I do, i need you. escrita por hollandttinson


Capítulo 18
In love.




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POV: KATNISS EVERDEEN.

Todo o meu corpo estava dolorido. Olhei no espelho e vi as marcas enormes nos meus braços, as marcas das mãos dele. Meu pescoço também estava marcado, não como na primeira vez que ele tentou me matar, mas marcado o suficiente para ser visto á olho nu. Minha cabeça estava inchada, e eu me sentia muito fraca.

Odeio me olhar no espelho porque posso ver as marcas da guerra em mim, minhas horrendas cicatrizes e meu corpo sofrido. Mas agora eu só conseguia ver o que Peeta tinha feito comigo. Não o culpo, é claro, no fim das contas, tudo o que acontece com ele é culpa minha. Eu sou a culpada. Ele está assim para me machucar. Não importa se Snow está morto, ele sempre vence de mim.

Me enrolei em um cobertor e me afundei na minha cama, chorando. Eu queria voltar lá e ficar com ele, eu não podia tê-lo deixado sozinho, mas eu não ia conseguir ficar. Eu sou egoísta demais para ficar perto da pessoa que está tentando me matar. Ele merecia que eu estivesse lá com ele e suportasse a sua crise, como ele sempre suporta as minhas, mas eu não podia, eu não conseguia, eu não sou como ele.

Não dormi naquela noite, é claro. Não me lembro exatamente quando parei de chorar, mas em certo momento da noite eu estava inerte, mal conseguia distinguir se estava viva ou não, exceto pela imensa dor no meu peito e na minha cabeça, sempre me lembrando do que tinha acontecido, do que Peeta tinha feito.

De manhã, Greasy Sae não veio trazer minha comida. Ela não vinha mais desde que eu voltei á caçar, e Peeta vinha aqui todos os dias. Eu não pretendia me levantar da cama em momento algum, mas alguém entrou no quarto perto do pôr do sol, eu não olhei para ver quem era, mas o barulho dos saltos finos batendo no chão denunciaram Effie.

— Peeta nos contou o que aconteceu.- Ela disse baixinho, estava tentando se infiltrar na minha bolha de dor, é claro que ela não ia conseguir tão fácil. Eu apenas me mantive da mesma forma.- Eu sinto muito, nós sentimos muito.

— Vá embora, Effie.- Eu disse, minha garganta latejou, era como se eu não falasse á séculos. Ela se sentou na cama ao meu lado, senti sua mão pequena e magra tocar nas minhas costas, senti vontade de me afastar, mas eu não tinha forças para isso.

— Haymitch trouxe comida para você, ele está preocupado.- Ela disse. Eu sabia que esse era um passo muito grande, Haymitch estar aqui por mim, e mais ainda Effie estar falando bem dele, mas eu não estava no clima para perguntar se ele e ela estavam juntos. E eu também não queria saber da felicidade alheia. Balancei a cabeça.

— Eu não estou com fome.- Ou estava, mas meu estômago não suportaria nada.

— Peeta foi até a nossa casa hoje de manhã, nos contou tudo e deixou comida para você. Ele não teve coragem de vir até aqui, ele está péssimo.- Ela disse, parecia estar prestes á chorar. Eu me virei para olhá-la.

— Você e Haymitch podem ir para casa agora.- Eu disse, tentando soar como alguém que não está expulsando-os. Ela suspirou, balançando a cabeça.

— Você vai comer?

— Não.

— Katniss...- Ela ia começar á resmungar, eu sabia, então eu apenas balancei a cabeça.

— Não encha o saco, Effie.- Haymitch disse, na porta. Ele não estava bêbado, seu cabelo estava penteado para trás, e suas roupas estavam limpas, podia até jurar que ele usava perfume. Revirei os olhos.- A comida está na mesa, se quiser comer, ótimo, se não, Buttercup comerá por você. Não estou fazendo isso porque apoio, estou fazendo pelo garoto, que me implorou que eu a ajudasse enquanto ele estava fora.

— Ele está... Fora?- Eu perguntei, finalmente voltando á mim. Para onde Peeta tinha ido? Effie olhou para ele de cara feia, eu não devia saber disso.

— Ele foi para a Capital, docinho. Aparentemente o que ele fez ontem foi pior do que ele imaginava, e o doutor Aurelius pediu que ele o visitasse por um tempo. Não sei quando ele volta, mas eu duvido que ele vá querer vê-la morta quando voltar.

— Eu não duvido tanto assim.- Eu disse, olhando tocando meu pescoço com a ponta dos dedos. Haymitch revirou os olhos.

