Premonição Chronicles 3 escrita por PW, VinnieCamargo, Felipe Chemim, MV, superieronic, Jamie PineTree, PornScooby


Capítulo 2
Capítulo 02: Kids


Notas iniciais do capítulo

Escrito por MV.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/666411/chapter/2

Cabo da Praga. Dois dias antes.

Em pleno fim de tarde, a ilha cosmopolita literalmente fervia. Homens engravatados cuidando de seus negócios, crianças infernizando vidas de mães por aí, barulhos de choro, buzina de carros, o barulho dos aviões cortando o ar. Encontros, confusões, desencontros, traições, tudo o que uma metrópole pode oferecer.

E também um arrastão acontecendo em plena Avenida dos Afogados, uma das principais vias da ilha metropolitana.

Mais um dia normal em Cabo da Praga afinal.

...

Amanda conhecia com destreza cada canto, cada esconderijo, cada saída presente na Avenida dos Afogados. Mais um dia tinha conseguido surpreender os motoristas que transitavam pelo local no final da tarde. Hora do rush, e todos sabiam que o número de carros daquela cidade limitada pelo mar atingia o seu limite máximo. Principalmente quando metade deles estavam presentes em uma única avenida.

Avenida dos Afogados é como era conhecida popularmente a avenida que conectava Baixa Praga á região comercial, e ganhou esse fabuloso nome exatamente pela quantidade de pessoas que amarguradas pela vida se jogavam da avenida em direção ao mar, já que a mesma passava rente á baía de Cabo da Praga. Os números da Avenida dos Afogados eram preocupantes, por apresentar a área com o maior número de mortes de toda a ilha, com altos índices de violência, suicídios e obviamente, arrastões.

...

– Acho incrível como ainda tem gente que passa por lá. – Um rapaz disse, rindo. – Gente burra existe em todo lugar. – Ele falava do centro de uma pequena roda, em que todos ao redor tinham visto a quantidade de mercadorias que tinham obtido de forma ilícita.

A escuridão da noite era iluminada por uma pequena lanterna no centro da roda, enquanto os ocupantes sentavam sobre o concreto rachado que tão velho.

– Eu preferia dizer que tenho pena deles, mas eles merecem. – Amanda falou. – São todos um bando de mesquinhos que só se importam com o próprio nariz.

– Virou Robin Hood?

Amanda passou a mão pelos cabelos cacheados que estavam presos em um coque e riu.

– Roubar dos ricos pra dar pros pobres, é uma ótima ideia.

I fly like paper, get high like planes

If you catch me at the border I got visas in my name

If you come around here, I make 'em all day

I get one down in a second if you wait

– Então vai lá e faz isso. – Um outro homem, tentando gozar da cara de Amanda falou. – Tenta entrar na casa do prefeito e roubar alguma coisa com esse jeito. Mendiguinha, você é só uma mulher. Deixa esse trabalho pra quem sabe fazer de verdade, não uma mulherzinha qualquer.

– Hélio, ou melhor, Helião, qualquer uma consegue fazer as mesmas coisas que você. Aliás, fazer melhor.

– Para de falar merda, garotinha. Queria ver você dando um murro naquela cara de bolacha do prefeito.

Amanda observou uma pessoa se mexendo nas sombras, e sabia quem era. Sabia que essa pessoa também precisava de ajuda.

Levantou-se, e foi na direção da pessoa que estava sentada um pouco atrás da roda. Ao passar por Hélio, deu um chute no centro do rosto do homem. O impacto foi tão forte que Hélio desmaiou na hora. Amanda sorriu e disse:

– Já acabou, Hélio?

Mesmo vivendo naquele lugar há quase seis meses, Amanda era de certo modo discriminada por outros homens do local. Afinal, ela chegou naquele lugar com a clássica pose de garotinha indefesa, e ela de indefesa definitivamente não tinha nada.

Apesar de não ser alta, e possuir apenas 16 anos, ás margens dos 17, Amanda não era frágil e cheia de não-me-toques como tantas garotas da sua cidade. Corria atrás do que queria, defendia com unhas e dentes seus princípios, e enganava a todos com seu rosto angelical. Bastava Amanda abrir a boca para todos perceberam como a ainda garota não tinha nada de garota por dentro.

All I wanna do is *BANG BANGBANG BANG!*

And *KKKAAAA CHING!*

And take your money

Enquanto andava, soltou o coque, espalhando a cabeleira castanha e cacheada sobre seus ombros. A cabeleiracombinava com sua pele morena e seus olhos negros. Amanda vestia-se de um jeito meio largado, mas ela preferia assim.

Ela já estava naquele lugar há quase seis meses, mas ainda se espantava com o tamanho da fábrica. A comunidade da igual Amanda fazia parte ficava instalada no interior de uma grande fábrica, localizada no limite do subúrbio industrial de Cabo da Praga com a região conhecida como Baixa Praga. A grande montadora de peças tinha falido, e deixou todo o seu poderio para trás, e hoje abrigava uma gigantesca comunidade de pessoas sem-teto. Não havia governo, é certo, mas existia quase uma hierarquia naquela verdadeira nação sem leis.

Pirate skulls and bones

Sticks and stones and weed and bongs

Running when we hit 'em

Lethal poison through their system

A fábrica já tinha despertado suspeitas, mas sempre foi acobertada principalmente pela favela presente ao lado. O acesso não era feito por caminhos normais, e sim por dentro da própria favela, o que tornava o local mais perigoso. Mas Amanda se sentia em casa.

– Onde você está me levando, Desconhecido? – Amanda perguntou para o rapaz que andava ao lado dela. Amanda tinha se tornado amiga de Desconhecido logo nos primeiros dias em que estava ali, assim como ele. Embora Desconhecido não fosse muito de expressar sentimentos.

Ninguém na fábrica sabia qual era o problema de Desconhecido. Ele simplesmente apareceu ali um dia, e dizia não se lembrar de nada, nem seu nome, sua idade, absolutamente nada. Seu comportamento esquisito no decorrer dos dias encheu a comunidade com apenas uma certeza: Desconhecido era um doente fugido de um hospício, embora ninguém pudesse ter comprovado esse fato.

– Suzana. – Ele respondeu. – Suzana falar com Amanda.

– A Suzana quer falar comigo? Pensei que ela já tinha saído.

– Suzana, portaria. Eu procurei Amanda pelo local e encontrei Amanda. Mas levou tempo. Amanda tomou purpurina.

Amanda riu levemente. Desconhecido era uma das melhores pessoas que ela poderia ter encontrado naquele lugar. Ele olhou curioso para a garota, ainda mostrando uma face confusa.

– Amanda ri do quê?

– Ai, de você, Desconhecido. Eu tomei chá de purpurina, é sério?

– Amanda sumiu, fez PUF. Então Amanda tomou purpurina para fazer PUF.

Amanda continuou a rir. Só mesmo com Desconhecido para ela ter aquele conversa literal de louco.

All I wanna do is *BANG BANG BANG BANG!*

And *KKKAAAA CHING!*

And take your money

...

As luzes vermelhas do Sol e Estrelas brilhavam intensamente colorindo os corpos que dançavam acima do lençol.

