I do, i need you. escrita por hollandttinson


Capítulo 19
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POV: PEETA MELLARK.

No momento em que ela foi embora, em que eu pude ficar sozinho apenas pensando em tudo o que eu tinha feito, e tudo o que eu podia ter feito se eu tivesse mais um pouco de tempo, eu finalmente percebi que eu não devia ter voltado. Era uma verdade absoluta. Eu sou perigoso, ficar perto de Katniss a mataria. Eu pensava que era capaz de ser o lobo e a vovózinha ao mesmo tempo, mas eu conheço a história, e o lobo sempre come a vovózinha, ela não sobrevive. Eu não podia deixar que isso chegasse á extremos.

Então, quando amanheceu, fiz os pedaços de pães que eu costumava fazer, e fui até a casa de Haymitch. Era muito cedo, era provável que ele estivesse dormindo. Internamente, torci para que quando eu entrasse não visse uma cena deplorável dele e de Effie, não era o tipo de coisa que eu queria ver hoje, e nem nunca. Mas Effie já estava de pé, e tomou um susto quando eu apareci na sala.

— Desculpe, eu estou acostumado á entrar e ter que obrigá-lo a comer.- Eu disse, me aproximando e dando um beijo em sua testa. Effie analisou meu rosto.

— O que aconteceu?- Ela perguntou, eu balancei a cabeça.

— Onde está Haymitch?- Eu perguntei, entrando e colocando a comida em cima da mesa, eu queria falar com os dois aqui, assim não teria que repetir. Talvez se eu não repetisse muitas vezes se tornasse menos difícil. Quando eu estava cortando o pão Haymitch apareceu, cabelos molhados, roupas limpas.- Bonito.

— O que aconteceu com você?- Ele ignorou o meu elogio, analisando meu rosto. Eu tinha me visto no espelho antes de sair de casa, olheiras profundas, não tinha conseguido dormir, nem tentei na verdade. Sabia que teria pesadelos horríveis, sem ela aqui tudo era horrível.

— Eu vou voltar para a Capital.- Eu disse, suspirando. Me sentei á mesa, comendo um pouco do pão, mesmo sem sentir fome, eu estava meio enjoado. Effie arregalou os olhos espantada.

— O quê? Por quê?- Ela perguntava, chocada. Haymitch estreitou os olhos, eu apenas dei de ombros e então ele suspirou, concordando com a cabeça. Ele sabia, ele entendia.

— Bem, eu acho que não estou tão surpreso.- Haymitch disse, dando de ombros e pegando um pedaço de pão. Effie nos olhava como se estivéssemos malucos.

— Pode, por favor, explicar o que aconteceu? Por que isso? Eu pensei que estava tudo bem, você e Katniss pareciam...

— Eu tive um surto, Effie.- Eu expliquei. Falar em voz alta tornava tudo mais real e assustador. Me lembrei da expressão dela, da forma como ela me olhava enquanto eu tentava matá-la. Eu não suportaria ver aquela expressão nunca mais, então eu estava fugindo.

— Ah... Eu sinto muito.- Effie disse, a pena estampada no seu rosto. Eu concordei com a cabeça, ninguém sentia mais do que eu. Engoli mais um pedaço de pão e me levantei.

— Eu deixei comida pronta para ela na minha casa, eu adoraria que vocês pudessem ir até lá e levar para ela hoje.- Eu disse, enfiando as mãos nos bolsos.

— Quando você vai?- Haymitch perguntou.

— Depois do almoço. Também vou falar com Greasy Sae para perguntar se ela pode voltar á ficar com Katniss. Eu só vim para trazer o pão e pedir que vocês fiquem de olho nela por mim, por favor.- Eu disse. Haymitch fez uma careta, ele odiou a ideia. Effie o repreendeu com um olhar e sorriu para mim.

— Não se preocupe, vamos cuidar dela por você. Mas quando você volta?- Effie perguntou, eu suspirei.

— Volto quando a neve derreter, provavelmente. Para inaugurar a padaria.- Eu disse, ela sorriu, concordando com a cabeça.

— Eu vou ficar aqui até ela inaugurar, então tudo bem.- Ela disse, se aproximando e pegando um pedaço de pão, sentando-se á mesa e agindo como a madame que ela é. Eu suspirei, concordando com a cabeça.

— Obrigado.- Eu disse, virando-me para sair da casa. Quando fechei a porta atrás de mim respirei fundo, como se tivesse ficado horas debaixo d'água, o ar saiu pesado, acelerado, desesperado. Eu olhei para a casa dela, silenciosa como sempre, ela podia e devia estar dormindo. Eu podia ir até lá me despedir, ou apenas espiar, mas eu não faria isso. Era risco demais, eu não iria.