— Não seja ridícula.- Ele disse, balançando a cabeça e saindo do quarto. Effie suspirou.

— Eu sinto muito, Katniss.- Ela disse antes de sair. Eu me afundei ainda mais nos cobertores.

Ele tinha ido embora, tinha fugido de mim. Eu sou um problema, ele nunca devia ter voltado para o Distrito 12, me ter por perto acorda todos os demônios que existem nele. Talvez seja mesmo a melhor opção estar fora, talvez ele conheça alguém novo, alguém que valha a pena, pelo menos. Balancei a cabeça, chocada em como odiei a garota que ele poderia conhecer, mesmo sem saber se ela existia ou não.

Em certo momento da noite, meu corpo finalmente clamou por comida, e eu desci as escadas. Estava muito frio lá fora, era começo de dezembro, a neve já estava começando á ameaçar cair. A comida estava em cima da mesa coberta por papel alumínio, eu tirei o papel e coloquei dentro do micro-ondas. Os comprimidos estavam ali também, e eu os tomei antes de comer, enquanto esperava a comida esquentar. No escuro, no silêncio.

Pela janela da sala, tentei olhar para a casa de Peeta. Estava tudo apagado, nenhum sinal de vida. Imagino que Delly virá aqui para limpar todos os dias, como um favor á Peeta. E imagino que ela esteja ajudando-o com a padaria, já que está programado para que a reforma acabe antes da neve nos consumir, e de ser inaugurada quando a neve acabar. De qualquer forma, eu sei que Peeta vai ter que voltar pra inaugurar sua padaria, mas até lá serão muitos meses.

O micro-ondas apitou, eu tirei o prato de seu interior e comecei á comer. Estava bom, devia ter sido Peeta quem tinha cozinhado. Minha garganta se fechou imediatamente, eu nunca mais vou ter os pães quentes de Peeta todos os dias, porque ele foi embora. Ele foi embora por minha causa. As lágrimas começaram á escorrer e foi ficando cada vez mais difícil me alimentar, apesar de que eu sabia que Haymitch tinha razão. Quando Peeta voltasse, eu queria que ele me visse saudável, como ele gostaria que eu fosse. Mas eu não conseguia ser saudável sem Peeta aqui.

Olhei para o telefone na minha sala, eu nunca o usava. Mamãe telefonava ás vezes, mas eu raramente atendia. Nunca ligava para o doutor, á menos que fosse extremamente importante. Me aproximei e disquei o número que estava escrito ao lado do telefone, para caso de emergência. Deve ter sido Greasy Sae que o escreveu ali. O telefone tocou cerca de 5 vezes, eu já estava pronta para desistir quando ele atendeu.

— Alô?- Ele devia estar dormindo, olhei no relógio e eram três da madrugada. Engoli em seco.

— Doutor Aurelius?- Chamei, minha garganta seca.

— Katniss?- Ele pareceu despertar, ouvi barulho do outro lado da linha, mas não era ninguém, era apenas o barulho que ele mesmo fazia.- Está tudo bem?

— Eu só liguei para perguntar de Peeta.- Eu disse, começando á torcer os dedos das mãos, nervosa. Ele suspirou do outro lado da linha, e tudo ficou silencioso por alguns segundos.

— Ele chegou á noite, estava exausto, não tivemos muito tempo para conversar, imagino que isso será possível amanhã de manhã. Mas Effie já me disse tudo o que aconteceu, então me diga como você está, Katniss? Anda tomando os remédios que eu receitei, da forma que eu receitei?- Ele perguntou, e antes que ele pudesse perguntar qualquer outra coisa, eu desliguei o telelfone. Peeta estava bem e estava em segurança, era a única coisa que me importava.

Joguei o resto da comida em uma tigela para Buttercup, que devia estar na rua mas logo voltaria, e subi as escadas. Entrei no banheiro e tomei um banho, o primeiro desde que tudo aconteceu. Quando terminei me deitei na cama e finalmente dormi. Os pesadelos foram horríveis, uma mistura de Peeta me matando com eu matando Peeta, eu acordei assustada e o sol ainda não tinha nascido, então fiquei sentada na cama, sentindo meu corpo cansado se recusar á dormir, mas eu precisava.

Desci para procurar os meus remédios para dormir, e antes que eu subisse as escadas, a porta fez barulho. Alguém estava tentando entrar na minha casa, pensei em quem poderia ser, o que eu poderia fazer, mas eu estava tão cansada que nenhum plano funcionaria, então eu apenas observei a porta abrir e Gale entrar. Ele pareceu chocado quando me viu de pé, na sua frente, e eu não sabia como eu parecia, só sabia que todo o meu corpo estava congelado.

