I do, i need you. escrita por hollandttinson


Capítulo 15
History of feelings.


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem desse capítulo, porque eu já tenho os próximo 4 escritos e estou louca pra postar. Um beijo!



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NARRAÇÃO: Peeta Mellark.

Tentei fazer as coisas que eu faria normalmente, com ou sem Katniss. Saí de casa depois do almoço, fui para a padaria e fiquei feliz quando a vi. Pensei que não seria possível reerguê-la tão rápido, mas me surpreendi.

A padaria já estava reconstruída, basicamente. Precisávamos colocar uma porta mais bonita, e uma iluminação mais sofisticada, comprar coisas como mesinhas, cadeiras, e os móveis para o meu escritório, onde eu ficaria administrando a padaria depois de ensinar as receitas. Mostrei aos trabalhadores onde os fornos deviam ser colocados, e eles começaram á colocar. Depois disso, eu apenas fiquei assinando papéis de compras para a padaria, e levei para o correio. Voltei para a padaria para dispensar os trabalhadores, fechei a padaria e voltei para casa.

No caminho, encontrei Greasy Sae, que sorriu para mim gentilmente, segurando na mão da neta. Ela me disse que logo estaria na casa de Katniss para levar-lhe seu jantar, e eu pedi que ela não se preocupasse, pois eu faria o jantar de Katniss. O sorriso em seu rosto tinha um misto de alegria e malícia, mas eu ignorei.

Quando entrei em casa, tudo parecia ter o cheiro dela, e eu estava impressionado em como isso era surreal. Meu coração ficou acelerado imediatamente, e admito que procurei por ela em algum lugar, mas ela não estava. Tomei um banho, e já consumido pela vontade de vê-la, fui até sua casa, levando os materiais de pintura como desculpa para estar lá de forma tão evasiva. Ela não trancava a porta, então eu entrei sem problemas. Subi procurando-a, mas ela não estava em lugar nenhum, nem a sua jaqueta, então eu sabia que ela estava na floresta.

Me sentei em seu sofá para esperá-la, logo tive que levantar novamente, sendo basicamente convocado por Buttercup para colocar comida para ele. Katniss tinha um pequeno arsenal de ração para gato em sua dispensa. Ela não gostava desse gato antes, mas acho que é uma forma de ela lembrar de Prim. Coloquei comida para o gato, que quando terminou, veio atrás de mim, se esfregando na minha perna, pedindo carinho. Eu não estava fazendo nada, então cedi.

A porta foi aberta e eu sorri, Katniss segurava um robusto peru selvagem, e eu não sei como ela os encontra. Fiquei de pé com o gato no colo, ela me olhava com espanto, surpresa.

— Oi Katniss.- Eu disse, ela sorriu para mim.- Caçada produtiva?- Perguntei, apontando para a sua mão com o queixo.

— Eu... Não estava esperando por você.- Ela disse, a voz falhando, como se ela tivesse ficado o dia todo sem falar.

— Espero que sua expressão seja de surpresa, não de decepção.- Eu disse, fazendo uma careta e colocando o gato no chão. Olhei para a minha camiseta e encontrei vários pelos do gato ali, e fiz uma careta, fazendo-a rir e me olhar de forma estranha. Decidi provocá-la, apenas para não perder o costume.- Pare de olhar para mim como se eu fosse uma alucinação.

— Eu ainda não sei se não é.- Ela disse, ficando séria de repente.

Por vezes, enquanto eu estava na Capital, eu tinha a breve ilusão de tê-la visto. Ouvido-a me chamar, e então, quando eu me aproximava, ela sumia. Nunca imaginei que isso pudesse ter acontecido com ela também, mas pensar que talvez sim, me faz sentir um pouco... Bom, eu não sei dizer como me sinto. É algo novo.

Me aproximei lentamente tirando o peru de sua mão, pegando sua mão na minha com gentileza.

— Alguém que não é real não poderia tocar em você.- Sorri, levando o peru para a cozinha em seguida, com ela em meu encalce.- Você não vai tomar banho?- Ela não fedia, no entanto. Mas eu simplesmente estou acostumado á chegar em casa e tomar banho, e não consigo pensar em qualquer outra pessoa não fazendo o mesmo.

— Eu... Você está aqui á muito tempo?- Ela perguntou.

— Na verdade não. Eu acabei de voltar da padaria, só tomei um banho, trouxe as coisas para o livro e vim ver se você estava aqui. Não fiquei assustado quando vi que não estava porque a jaqueta do seu pai não estava em lugar algum, então eu sabia que estava caçando.- Eu disse, dando de ombros.

Ela virou-se, indo para o quarto, sem ao menos se despedir, mas isso não me incomodou, eu continuei limpando o nosso provável jantar. Ela demorou tanto para descer, eu já estava começando á ficar nervoso, mas então ouvi seus passos, que não vieram em minha direção, mas na direção da sala. Fui até ela com um sorriso, que ela não retribuiu, sentando-se no sofá de pernas cruzadas.

— O que aconteceu durante o banho que você está tão quieta?- Perguntei quando terminamos de fazer o perfil de Enobaria. Ela tinha ficado quieta o tempo todo, eu estava começando á pensar que talvez ela estivesse entrando em uma crise. Esse pensamento me fez estremecer, e então ela balançou a cabeça.

— Está tarde, Greasy já devia ter trazido o meu jantar.- Ela mudou de assunto, como sempre faz quando tem algo acontecendo. Fiz uma careta que ela não viu, pois levantava-se, indo em direção á cozinha. Eu fui atrás.