De tudo que é nego torto

Do mangue e do cais do porto

Ela já foi namorada

O seu corpo é dos errantes

Dos cegos, dos retirantes

É de quem não tem mais nada

Depois de muito tempo de diversão, o homem finalmente foi ás nuvens. Foi de repente que o jato esbranquiçado saiu, já fora das partes genitais da mulher. O homem, de 30 e poucos anos, e que provavelmente já tinha uma mulher e que provavelmente estava a traindo, como muito acontecia, caiu na cama ao lado da mulher, exibindo uma face de contentamento.

Engraçado como transar satisfaz tanto os homens. – Suzana pensou.

– Você é boa, hein moça? – O homem olhou para ela e riu.

Os cabelos castanho-claros caíam sobre os seios fartos de Suzana. Todo o corpo da moça tinha sido torneado exatamente para a função que ela desempenhava. Suzana era uma verdadeira prostituta, com todas as letras, mas isso não a orgulhava.

Ela entrara no mundo do sexo e das drogas quase sem opção, para sustentar a sua casa. Seu pai, terrível alcoólatra, sua mãe, extremamente doente. Alguém tinha que tentar equilibrar todo aquele ambiente familiar em total desacordo.

Dá-se assim desde menina

Na garagem, na cantina

Atrás do tanque, no mato

É a rainha dos detentos

Das loucas, dos lazarentos

Dos moleques do internato

Tudo termina mal quando começa mal, e foi isso que aconteceu. Certo dia, Suzana saiu para mais uma noite, e sua mãe ficou sozinha.Quando chegou, os policiais cercavam sua casa. E dois corpos saíam carregados em macas, cobertos por panos brancos.

– Pensando em algo, moça? – O homem com quem ela acabara de transar trocava de roupa enquanto percebia a prostituta deitada pensativa na cama.

– Coisa do passado, fique tranquilo. – Suzana disfarçou. Ela se virou na direção da direção do homem e perguntou:

– Gostou?

– Se eu pudesse, chuparia todo o seu corpo mais algumas vezes mulher. Você sempre vem aqui no Estrelas?

– Sempre que você quiser eu estarei aqui. – Ela disse, solícita. Mas por dentro sentia vontade de vomitar de asco.

Só tente vir mais depilado na próxima vez. – Ela não conseguiu evitar o pensamento.

E também vai amiúde

Com os velhinhos sem saúde

E as viúvas sem porvir

Ela é um poço de bondade

E é por isso que a cidade

Vive sempre a repetir

Enquanto trocava de roupa para a próxima vítima do fogo que vinha de Suzana Gaia Sales, a moça não pode evitar o pensamento de que apesar de entrar naquele mundo por necessidade, realmente gostava de fazer sexo. Mas existe um momento em que você terrivelmente se acostuma a fazer algo repetido, e ela sabia que essa repetição tinha retirado toda a magia e beleza que existia no ato sexual.

Não deixou de pensar em Amanda. A garota, quase uma verdadeira mulher tinha decidido embarcar em um mundo semelhante ao de Suzana, mais por escolha própria que por necessidade. Suzana se apegara a Amanda e cuidava dela como uma irmã mais velha, e como uma irmã mais velha, não queria que Amanda embarcasse no mesmo universo que ela tinha entrado.

Joga pedra na Geni!

Joga bosta na Geni!

Ela é feita pra apanhar!

Ela é boa de cuspir!

Ela dá pra qualquer um!

Maldita Geni!

Mas tudo indicava que Amanda ia embarcar em um lado bem pior.

...

A casa noturna fervia naquela noite. Afinal, o que mais a boate mais famosa da cidade poderia oferecer? Muita bebida, muita dança, muita pegação e tudo o que os jovens ali teriam direito. O que não teriam também.

E foi exatamente por este motivo que a turma de Gustavo foi parar naquele grande e pirado espaço.

O jovem de 22 anos estudava cinema na famosa faculdade local, extremamente renomada. Porém, naquele dia, os estudantes de sua turma decidiram dar um tempo aos estudos e todos foram se divertir.

Afinal, a vida tinha sido feita pra ser vivida. E com o máximo de intensidade.

Com muita dificuldade para passar entre algumas pessoas que já estavam bem bêbadas, Gustavo saiu da pista de dança e começou a se dirigir ao bar na companhia de uma amiga sua, também estudante do curso de cinema. A jovem falava muitas coisas sem sentido, e Gustavo se limitava a rir das palhaçadas que Manuela fazia.

– Quer que eu pague pra você alguma coisa?

– Misturado com Coca, por favor. Já tomei muita coisa que nem sei o que vinha... – Manuela falou, gesticulando como uma atriz.

– Eu sei o que vinha, e te garanto que você tá ferrada.

– Se foda essa porra toda, eu quero mais.

Os dois se sentaram nos bancos ao redor do bar, e Gustavo pediu as bebidas á bartender. Manuela, num súbito movimento, encostou a cabeça nos seus ombros e começou a passar a mão pelos cabelos loiros de Gustavo.

Enquanto esperava o momento certo, Gustavo deu uma olhada no local. No canto do bar, um casal de gays se beijavam e faziam carícias um no outro, claramente bêbados. Outra garota de cabelos longos e loiros vestindo roupas extremamente curtas passou rindo por ele. Era cada figura que você poderia achar na Cicciolina, e não era á toa que aquela era a boate mais famosa da cidade.

– Gustavo...

O rapaz olhou na direção da moça e a beijou. Manuela logo entrou no ritmo do beijo e quando menos viram os dois estavam quase se pegando em pleno bar.

– Senhor, as suas bebidas.

...

Era a mais plena madrugada, e a fábrica inteira estava amarrotada de colchões e pedaços de papelão espalhados por uma grande área, ao redor do prédio central. Só Amanda e o Desconhecido caminhavam pelo complexo, totalmente vazio. A jovem esperava a chegada de Suzana próximo a portaria.

– Todo dia é assim, a Suzana demora pra chegar.

– Suzana não chega.

– Acabei de falar isso, D. Ei, silêncio. Tem uma pessoa vindo pra cá.

– Suzana?

– Não, não é a Suzana.

– Então deve ser quem eu estou esperando. – Uma terceira pessoa apareceu atrás dos dois. O cabelo curto e preto, a jaqueta de couro roubada, a cicatriz no rosto denominavam a pessoa mais inconfundível daquela comunidade.

– Casper. – Amanda respondeu. – O que você tá fazendo há essa hora?

– Se me lembro bem sou eu que cuido dessa bodega, Amanda. – Ele pegou a pistola que levava no bolso e girou nos dedos. – Vocês é que não deveriam estar aqui.

– Esperando Suzana. – Desconhecido respondeu.

– Hum... Muito interessante Desconhecido. – Casper respondeu com ironia. – Mais algo de relevante que queira me dizer?

– Ela. Mulher no portão.

Casper pareceu ter entendido exatamente o que Desconhecido dizia a ponto de virar na hora exata em que uma mulher que se destacava na multidão parava no portão improvisado que separava a favela da fábrica. A negra sorriu discretamente e levou a mão para um aperto, que Casper retribuiu:

Ela novamente sorriu e disse seu nome:

– Prazer, Heloisa de Carvalho Botelho.

