POV: PEETA MELLARK.

Estava feliz por ver Effie, muito feliz na verdade. Em minha estadia na Capital, quando eu tentava me recuperar de tudo o que sofri, ela costumava me visitar frequentemente. Me contava qualquer tipo de novidade que tivesse sobre qualquer coisa eu perguntasse. Eu sempre ficava frustrado quando ela não tinha nada sobre Katniss para me contar, mas não ficava surpreso.

Para ser sincero, o que me deixou mais surpreso foi ver toda a dedicação excessiva de Haymitch para que tudo ficasse impecável, desde a sua casa á toda a comida que fosse ser preparada. Ele queria que Effie se sentisse em casa, que desejasse ficar na casa dele. Eu sei que eles se conhecem á muito tempo, e que provavelmente são bem amigos, mas eles nunca demonstraram tanto afeto. Nunca imaginei que Haymitch faria tanto pela boneca de porcelana colorida. Mas aqui estava Haymitch, penteando o cabelo e usando perfume para buscar Effie na estação.

Effie ficou feliz ao nos ver, era só sorrisos! Haymitch também parecia feliz em vê-la, e não parecia incomodado pelo sotaque e voz irritante dela, na verdade, ele estava incentivando-a a falar, coisa que me deixou ainda mais confuso. Quando chegamos, ela ficou muito surpresa ao ver como a casa estava impecável, e não fedia á vômito, álcool e suor.

Esperamos Katniss para o almoço, eu estava nervoso, não sei como devemos agora agora que nós dois chegamos á um novo nível de intimidade. Ou talvez apenas eu tenha chegado á esse nível, e ela não esteja muito interessada nisso.

Ouvi uma batida na porta, todos se calaram e eu me levantei, sem me preocupar em demonstrar minha ansiedade. Abri a porta e sorri, acompanhando o sorriso em seus lábios. Ela segurava uma tigela nas mãos.

— O que trouxe?- Perguntei, pegando a tigela da sua mão e dando espaço para ela entrar.

— Qualquer coisa.- Ela disse, dando de ombros. O grito agudo de Effie me fez trincar os dentes, não estava esperando por ele e Katniss também não, já que ela respirou fundo audivelmente. Effie veio na direção de Katniss com os braços abertos, exalando felicidade.

— Olá Effie.- Katniss disse, abraçando Effie.

— Estou tão feliz em vê-la, Katniss. Não imagina como senti sua falta, de todos vocês. Vejo que o tempo não a fez ficar mais adepta á moda...- Disse Effie, claramente em tom de crítica.

— Acho que ela precisa nascer de novo para isso.- Haymitch disse, revirando os olhos. Katniss analisou o copo nas mãos do nosso antigo mentor, eu apenas dei de ombros e fui para a cozinha, também não entendia o porquê de Haymitch estar tão empenhado em não causar uma má impressão, como se Effie não o conhecesse.

Lavei as frutinhas que estavam na tigela que Katniss trouxe, colocando-as na geladeira em seguida. Voltei para sala no momento em que Effie estava sentando no sofá, quando ela cruzou as pernas, Haymitch direcionou um olhar sacana para as pernas dela. Pedi á Deus, naquele exato momento, que ninguém nunca me visse olhando assim para os seios de Katniss quando ela está usando uma blusa mais decotada, e se inclina. Eu ri quando Katniss ficou vermelha, mas estava preocupado em não ficar vermelho por causa dos meus pensamentos.

— Que tipo de presentes, Effie?- Perguntei, sem ter certeza se tinha sido isso mesmo que eu tinha escutado antes de entrar.

Me sentei em outro sofá, Katniss se sentou em uma poltrona, distante demais de todos nós. Toquei no espaço vazio ao meu lado, indicando que ela sentasse ali, torcendo para que ela aceitasse. Queria ter certeza se ela e eu ainda éramos os mesmos do beijo de ontem. Ela hesitou, mas logo veio até mim e sentou-se ao meu lado. Fiquei tentado á segurar a sua mão que estava pousada sobre sua perna, mas me contive. Aqui não, ela não gosta de afeto em público.