— Katniss.- Ele esperou alguns segundos para sorrir. Não me lembrava de muitos momentos em que ele sorriu, mas era como se eu nunca tivesse visto aquele sorriso. Todas as memórias que eu tinha de Gale eram do dia que eu o mandei embora, acho que eu selecionei as minhas próprias memórias, e agora eu não sabia o que fazer com esse Gale.- Você está bem?- Ele ficou sério quando percebeu que eu não expressava nada, acho que eu me parecia uma múmia. Balancei a cabeça.

— O que você está fazendo aqui?- Qualquer tipo de expressão de felicidade foi embora do seu rosto imediatamente, ele estava da forma como eu me lembrava de novo. E de certa forma isso foi um alívio, não quero surpresas, eu quero que ele saia da minha casa, mas não tenho forças para pedir. Para ser sincera, não sei se eu realmente quero isso. Talvez isso seja um sonho.

— Eu voltei á alguns dias, mas eu não tinha certeza se você queria me ver. Eu não estava conseguindo dormir, então eu decidi...

— Decidiu invadir a minha casa de madrugada achando que eu acharia isso um máximo?- Eu ergui uma sobrancelha, o que estava me fazendo agir assim? De repente eu percebi que eu senti falta de Gale, e que minhas mãos formigavam por um abraço seu, apesar de que abraços costumavam ser raros entre nós dois. Claro que tudo mudou depois dos Jogos.

— Eu só queria ver você, eu esperava que você estivesse dormindo.- Ele explicou, fechando a porta atrás de si, me fazendo notar que estava bem frio e eu não estava com roupa adequada para o frio. Ele balançou a cabeça.- Eu sinto muito, mas foi bom vê-la, apesar de você estar parecendo um zumbi. Á quanto tempo você não dorme?

— Isso não é da sua conta. Na verdade, eu pensei que tinha mandado você sumir da minha vida, ou algo do tipo.- Porque eu estava atacando-o dessa forma? Não tinha resolvido todos os meus problemas com ele? Eu não o odiava nem o culpava mais pela morte de Prim, então por quê?

— Eu pensei que você tivesse tido tempo suficiente para crescer.- Ele disse, assumindo uma postura firme, defensiva.

— Você está enganado.- Eu disse, virando-me de costas para ele e subindo as escadas, as lágrimas começaram á rolar e eu entendi porque eu não o queria aqui.

Ele me lembrava Prim, não porque ele a matou, mas porque a última que eu tinha de falar com alguém sobre ela era com ele, e depois veio Peeta, mas agora minhas lembranças com Peeta estavam abaladas pelo choque da quase morte, mas as de Gale não. E eu não sei se eu quero que ele mude tudo, eu não sei se eu quero que ele se aproxime e me faça esquecer de tudo, porque no fundo eu me sinto melhor pensando que ele a matou, assim eu tenho alguém para culpar, já que Coin está morta.

Entrei no quarto e tranquei a porta, me afundei na cama, encolhida, como se nada pudesse me machucar se eu estivesse aqui. Eu soluçava alto, eu sabia que onde quer que ele estivesse na casa, ele podia me ouvir. O remédio estava sendo esmagado pela minha mão, e eu apenas o enfiei na minha boca, engolindo ruidosamente, torcendo para que ele fizesse efeito logo e eu pegasse no sono, até os pesadelos eram melhores do que essa realidade, ás vezes.

Mas eu não sonhei com nada, tudo estava branco, calmo, em paz. Acordei completamente relaxada, como se eu tivesse dormido dias. Olhei ao redor e uma verdadeira comissão estava plantada ao lado da minha cama. Haymitch, Effie, Greasy Sae, Delly, Hazelle e Gale estavam ali, eles me olhavam assustados. Effie suspirou aliviada, colocando a mão no peito, agradecendo á Deus. Eu estava confusa.

— O que vocês estão fazendo aqui?- Eu perguntei. Haymitch balançando a cabeça, a expressão preocupada no seu rosto me assustando. O que eu tinha feito?

— Você dormiu por muito tempo, docinho. Achamos que você tinha se matado.- Ele disse, balançando a cabeça novamente. Ele não estava com a mesma aparência da última vez, mas também não estava tão mal.

— Eu dormi? Por quanto tempo?- Eu perguntei, me sentando. Me sentia fraca, então eu não comia á muito tempo. Greasy Sae se aproximou com uma grande tigela de comida.