– Casper, o fantasminha mais legal da cidade etcetera, etcetera. Só me chama de Casper que tá bom. Essa miniatura aqui do meu lado é a Amanda não sei das quantas e o outro é o Desconhecido, não lembra nem o que comeu ontem no café da manhã.

– Sem café. – Desconhecido respondeu.

– D, cala a boca. – Amanda falou, dando uma cotovelada no homem que reagiu curioso.

– É, acho que é isso. – Casper falou, concluindo. – Heloisa, né? Pode entrar, sem medo. Ninguém aqui morde. – Ele sorriu cinicamente.

Cada passo que Heloisa dava em um passo em direção á uma nova diretriz de vida. Vários empecilhos ocorreram até que Heloisa finalmente pudesse ter acesso ao local que adentrava.

Dentro de si, conservava o desejo que tinha de poder ajudar as pessoas que mais necessitavam, acreditava que todas deveriam ter condições para viver com certa dignidade. Tudo isso surgiu na mente da negra como uma verdadeira reviravolta na sua vida.

Ela nunca se esqueceria dos momentos de tensão e pânico que vivera na infame Ilha Vermelha há quase um ano. E naquele lugar, Heloisa viu a morte passar muito perto dos seus olhos, inclusive com a morte de pessoas muito especiais para ela. O fato é que os efeitos cataclísmicos que a misteriosa e imponente ilha sofreu, e suas complicações para todos ao redor abriram os olhos de Heloisa.

Ela nunca tinha sido uma rica mesquinha, mas nunca tinha feito muita coisa para ajudar os necessitados. Aquela chama apagada repentinamente tinha se acendido e Heloisa sentiu que aquela hora era a hora da mudança.

Problemas burocráticos e a crise econômica pelo qual o país passava atrapalharam muitas de suas investidas de tentar cumprir suas promessasque ela já tinha exposto publicamente, porém o momento chegou repentinamente. Alguém tinha a chamado para Cabo da Praga.

Exatamente para aquela comunidade. Desconhecida até mesmo do governo local.

Heloisa caminhava desconfiada pela entrada alternativa da fábrica abandonada, enquanto via diversas pessoas deitadas ao relento. Não deixou de pensar que elas pareciam de certa forma, satisfeitas, embora seus rostos e corpos expusessem o problema em que se encontravam.

– O que está olhando? – Amanda perguntou, tentando puxar algum assunto com a forasteira.

– Estava apenas observando como vocês vivem... Como conseguem?

– Sempre damos um jeito, acho que percebeu. Vida sem nenhuma regalia, correndo atrás do que precisamos pra sobreviver.

– Ah, sim. Mas mesmo assim, não tem esperança de nada melhor?

– Esperança nós temos... – Amanda suspirou. – Mas a vida é traiçoeira. Ela te dá as coisas, te dá uma rasteira, joga você na bosta e dá algo pior.

– Incrível pensamento, Amanda. – Casper se virou. – Já pode ser filósofa.

– Ninguém pediu a sua opinião sobre nada, Casper. – Amanda falou.

...

Cabo da Praga. Um dia antes.

A mãe de Gustavo estava sentada á mesa tomando uma xícara de chá naquela manhã, presa em seus pensamentos. Pegou uma aspirina e tomou com um gole de chá, porque a enxaqueca que possuía não a abandonava. De repente, foi surpreendida pelo filho que passou correndo pela frente da cozinha.

– Filho?

Gustavo retornou para a cozinha, onde sua mãe estava. O jovem vestia somente uma calça moletom cinza e segurava uma toalha molhada nas mãos, por ter acabado de sair do banho.

–Hã? – Ele perguntou.

– Está tudo certo? Você passou correndo por aqui.

– Ah, é que eu tô procurando uma coisa... – Gustavo falou. – Você viu onde eu deixei a correntinha do pai?

– Já procurou no seu quarto? Sempre está lá.

– Virei o quarto ao contrário procurando. E agora? Não posso ter perdido. – Ele passou a mão sobre a cabeça, exibindo preocupação.

A tal correntinha que Gustavo tinha era a principal lembrança que tinha do falecido pai. O homem falecera há exatos dez anos, quando Gustavo tinha apenas 12 anos. O voo 610 decolara de Cabo da Praga em direção á São Paulo, onde faria escala para chegar a Nova York. Mas a chegada a Nova York nunca se concretizou porque o avião caiu momentos antes de aterrissar no Aeroporto de Congonhas, em plena Mata Atlântica. As causas do acidente até os dias atuais eram desconhecidas, e a investigação estava paralisada. Mas desde aquele fatídico dia, Gustavo vivia com a correntinha do pai, que dera a ele dias antes do acidente acontecer.

Depois do acidente, tanto o jovem quanto sua mãe enfrentaram problemas. Enquanto a vida de sua mãe virou de cabeça pra baixo e ele acabou enfrentando e desenvolvendo vários problemas, Gustavo em uma depressão profunda, chegando até a se cortar.

As cicatrizes ainda marcavam o seu braço, inclusive uma que foi tão profunda e forte que teve de ir ao pronto socorro, com risco de ter perfurado uma artéria importante. Foi somente um susto, mas já criou o trauma em Gustavo.

Superou todo esse período difícil e agora era um verdadeiro orgulho para a mãe. Gustavo estudava na renomada UFCP, a Universidade Federal de Cabo da Praga, uma das mais renomadas do país. E ainda estudava cinema, que sempre fora a sua paixão, conseguindo um estágio na produtora de filmes de Demétrio Gama, que se tornou como um irmão mais velho para ele.

Mas não importa para onde fosse, não deixava a sua correntinha para trás. Era a grande lembrança, o símbolo que tinha de seu pai, seu eterno herói.

– Achei! – Ele exclamou de alegria. Tinha deixado a correntinha na mesa da sala. Provavelmente quando chegou no dia anterior, sabe se lá que horas e como estava, deixara a correntinha naquele lugar. Ao pegá-la viu o porta-retrato que ficava ali mesmo.

Dois dias antes do pai de Gustavo morrer tinham ido aos Jardins, como era conhecido o Central Park ou o Ibirapuera de Cabo da Praga, e tirado uma foto em família. O pai exibia em um sorriso toda a sua felicidade e sua mãe, sem saber o que viria nos dias seguintes, abraçava o marido com um sorriso. O pequeno Gustavo, com 12 anos, estava sentado na grama na frente do casal. E sorria.

Assim como Gustavo sorria agora.

...

Amanda andava pelo complexo na companhia de Heloisa. A mulher decidira que seria melhor conhecer por completo a grande fábrica onde aquele grupo se escondia.

– E aqui é onde seriam a porra dos banheiros. Um dia isso aqui já foi uma coisa decente, mas hoje em dia. – Amanda riu. – É o que temos pra hoje. É escuro, é frio, fede á merda e a gozo. – Ela disse apontando para um grande salão á sua direita.

– Vocês nunca tiveram vontade de ter algo melhor? – Heloisa estava ficando cada vez mais horrorizada.

– Já disse, dona...

– Heloisa.