— Do tipo muito bom. Trouxe coisas para a padaria, Peeta. Algumas ideias de decoração, já que você disse que essa é a uma das áreas que você ainda não pensou.- Disse Effie, animada. Eu fiz uma careta, ela balançou a cabeça. Eu não queria Effie metida na decoração da minha padaria, eu não queria nada parecido com a Capital.- Não se preocupe, não será nada extravagante, vai ser bem parecido com o que você aprova, prometo.

— Tudo bem, confio em você.- Eu disse, mas não tinha certeza se tinha sido sincero. Katniss e Haymitch me olharam com as sobrancelhas erguidas, e eu soube que definitivamente eu não confiava em Effie para isso.

— Ótimo! Trouxe coisas para você também Katniss, a maior parte delas você provavelmente vai fingir que gostou e depois jogar no fundo do seu armário, mas eu prefiro fingir que não sei disso.- Effie sorriu, a sua sinceridade era surpreendente. Á um tempo atrás ela ficaria ofendida, mas agora ela simplesmente se acostumou, e ama o jeito de Katniss. Como eu.

— E as outras coisas?- Katniss perguntou, a animação fingida na voz.

— Você vai gostar.- Effie disse.

— E quanto á mim? Você está hospedada na minha casa, você tem que me dar algo em troca, queridinha.- Haymitch disse rabugento, mas ele parecia estar se divertindo com isso. Effie revirou os olhos, mas não pareceu incomodada com o comentário dele. Eu estava começando á entender tudo.

— Não se preocupe, seu presente também será entregue. Sabia que é falta de educação cobrar presentes das pessoas?- Effie perguntou, cruzando os braços para Haymitch, que deu de ombros.

— Você sabia que eu não me importo?- Ele perguntou, terminando de beber todo o conteúdo do copo e fazendo uma careta.- Que tal nós irmos almoçar? Katniss já está aqui...

— Vocês me esperaram para almoçar?- Katniss pareceu surpresa.

— Não seria completo sem você aqui.- Effie disse, confusa, Katniss sorriu.

Todos nós nos levantamos juntos e fomos na direção da mesa de jantar, que estava limpa e arrumada. Não parecia nada com algo que Haymitch tinha, mas foi ele mesmo quem limpou. Katniss ergueu as sobrancelhas para mim, eu apenas dei de ombros e sorri. Ela ainda não tinha entendido todo o esforço de Haymitch, mas já ficava claro para mim. Sentei-me á mesa, percebendo que Katniss tinha ficado de frente para mim. Ótimo, vista perfeita.

— E então Peeta, como estão as coisas na padaria?- Effie perguntou gentilmente, parecendo buscar qualquer assunto para que o almoço não se tornasse insuportável. Fiquei feliz por ela fazê-lo.

— Bem, para ser sincero eu não esperava que fôssemos conseguir tão rápido, mas as tecnologias que você me mandou da Capital me proporcionaram isso, muito obrigado.- Eu sorri, começando á me servir.

— Você faria o mesmo por mim.- Ela disse, dando de ombros.- Eu imagino que você dará uma festa para comemorar a inauguração da padaria, certo?- Vi Katniss estremecer, e qualquer ideia de festa seria aniquilada se ela não quisesse. Eu não daria uma festa se ela não estivesse presente.

— Eu ainda não parei para pensar nisso, para ser sincero estou mais preocupado em terminá-la.- Respondi, ia tentar fazer Katniss se convencer de que seria bom para o Distrito uma festa, e que eu gostaria houvesse uma, mas já estava previamente me preparando para a sua negativa.