— Dois dias e meio, ligamos para o doutor Aurelius e ele nos pediu para ficarmos de olho em você, e se você não acordasse em três dias devíamos telefonar que ele viria. Mas graças á Deus você acordou.- Ela disse, passando a mão nos meus cabelos despenteados. Eu concordei com a cabeça, começando á comer como um monstro.

— O remédio que você tomou foi muito forte, não pode tomar essas coisas sem perguntar á alguém antes.- Delly disse, ela parecia irritada. Eu nunca a tinha visto irritada, e percebi que olhar para ela não era bom, ela me lembrava Peeta. Na verdade, tudo me lembrava Peeta, porque se não fosse por ele eu não tinha tomado remédio nenhum, pra começo de conversa.

— Eu sou adulta, eu posso fazer o que eu quiser.- Eu disse, fazendo Hazelle suspirar. Delly balançou a cabeça em desaprovação.

— Você quase nos matou de susto.

— Relaxe, Hazelle. Eu não vou morrer, não tenho essa sorte.- Eu dei de ombros. Gale bufou, eu ergui uma sobrancelha para ele.- Você ainda está aqui?

— Eu estava preocupado com você, Katniss.- Ele estava triste, eu não queria vê-lo triste. Não sei o que aconteceu enquanto eu dormia, mas minha raiva por Gale tinha se dissipado um pouco. Eu precisava muito ter dormido todo esse tempo.

— Eu agradeço a preocupação de todos vocês, mas isso é ridículo. Eu estou bem, só dormi por uns dias, nada demais. Foi por causa do remédio.- Eu dei de ombros. Effie estreitou os olhos para mim, me analisando. Eu revirei os olhos.- Voltem para as suas casas.

Eles ainda insistiram por um tempo, mas depois eles foram se dispersando, me deixando sozinha no meu quarto, o que era sempre perigoso. Apesar de odiar a atenção excessiva, eu sabia que ela era necessária para que eu não fizesse besteira, o problema é que eu amo a solidão. Os únicos momentos em que eu adorava a presença de alguém era quando eu estava com Peeta, mas agora ele estava na Capital, e eu estava aqui, sentindo a saudade apertar no meu peito.

Eu passei anos sem nem ao menos notar a presença dele. Eu sabia quem ele era, mas não era importante pra mim, eu até o desprezava. Depois eu descobri que ele me amava, e eu tive que me acostumar com a ideia de que eu devia parecer amá-lo também, e eu odiava essa situação com todas as minhas forças. Me lembro como ele foi compreensivo comigo, me deixando em paz. Será que nós teríamos ficado juntos antes se ele não tivesse me escutado? Nós nunca vamos saber.

Olhei para o teto, eu não estava cansada, meu corpo pedia por ação, mas eu estava com uma preguiça depressiva. Eu não queria sair da cama, não importa o quanto eu saiba que preciso. Eu quero ficar aqui trancada até Peeta voltar, eu não quero que nenhum outro par de olhos me vejam, se não forem os dele. Mas eu sei que eu não vou conseguir isso, ele não vai voltar tão cedo.

As lágrimas começaram á rolar novamente. Ele tinha me abandonado. Primeiro o meu pai, que se foi quando eu era nova demais, me deixando sozinha com uma mulher fora de controle e uma irmãzinha, me obrigando á crescer antes do tempo. Depois Prim, que era meu único motivo para acordar todos os dias, era ela quem me incentivava á fazer o que quer que fosse, e ela foi embora. Ela me deixou sem ter expectativas ou esperanças, por qual motivo eu permaneceria? Principalmente depois que a minha mãe foi embora. Mais um abandono. Ela não foi capaz de ficar comigo, era difícil demais para ela. E ela me deixou sozinha, completamente sozinha.

Quando eu já tinha me acostumado com a solidão, e com a verdade de que eu nasci para ficar sozinha, quieta no meu canto, sem machucar ninguém, ele voltou. Ele voltou tentando me mostrar que eu podia ser alguém diferente, ter uma vida diferente. Eu estava quase acreditando, eu já estava quase me adaptando á uma nova vida, e agora ele me abandonou. Ele foi embora, mais um. O problema é que eu não quero voltar ao que eu tinha antes, eu quero ficar com ele. Droga.

Meu corpo tremia na cama, eu tentava segurar os soluços. Algo me diz que tem alguém lá embaixo me vigiando, e eu não quero que ninguém suba, não quero que ninguém me veja assim. Eles não vão entender, ninguém nunca entende o que é morrer tantas vezes e continuar com o coração batendo.

