Anna Júlia - Quisera Eu escrita por Anna Júlia


Capítulo 10
Capítulo 10 - RECOMEÇOS




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/664530/chapter/10

O tempo que eu passei na cadeia, esperando o meu pai pagar minha fiança para me liberarem, me fez pensar bastante sobre nós dois, Júlia. Sobre tudo que tinha acontecido até então, sobre o que tinha me feito parar naquele lugar. E depois de queimar todos os meus neurônios eu fui capaz de chegar à conclusão de que a culpa tinha sido minha, apenas minha.

Era óbvio que tu iria dizer que não me conhecia, ninguém quer conhecer um moleque que fica bêbado e trai a guria que diz gostar. Ninguém quer conhecer alguém que não é nada de mais… Alguém que se não fosse o pai, não seria ninguém na vida. Eu nem sei direito quem eu sou, o que eu sei é que apesar do meu pai ser quem ele é, eu não fico me achando por aí. Sei que as merdas que eu faço costumam ter consequências nada agradáveis na minha vida. Sou o tipo de cara que se acha esperto demais pra idade que tem, mas não sei se sou mesmo uma boa pessoa.

E tu? Que bosta. Tu é a guria mais incrível que eu já conheci em toda minha vida. Tu é bonita, esperta, não fica ligando pro que os outros falam de ti, sabe um monte de coisa, inventa teorias pra tudo que vê, não precisa de mim, nem dos teus pais pra nada. Tu corre atrás do que tu quer, Júlia, e é bem difícil encontrar pessoas assim hoje em dia. Tu é uma entre um milhão, que prefere ficar sentindo o cheiro do meu cigarro dentro de casa, do que retocando a maquiagem. E logo eu, cara… Tu foi se entregar pra um cara feito eu.

Bati na tua porta e tu abriu, vestindo pijamas, apesar de já ser 16 horas da tarde.

Você ficou me encarando por um tempo, sem entender o que eu fazia ali. Nem eu sabia o que eu tava fazendo ali.

Eu só conseguia pensar que eu era um idiota, e que aquela era a maior burrada que eu fazia.

— Acho que tu ficou comigo só pra me foder. Pra acabar assim, comigo fazendo uma merda colossal. Puff… Acabou – falei sem nem pensar direito no que eu falava. Não sei nem se tu me entendia, Júlia, eu só queria falar.  

— Se tu tiver bêbado eu vou fechar essa porta agora mesmo.

— Tu me fez ir pra cadeia, Júlia. E mesmo assim eu vim atrás de ti.

Silêncio.

— E tu abriu a porta… Tu tá aqui falando comigo – divaguei em meus próprios pensamentos. — Eu te transformei em quem tu menos queria ser, guria.

Você não falava nada, só me escutava e observava cada um dos meus movimentos.

— Eu nunca te vi chorando.

— Jerry…

— E eu nunca quis te ver chorando por minha causa.

— Jer..

— Eu sou um bosta, mano. UM BOSTA!

— JERRY! – Você gritou, me acordando do meu surto e me dando um puta abraço que doeu tudo em mim, mas ainda assim foi bom.

— Tu me fodeu, mano… – falei em um suspiro. — Tu me fodeu muito.

— Como se tu não tivesse feito nada demais comigo.  

Você me quebrou, tu sempre me quebrava. Não consegui formular mais nenhuma palavra que pudesse expressar o que eu pensava e acabei te soltando.

— Tu realmente me transformou em quem eu não queria ser, a guria que é louca por ti, que fica chorando a noite toda por tua causa. Que dorme com a consciência pesada por ter mandado o cara que ela mais gosta no mundo pra cadeia.

Lembrei do que o Lê sempre me falava quando a gente saía: “tu não tá vivo de verdade se não estiver vivendo”. E é isso aí, a gente só vive mesmo quando quebra a cara, quando bate em alguém, quando grita de felicidade com teus amigos, quando se arrisca o máximo possível pra conseguir algo que quer e no fim, dá um puta beijo na pessoa que tu gosta. E foi exatamente isso que eu fiz.

Te segurei o mais forte que pude e te beijei como se fosse a primeira vez que a gente ficava. Esqueci tudo que tinha acontecido e a cada segundo eu tinha medo de tu me largar e meter um tapa na minha cara, fechar a porta e me deixar ali feito um panaca, mas tu não fez isso. Tu me beijava com tanta vontade, e eu te apertava cada vez mais forte, que fiquei até com receio de te machucar.

Só que uma hora a gente tinha que respirar. E a vida voltar ao normal. E todas as merdas serem jogadas no ventilador.

Adiei novamente esses acontecimentos, te beijando mais forte ainda, sentindo o meu coração saltar no peito e teu bater tão forte que só me fazia querer continuar. Fui te soltando aos poucos, sem tirar as mãos do teu rosto pequeno.

— O cara que tu mais gosta no mundo? – perguntei.

Você ficou toda sem graça, pude ver suas bochechas corarem por causa da minha pergunta.

— Me desculpa – falei, te dando um selinho. — Me desculpa – e outro. — Por favor, me desculpa – e mais um.

Você sorriu, me fazendo sorrir de volta.

— Me desculpa também – você disse antes de me abraçar com força.

— Ai – soltei sem querer, te fazendo me olhar com pena.

— Olha o que eu fiz contigo.

— Eu não ligo.

— Mas eu ligo, tu tá todo roxo, quebrado só porque eu deixei aquele cara te bater… E a polícia.

— Ei – segurei teu rosto — Eu não ligo. – falei antes de te beijar.

Entramos em tua casa e eu me joguei no sofá, sentindo o alívio do meu corpo.

— Tu me viu com uma mina que eu não lembro nem o nome, quem fez pior?! – perguntei te encarando.

— Não dá pra medir – você respondeu.

— Desculpa – falei. — Eu odeio brigar contigo e fazer essas merdas logo em seguida.

— Como foi mesmo que tu disse? Colossal? – você falou, zombando de mim.

— Idiota – respondi.

— Tu sabe o que significa colossal?

— Claro que eu sei.

Você ficou me encarando de um jeito que dava até medo.

— Não sabe nada.

— Sei sim.

— Aposto que tu só falou isso porque é uma palavra bonita.

Tive que rir. Te puxei para mais perto de mim e comecei a fazer cosquinhas em teu corpo, apesar de que isso fazia doer todo o meu. Tua risada era capaz de me deixar melhor, Júlia. Assim que parei, você ficou me encarando, olhando todos os meus machucados, meu olho roxo… A dor que devia estar estampada em minha cara. Sem mais nem menos tu beijou minha sobrancelha, onde tinha um corte.

— Melhorou?

Fiz que não com a cabeça, apontando pro meu olho roxo, que você também beijou.

— E agora?

Sorri. Encostei um dedo na minha boca, onde tinha outro machucado. Você riu e veio para me dar um selinho, mas como não sou bobo nem nada, segurei o teu rosto e acabamos nos beijando, o que acabou virando algo mais, apesar de todas as dores que eu sentia.

Ficar contigo era melhor que qualquer coisa no mundo.

— Nunca deu certo com ninguém, mas eu quero que dê contigo – falei assim que minha respiração voltou ao normal. — Prometo que vou me esforçar o máximo possível pra que dê certo – não tirei os olhos de ti um segundo sequer, eu queria que tu visse que eu falava a verdade.

Você acenou com a cabeça.

— Por todas as forças do Universo, eu quero que dê certo contigo.

Você me deu um selinho e nós caímos no sono.

Tu foi a primeira pessoa no mundo que eu quis que realmente me amasse, Júlia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anna Júlia - Quisera Eu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.