Saí da Vila dos Vitoriosos, indo na direção da padaria, onde eu ia quase todos os dias. As pessoas que voltaram para o Distrito acenavam para mim, gastavam sorrisos abertos em minha direção, e eu retribuía da mesma forma. Ninguém desconfiava de nada, é claro. Mas Delly percebeu que tinha alguma coisa errada no momento em que me viu, ela estava voltando da escola, acho que tinha levado Ian. Ela me olhou preocupada, a ruga se formando entre suas sobrancelhas.

— O que aconteceu?

— Vou voltar para a Capital.- Eu disse, colocando a chave na fechadura e abrindo a porta da padaria, que estava quase pronta, apenas mais alguns pequenos ajustes e ela estaria perfeita para a inauguração. Ela entrou comigo, fechando a porta atrás de si. Eu me sentei em uma das cadeiras recém-compradas e ela cruzou os braços, olhando para mim, esperando uma explicação.- Ontem eu tive um surto, o pior de todos desde que voltei. Eu quase a matei, cheguei bem perto. Ela estava sangrando quando saiu da minha casa, foi horrível, ela...- Eu parei de falar para respirar fundo e engolir o bolo que se formou em minha garganta.

— Não precisa continuar, eu já entendi.- Ela disse, a expressão mudando para compreensão. Ela se sentou ao meu lado, colocando a mão no meu ombro.- Ninguém vai te julgar Peeta, você sabe disso.

— Eu vou. Eu nunca vou conseguir esquecer o jeito que ela me olhou, assustada, impotente. Ela não pode me impedir, Delly. Se eu quiser matá-la, eu vou.- Eu disse, tremendo com a palavra.

— Mas você não quer.

— Eu queria. Juro para você que eu queria, Delly. A última vez que eu quis tanto matá-la foi no distrito 13, mas tinha alguém lá para me segurar, ontem não tinha ninguém.- Eu disse, percebi que eu não estava tremendo por acaso, eu estava chorando. Escondi meu rosto com as mãos e ela começou a passar sua mão nas minhas costas, tentando me acalmar.

— E o que o parou?

— Não importa o que me parou, o que importa é que eu não quero e não vou passar por isso de novo. Eu vou embora, vou deixá-la protegida de mim. Vou ficar na Capital até o dia da inauguração da padaria, e quando eu voltar vou tratar de ficar o máximo longe possível dela. É isso o que eu vou fazer.- Eu disse, sentindo meu peito apertar. Será que eu conseguia mesmo ficar longe dela? Será que eu ia conseguir me conter quando a visse novamente? Eu sei que se ela aparecesse agora eu desistiria de tudo e correria para os seus braços como um bebê, pedindo perdão e implorando para que ela não me odiasse. É claro que eu entenderia se ela me odiasse, mas não desejava isso.

— O que causou a crise?- Delly perguntou, eu balancei a cabeça. Lembrar da imagem de Gale me deixou nervoso, eu não o odiava, mas eu sabia que ele e Katniss tinham tido alguma coisa. Sei que Snow transformou minhas lembranças em algo desfigurado, mas a imagem de Katniss e Gale se beijando parece mais real do que as outras, talvez seja real, eu nunca vou saber.- Tudo bem, eu não quero saber.

— Eu sei que não mereço, e entendo se você recusar, mas será que você podia, por favor, ficar de olho nela por mim? Eu pedi a Haymitch e Effie, mas eles estão em um clima de romance e eu não quero estragar.- Eu disse, olhando para ela e limpando o rosto. Ela ergueu uma sobrancelha para mim.

— Effie e Haymitch?

— É.- Eu fiz uma careta, não quero falar disso agora, eu só quero que ela me prometa para que eu possa ir atrás de Greasy Sae. Delly concordou com a cabeça.

— Caramba! Enfim, você pode confiar em mim pra isso, só não sei se ela vai gostar disso, sabe que ela não é minha fã.- Delly deu um sorriso amarelo. Lembrei-me do dia em que Katniss ficou com ciúmes de Delly, eu queria poder apagar isso, para não ter motivos de voltar pra ela.

— Obrigado Delly, você é a melhor amiga de todas!- Eu disse, dando um beijo estalado na sua bochecha. Ela deu uma risadinha nervosa.

— Se você quiser eu posso terminar de organizar as coisas da padaria também, não seria incomodo nenhum, eu estou mesmo procurando algo pra fazer. O hospital não tem muitos pacientes e eu fico nervosa por não fazer nada.- Ela disse, mordendo o lábio inferior. Eu sorri, ia pedir isso á ela antes de qualquer jeito.