Levantei da cama num pulo, desci as escadas lentamente, procurando pela minha babá. Hazelle estava sentada no sofá assistindo TV. Eu sou boa em fazer silêncio enquanto ando, então ela não me ouviu ir até o armário e pegar algo que eu analisei antes, mas que acabei ignorando com o tempo.

Por ter Buttercup em casa, eu não tenho problema com ratos, mas uma vez houve uma infestação de formigas e insetos aqui em casa, Greasy Sae ficou louca, eu estava inerte, ainda tentando decidir se vivia ou não, algo parecido com um morto-vivo, algo parecido com o que eu sou agora, mas muito pior. Ela comprou um remédio para colocar na infestação, ela o colocava todos os dias, não percebia que eu via, se ela soubesse nunca deixaria isso aqui, sabendo que mais dia, menos dia, eu ia acabar buscando-o para outros fins. Uma semana depois, Peeta voltou, e acabou que eu não o busquei mesmo. Até agora.

— O que você vai fazer com isso?- Fechei os olhos com força, não sabendo se estava irritada ou assustada por ter sido descoberta. Lentamente, me virei para Gale, que estava com uma sobrancelha erguida e mãos enfiadas nos bolsos. Eu fechei a cara.

— Você voltou para cá só para me infernizar?- Eu perguntei. Esse era o tipo de pergunta que Peeta fazia quando estava tendo suas crises, coisas como “você é uma bestante” “você é uma arma da Capital”, lembrar disso me fez tremer. Ele não percebeu.

— Você não estava pensando em se matar, estava?- Ele perguntou, olhando para a garrafa de veneno para insetos na minha mão. Eu ignorei a sua pergunta e passei por ele, decidida á subir as escadas. Á essa altura Hazelle tinha parado de assistir TV e me olhava preocupada, eu revirei os olhos e subi as escadas. Fechei a porta ao passar, ouvindo batidas nas portas segundos depois.- Abre essa porta, Katniss.- Ignorei.- Pare de ser criança.- Ignorei, deitando na cama.- Você não quer fazer isso.

— Você não sabe o que eu quero. Você não sabe nada sobre mim. Nem devia estar aqui, pra começo de conversa. Volte para o Distrito 2, soldado!- Eu respondi, irritada. Como ele ousa chegar aqui e simplesmente ditar regras para a minha vida? Eu faço minhas próprias regras. Ele não sabe quem eu sou, não sabe como eu sou, o que eu me tornei. Ele não sabe como eu me sinto, ele nunca vai saber. E eu odeio a forma prepotente como ele me olha como se soubesse. Acho que é isso, eu estou cansada de as pessoas me olhando como se soubesse como eu me sinto, ninguém sabe como é.

— Eu sei, Katniss.- Eu ri com escárnio, revirando olhos. Olhei para a garrafa, minhas mãos tremendo.- Mas isso não vai adiantar.

— Como morrer pode não adiantar? É a resolução de todas as coisas.- Eu revirei os olhos, girando a tampinha. Eu estava tremendo, eu estava com medo de morrer, no fundo eu não sei se é isso que eu quero. Mas é tarde demais para mim.

— Isso não é justo, Katniss.- Ele disse, o que me fez revirar os olhos mais uma vez.

— Você voltou porque quis.

— Eu queria ver você, saber de você. Estava cansado de fingir que não sinto sua falta, cansado de ficar me culpando, eu queria me explicar, mas eu acho que você já superou isso, a única coisa que você não consegue superar é o medo que você tem de si mesma. Mas eu não posso resolver isso, e talvez você tenha razão, e então Peeta está certo em ter ido embora, e a sua mãe também. Você é um caso perdido.- E aí ele foi embora.

Fechei a garrafa, coloquei em cima da cabeceira da cama e fechei os olhos, me encolhendo toda, abraçando os joelhos. Ele tinha razão, eu tinha medo de mim, eu tinha pavor das coisas que eu era capaz de fazer, e das coisas que eu não fazia e, por isso, coisas ruins aconteciam. Coisas ruins acontecem o tempo todo comigo, e é sempre culpa minha. Minha vida estava arruinada, mas a de Peeta não. Ele fez certo em ir embora, então tudo bem, eu não estou mais irritada com ele.

Sorri. Eu estava feliz por Peeta ter ido embora, longe eu não podia machucá-lo. Longe ele podia viver em paz, não importa o quanto isso me machuque.

É, acho que eu finalmente sei o que é estar apaixonada por alguém. E é uma droga.


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