— Bom, sim, mas e depois? Você vai simplesmente começar á trabalhar? Ora, Peeta, você devia fazer uma festa em comemoração. Não devia, Katniss?- Effie perguntou, Katniss engoliu a comida fazer barulho e Haymitch fez um barulho estranho pelo nariz, tentando conter o riso. Eu enchi a boca de comida, eu também queria rir. Effie era ótima em deixar Katniss em situações ruins, então a morena pigarreou.

— Eu não tenho nada a ver com isso, não é a minha padaria.- Katniss deu de ombros. A resposta dela me incomodou. Como assim ela não tem nada a ver com isso?

— Então você não estará na padaria quando ela for inaugurada?- Perguntei, começando á me perguntar se eu teria sempre que ir á Katniss se eu quisesse vê-la, e se quando a padaria fosse inaugurada, ela não iria até mim. Isso me deixou irritado, eu estreitei os olhos.

— Não se você fizer uma festa.- Ela disse, sincera. Eu balancei a cabeça, mas ainda estava decepcionado. Não havia nada que eu fizesse, ela não ia concordar com uma festa. Voltei á comer, quando o silêncio ficou irritante novamente, Haymitch suspirou pesadamente.

— Vamos mudar de assunto, vamos falar sobre o livro que a Katniss está fazendo.- Haymitch disse, apontando para Katniss com o garfo, ela balançou a cabeça. Ela odeia ficar no centro das atenções, e sua expressão não foi muito feliz.

— Um livro? Você está escrevendo, Katniss?- Effie pareceu animada, Katniss fez uma careta, eu segurei o riso. Sobre o que Katniss escreveria?

— Não é este tipo de livro, é um livro de recordações. Eu e Peeta estamos colocando as pessoas de quem nos lembramos, e que já se foram, nele. O Peeta desenha os rostos das pessoas, e eu escrevo os seus perfis. É uma forma de me manter fazendo algo.- Ela deu de ombros. Effie concordou com a cabeça.

— Mas logo teremos que arranjar outra coisa para fazer, não conhecemos tantas pessoas assim.- Dei de ombros, pensando em qual desculpa eu usaria para ir á casa de Katniss todos os dias depois disso. Ela concordou com a cabeça.

— Você vai estar na padaria, vai ter muito com o que se ocupar.- Ela disse, eu balancei a cabeça. Eu estava mais preocupado em mantê-la ocupada.

— E quanto á você, Haymitch?- Effie perguntou, interessada em nosso antigo mentor. Olhei para Katniss, não era possível que ela não tivesse visto ou sentido o clima que rolou quando eles se olharam. Katniss crispou os lábios, ela tinha percebido.

— Eu estou fazendo o que sempre fiz, não estou interessado em parecer mais humano ou vivo, para ser sincero acho uma enorme perca de tempo tentar.- Haymitch disse, Katniss fez uma careta. Me perguntei o porquê de ele não ter falado dos gansos até agora, será que ela não gosta de gansos? Não vai demorar muito até que ela descubra.

— Então porque foi que você se envolveu na rebelião, se não estava interessado em ter uma vida?- Katniss perguntou, erguendo uma sobrancelha para Haymitch, que deu de ombros.

— Eu não sou tão egoísta quando pareço.- Ele disse, eu não achava Haymitch nada egoísta. Ele era exatamente o oposto de egoísta.

— Me diga que a sobremesa é algo maravilhoso!- Effie pediu, eu percebi que todos estavam quase acabando o almoço. Sorri, feliz por poder mostrar minha nova obra prima. Fui até a cozinha e fatiei em 4 a travessa de doce, que eu ainda não tinha dado um nome, colocando cada pedaço em pequenas tigelas. Quando voltei, todos suspiraram. Servi-os e desejei bom apetite, me sentando também. Esperei que eles reagissem antes de eu mesmo experimentar.

Katniss fazia alguns barulhos de satisfação, assim como Effie e Haymitch. Devia estar mesmo muito bom, eu estava orgulhoso de mim mesmo. Sorri para Katniss, mas ela ignorou.