– Dona Heloisa. Acho que todo mundo quer viver em algum lugar melhor, mas acontece o seguinte: alguns poucos sortudos tem tudo, enquanto o resto tem porra nenhuma. É esse tipo de coisa que sobra pra gente.

– Meu Deus...

– Normal, pra senhora que sempre deve ter tido tudo na mãozinha. Aqui não tem mordomo não, mulher.

– Mesmo assim...

– Sua boa vontade me comove, mas enfrente a realidade. Isto é a realidade.

As duas ainda andavam quando Amanda parou de repente. Estavam no meio de um corredor isolado, e Amanda jurou ter ouvindo um barulho. Heloisa parou logo atrás da garota, que fez sinal de silêncio com a mão.

Então Amanda ouviu novamente o ruído. Sim, eram passos, ela tinha certeza. E dessa vez Heloisa também ouviu o barulho.

– São passos...

– Tem alguém nos seguindo. – Amanda concluiu. – Quem está aí?

É claro que não vai responder. Amanda, deixa de ser otária.

– Tá bom. Se não aparecer, eu vou atirar.

Repentinamente, uma figura saiu de trás de uma pilastra, e logo Amanda reconheceu a figura. Hélio.

– O que você quer Hélio?

– Você não me apresentou essa sua nova amiguinha, Amendiga. Quem é?

Heloisa se afastou lentamente na direção de Amanda, que continuava com a arma em punho na direção do homem corpulento.

– Isso não interessa pra você, seu babaca.

– Tá aumentando o repertório, vadiazinha? – Hélio riu. – Vai, deixa eu conhecer melhor a mulher. Parece bem de vida.

Amanda continuava com a arma apontada para o peito do homem. Era claro que ele não se sentia nem um pouco intimidado com a presença da garota. Mas Amanda tinha uma vantagem sobre Hélio, e sobre todos daquele lugar, e não era a maestria que tinha ao usar as armas.

– Próxima porta. Esquerda. – Ela disse para Heloisa. – E corre. Sobe as escadas.

– Mas você é muito...

– Faz o que eu mando antes que você seja estuprada.

Amanda deu um tiro que ecoou por todo o corredor. A bala não foi na direção de Hélio, como o homem ou Heloisa esperava e sim, contra uma barra de metal que absorveu todo o impacto. O barulho estridente se formou e Hélio ficou desorientado, por poucos segundos, embora o suficiente para Amanda correr com Heloisa e entrar na próxima porta á esquerda.

As duas mulheres correram por vários lances de escadas até chegar em um andar indefinido. Heloisa não sabia mais o que fazer apenas sentindo seu coração pulsar em um ritmo extremamente acelerado. Nunca pensou que logo no seu segundo dia já passaria por um momento daqueles.

Amanda puxou Heloisa para um canto da sala, e parou para escutar se havia algum barulho. Silêncio.

– Você escapou por pouco. – Amanda disse. – Se quiser realmente viver aqui vai ter que aprender a se impor. – Ela disse, guardando a arma.

...

– Será que alguém pode me responder a importância dos filmes sobre zumbis?

Silêncio na sala de aula. Ninguém parecia se atrever a tentar falar alguma coisa a respeito da pergunta enigmática lançada pelo professor. Gustavo balançava a caneta por entre os dedos, com os pensamentos indo e vindo, quase alheio a tudo o que acontecia.

O professor tentou novamente:

– NinguémaquiassisteThe Walking Dead? Porque eu sei que muitas pessoas aqui assistem, e devem saber qual é a importância dos zumbis na cultura pop.

– Feitos para diversão? Para tentar esquecer dos problemas do mundo real? – Uma estudante arriscou.

– De certa forma, é o que muitos dizem. Mas não é o foco. – O professor respondeu. – Mais alguém quer tentar?

Dessa vez foi outro estudante, chamado Júlio, que falou:

– Traçar um paralelo com a vida real, mas de forma figurada.

– Como assim, uma forma figurada? – A outra estudante perguntou.

Gustavo olhou na direção da estudante e disse:

– Acho que o que ele está tentando dizer tem relação com como o cinema representa a vida real. Quase tudo o que vemos nas telas é uma reflexão da vida real.

– A arte imita a vida. – O professor completou.

– E nesse caso... – Gustavo continuou. – Talvez podemos relacionar os zumbis com a suposta origem deles.

Manuela entrou na conversa naquele instante.

– No Haiti existe a crença de que o feiticeiro pode transformar uma pessoa saudável em alguém totalmente morto, tomando a alma da pessoa. Faz parte da cultura local, e é de lá que saiu o termo zumbi.

– Sim, Manuela. No caso, representa uma escravidão forçada a alguém, aqui neste exemplo, ao feiticeiro.

– E sem a alma da pessoa, ela literalmente se torna um morto-vivo ambulante. Não tem mais objetivo nenhum, e tudo isso através do voodoo. – Gustavo completou.

– Podemos perceber então uma crítica ao sistema da escravidão na figura do zumbi. – O professor completou. – Na escravidão, você tem que fazer o que o senhor te manda, você deve obedecer somente a ele. E é exatamente o que o zumbi representa. Tracemos um paralelo com os dias atuais e as séries.

– The WalkingDead é exatamente isso. – Júlio falou. – Mas só devemos alterar a obediência a algo.

– No caso, obediência a uma doença, talvez? A pessoa, que permanece normal, ao ser tomada pela doença, quase como um hospedeiro, isso começa a literalmente controlar a pessoa. Vários casos recentes de filmes exibem isso. Essa modalidade nova de zumbis. REC, Extermínio, Eu Sou a Lenda, ResidentEvil...

– Assim surge um infectado. Mas não podemos descartar outra modalidade de supostos zumbis, que tem outras causas... – Manuela parou por um instante, até começar a citar alguns casos. - Madrugada dos Mortos, 30 Dias de Noite, Prova Final, Planeta Terror, The WalkingDead.

– E a Noite dos Mortos-Vivos.São todos exemplos de filmes que utilizam o subtexto dos zumbis no conteúdo. Todos se referindo ao fator obediência a algo ou alguém, um verdadeiro paralelo com a vida real.– Gustavo completou. – Mas mesmo assim, em comparação a filmes de zumbis... Eu ainda prefiro Pânico.

...

A noite já chegava novamente em Cabo da Praga, e mais um dia a luz do sol praticamente não tinha sido vista por Matias Kenweyn. O jovem de 19 anos continuava concentrado em seu laboratório pessoal, localizado em uma área secreta da fábrica.

Ex-estudante de Química, Matias abandonou a faculdade, mas não sem saber o básico. O básico para ele se juntar com Casper e criar a maior locomotiva da comunidade. Afinal, Matias era de longe a pessoa mais inteligente e habilidosa daquela fábrica abandonada. A parceria entre os dois deu realmente certo, e simplesmente os dois se tornavam os maiores traficantes de Cabo de Praga.

O único condicionamento dessa posição foi que o crânio do grupo precisava ficar literalmente escondido. Poucos sabiam o que Matias realmente era naquele grupo, e poucos sabiam do seu próprio caráter.

Ao ouvir a porta do laboratório batendo, ele ergueu os olhos, tirando o óculos de proteção que usava.

– Fala,Casper.

