse uma voz abafada do outro lado da linha.

–Halloween, o do cara que persegue as babás – respondeu forçando uma voz de vitima indefesa e logo em seguida soltou uma gargalhada, fazia tanto tempo que parecia mais um de seus devaneios. – Júlio SARGITA!!! Eu não estou acreditando, quanto tempo faz? Ai, meu Deus! – Marcela estava em êxtase com o telefonema do antigo amigo, pensava que nunca mais fosse vê-lo. Antes de fundar sua própria empresa, Marcela tinha uma pequena loja de roupas em um camelódromo no centro de São Paulo, infelizmente o local pegou fogo um tempo depois. Se não fosse por Julio, ela teria morrido e nesse momento era tudo que Marcela queria que tivesse acontecido.

–Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?! – apesar da felicidade de finalmente ter encontrado sua amiga, Julio tinha certa tensão na voz.

– Exatamente! – O sorriso no rosto de Marcela era uma mistura de alegria, angustia e desconforto. Estava intrigada com a volta de um velho amigo, depois de tanto tempo. – Júlio, Precisamos marcar de nos encontrarmos. Você esta intimado a aceitar o meu convite.

– Você está desatualizada!

–Como assim? O Que você quer dizer?

– Eu estou do lado do Ricardo neste exato momento, estamos no supermercado e fazendo compras para o jantar de hoje a noite, eu irei preparar aquele medalhão que vocês adoram - respondeu rindo. Marcela pôde perceber a risada de Ricardo no fundo da chamada.

–Ele convidou? Nossa... Que ótimo – disse tentando disfarçar o incomodo com a surpresa - Eu sei que colocaremos o papo em dia no jantar, mas qual o motivo da sua vinda para o Cabo da Praga? – sua curiosidade estava difícil de ser contida.

–É sobre a lista, descobri coisas que finalmente farão com que tudo o que passamos tenha sentido! – “Lá vem ele de novo.” Pensou Marcela. Esse era um assunto delicado, e quanto mais se mexesse no passado... Pior.

–Julio...- o tom de preocupação na voz da editora-chefe era nítido, mas antes que ela pudesse continuar foi interrompida.

–...Marcela, eu sei como você e o Ricardo se sentem em relação a isso, mas eu descobri algo muito importante, Eu já conversei com o Ricardo e ele aceitou me ouvir. Passei anos estudando essa teoria, por favor, não me faça essa desfeita. – argumentou.

Marcela respirou profundamente, agora que ele havia chego a cidade, Marcela teria que encarar Julio uma hora ou outra, mas havia uma maneira de evitar que ele desencadeasse mais problemas.

–Tudo bem, Julio, eu ouvirei você. Até mais tarde!

–Até, Marcy!

Marcela finalizou a chamada e pelo interfone chamou sua secretária. – Amélia, venha ao meu escritório, por gentileza. – Em menos de cinco minutos a moça já estava pedindo licença para entrar.

– Pode entrar – autorizou Marcela.

Amélia entrou trazendo consigo uma arara de metal onde estava a roupa de emergência que Marcela pediu mais cedo.

–Amy, preciso que você ligue para...- abaixou a cabeça rapidamente para checar sua agenda. - ...Lola Dias e remarque nosso almoço paras as treze, ok?!

–Certo. – disse a secretária anotando em seu bloquinho. – Mais alguma coisa?

–Não... - Marcela refletiu por alguns segundos e antes que Amy deixasse o recinto, continuou - ...Na verdade, quero que você me arranje o telefone de Ed Moura.

***

Restaurante Lamounier - Cabo da Praga, 08h10min.

–O restaurante vai abrir em duas horas e essa cozinha está uma bagunça! – No restaurante de Thereza as coisas deveriam ser feitas do seu jeito, na mais perfeita ordem. Se algo saísse fora do planejado... Ela surtava - As batatas não estão descascadas e vocês ainda não limparam os salmões!! – preparar uma cozinha para o período de trabalho é tão importante quanto cozinhar bem. A vida fez de Thereza uma mulher forte e determinada, a chef tem duas paixões em sua vida, que são a comida e seu Irmão. Ela vira uma fera quando os sente ameaçados. – Pessoal, eu odeio dar essas broncas em vocês... - suspirou - Mas é decepcionante ver a melhor equipe do Cabo da Praga agir como amadores.