— Seria maravilhoso, obrigado!- Eu disse, ficando de pé. Ela ficou em pé também, entreguei a chave da porta na sua mão.- Aqui estão as chaves da minha casa, lá tem um escritório onde você vai encontrar tudo sobre a padaria, você pode olhar.

— Okay. Quando você vai embora?

— Depois do almoço.- Eu disse, saindo com ela da padaria. Trancamos o portão e ela me olhou.

— Então acho que esse é um até breve?- Ela perguntou abrindo os braços para mim. Eu a abracei apertado, ela deu um beijo estalado na minha bochecha.- Vai dar tudo certo.

— Obrigado.- Eu disse, me virando, indo na direção do mercado. Não era um Prego, mas eles estavam tentando. Greasy Sae estava abrindo a sua pequena lanchonete com a neta quando a avistei, ela sorriu para mim.

— Bom dia, querido!- Ela disse, sorrindo. Eu retribui, mas logo suspirei.

— A senhora tem um tempinho pra conversar comigo?- Eu perguntei, ela ficou séria.

— O que aconteceu com ela?

— Eu quase a matei.- Não poupei-a de nada, mas ela não teve reação, como se fosse normal.

— E?

— E que eu não posso mais ficar perto dela, então eu queria perguntar se você pode voltar á alimentá-la e cuidar dela, por favor.- Eu disse, ela revirou os olhos como se eu tivesse falado algo idiota.

— Isso não é um esforço para mim, garoto. Mas você acha mesmo que a solução é ir embora?- Ela perguntou, olhando para mim com pena. Eu estava acostumado com esse olhar, mas isso não quer dizer que eu não me irritava.

— A solução seria eu sumir definitivamente, mas não estou preparado para isso, então eu vou ficar um tempo na Capital, volto quando for inaugurar a padaria, mas não pretendo voltar á ficar perto dela.- Eu disse, doía falar isso. Mais uma vez eu engoli o bolo que se formava na minha garganta. Greasy Sae concordou com a cabeça e se aproximou, dando um beijinho na minha testa. Eu tive que me inclinar para que ela conseguisse.

— Espero que você dê sorte, querido.- Ela disse, dando tapinhas delicados na minha bochecha. A sua neta a chamou e ela se despediu, me deixando sozinho. Eu não tinha mais nada para fazer agora, então eu ia voltar para casa e fazer minhas malas, a última etapa de todo o processo. Aí eu o vi.

Gale estava em pé segurando algumas sacolas, provavelmente produtos domésticos. Meu coração acelerou de uma forma ruim, eu fechei minhas mãos em punho e trinquei os dentes. A raiva que eu sentia ao vê-lo não era porque eu o odiava, não o odeio, a existência dele não me importa. A raiva que eu sinto é porque eu sei que se eu não tivesse voltado, e ele tivesse ficado invés de ter ido para o Distrito 2, seria ele quem estaria dormindo com Katniss e afugentando seus pesadelos. E eu odiava isso.

Fechei os olhos com força, sentir raiva não era saudável para alguém como eu. Contei até dez e abri os olhos, ele não estava mais ali, não estava em lugar nenhum. Ótimo, eu estou ficando maluco de vez. Balancei a cabeça e saí do mercado. Voltei para casa e quando subi para o meu quarto peguei apenas o essencial, todo o resto eu podia conseguir facilmente na Capital.

A comida de Katniss estava intocável no meu balcão, mas eu não me importei, sabia que Effie e Haymitch cumpririam com o acordo. Effie não mentia. Olhei no relógio e eram 10 da manhã ainda, mas eu não queria ficar aqui, então saí de casa. Fui para a rodoviária e comprei a passagem mais rápida.

Quando me viu o bilheteiro entrou em desespero, pediu foto e autógrafo, fingi entusiasmo e tirei a foto. Pensei no quanto isso ia ser natural na Capital, e suspirei. Ele não era daqui, no entanto, isso explicava o porquê de a minha presença o afetar tanto. Os moradores do 12 já sabe que eu sou apenas eu, e ser eu não era grande coisa.

Algumas horas mais tarde, eu já tinha embarcado no trem. Estava em uma cabine chique, já que o bilheteiro exigiu que eu tivesse o melhor. Com a inauguração de novas vias de trens, eu chegara mais rápido pela via direta para a Capital, e mais rápido do que eu esperava, eu estava em um carro alugado indo da direção de um hotel, onde eu encontraria o dr. Aurelius.

