Uma semana depois…

— Dá pra acreditar como tudo mudou? - Sophia perguntou, enquanto me encarava com os olhos brilhando. - Daniel e eu vamos nos casar, ainda não consigo acreditar! E, olha pra você, jurou nunca se apaixonar e agora está perdida em um amor profundo… É um grande romance, Collins!

Apenas sorri, ela tinha razão.

Tudo havia mudado.

Algumas coisas para melhor, outras para pior, mas ainda estamos aqui; e assim seguimos nesse ciclo constante de mudanças que é a vida.

— Você aceitaria ser minha madrinha? - ela perguntou repentinamente.

— Meu Deus Sofi, isso é pergunta que se faça? Eu nunca iria te perdoar se não me desse essa honra! -Falei rindo feito uma idiota. Eu estava feliz, realmente feliz, coisa que não acontecia há bastante tempo. Nesse instante ela se aproximou de mim, abraçando-me.

— Lamento ter que atrapalhar o momento felicidade das moças aqui – Era Daniel que acabará de entrar ali juntamente ao De La Riva.

— Mas, temos uma festa pra ir! - Vitor completou por ele, sorridente - Clarisse vai embora amanhã cedo… Precisamos de uma despedida digna!

— Concordo! - Sophia falou, já dando pulinhos de animação.

Logo os três me olharam no mesmo instante, como se buscassem aprovação.

— Bom, acho que temos uma festa para ir então! - Falei sorrindo de lado, e logo eles comemoraram.

Em qualquer outra circunstância provavelmente eu não aceitaria tão fácil assim ir á uma festa, mas hoje era um dia especial! E eu mal sabia que tudo estava prestes a ficar mais “especial” ainda…

Logo já estávamos todos reunidos na sala, prestes á ir para a tal festa, com a convicção de que teríamos a melhor noite de nossas vidas, mas então meu pai apareceu ali e junto com ele estava a destruição de todos os planos que eu havia feito de ter uma noite feliz.

Pisquei várias vezes para ter certeza de que estava vendo direito:

Era Rafael. Meu primeiro e único namorado; o maldito homem que tinha abusado de mim e destruído grande parte de minha vida.

— Levando em conta tudo que você passou esses dias, achei que gostaria de rever um “amigo” antigo, América. Então, sugeri que ele passasse um tempo conosco. - Meu pai explicou.

E pela milésima vez senti ódio de meu pai por tirar conclusões precipitadas e novamente fazer o errado. Eu sei que ele não sabia todo mal que aquele canalha havia me feito, mas mesmo assim… Ele não podia fazer essas coisas! Não podia reaproximar meu passado doloroso de mim; não podia destruir minha vasta alegria momentânea trazendo-me o caos rotineiro novamente.

— Olá América, quanto tempo! - Rafael falou, tentando me abraçar com a maior cara de pau. Senti mais raiva que nunca e por instinto o empurrei o mais forte que consegui sem sequer medir as consequências.

— O que você tem princesa? - Vitor perguntou preocupado, ao perceber minha reação.

Mal o ouvi… Apenas senti tudo rodar, fiquei tão pálida que toda aquela maquiagem trabalhada que havia em meu rosto pareceu desaparecer.

— Posso falar com você? - Daniel perguntou, mas nem sequer esperou que eu respondesse, logo me puxou dali levando-me para a cozinha.

— Obrigada… Por me tirar de lá – Falei em baixo tom, meus olhos estavam cheios de água, e por mais que eu tentasse evitar minhas mãos tremiam.

— Não acredito que seu pai trouxe esse cara pra cá – Daniel falou, indignado, enquanto me entregava um copo de água.

— Isso só pode ser um pesadelo - sussurrei, deixando as lágrimas caírem por meu rosto.

Ouvimos a voz de Vitor me chamar, ele devia estar me procurando, nesse momento Daniel trancou a porta da cozinha, deixando-me confusa.

— Trancou a porta porque? Eu preciso do Vitor agora… - Falei, estreitando os olhos.

— Você vai contar pra ele que esse que é o cara que abusou de você? - Ele perguntou e eu não soube oque responder. Mal conseguia pensar direito, apenas queria estar nos braços de Vitor agora. - Se você contar hoje vai estragar a noite… Vai acabar com a viajem da Clari – Daniel falou e eu tive que concordar. Eu não podia contar, essa era a noite de Clarisse! Eu não tinha o direito de estragar com minhas tragédias pessoais do passado.

— Não vou contar nada – falei sem encará-lo.

— Tá… Mas nem pense que amanhã esse idiota vai escapar, assim que a Clarisse for embora, vou acabar com ele! - Daniel disse e em seguida me abraçou, provavelmente percebendo que eu estava um caco.

(…)

— Méri… Por que você ficou daquele jeito quando seu pai chegou com aquele cara estranho? - Vitor perguntou, assim que entramos no carro.

— Não é nada… É que não o via há tanto tempo que fiquei surpresa, mas por um lado feliz… Falando nisso, onde ele e todos estão? - perguntei, fingindo estar contente por ele passar “um tempo” conosco.

— Sophia e Clarisse vão no carro com Daniel, e o tal Rafael disse que ia na moto dele, falando nisso, essa sua explicação não me convenceu nem um pouco, você não pareceu feliz ao vê-lo, ao contrário… - o De La Riva falou enquanto me analisava.

— Por favor, Vitor… Minha cabeça está doendo e eu não quero falar sobre isso, então apenas dirija - Falei tentando dar um fim para aquela conversa.

Vitor apenas ligou o carro atendendo ao meu pedido, respirei aliviada, não queria mais ter que falar daquilo. Em seguida, aumentei o rádio o máximo que pude, com esperanças de camuflar meus pensamentos sobre aquilo também.

Percebi que Vitor me encarou confuso, o som realmente estava muito alto.

— O que foi? Eu adoro essa música… - Falei com certa sinceridade. Apesar desse não ser o motivo principal para tal volume, era de fato impossível não se render ao som de “Love”.

Abri o vidro sentindo o vento contra meu rosto, estiquei meu braço para fora, deixando-me levar enquanto viajava na dimensão da letra daquela canção.

E pelo visto é assim que seria minha noite: Lana Del Rey como trilha sonora, uma despedida de momentos incríveis, e muito sofrimento á vista.

"Olhem para si mesmos, crianças, com sua música antiga. Atravessando satélites enquanto viajam, vocês são parte do passado, mas agora são o futuro..." -  (Love – Lana Del Rey.)