— Deus, que coisa maravilhosa! Você é genial, Peeta!- Effie exclamou, com os olhos arregalados. Eu suspirei, bem, eu sou mesmo um bom padeiro.

— Eu tenho experimentado coisas novas, isso é um tipo de pudim de morango, eu estou feliz que tenham gostado, porque é a primeira vez que eu faço.- Eu disse, sorrindo. Coloquei um pouco do doce em minha boca, e rapidamente percebi o porquê de eles terem gostado tanto. Estava mesmo genial.- Está mesmo bom!

— Bom? Bom é subestimar muito o que isso aqui está. Eu não encontro nenhuma palavra para dizer como isso aqui está... meu Deus Peeta! Você é o melhor padeiro do mundo!- Katniss não conseguia encontrar palavras, ela tinha gostado mesmo, e eu estava feliz por isso.

— Obrigado, Katniss.- Eu respondi, sorrindo para ela, ela retribuiu e eu percebi um pouco de doce sujando o canto da sua boca, me inclinei e limpei com a ponta do meu dedo.- Morango.- Expliquei.

— Obrigada.- Ela disse, voltando a comer. Eu

— Obrigada por isso, Peeta.- Effie disse quando acabou o doce, apenas dei de ombros.

— Não tem de quê. De qualquer jeito vocês me serviram como ajuda, mesmo.- Eu sorri, pegando a tigela da mão de Katniss, que raspava buscando mais, me fazendo rir.- Não se preocupe, eu levo mais para você mais tarde. Eu fiz duas travessas.- Ótima forma de saber se eu posso ir até lá hoje á tarde.

— Ai que bom!- Ela suspirou aliviada, me entregando a tigela. Eu sorri.

— Espero que uma dessas travessas esteja na minha geladeira agora.- Haymitch disse, passando a mão na barriga inchada.

— Está.- Eu disse, pegando toda a louça suja e levando para a cozinha. Katniss levantou e veio me ajudar, enquanto eu lavava a louça, ela trazia o resto que sobrava.

— Eu não queria ter falado aquilo.- Ela disse, eu demorei para perceber ao que ela estava se referindo, mas apenas dei de ombros, sem olhá-la.

— Tudo bem, é loucura mesmo pensar em uma festa, com a vida que nós dois temos.- Eu disse, balançando a cabeça. Eu estava mesmo sendo idiota pensando isso, nossa vida se tornaria um inferno e a imprensa viesse para cá.- Demoramos tanto tempo para conseguir a nossa privacidade, eu não vou cometer o erro de perdê-la dessa forma.

— Mas você merece uma festa.- Ela disse. Eu fechei a torneira, enxuguei as minhas mãos e peguei outro pano para poder enxugar a louça já limpa. Suspirei, sabendo que eu devia falar algo.

— Vou ter minha festa, não se preocupe.- Eu disse, olhando para ela e sorrindo. Eu não estava feliz, mas também não tinha motivo para ficar triste. A ruga de preocupação em sua testa me deixava nervoso, eu toquei a sua testa com a ponta do meu dedo, fazendo-a relaxar.- Mas sem câmeras.- Eu disse, pensando em como faria isso. Tinha que ser muito discreto.

— Não precisa se preocupar comigo.- Ela disse, como se eu pudesse, de alguma forma, não me preocupar com ela. Balancei a cabeça.

— Eu também não quero ninguém bisbilhotando as nossas vidas, Katniss. Já é ruim o suficiente o que aconteceu no passado.- Eu disse, sincero. Ela suspirou aliviada e sorriu.

— Obrigada, Peeta.

— Sinto muito, mas eu não estou fazendo por você.- Eu sorri. E não estava, eu sabia que não teria como me controlar caso alguma coisa ruim acontecesse, e eu saísse dos trilhos. Isso seria mil vezes pior diante das câmeras, e eu não queria isso.

