Anna Júlia - Quisera Eu escrita por Anna Júlia


Capítulo 8
Capítulo 8 - NÓS DOIS




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Eu caí, Júlia, assim como você. Eu estava tão na tua que nem acreditava como isso era humanamente possível. E a gente resolveu tentar.

Nunca vou me esquecer do dia em que tu chegou em casa comigo e teus pais estavam na sala. Entramos rindo, eu te dando beijos salpicados no rosto e fazendo cosquinhas em teu corpo, o que te fazia soltar a risada mais ridícula e bonita que já ouvi na vida. Tudo sumiu assim que eu vi o teu pai me encarando.

— Anna Júlia – ele disse, limpando a garganta.

— Pai. Eh… Esse é o Jerry, meu… Meu namorado— senti certo receio da tua parte em dizer aquilo, especialmente quando vi você me olhando de canto.

Eu sorri pra ti, Júlia. E sorri pro teu pai.

Eu tinha conseguido meu prêmio e ele valia muito mais que um diamante.

— Júlia.. Esse não é?

— É mãe, o garoto que destruiu nossa sala.

— Desculpa por isso - falei quando senti a voz voltar, assim como as demais funções do meu corpo.

— Foi você que perdeu um anel aqui aquele dia? Nunca vi o Matheus com nenhum, então deve ser teu – sua mãe disse, logo se levantando e indo procurar o tal anel.

Você me puxou o mais rápido possível e subimos os degraus até teu quarto. Durante todo o percurso pude sentir teu pai me fuzilando com o olhar. E foi só quando restou nós dois e as quatro paredes do teu quarto que a minha ficha caiu. Foi ali que eu percebi que eu tinha te ganhado, menina. Tinha sido a maior batalha da minha vida, até então, e eu era o vitorioso. Isso me quebrou. 

Parecia até cena de filme, Júlia. Eu todo travado e você me olhando sem entender nada. E quanto mais tu me olhava mais eu recriminava as palavras que surgiam em meu cérebro, enquanto você franzia o cenho, tentando decifrar o que eu pensava. Só me restou ser o idiota que sou.

Fui embora e sumi por todo o final de semana. Não atendi nenhuma das tuas ligações, deixei o vazio me consumir por completo; me permiti sentir saudade de ti só para que eu pudesse ter certeza daquilo que eu sentia. Eu aprendi sofrendo, Júlia, mesmo que tu não acredite em mim.

No domingo eu fui até tua casa. Já sabia que teus pais não estariam, porque tu havia me dito que eles iriam viajar… Toquei a campainha recriminando cada movimento do meu corpo, e quando eu te vi? Quando eu te vi foi como se tivessem me dado o prêmio da mega-sena, guria..

Te beijei o mais rápido que pude, alimentando o desejo e tentando impedir que tu fechasse a porta e me deixasse do lado de fora. Não sei o que era entre a gente, Júlia. Não sei se era ódio demais da tua parte e amor em excesso da minha, o que eu sei é que deu certo. Porque mesmo que tu odiasse aquilo, por mais que tu se matasse por dentro toda vez que abria a porta e me deixava entrar, era assim que a gente funcionava. Era desse jeito que a gente conseguia fazer dar certo. Porque no fundo, bem lá no fundo, tu sabia que eu era um pássaro solto e precisava de espaço pra pensar em tudo que acontecia dentro de mim, quando o assunto era você. E eu entendia que tu também precisava disso, até mais do que eu. Porque eu aceitava o fato de guardar tudo até chegar uma hora em que ficava insuportável e eu explodia, mas tu nunca explodiu, Júlia. Ao menos não em minha frente.

Você abriu a porta para que eu pudesse entrar e logo me sentei no sofá, você veio atrás, sentou e ficou me olhando, esperando uma palavra qualquer vinda de mim, mas foi tu quem falou.

— Como tu consegue?

— O que? – perguntei assustado.

— Acordar, se olhar no espelho e não sentir a menor repulsa… Quero dizer, tu gosta da imagem que vê de ti?

— Tu gosta?

— Perguntei primeiro.

— Não sei. Nunca parei pra pensar nisso.

Ficamos nos encarando, antes de eu voltar a falar.

— Me responde se tu gosta.

— Não muito. Quer dizer, depende do dia. Eu gosto de acordar me olhar no espelho e prometer que vou fazer algo bom naquele dia pra quando chegar a noite eu me olhar lá e sentir orgulho.

— É um belo jeito de levar a vida.

— É o meu jeito.

— Não tô gostando muito da imagem que ando vendo de mim.

— Por que?

— Porque eu te faço sofrer. E eu não quero isso.

Você desviou teu olhar do meu e encarou um ponto qualquer. Levantei teu rosto fazendo com que tu me olhasse e vi a tuas bochechas corarem. Te peguei pelo braço e fui contigo até o espelho da sala. Me posicionei atrás de ti de modo que minha respiração tocou tua pele branquinha e fez teus pelos se eriçarem.