– Como tá indo a produção?

– Ritmo aceitável. Por quê?

– Matias, estamos perdendo. – Casper falou. – Estamos perdendo nosso público. Merda, aquela favela aqui do lado é toda nossa e tem gente querendo tomar nosso lugar.

– Manda bala neles. Não é guerra? – Matias falou desinteressado, a guerra entre traficantes nunca tinha importado para ele.

– Não é isso, Matias. O problema é que nossa distribuição também está devasada.

– E isso significa que...

– Nossos clientes mais importantes estão querendo mais. E não posso deixar eles sumirem. – Casper falou. – Você sabe muito bem que essa porrada de gente só tá aqui por causa deles, né?

– Galera do alto escalão.

– Exatamente. Agora você está entendendo onde quero chegar.

– Casper, eu não consigo acelerar a reação da cocaína. – Matias falou. – Só se eu aumentar a produção.

– Sua falta de fé é perturbadora, Matias. Aumenta a produção. – Casper falou decidido. – Foi mal cara, por te fazer trabalhar o dobro, mas não esquece que eu cuido do chumbo grosso.

– Já sabe o nome dos novos filhos da mãe que estão querendo tomar nosso lugar?

– Eu vou descobrir, Matias. Ou não me chamo Casper.

– Você não se chama Casper. – Matias replicou.

Um dedo do meio foi a resposta á fala de Matias.

...

Gustavo saía da produtora, enquanto digitava no celular. Tinha mandado uma mensagem via Whatsapp para sua amiga Diana Ferreira, que era dubladora e amiga de Gustavo há anos.

Ele também tinha sido o canal intermédio entre Diana e seu chefe, Demétrio, que graças a recomendação do seu estagiário e assessor de imprensa decidira que Diana era perfeita para ser dubladora de uma nova produção que Demétrio, ou Alfa, como muitos o chamavam desenvolvia.

Você vem quando aqui, Diana?

Alguns minutos depois, veio a resposta de Diana:

Amanhã, sem falta, Guto. O Alfa me chamou pra fazer a entrevista amanhã.

Tá muito animada, né? rs

Aquele vídeo viral... Nossa, foi a salvação dos meus problemas kkkkkkkk

O mais legal é que você vai trabalhar aqui também...

Como assim, já tô contratada? Kkkkk Tem a entrevista primeiro, mas tenho certeza que vai correr tudo bem.

Você já sabe que projeto é esse que o Alfa tá fazendo?

Na verdade, ele disse que vai me falar a respeito disso na entrevista mesmo. Tomara que não seja para fazer voz de lobos novamente, meu Deus o que foi aquilo? Hahahahahaha

Acho que o Alfa tem algo diferente em mente, Di. Bom, vamos ver né? Mas fica tranquila, você vai gostar do Demétrio...

Tomara! Nem tô aguentando de ansiedade!

...

A água gelada descia plácida pelo corpo de Suzana. A mulher não estava completamente nua, vestindo apenas uma pequena calcinha. Estava em um dos banheiros da fábrica, mas não no chamado Grande Salão, e sim em um bem menor. Na verdade, Suzana era a única que tinha acesso àquele lugar, um verdadeiro privilégio que a mulher tinha em relação aos outros.

Tudo por conta da sua profissão.

Alguns dias ela conseguia se banhar nas áreas da banho do Estrela D’Alva, mas esse não foi um desses dias. Suzana nunca se importou em afirmar que morava em locais menos abastados, mas nunca tivera coragem em dizer que morava no meio dos sem-teto. Considerava esse ponto de não conseguir dizer o local onde vivia repugnante, embora amasse muitas pessoas daquele local.

Ela fechou o chuveiro, e passou a mão pelos seus cabelos castanhos, sentindo a suavidade deles sobre suas mãos. Repentinamente, sentiu a mão lhe abraçando por trás. O susto de Suzana foi quase inevitável, ela se sentiu totalmente arrepiada, mas não de prazer, mas sim de medo.

Fazia a mulher lembrar do passado obscuro dela.

– Suh, o que foi? – A voz perguntou de trás. Ela suspirou aliviada.

– Casper, o que você tá fazendo aqui?

O rapaz estava apoiado na entrada do box, sorrindo daquele modo cínico que todos conheciam. Acendeu um cigarro, e continuou:

– Eu achei que talvez você quisesse ter uma surpresa.

– Bem, surpresa eu já tive. – Suzana falou.

– Você tem certeza mesmo que quer continuar sendo uma puta das ruas, Suzana? – Casper perguntou indo direto ao assunto. – Não desmerecendo o que você faz, mas cara... Você tem potencial pra mais.

– Como a Amanda diz,Casper. É a vida... É o que ela dá pra gente, e temos de aceitar.

– Sério mesmo? – Casper questionou. – Porra Suzana, eu esperava mais de você.

– Você por acaso tem algum plano pra melhorar a situação? – Ela perguntou, vestindo-se. Casper acompanhava com os olhos todo o movimento de Suzana.

– Eu tenho meus métodos, Suh. – Ele respondeu, depois de soltar uma baforada.

– Eu também tenho Casper. Esse é o meu método, e eu não corro riscos como você corre. Acha que eu não fico preocupada? – Suzana se aproximou de Casper e o beijou.

A intensidade do beijo foi logo sentida por Casper que prosseguiu. Passou a mão por trás de Suzana e a trouxe próxima de si, envolvendo a prostituta em um abraço, o que abriu as portas para um encontro mais quente entre os dois.

Cabo da Praga. O dia final.

I ain't happy, I'm feeling glad

I got sunshine in a bag

I'm useless, but not for long

The future is coming on

– Então a senhora pretende dar uma reviravolta na nossa vida. – Casperfalou, descrente.

– Vocês não podem continuar nessa vida... – Heloisa concluiu, falando mais pra si mesma que para Casper.

– E como exatamente fará isso? – Casper falou, sentado em uma cadeira giratória que realizava o movimento circular. Ambos estavam em uma sala que ele apelidara de sala de reuniões, ou basicamente, a sua sala. Uma lousa desgastada estava na parede, e Casper tinha colocado uma mesa velha, em parte roída por cupins no meio da sala, para servir de apoio. Duas cadeiras completavam o cenário, sendo que Heloisa estava em uma cadeira de plástico.

– Deve sempre existir algum jeito. Não foi á toa que fui mandada para cá.

Casper sorriu de forma enigmática.

– Bem, admito que não foi decisão minha, e sim do conselho. Aqui é uma democracia, onde o papai aqui manda. – Naquele momento, acendeu um cigarro e começou a fumar, colocando os pés sobre a cadeira. – Mas como dizia, uma democracia. Quando 99% pede isso, não há 1% que possa impedir.

– Afinal, desculpa a indelicadeza da pergunta, mas o que você é aqui?

You like it? Gunsmoke!

You're righteous with one toke

You're psychic among those

Possess youwith one go

Casper parou em pensou no que falar. Não demorou muito até que respondesse:

– Aqui é uma comunidade criada com muito esforço e dedicação, sabe? Começou pequena e hoje já deve ter umas 40 pessoas. Mais talvez? Não dá pra isso ser uma anarquia. E então... Algumas pessoas naturalmente ganham espaço no meio de outras e assim que acontece. Quem tinha destaque virou membro do Conselho.