Mas eu não queria falar sobre a festa, ou Haymitch ou Effie. Ter beijado Katniss desencadeou em mim uma vontade que eu pensava estar morta, ou muito escondida no fundo da minha alma. Terminei de secar as louças e olhei ao redor. Katniss não gosta de demonstração de afeto em público, mas Haymitch e Effie não estavam por aqui. Tentei não pensar no que eles estavam fazendo, e me aproximei dela, puxando-a pela cintura.

— Acho que não queremos nem mesmo Haymitch e Effie bisbilhotando nós dois, certo?- Eu perguntei, me aproximando mais dela. Effie é muito escandalosa, ela colocaria tudo a perder.

— Certo.- Ela disse, colocando as mãos nos meus ombros, para me aproximar mais, o que me fez sorrir. Me inclinei e toquei nossos lábios, me afastando mais rápido do que eu queria.

— Vamos fazer o livro hoje?- Perguntei, nós tínhamos o dia todo para nos beijarmos. Paciencia.

Me virei para a sala, ela veio atrás de mim, mas eu tive que parar bruscamente. Eu sorri para ela, apontando para a sala, onde Effie e Haymitch dividiam uma garrafa de vinho. Não seria nada demais, exceto pelo fato de que Effie não bebe e Haymitch não divide bebida. Eu não sei como eles dois começaram com isso, mas não é de hoje que eles estão juntos, eu tenho certeza. E bem, se eles não podem nos contar que estão juntos, também não podemos contar que estamos.

Puxei Katniss pelo braço, ela veio sem reclamar, e nós saímos da casa de Haymitch pela porta de trás. Estava muito frio do lado de fora da casa, e eu não estava vestido com roupas adequadas para esse frio, eu não esperava que tudo fosse ficar tão frio de repente. Katniss fez uma careta e andou sem parar até a minha casa, eu não trancava a porta, então ela facilmente abriu a porta e entrou. Eu entrei em seguida, respirando tranquilo para o calor de dentro.

— Vou buscar dois cobertores para nós dois, você pode fazer chocolate?- Ela perguntou, agindo como se aquela fosse a sua casa. Aquilo me fez ficar feliz, então eu concordei e ela subiu. Eu fui até a cozinha e deixei a água ferver primeiro, voltei para a sala e aumentei a temperatura do aquecedor. Me virei para a televisão e a liguei, devia estar passando algum tipo de filme que nós podíamos assistir.

Meu dedo paralisou enquanto eu segurava o controle. Meu coração começou á bater acelerado, e quando eu percebi o que estava acontecendo, já era tarde demais, eu já estava completamente consumido pelo monstro.

Olhei para o rosto de Gale, e milhares de flashes passaram pela minha mente. Parte de mim me pedia para ignorar, e dizia que eu não devia acreditar naquilo. Tentei dizer á mim mesmo que aquilo eram apenas mentiras da Capital, e que eu devia procurar meu remédio antes que fosse tarde demais, mas aquela pequena parte perdeu a guerra porque já era tarde demais.

Subi as escadas, nem com pressa, nem lentamente. O ódio crescia pela minha garganta e me sufocava, mas eu não podia morrer agora, não sem antes machucá-la. Não havia mais nenhuma parte em mim que não quisesse estourar a cabeça dela no chão, com tanta força que não sobrasse tempo para ela sobreviver. Cada pequena parte de mim queria matá-la agora, e ela merecia. Porque ela ainda estava aqui? Porque ela e ele estavam vivos, e meus pais não? Eu precisava fazer justiça.

Ela deixou a porta do quarto aberta, facilitando tudo para mim. Ela saiu do meu armário com dois cobertores grossos, no começo ela sorriu ao me ver, mas logo o pânico mudou sua expressão, e eu gostei disso. Ela soltou os cobertores no chão e ergueu as mãos, esperei para que ela implorasse pela sua vida, como provavelmente meus pais imploraram pelas deles antes de morrer, mas invés disso, ela me pedia para parar.