Ele já estava me esperando na recepção, onde eu fui recebido por olhares curiosos, e alguns me admiravam. Sabia que demoraria pouco para alguém vir me pedir algo, então falei apressadamente para a recepcionista me dar minha chave, ela hesitou, me admirando como se eu fosse uma estátua. Eu ergui uma sobrancelha para ela antes de revirar os olhos.

— Algum problema?

— Não senhor, aqui está.- Ela disse, ainda atônita, me entregando a chave. Me virei para o doutor, que sorriu para mim, eu sorri de volta, com bem menos entusiasmo. Entremos no elevador e subimos para o quarto.

— E então, o que você tem para me contar?- Ele perguntou, e então eu contei tudo o que aconteceu.

Não me preocupei em chorar na frente dele, ele era meu médico afinal, ele via homens chorando o tempo todo. Quando a história acabou, ele ficou olhando para mim, provavelmente me analisando, enquanto eu tentava acalmar minha respiração.

— Quando você me disse que ia voltar para o Distrito 12, eu achei arriscado, quase idiota. Mas eu confiei em você, decidi que era certo acreditar que você era capaz de enfrentar seus monstros e vencê-los. Você é muito corajoso, Peeta. Devia acreditar mais em si.

— Estava tudo bem, e então aconteceu tudo de novo. Eu não posso me controlar, eu nunca vou poder me controlar, não é certo afundar Katniss nesse barco comigo.- Eu disse, balançando a cabeça e depois fechando os olhos com força, encostando a cabeça na parede. Ouvi-o suspirar.

— E por causa disso você vai se aprofundar mais em tratamentos?

— Eu sei que não tem cura, mas eu não quero pensar na possibilidade de eu nunca poder ter controle sobre meu corpo, eu tenho que ser mais forte do que os monstros, doutor.- Eu disse, ele suspirou mais uma vez.

— O que você achar melhor.

(…)

Foi um mês horrível. Como parte do meu tratamento, eu não podia perguntar por Katniss, eu devia tirar ela da minha cabeça por todo o tempo, e era horrível! Eu odiava não saber como ela estava, ou se estava sentindo a minha falta. Apesar das tentativas, eu pensava nela o tempo todo, e todos os meus pesadelos tinham ela envolvida. Eu acordava encharcado de suor todas as noites, e levantava para pintar seu rosto. Tenho os quadros mais bonitos do mundo pintados aqui agora, não vou levá-los para o Distrito 12, mas não sei o que vou fazer com eles.

Terminei de arrumar minhas malas, viajaria de volta em algumas horas. O dr. Aurelius estaria aqui para me dar alta, e então eu ficaria bem. Pensei em ligar, falar com alguém para evitar a tensão, mas eu não podia contar que estava voltando, era melhor que ninguém ficasse ansioso, ele podia dizer que eu ainda estava muito mal, mas acho difícil.

Quando chegou, ele estava mais sério do que o normal. Não um sério profissional, mas um sério mesmo. Balancei a cabeça, ficando nervoso, mas então ele deu de ombros e me entregou um envelope.

— Você está liberado, mas antes de partir, peço que leia essa carta que Effie mandou a alguns dias. Tenha uma boa viagem.- Ele disse, me entregando e apertando a minha mão, saindo do quarto. Meu coração estava acelerado, ele tinha lido a carta, é claro. Mas o que podia ter aqui de tão importante? Balancei a cabeça, não, estava tudo bem.

Peeta, espero que o tratamento esteja indo bem e que logo você volte para casa. Está tudo muito confuso desde que você foi embora, e eu não sei bem porque me sinto tão mal, se nem ao menos estive com vocês por mais de um dia, mas me sinto como se estivesse perdendo algo. Haymitch tem tentado cuidar de Katniss, como nos pediu, mas ela foge sempre para a floresta de manhã, e volta só a noite. Greasy Sae disse que ela parou de tomar os seus remédios para dormir, e nós costumamos ouvir seus gritos de madrugada, mas ela trancou a porta da frente, e qualquer outra entrada que nós pudéssemos usar para chegarmos até ela. Ela não nos quer por perto, não importa o que façamos. Delly também tentou conversar com elas, acho que as vi brigando um dia desses, Haymitch disse que eu não devia dizer isso porque é fofoca, mas acho que você vai gostar de saber que o motivo foi você. Ou não. Quero que você volte logo, mas tenho medo do que vai ver quando voltar, mas sei que você é forte o suficiente para qualquer coisa. Até mais, querido. - Effie Trinket.

Como assim “tenho medo do que vai ver quando voltar”?

(...)


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