– E o Conselho elegeu um representante. Quase como um presidente.

– Na verdade, eu me elegi. – Casper piscou. – Você ainda não entendeu que eu que mando nessa porra?

– Que democracia.

– Aqui é uma nação própria, Heloisa. – Casper se levantou e começou a andar ao redor da sala. – Aqui nós temos nossas próprias leis, nosso próprio modo de viver, a constituição pouco importa aqui. Espero que não se incomode. – Ele finalizou, assoprando a fumaça do cigarro na direção de Heloisa.

Onde eu que eu fui me meter?

A porta que permanecia fechada, foi aberta repentinamente. Amanda e Desconhecido entraram, seguidos de Suzana, que segurou a porta.

– Casper?

– Jesus Cristo! O que aconteceu? – Ele perguntou.

– Isso é um inferno mesmo. Seguinte, o D começou a falar seu nome que nem um louco. – Amanda falou. – Oi, Heloisa.

Heloisa acenou com a cabeça.

– E eu com isso? Deixa ele falar, ué.

– Acho que ele quer falar com você, seja lá o que for. – Amanda falou. – Eu conheço o D como ninguém, isso é sinal que precisa falar com a...

– Amanda... – Suzana falou. – Deixa quieto, é melhor.

– Suh, eu conheço muito bem o D para saber que não é pra deixar quieto. – Amanda respondeu.

– Amanda, - Casper começou. – Deixa o D falar comigo então. Não deve ser nada... Só mais uma daquelas retardardices de sempre.

I brought all this

So you can survive when law is lawless

Feelings, sensations that you thought was dead

No squealing, remember that it's all in your head

Desconhecido sorriu diante do pedido. Olhou para Heloisa, que sorriu incomodada, como sempre acontecia na presença de Desconhecido. Poderia ser um verdadeiro problema dela, mas ela se sentia muito desconfortável na presença do homem.

– Casper. Bom. Bom.

– Bom o quê? – Casper perguntou, desinteressado.

– Bom dia, Heloisa.

No segundo seguinte, Amanda e Suzana estavam tentando separar Casper de Desconhecido. O segundo não fazia nada, apenas estampava uma cara de medo. Já o outrosegurava o homem pela gola da camiseta, e ameaçava socar a cara do doente mental até não sobrar dente em sua boca.

– Faz mais uma brincadeira dessas e te arrebento a cara na próxima, seu retardado. – Casper falou, exibindo o nervoso.

– Pensar, Casper. Pensar. – Ele disse, ainda com a mesma cara de sempre.

I ain't happy, I'm feeling glad

I got sunshine, in a bag

I'm useless, but not for long

The future is coming on

It's coming on

It's coming on

It's coming on

...

– Alisson? – Gustavo perguntou.

– Exatamente. Alisson Silver, essa mesma. Ela deve estar chegando hoje de Londres. – Demétrio respondeu, sentado em sua mesa. – Bem, vamos arregaçar essas mangas que hoje tem trabalho, Gustavo.

–A Mimi Chantilly vem aqui hoje, mesmo? Só conferindo pela agenda. – Ele perguntou, ao conferir na agenda.

– Sim, um pouco mais tarde. – Demétrio respondeu, concentrado. – Vou ter que reorganizar a agenda. – Se a Michelle chegar enquanto eu estiver com a Diana você pede para ela esperar um pouco, por favor? Eu sei que você não é meu secretário, mas se puder ajudar...

– Tudo certo, fica tranquilo. A Diana e a Michelle estão vindo para atuar no mesmo projeto, não é? Da mitologia grega e as simbolizações atuais.

– Exatamente. Esse projeto é o maior projeto da nossa empresa em anos. Ah, inclusive, falando da sua área agora, eu queria que você caprichasse na divulgação desse novo filme. Modéstia a parte, não via algo tão original no mercado do terror em vários anos e agora que esse projeto vai se realizar, precisamos de uma divulgação pesada.

– Nos limites do que a empresa puder. Não podemos nos dar ao luxo de gastar muito com o filme e ele ser um fracasso.

– Sim, é claro Gustavo. Bem, mas esse lado da imprensa deixo com você. Mais pra frente, continuamos a conversar. Agora se puder fazer o favor que eu te pedi, agradeço muito.

Gustavo já saía da sala quando Demétrio o chamou novamente. Ele se virou para ouvir o que seu chefe tinha para dizer:

– Ah, fala para a sua amiga, a Diana Ferreira, ficar tranquila. Por mais que ainda tenha de avaliar as entrevistas e coisas do tipo, ela já está um passo á frente das outras concorrentes, porque o currículo dela é ótimo. Até na dublagem dos lobos... Aquele filme passou longe de ser bom mas a dublagem dela foi sensacional.

Gustavo saiu da sala do chefe com um sorriso meio disfarçado estampado no rosto. No fundo tinha certeza que Diana seria a contratada.

...

Matias continuava concentrado mexendo e mantendo tudo funcionando dentro daquele laboratório, como sempre passava os dias. Subitamente, a porta foi aberta e ele já sabia quem era:

– Eu tô tentando, espera um... – Ele parou.

– Tá tentando o que, Matias? – Amanda sorriu de canto.

– Esquece, não é nada. – Ele se virou, ajustando os óculos.

– Por que você não sai um pouco, Matias? – Amanda perguntou se aproximando do jovem.– Parece que você vive dentro de um domo, não consegue sair desse laboratório.

– Tenho que terminar isso aqui logo. – Ele respondeu. – E depois...

– Começar de novo. Como sempre, já sei. – Ela falou, expressando um pouco de chateação. Amanda e Matias tinham se tornado grandes amigos desde a chegada da primeira e até já tinham tido alguns casos, mas não passara disso. Mas Amanda possuía opiniões distintas de Matias em vários quesitos e isso fazia os dois discutirem muito, mas não afetava a amizade.

– Cada um faz o que acha melhor. Eu não conseguiria me virar lá fora, aqui é bem melhor. – Ele respondeu, retirando os óculos dessa vez.

– Não vejo graça em ficar vendo poções ficarem coloridas.

– Não fale poções! Eu não faço mágica!

– Pra mim isso é mágica, desculpa.

– Não seja idiota, Amanda. – Casper adentrou o recinto. – Você está testemunhando a maior fábrica de cocaína da cidade.

– Imagina qual é o tamanho das outras então... – Ela falou.

– Você é tão engraçadinha, né?

– Sempre que posso.

– Vai roubar pão na casa do João, Amanda. – Ele respondeu.

Subitamente, os frascos começaram a tremer e um estranho barulho parecia vir dos céus. Amanda e Casper saíram do laboratório, seguido de Matias que demorou para se acostumar com o sol, mesmo poente.

O barulho dos caças que cortavam os céus era o que tinha chamado a atenção deles e de todos os habitantes do complexo, que olhavam para o céu desorientados. Cabo da Praga era uma cidade realmente violenta, mas nunca tinha precisado do exército... O que poderia estar acontecendo era o que muitos indagavam.

– Isso não é normal. – Amanda falou, concluindo o pensamento.