A equipe de chefes estava estática olhando para Thereza, muitos de cabeça baixa e outros ouvindo e guardando cada palavra, como quando uma professora chama a sua atenção na escola para que você estude mais.

–Uma coisa dessas é inad... -a bronca da chef foi interrompida por um dos garçons que entrara na cozinha para chamá-la.

–Licença, Chef – disse o garçom engolindo em seco o medo ao ver os olhos verdes, e ferozes, da chef ao ser interrompida. – O seu irmão está aqui. – completou rapidamente

A tensão no rosto da loira diminuiu. Respirou e decidiu concluir a sua bronca.

–Vocês têm 30 minutos pra preparar a louça. – ordenou Thereza.

–Sim, Chef! – sua equipe respondeu em uníssono.

Elias era o seu irmão caçula, mas Thereza tratava-o como um filho, pois sua vida foi dedicada a cuidar dele. Foi muito difícil para ela ver seu irmão ganhar sua própria independência e sair de baixo da sua asa. Mas ela estava contente de ver tudo dando certo para ele.

–Uau! Eu pude ouvir os seus gritos daqui.- disse o irmão assim que a viu – Você devia pegar mais leve com eles – completou abraçando-a.

–Eu juro que tento me controlar ao máximo, mas parece que eles estão pedindo por isso.

–Vai me dizer que você não gosta de dar essas broncas? – ele a olhou de um jeito questionador e com um leve sorriso no rosto.

Thereza o encarou por alguns segundos.

–Um pouquinho – disse quase sussurrando entre risos.

–Eu sabia! – disse o Elias dando-lhe um leve soquinho no ombro. – Você é a mulher mais durona que eu conheço.

– Sério? – ergueu a sobrancelha - E a Emília? – Esposa de Elias.

–Ela só ganha você quando está na TPM! – respondeu e logo em seguida soltou uma gargalhada, assim como Thereza.

–Não, seu besta! Eu quero saber como ela está.

–Ah... Bom, ela está super empolgada com a viagem, estamos precisando de umas férias! Ela e Maria foram ao shopping comprar uns biquínis. – respondeu Elias

–Vocês realmente merecem um descanso. Que horas vocês viajam? – perguntou tentando esconder o tom de preocupação em sua voz.

–Sairemos às 17h – Elias sabia que a ideia dele e sua família viajarem de carro incomodava Thereza, mas antes que ela pudesse lhe questionar ele completou – Não se preocupe, temos uma reserva em Hotel na Rodovia 180, foi presente de um dos donos do hospital.

–Pelo visto você já pensou em tudo! – disse orgulhosa. – Você vai ficar pra almoçar.

–Não precisa, mana. A Emília me deixou uma marmita pronta.

–Eu não lhe fiz uma pergunta, eu simplesmente te informei que você vai almoçar aqui – respondeu dando uma leve risada.

***

Shopping Hórus - Cabo da Praga, 10h18min.

– Não acredito que aquela puta remarcou a minha entrevista – Lola acabara de receber um e-mail da Falcon Magazine remarcando sua entrevista das onze para as treze horas – isso é uma tremenda falta de respeito!!

–Amiga, não fica assim, pelo menos você terá um tempo extra pra fazer compras! – Carla tentava acalmar o ânimo de sua amiga.

Carla era uma jovem alta, magra, morena e de um rosto fino e elegante, era uma antiga amiga de Lola e sempre estava ao lado da amiga, apesar de isso lhe incomodar um pouco. Carla já havia perdido vários papeis para a amiga, mas nunca mencionara tais fatos, ela preferia acreditar que o momento certo chegaria e quando Lola caísse, ela deveria estar por perto pra ocupar seu lugar.

–Eu só vou pra essa merda de entrevista porque meu agente está praticamente colocando uma arma na minha cabeça. – disse furiosa para amiga enquanto caminhava pelos corredores do shopping. -“Lola, Você precisa disso pra ganhar publico e bláblábla”- a loira imitava o seu agente fazendo trejeitos com as mãos e falando com uma voz de uma travesti.

–Ai amiga, você é demais – Carla forçou uma risada meio escandalosa – Mas você sabe que ele está certo, uma boa entrevista nessa revista pode alavancar sua carreira pra fora do país. – incentivou a amiga.