— Tu gosta do que tá vendo? – perguntei, te encarando pelo espelho.

Era uma imagem bonita, Júlia. Nós dois. Você na altura do meu peito, eu passando as mãos em teus cabelos, jogando-os para um único ombro e, logo após, cravando meu rosto em teu pescoço, deixando minha respiração flutuar em tuas curvas e tu me aceitando, ao contorcer o corpo. Eu inalava o cheiro do teu perfume, desejando que ele ficasse em mim pra sempre. E nada mais se passava em minha mente a não ser eu e você, guria. Minha respiração se desacelerou, parecendo não existir oxigênio suficiente no mundo para mim, naquele momento. Da mesma forma, meu coração palpitou tão forte que eu praticamente o vi saindo do meu peito. E então, uma brisa invisível e fraca bateu apenas em ti, fazendo tu me escapar como grãos de areia quando os colocamos nas mãos.  

— Não – você tentou se desvencilhar de mim, mas só conseguiu se virar, deixando nossos rostos tão próximos um do outro que eu não sabia nem o meu nome mais. Não pensei duas vezes e te beijei. Pressionando teu corpo no móvel e o meu no teu.  

— Tu me faz sofrer mais do que eu queria, Jer – você disse, ainda me beijando.

— Eu sei – respondi em um suspiro.

Em poucos segundos a gente já se encontrava no teu quarto, comigo tirando tua roupa com veracidade e tu agindo como se fosse mestra no assunto. Deslizar minhas mãos por ti e conhecer todos os segredos do teu corpo foi tão bom, Júlia. Foi tão bom que quando acabou eu queria de novo; eu queria pra sempre. 

Te abracei bem forte, fantasiando em minha cabeça que aquele abraço iria impedir que tu fugisse de mim, quando quer que fosse. Você virou o pescoço, estranhando a força do meu abraço. Pude ver medo em teu olhar.

— Você faz com que eu goste tanto de ti, às vezes, que me assusta – você falou em um sussurro.  

— Só às vezes?

— Só quando você não some… Ou apronta algo.

Sorri para você.

— Desculpa ter sumido, mas eu tenho que sumir de vez em quando.

—  Eu sei. Só não imaginei que isso fosse acontecer tão rápido. - você falava sem desviar o olhar do meu, e eu acariciava teu rosto. — E que tu fosse o primeiro a fugir – você enfatizou o “tu”.

Te dei um selinho antes de falar.

— Eu te achei no meio de uma multidão, Júlia. Tu tava completamente invisível no meio daquele monte de gente e eu vi no teu olhar que tu te perguntava o que fazia ali, porque você sabia que era a peça errada daquele jogo… Tu simplesmente não se encaixava.

Eu não queria ter entrado naquele assunto, guria. Não depois do melhor sexo da minha vida. Mas tu cutucou ele, e eu tive que falar.

— E aquele dia aqui na tua casa… O teu pai – suspirei fundo. — A tua mãe…

— Jer – você me cortou.

— Eu sou teu namorado, Júlia – não te deixei continuar. — Tu me apresentou pros teus pais como teu namorado e tu não tem coragem de dizer isso nem pra tua melhor amiga. Eu tenho certeza que pra ela eu sou só um rolo que com certeza não vai dar certo.

— É claro que tu não é. – você se desvencilhou do meu abraço e se sentou na cama. — Eu juro pra ti que to tentando pensar que isso daqui vai ter futuro.

— Mas tu não acredita nisso, Júlia – te cortei a fala e, portanto, continuei antes que eu travasse e nada mais saísse. — É engraçado como eu te conheço muito mais prestando atenção em ti e não ouvindo o que tu me conta sobre tua vida. E aquele dia eu sabia que tu te sentia como na festa… Como se a palavra “namorado” não se encaixasse no meu caso.

— Jerry.

— Júlia – respirei fundo. — Deixa isso pra lá, não vamos estragar o que acabou de acontecer – te puxei pelo braço, tentando te fazer deitar de novo.

Mas tu não deitou, tu insistiu em cutucar o que não devia.

— Tu não pode simplesmente julgar que sabe o que eu penso ou não. Tu não é o medroso desse relacionamento. E sim, eu acredito que seja um relacionamento, e a Nath?! A Nath é a primeira a me dizer que vale a pena investir em ti, que é inacreditável a forma como tu tá parecendo um ser humano.

— Ser humano? – elevei a voz, me sentando também — Tá vendo, Júlia, tu nem me via como um ser humano antes de eu ficar feito um cachorro atrás de ti!

Silêncio.

E o silêncio durou tanto, e minha raiva era tanta que vesti minhas roupas e fui embora, te deixando sozinha naquela casa, estragando um dos melhores momentos que já tivemos. Quão inocente eu fui em achar que aquele mero abraço te prenderia… Te perder dele foi mais fácil do que comer uma puta. 


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