– Você acabou de dizer o que todos pensamos. – Casper retrucou.

– O que sugere? – Amanda perguntou.

– Isso não deve ser nada, acredite em mim. Se foss...

Um grito estridente vindo de longe interrompeu a fala de Casper. Quase como de imediato, várias pessoas começaram a correr na direção do grupo formado pelos três, inclusive Suzana e Heloisa. Outro grito estridente, o som de vários tiros.

– Que porra tá acontecendo, Suh? – Casper falou, puxando Suzana para perto de si.

– Não sei... – Suzana ofegava sem parar. – Eu não... Sei... Foi de repente, o...

– O quem Suzana? – Amanda perguntou, aflita.

– O Hélio... Ele estava ficando cada vez pior e... Ninguém sabe o que aconteceu de fato. Os olhos dele estavam vermelhos, horríveis... Ele espumava, parecia que estava tendo algum tipo de convulsão...

– Foram tentar imobilizá-lo, e ele matou. – Heloisa disse. – Matou vários dos seus. Ele parecia um zumbi, com fome insaciável...

– Tipo... Assim? – Matias perguntou, apontando para frente.

Os quatro se viraram. Não era somente Hélio que estava diante dele, mas outros três moradores também. Os corpos repletos de feridas erguiam-se diante deles, exibindo os olhos avermelhados e saltados, enquanto a boca espumava sem parar, como se existisse uma doença similar á raiva para os humanos.

– Que a sorte esteja sempre ao seu favor, amigos. – Amanda disse.

E então, tudo aconteceu.

Amanda, Heloisa e Matias correram na mesma direção que os refugiados tinham corrido anteriormente continuando em frente, enquanto Casper puxou Suzana para uma outra área, na direita dos mesmos, entrando dentro de um galpão.

Os infectados seguiram o maior grupo.

Enquanto Amanda corria, ela via os infectados se aproximarem cada vez mais do pequeno grupo. Dificilmente havia alguma escapatória para eles, e Heloisa parecia a mais vulnerável. A mulher tentava correr com os saltos, mas todas as tentativas eram falhas, e ela estava ficando para trás. O medo era evidente em seus olhos.

Já Matias não enfrentava situação melhor. Onerdrecluso pouco adiantaria numa corrida contra aqueles rápidos infectados, considerando que muitas vezes o garoto nem mesmo via a luz do sol. Ele não iria aguentar.

Amanda levou a mão até o seu bolso procurando a arma, mas se surpreendeu ao perceber que não estava com ela. Logo veio á sua mente de que poderia ter sido roubada.

Que ironia. Eu sendo roubada.

Mas naquele exato instante Amanda também se desesperou. Não havia como atirar, não havia como deter aqueles infectados de se banquetearem com seus corpos. Ela olhou novamente para trás e tudo parecia ocorrer em câmera lenta.

Heloisa e Matias se cansavam e ela também. Não havia solução... Aquele poderia ser seu fim. O capítulo final da sua vida tão breve, mas tão cheia de problemas.

Ela não gostava de compartilhar suas dores com ninguém, mas sentiu uma súbita vontade de gritar, de dizer para todo o mundo o que sentia. Era o seu último momento de falar algo, de fazer alguma coisa que importasse. Pensou nos seus pais... Como tinha saudade deles. Naquela época ela ainda possuía uma vida, embora não fosse exatamente motivo de orgulho. Seus pais eram pobres, porém batalhadores, e como toda clássica história de Hollywood eles deveriam vencer na vida.

Mas ali não era Hollywood, era Cabo da Praga, a mais pura vida real. E na vida real não existem finais felizes.

Amanda foi puxada do seu súbito pensamento quando ouviu Casper gritando ao fundo.

– Vocês três! Abaixem-se!

Suzana se lançou sobre Amanda, enquanto Matias e Heloisa iam ao chão, e nesse exato momento a chuva de sangue começou. Casper simplesmente acabava com os três infectados com uma precisão surpreendente e com uma frieza que assustava Amanda. Há algumas horas atrás aqueles tinham sido compatriotas, amigos, ou até mesmo súditos do jovem, e agora ele simplesmente acabava com eles sem dó, sem qualquer resquício de piedade. A metralhadora deu os seus últimos disparos antes dos três caírem no chão quase como uma massa de sangue conjunta.

– Game over, Hélio.

...

O carro estacionou bruscamente na frente da casa e Gustavo saiu correndo do mesmo, esbaforido. Ao adentrar sua casa, gritou:

– Mãe? Mãe, cadê você? – Ele transpassava todo o seu medo e desespero de que algo pudesse ter acontecido á sua mãe, a pessoa mais importante de sua vida.

– Filho, eu estou aqui. – A voz veio do quarto da senhora, que ficava no fim da casa.

Gustavo se pôs a correr até chegar na porta do quarto, e viu sua mãe deitada com a mão pousada sobre a cabeça. No criado mudo ao lado da cama, havia uma cartela de aspirina com um copo de água cheio pela metade. O loiro se sentou rapidamente na cama e segurou a mão de sua mãe.

– Aconteceu algo?

– Só estou com dor de cabeça, só isso... – Ela disse. – Já melhorou um pouco com a aspirina. O que foi?

– Precisamos sair daqui o mais rápido possível.

A mãe de Gustavo arregalou os olhos e se levantou da cama, totalmente espantada.

– Guto, está tudo bem?

– Não... Eu descobri lá na empresa. – Gustavo falou, ofegante. – Tem algo acontecendo aqui em Cabo, uma infestação... Uma doença contagiosa...

– Como assim? – Ela disse já se levantando.

– Ninguém sabe ao certo, é um vírus que se espalhou pela cidade, mas as informações são desencontradas. É como um filme de zumbis, nós precisamos sair daqui o mais rápido possível. Pega o máximo de coisas que puder, tenho certeza que é só por um tempo... Mas precisamos ir.

– Para onde?

– Para longe de Cabo da Praga.

Pouco tempo depois, sua mãe já estava instalada dentro do veículo de Gustavo e ele corria para pegar as últimas coisas pendentes. Após pegar o baú de remédios de sua mãe, que acreditava ser o último objeto restante que levaria, passou por cima da cômoda da sala em que o porta-retrato do seu pai estava, e foi obrigado a parar.

– Você vem comigo pai.

...

Amanda estava imersa em seus pensamentos, ainda chocada com o que vira. Hélio era uma pessoa extremamente repugnante e era conhecido de todos no complexo de que Amanda odiava com todas as forças aquele homem, mas ela não conseguiu deixar de sentir um pouco de pena.

Hélio tinha terminado sua vida da pior forma possível e agora nada mais era do que uma verdadeira massa de sangue sobre o chão. Matias pediu que isolassem a área em que a morte ocorrera e foi isso que aconteceu. Além dos quatro infectados, mais três foram destroçados pela fúria tenebrosa que tomara conta dos homens.

Já tinha se passado quase meia hora que o evento tinha acontecido, e Casper juntamente de Heloisa finalmente tinham conseguido reunir todos os moradores para tentar explicar os terríveis eventos. As perguntas pipocavam ao redor de todos, alguns alegavam que algum tipo de doença, outros diziam que era castigo divino, já outros atribuíram o ataque ao racionamento de comida que enfrentavam.