–Eu sei... Eu sei, mas...OH MINHA NOSSA SENHORA DA ROUPA DE MARCA!!! – A loira atravessou o corredor do shopping com tanta pressa que esbarrou em uma garotinha loira de olhos castanhos que estava acompanhada da mãe. – Desculpe... – disse rapidamente - CARLA, VEM AQUI! – a morena foi até a vitrine que Lola estava observando e ficou maravilhada. Um vestido curto, do jeito que Lola amava, verde com detalhes prateados estava na promoção pela metade do preço.

–Amiga, esse vestido é da coleção nova da Prada, se você não comprar, eu compro! – afirmou Carla

–Sai daqui, esse já é meu! – Lola amava Prada, amava vestidos curtos e amava a cor verde. Se não fosse o adiamento da entrevista, ela não teria visto essa promoção, pelo visto aquele era o seu dia de sorte.

***

Falcon Magazine - Cabo da Praga, 10h18min.

– Vou mandar uma Glock 18 com um silenciador, ok?! Ela é eficiente e discreta – disse a voz no telefone.

–Perfeito! Mandarei o pagamento pelo entregador. Diga pra ele me encontrar às quatorze e trinta, no beco atrás do restaurante Lamounier. – respondeu Marcela - Até mais, Ed, muito obrigada! – completou.

–Eu que agradeço – disse por fim.

Marcela encarou o porta-retrato em sua mesa, na foto estava a ultima foto que tirou com Elisa, fora dois dias antes do natal, a filha estava pronta para seguir uma nova carreira. Se ela soubesse que a filha tinha sido salva de um acidente... Aquela maldita ilha.

***

Restaurante Lamounier - Cabo da Praga, 13h08min.

–Bom dia, meu nome é John, Seja Bem-vinda ao restaurante Lamounier, no que posso ajudá-la? – cumprimentou o recepcionista atenciosamente.

–Eu tenho uma reserva para duas pessoas em nome da Falcon Magazine – respondeu Lola, a atriz estava deslumbrante, o vestido verde que comprara naquele dia realçava seus olhos e deixava sua boca vermelha ainda mais apetitosa.

A loira percebeu que o rapaz perdera o foco olhando para o seu decote, então deu uma leve tossida para que ele acordasse. – Perdeu alguma coisa? – disse com um sorriso cínico no rosto.

O Jovem recepcionista ficou desconsertado, Lola adorava isso.

–Sua acompanhante já está a sua espera – respondeu o rapaz – deixe que eu lhe acompanho até a mesa.

– Agradeço sua ajuda, mas não será necessário, Eu já achei. – deu uma piscada ao recepcionista e entregou-lhe um cartão com o seu numero.

O salto alto de Lola ecoava pelo silencioso – apesar de lotado - Salão do restaurante. A Caminhada nada discreta da atriz atraiu diversos olhares, inclusive o de Marcela que estava concentrada fazendo anotações em sua agenda. Assim que chegou próximo a mesa, Marcela levantou-se para cumprimentá-la.

–Olá, Eu sou Marcela Falcão, Editora-Chefe da Falcon Magazine – disse estendendo sua mão para um cumprimento.

–Prazer, eu sou Lola Dias – respondeu apertando a mão de Marcela – Queria dizer que estou honrada de ser convidada pra essa entrevista, É uma honra está conhecendo a senhora, eu sou uma grande fã da revista. – mentiu.

– A “Senhora” está no céu, me chame de “você”. Por favor, sente-se.

Lola sabia muito bem quando teria que “tratar a dedos” uma pessoa, esse era um desses casos. Marcela parecia ser uma mulher simpática, mas de opinião forte e determinação aguçada.

–Bom, Lola, me conte um pouco sobre a sua história de vida – pediu Marcela, puxando o gravador de sua bolsa e apertando no play.

–Nossa, eu nem sei por onde começar – Lola parecia realmente estar confusa, nunca havia sido entrevistada por uma revista tão importante, precisava tomar cuidado.

–Olha, eu tenho aqui todos os seus dados públicos, informações sobre o seu nascimento, primeiros trabalhos e até mesmo algumas informações sobre o seu novo projeto, mas que tal se você me desse informações mais pessoais, Eu quero algo Íntimo.

Lola pensou por alguns segundos, não sobre sua vida, mas sobre Marcela, aquela mulher forte e experiente parecia saber que atriz tinha um ponto fraco, será que é só um truque de jornalista? Seja lá o que fosse ela estava certa, deveria se abrir para o publico.