— Não, eu não vou parar, Katniss Everdeen.- Eu disse. Minha voz saiu grave, com raiva. Eu comecei á sentir minha cabeça queimar, como se fosse explodir, mas isso não me impediu de me aproximar dela. Vi ela se perguntar se devia correr, enquanto seus olhos começavam á lacrimejar.

Quando ela tentou correr do meu lado, eu fui mais rápido e a segurei pelo braço, puxando-a com força. Ela deu um solavanco, voltando com violência e batendo o corpo na parede. O quadro que estava sobre ela caiu, ela fechou os olhos com força e levou uma das mãos á cabeça, onde começou á sangrar.

— Peeta, para com isso!- Ela pediu, a voz consumida pelo medo. Eu sorri para ela, eu queria vê-la implorar.

— Antes de matar você, quero que me responda uma coisa.- Eu disse, me aproximando mais. Minha mão apertava seu braço com tanta força que todo o sangue estava começando á ficar preso, e ela começou á ficar com os dedos roxos, mas eu ignorei. Ela não ia precisar de dedos quando estivesse morta.- O que você fez com o nosso filho?

— O quê?- Ela perguntou, confusa e chocada. A imagem de Katniss matando um bebê passou pela minha cabeça, o meu bebê. Eu sempre quis ser pai, e ela matou o nosso filho. Senti meus olhos lacrimejarem de tristeza e ódio.

— Porque você fez aquilo com ele?- Eu perguntei, colocando a outra mão em seu pescoço. Ela começou á me bater, tentando me afastar, mas era muito mais fraca do que eu.

— Eu não fiz nada, nós não tivemos bebê nenhum, Peeta me solta!- Ela começou á gritar, mas Haymitch estava muito ocupado com Effie agora, ninguém viria socorrê-la.

— Mentirosa! Ele a ajudou, não foi? Ele ajudou você!- Eu gritei, minha garganta doendo. Eu conseguia ver Gale ao seu lado, eles sorriam cúmplices, e depois se beijavam. A imagem partiu meu coração, eu queria que ela sofresse também.

Ela me deu um soco no nariz, aproveitando minha distração. Eu me afastei, soltando seu pescoço e o seu braço, levando a mão ao rosto, ela se afastou, correndo para a porta. Eu caí de joelhos no chão, sentindo um cansaço familiar. Meu coração estava desacelerando, mas não tanto. Eu comecei á voltar, eu pude sentir lentamente a culpa me invadir, o nojo por quem eu sou, e a tristeza por saber que não há nada que eu possa fazer, eu sou o monstro agora. Lágrimas grossas se instalaram nos meus olhos, mas eu me neguei á dizer sim a elas.

— Peeta?- Ouvi a voz dela, um pouco mais próxima agora. Eu balancei a cabeça.

— Não se aproxime de mim!- Eu disse, ainda não era seguro. Eu não estava 100%, eu nunca estaria. Mas ela se aproximou mesmo assim, senti sua mão no meu ombro, e em seguida em meu queixo, erguendo meu rosto. Ela estava preocupada e triste, e eu odiei ser o causador disso.

— Você está bem, está tudo bem, não era real.- Ela disse, tentando me acalmar. Ela passou a mão na minha testa, limpando o suor, e se aproximou, me abraçando com força. Minha garganta estava doendo, eu queria chorar, eu queria gritar, eu queria que ela tivesse me matado.

— Você devia me odiar. Eu devia estar morto.- Minha voz saiu descompassada, quase um sussurro. Ela se afastou, a raiva em seu olhar me assustou.

— Nunca mais repita isso!- Ela disse, eu fechei os olhos com força.

— Por que você continua aqui?- Eu perguntei.

— Apenas não repita isso novamente.- Ela disse, dessa vez foi ela quem estava sussurrando. Eu abri os olhos e a vi se afastar, ela estava indo embora. E, no fundo, eu desejei que ela nunca mais voltasse. Ela não podia ficar perto de mim. Eu era perigoso. Eu não devia ter voltado para o Distrito 12.

(…)