– Não importa que merda tenha sido. Nós precisamos sair daqui. – Heloisa disse com precisão.

Bastou isso para a multidão protestar

– Não temos casa!

– Para onde vamos?

– É o apocalipse!

– Senhora?

– Você está louca querida!

– Temos que nos converter para Deus Pai...

No meio da gritaria, a voz de Casper se sobressaiu.

– Estamos diante de algo que não sabemos o que é, vocês entenderam? Assim que soubermos que porra acabou de acontecer, nós retornaremos para cá. Mas nesta situação é mais complicada.

Mais gritos, mais sussurros, mais reclamações. Casper continuou:

– É só por um tempo, e para nosso próprio bem. Sim, eu sei que será difícil mas nós conseguiremos, como conseguimos sobreviver até hoje. E tem mais: eu juro para todos vocês que os responsáveis por tentar introduzir essa doença, praga, sinal do inferno, qualquer coisa nos nossos moradores vai pagar. Ninguém vai mexer conosco! Não é?

A gritaria recomeçou, mas dessa vez todos gritavam a favor da saída. Amanda não pode deixar de se espantar de como todos mudaram de ideia tão rapidamente, o poder da lábia de alguns era magnífico.

– Um grupo irá primeiro. Outros virão depois. Alguns moradores da favela irão nos ajudar a escapar. Peço por favor, que tentem não fazer tumulto. Todos escaparão em segurança, entendidos? O primeiro grupo irá com... – Casper olhou ao redor e piscou para Amanda, que estava junto de Desconhecido e Suzana. Precisava salvar a prostituta e o doente mental a qualquer custo e Amanda seria a catapulta dos dois para poderem escapar. – Com eles.

...

Pouco tempo depois, os três estavam apertados em uma caminhonete junto com outros moradores, parados no meio do congestionamento do túnel Teodoro Kaulfuss. Eles eram a primeira caminhonete ao conseguir entrar no túnel, e outras viriam atrás, tentando salvar os moradores de rua, a maior escória de Cabo da Praga.

Na saída enfrentaram um problema maior que poderiam ter imaginado, simplesmente porque tiveram certeza de que uma doença se espalhava rapidamente pela cidade. A favela presente ao lado entrou em pleno tiroteio ferindo diversas pessoas ao redor, inclusive um dos moradores que foram libertados, sendo vítima de bala perdida.

Esse mesmo morador acabou sendo deixado para trás. Ou melhor, somente o seu corpo deixado para trás.

Oh, I'm going to let the future in, the future in

Take it on; make it on my own

Oh, into the fire we go again, we go again

Shake it off before we get too old

Alguns motoristas olhavam desconfiados para o conjunto de moradores que destoavam claramente do resto das pessoas presentes ali. E no seu íntimo, Amanda percebia que não eram bem-vindos.

Como sempre tinha sido durante a sua breve vida. Nunca fora bem-vinda no recanto familiar, na escola, na rua, em qualquer lugar, tudo porque destoava da sociedade exemplar que todos acreditavam que era o certo. Nunca tinha levado desaforo para casa, e possuía um jeito meio marrento de ser, ótimo para ser alvo de críticas.

Mesmo assim Amanda sempre tentou e conseguiu passar por cima destes problemas como um rolo compressor, nunca chorando e se lamentando aos cantos. Achava isso uma verdadeira idiotice quando a pessoa poderia tentar estar lutando pelas suas ideias, mas estava se lamentando por motivos bestas e inúteis. A vontade dela era de dar um tapa para elas acordarem para a vida que as cercava.

Bottling sun in an hourglass

Upside down but don't look back

Over and over

Taking on the wind cause we never learn

Start a fire just to watch it burn

Over and over

Mas ás vezes ela mesmo se contradizia. Nesse bloco de pedra que era Amanda, ainda existiam resquícios de sofrimento e chateação, que ela escondia com perfeita destreza. Ela tinha simplesmente um problema: não gostava de contar as coisas para ninguém, guardava todos os conflitos dentro de si, tentando lidar internamente com eles. Odiava quando alguém tentava intrometer-se dentro da sua vida. Afinal, era a sua vida, ela dizia.

E embora tentasse esquecer, alguns traumas do passado sempre voltavam.

We know the words but it's not enough, not enough

'Cause no one heard

Remember we're just kids

Apesar de tudo, ela ainda era apenas uma criança.

E como qualquer criança, adulto ou velho, se assustou com o grito etéreo que ressoou pelo túnel.

...

Gustavo corria de mãos dadas com sua mãe pelo túnel, juntamente da multidão. Num súbito momento jurou ter visto a van de Demétrio e isso foi realmente comprovado quando viu o seu chefe saindo apressadamente da van.

O único pensamento que passava pela mente do loiro naquele instante é de que não poderia parar de correr. A vida da sua mãe estava em suas mãos.

Ele pode sentir o calor vindo de trás, e se arrependeu de virar. A grandiosa parede de fogo vinha consumindo tudo o que encontrava em seu caminho. Era o fim, tão próximo, tão perto... Pensou em desistir, mas não morreria dessa maneira. Morreria lutando.

Pelo meu pai.

E como seu pai lhe desse um sinal, viu a porta da manutenção entreaberta com algumas pessoas adentrando o seu interior. Aquele era o único método de poder escapar da parede de fogo, e foi na sua direção que correu junto com a mãe. Só conseguiu respirar quando entrou no interior da sala repleta de pessoas.

Kids, we have the fire now

Kids, as the last light's burning out

Kids are going to do what they want

Amanda corria junto de Desconhecido e Suzana por entre os carros quando sentiu o calor da parede de fogo se aproximando.

Eu não vou morrer.

E como se o destino comprovasse o que tinha acontecido, viu um garoto de topete entrando com um uma senhora de dreads dentro de uma porta da manutenção, seguido de outras pessoas. Um homem permanecia na porta tentando salvar o máximo de pessoas possível.

– Ali! – Gritou para os dois, que correram na direção da porta. Suzana puxou Desconhecido para dentro enquanto Amanda ficou para trás. A parede de fogo se aproximava, e ela via uma moça morena correndo na direção do mesmo local. Antes de entrar, acabou por olhar para o homem que coordenava a ação. Ela a conhecia de algum lugar.

Mas sua mente estava mais ocupada com outras coisas. A parede de labaredas vinha chegando, e a porta tinha sido fechada. Agora o que parecia salvação era a própria armadilha criada para mata-la. E ela caiu como um rato atrás do pão na ratoeira.

Naquele instante todos os presos ali eram como crianças, desesperadas pelo medo da morte, o medo mais profundo que um ser humano poderia ter. Diante de tal mistério, todos eram como crianças, pouco sabiam sobre o que viria a seguir. Só não queriam que o “a seguir” viesse.

E ele não veio, a parede de fogo passou direto. Amanda estava salva. Até tudo desabar.

Kids, kids

Kids are gonna to do what they want

Kids, kids

Kids are gonna do what they want


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar. Os comentários são muito importantes para a continuidade do projeto. Vemos vocês nas reviews, pessoal!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Premonição Chronicles 3" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.