–Eu tive uma infância maravilhosa em Cuiabá, apesar de vir das dificuldades financeiras, eu aproveitei cada segundo da minha infância. Eu sempre fui muito travessa, era um "molequinho", vivia descalça e dava ordem em todo mundo da rua. – disse – Puxa vida, como eu era danada, até hoje eu sou um pouco. – completou arrancando um leve riso de Marcela que estava atenta a cada palavra que saia da boca da moça.

–E os seus pais? – Marcela perguntou de supetão

Lola respirou fundo e respondeu.

–Meus pais se separaram quando eu tinha onze anos, foi uma fase difícil pra mim, minha mãe foi, e é até hoje, uma guerreira. Ela cuidou de mim sozinha e ainda conseguiu montar o seu próprio negocio.

–E o seu pai?

–Não quero falar sobre ele. – respondeu. Marcela notou o incomodo no rosto da jovem atriz.

–Então, me conte Lola, Como surgiu essa paixão por atuar?

–Eu precisava de uma válvula de escape, precisava conhecer outras ideias, ter uma visão maior do mundo e eu sempre vi isso na atuação.

Marcela estava impressionada com as respostas sinceras da atriz. A editora-chefe não era de julgar as pessoas antes de conhecê-las, mas ao ver Lola entrar pela a porta do restaurante pensou que ela fosse apenas mais uma daquelas atrizes/modelos/dj’s/cantoras/apresentadoras... Enfim, aquele tipo de pessoa sem valores que só pensa na fama.

***

Fundos do restaurante Lamounier - Cabo da Praga, 14h34min.

O beco estava vazio e apesar do horário o ambiente aprecia gélido e sombrio, Marcela estava impaciente, não estava certa se deveria fazer aquilo, a ultima vez que resolveu seus problemas dessa maneira acabou gerando muita dor nas pessoas que amava. Então era isso, não ia desistir do plano, era idiotice.

*FLASHBACK ON*

“Ela corre perigo”

“Eu pesquisei! ela será uma vitima mais cedo ou mais tarde”

“CALA A BOCA”

“Você não pode se casar com o meu filho”

“TUDO ISSO VAI PEGAR FOGO, SAIAM DAQUI”

*FLASHBACK OFF*

As vozes que ecoavam pela cabeça de Marcela foram dissipadas com o barulho de uma motocicleta se aproximando. O veículo parou, o motorista desceu sem tirar o capacete Marcela só conseguia ver os olhos azuis do homem.

–Aqui está – disse ele entregando-lhe uma pequena maleta, estava claramente tentando disfarçar a voz.

–Obrigada – Marcela checou a maleta, abriu sua bolsa e pegou um pacote de dinheiro – Aqui está o pagamento.

O rapaz balançou a cabeça em concordância, checou se a quantia estava correta e subiu na moto, mas antes de ir embora disse – Tenha certeza de que o que irá fazer é certo. Tudo tem um preço.

–Eu sei, eu já paguei o meu – respondeu Marcela fitando os olhos do rapaz.

***

Lola - 18h30min

– Mas que merda é essa?! – Lola assistia a um vídeo de um suposto infectado por um vírus que o governo tinha anunciado como inofensivo.

Marcela - 18h30min

–Madame, A senhora já ouviu falar sobre esse vírus que está se espelhando? – perguntou o borracheiro que estava terminando de concertar o carro de Marcela.

–Que vírus?

–Esse – disse mostrando seu celular.

Marcela ficou chocada com o que viu.

Thereza - 18h30min

–Eu posso saber o que vocês estão fazendo? POR QUE NÃO LIMPARAM ESSA COZINHA? – A chef chegara de supetão na sala e pegara seus funcionários de surpresa. Estavam em uma rodinha vendo algo no celular.

– O que vocês estão... - a imagem lhe deixou paralisada, no vídeo aparecia um rapaz vomitando sangue, seus olhos estavam roxos e jorrava secreções de várias feridas pelo seu corpo.

Thereza saiu correndo para o seu escritório e ligou para o irmão.

–Elias, onde vocês estão? – perguntou rispidamente

–Estamos na rodovia 180, chegando ao hotel, por quê? Aconteceu alguma coisa? – a irmã só falara daquela maneira quando estava preocupada.

–Lembra-se daquele problema com o vírus que você mencionou?

–Sim, lembro, havia vários agentes do governo hoje lá no hospital quando fui me despedir, pensei que fosse apenas pra recolher informações.

– A Infecção é mais grave do que pensavam, estou saindo da cidade, encontro com vocês no hotel, ok?

–Ai, meu Deus. Tudo bem, venha logo pra cá.

***

***

20h12min

Marcela dirigia a toda velocidade, assim como os seus pensamentos, precisava terminar logo o que tinha pensado em fazer. Mas e o Ricardo? Eu posso dizer que ele me atacou! Perfeito! Ele sempre foi ciumento em relação ao Julio.

Chegando a casa, Marcela teve uma surpresa, Ricardo e Julio estavam botando suprimentos em uma minivan, supostamente de Julio.

– Marcela, querida, ainda bem que você chegou – O empresário correu para abraçá-la – Precisamos sair da cidade o quanto antes, o Carlos do senado me ligou, vão colocar a cidade em quarentena, tem um vírus terrível se espalhando.

–Oh, meu Deus, eu vi algo relacionado a isso, mas pensei que fosse montagem.

–Pensei que você fosse mais crédula. – disse Julio

Ele abraçou-lhe enquanto ela tentava esconder o desconforto interno que estava sentindo, mais uma vez Julio estava trazendo uma tragédia consigo.

Entrada do Túnel Teodoro Kaulfuss - 21h40min

–Mãe, eu vou sair da cidade com a equipe de filmagem, as ruas até o aeroporto estão um caos. Assim que atravessarmos o túnel você já pode ficar tranquila. – Lola dizia aquelas palavras para sua mãe, mas estava tentando tranquilizar a si mesma. Desde o vazamento da noticia o Cabo da Praga tinha virado um caos, a equipe de filmagem do filme Colina Escarlate havia se oferecido para levar o casting para fora da cidade e já dar inicio as gravações.

–Minha filha, eu estou com um mau pressentimento – Lorelai revirou os olhos ao ouvir as palavras da mãe, sabia como a mãe era supersticiosa e sempre tinha “maus pressentimentos”.

–Mãe, não se preocupe, Ok?! Logo mais chegaremos em São Paulo e você poderá dormir em paz – tentou tranquilizá-la.

–Você está ce..-um chiado estranho interrompeu a chamada – eu am...-outro chiado e então a ligação ficou muda. Lola verificou o celular e viu que estava sem sinal.

“Maldito Túnel” pensou consigo mesma.

***

21h49min

– Maldição! – Thereza estava inconformada com o engarrafamento a sua frente, esses motoristas são uns idiotas. A Loira observou que apesar do tumulto, as pessoas haviam deixado o acostamento livre e estava prestes a passar por ali quando um grito ecoou pelo túnel. O grito era doloroso e sombrio, era como um corpo sem alma.

A chef de cozinha deixou o seu veiculo como fizera uma dezena de outros curiosos. A cena que Thereza viu era confusa, como um daqueles filmes antigos e sem sentido da década de 80.

Um homem, que aparentava ser um sexagenário tinha em uma das mãos um maçarico e na outra um... Gancho?! Sim, mas o mais bizarro é que ele acabara de tocar fogo em uma mulher, a senhora parecia estar infectada com o vírus, pois apesar do fogo, Thereza conseguiu ver os olhos roxos da mulher.

Um homem desceu de um caminhão tanque, deixando o veiculo parado bem no cruzamento que levava ao inicio da rodovia 180. O motorista correu em direção ao senhor do gancho para segura-lo, mais algumas pessoas foram ajudá-lo. Não fazia sentido Thereza ficar vendo aquilo, era perda de tempo.

A loira entrou em seu veiculo decidida a subir no acostamento e seguir viagem, Thereza fez uma difícil manobra, mas conseguiu seu objetivo, entrou a rota alternativa e começou a acelerar, mas uma moto entrou em seu caminho na contramão.

– Sai dai minha frente, seu... – começou a dizer –... Babaca – completou o motorista da moto em uníssono com Thereza.

–Você! Eu vi, você... Lá – o rapaz apontava para a entrada do túnel, mas Thereza ainda estava a caminho de lá como ele poderia ter visto?

Thereza estava frustrada de ver que outros motoristas a sua frente haviam lhe imitado e agora o acostamento era uma das vias engarrafadas. A loira observou o rapaz, seus olhos azuis estavam atordoados, seguiam em todas as direções, ele estava pálido, parecia ter visto um fantasma.

–Olha... Eu não sei o que você andou fumando, ou cheirando, mas eu preciso ir embora daqui.

–Se você for, você vai morrer, TODOS AQUI VÃO MORRER!!! – O Rapaz gritou atordoado.

–Eu não sei o que você está fazendo, mas está me assustando! - Thereza disse rispidamente, como se o motoqueiro fosse um de seus funcionários.

– Moça, eu não sei quem é você, mas eu vi você morrer. Eu não sei como, mas eu vi a merda daquele caminhão explodindo e...- o rapaz estava com a respiração ofegante, completamente transtornado, de alguma maneira... - me ajude a tirar todos daqui! - Thereza acreditava nele.

***

21h53min

– Eu falei pra vocês que esse túnel ia estar assim, deveríamos ter usado a saída da ponte. – Ricardo estava no ápice do seu estresse, mais uma vez sua vida dependia de outras pessoas.

–Você está louco! – Julio disse rapidamente – Você se esqueceu da nossa ultima experiência em uma ponte?

–Ele tem razão, Ricardo, aquela maldita ponte! – Marcela marejava sempre que se lembrava daquele incidente, fora o dia em que a lista da morte levara Cassandra, sua melhor amiga.

–Acontece que agora estamos presos em uma fila infinita de carros. – a frustração na voz do homem era aparente. – Eu só espero que nada de ru...- um estrondo ecoou pelo túnel interrompendo Ricardo. – O que foi isso? – questionou aos companheiros, já saindo do carro para ver o que havia acontecido.

–Oh, meu Deus – exclamou Júlio

– Isso vai dar merda, Ricardo, Vamos sair desse túnel. AGORA!

Ricardo e Julio nem protestaram, pegaram seus pertences de mão e começaram a correr em direção oposta ao acidente, Marcela seguia-os com um esforço profundo, apesar do corpo em forma, Marcela não conseguia acompanhar os rapazes.

Um grupo de meninas passou correndo por Marcela, Fazendo-a perder seu marido e o amigo de vista.

– SOCOOOORRO!! Alguém me ajuda!!

Marcela olhou a sua volta para ver da onde vinha o pedido de socorro. Há alguns metros dali estava uma jovem loira, com um vestido verde. A morena a reconheceu de imediato. Era Lola, a atriz que entrevistara mais cedo naquele dia. A moça estava com uma expressão de dor e segurava seu pé. A empresária correu para ajudá-la.

–É bom vê-la novamente - Marcela disse ao tentar ajudar a moça a ficar de pé.

–Mas dessa vez não tem champanhe

Marcela esboçou um leve sorriso, mas ele se esvaiu quando ouviu as palavras que pensou nunca mais escutar em sua vida.

— Escutem! — disse uma voz rouca no meio da multidão, Marcela não sabia quem era aquele rapaz, mas já havia visto aqueles olhos — Vai haver um acidente e uma grande explosão! – aqueles olhos azuis.

“De novo, não!” Pensou Marcela ao ouvir aquelas palavras. A angústia voltou a tomar conta de seu corpo, precisava sobreviver.

***

22h37min

Lola tinha certeza que os minutos que se passaram depois da explosão foram os mais terríveis de sua vida. A parede de fogo se aproximando, os gritos de dor, pessoas sendo carbonizadas, pisoteadas. Aquela cena não sairia nunca mais da sua cabeça.

Thereza estava estática, no canto do cômodo que salvara a sua vida, de alguma maneira gritos de dor ainda ecoavam pelo túnel, todos estavam paralisados. O rapaz que lhe alertara do acidente estava de cabeça baixa, provavelmente escondendo o choro dos demais, todos possuíam uma expressão de incredulidade ou pânico no rosto, mas apenas uma pessoa ria. Era uma mulher de longos cabelos negros, aquele rosto era familiar.

Os outros sobreviventes encaravam Marcela, julgando-a por rir em um momento como aquele. Logicamente ela sentia muito por todas as vitimas, mas era irônico como aquele dia estava sendo. Os encontros, os desencontros, os telefonemas, os pequenos acidentes. Tudo estava interligado.

–A morte é como um parente distante que sempre está disposto a nos fazer uma visita repentina. – disse encarando cada um dos sobreviventes.

–O que disse? – uma mulher de feições ligeiramente indianas perguntou no meio do grupo. Ela tinha os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar.

–A morte... Ela é sempre uma visita indesejável. – Marcela fechou os olhos e sentiu o peso do mundo em seus ombros.


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Notas finais do capítulo

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