— Ah, eu esqueci de te avisar! Encontrei com ela hoje a tarde, eu disse que ia fazer o nosso jantar hoje.- Ergui as mãos, percebendo a sua expressão. Ela parecia traída, e eu não entendia porque ela estava me tratando dessa forma.- Desculpa, eu queria ficar sozinho com você hoje a noite.- A forma como isso soou não foi a forma que eu esperava, e a forma que ela reagiu também não. Ela paralisou, fazendo-me engolir em seco.

— Tudo bem.- Ela falou baixinho, eu não sabia se ela estava falando comigo ou com ela mesma.

— Quer que eu prepare o nosso jantar agora?- Mudei de assunto, me aproximando lentamente, com medo de sua reação, já que aparentemente eu não tenho a menor ideia do que está acontecendo.

— Pode ser.- Ela disse, se afastando enquanto eu tentava me aproximar. Aquilo partiu meu coração, e eu suspirei, não conseguindo fingir algo menor do que eu sentia. Olhei em seus olhos, e ela pareceu ficar triste, crispando os lábios para mim. Quando ela balançou a cabeça, eu decidi mudar de assunto novamente, não queria que ela ficasse mais nervosa.

— Vou fazer macarrão para você.- Eu disse, pegando uma panela e enchendo de água, colocando no fogão. Ela foi se sentar no balcão e eu fui fazer o molho do macarrão e assar a carne, sem olhar para ela, pois não queria que ela me visse triste.

Servi os pratos para nós dois, e dois copos de sucos. Fui atrás de seus remédios, me lembrando que ela não os tinha tomado ontem, e nem eu, e esse foi o motivo da dificuldade de dormir hoje, e eu não estaria aqui para ela, e ela não estaria para mim, então era melhor tomarmos. Coloquei cada cápsula ao lado de seu copo, e peguei uma vitamina e um remédio para dormir para mim.

— Espero que não se importe em eu tomar um dos seus hoje, posso repor para você outro dia, se quiser.- Eu disse, sem olhar para ela, sabia que ela não ia se importar. Me sentei e nós jantamos em silêncio.

Levei os pratos sujos para a pia depois que acabamos, lavando-os de costas para ela. Não sei se ela tomou os remédios, mas logo estava ao meu lado, me observando trabalhar.

— Porque você está aqui, Peeta?- Ela perguntou secamente. Desliguei a torneira e me virei para ela, ela não me queria mais por perto.

— Pode repetir a pergunta, por favor?- Pedi, enfiando as mãos molhadas no bolso para que ela não percebesse a forma como eu cerrava os punhos em ansiedade. Ela suspirou.

— Quero saber porque você está aqui. Porque você tem tentado me ajudar á superar meus traumas, quando claramente eu sou a causadora de todos os seus. Me pergunto o porque de você continuar aqui, mesmo depois de tudo o que eu te fiz, e quero saber porque você continua, mesmo eu sendo grossa e imbecil com você.- Ela falou rapidamente, como se tivesse guardado suas dúvidas por muito tempo, e tivesse começado á sufocar. Estreitei os olhos, não sabia se estava magoado por ela me querer longe, ou confuso, porque eu não sei se é isso mesmo que ela quer.

— Quer que eu vá embora?- Decidi colocar minhas dúvidas em palavras também, mas não com tanta pressa, e eu esperava que, se a resposta fosse sim, ela também não tivesse pressa em dizer. Não estou preparado para deixá-la, e não sei se teria forças para fazê-lo, se ela me pedisse. Katniss encolheu os ombros.

— Não, eu só quero entender.- Ela falou baixinho. Eu balancei a cabeça, me escorando na pia para me acalmar do susto. Ela não queria que eu fosse embora.

Olhei para uma sujeira de poeira na janela, tentando me lembrar quais foram as suas perguntas, e pensando em uma forma de responder isso sem deixá-la assustada, mas percebi que tudo o que eu falasse ia fazer com que ela corresse de mim, mas eu não podia mentir. Eu não podia esconder que, apesar de eu não saber como e nem porque, eu sou completamente apaixonado por ela.

— Eu não sei Katniss, adoraria dar as respostas para todas as suas perguntas, porque na maior parte das vezes eu me pergunto o porquê de eu continuar aqui, mesmo depois de tudo. Qualquer pessoa normal fugiria de tudo isso aqui, e tentaria construir sua vida em um lugar diferente, sem todos esses fantasmas, mas eu nunca fui normal, ou pelo menos não me lembro mais de ter sido.- Queria que ela entendesse que, apesar de eu não ter escolhido isso, eu escolheria ficar com ela, mesmo depois de tudo. Dei de ombros.- Quero que você se livre dos seus fantasmas porque, apesar de ás vezes eu não acreditar nisso, cada dia mais eu sou o Peeta que você conheceu, e o Peeta que você conheceu não suporta ver você mal. Eu não suporto ver você mal, Katniss. Eu queria poder tirar de você toda a dor de todas as perdas que você enfrentou, queria poder te fazer esquecer de tudo, mas eu não posso, e a impotência acaba comigo!- Eu queria tanto saber que ela não tem mais pesadelos, que ela está curada, e que ela não vai mais se trancar naquele quarto. Á meses atrás eu a queria morta, e hoje eu a queria viva, e do meu lado, de preferência. Passei a mão, ainda molhada, na cabeça.

— Peeta...- Ela tocou meu braço delicadamente, eu balancei a cabeça antes de olhar para ela, que parecia estar prestes á chorar. Ela suspirou, se aproximando e me dando um abraço forte. Demorei para me acostumar com o contato, mas logo suspirei, derrotado por todo o sentimento, e abracei de volta, enfiando minha cabeça no seu cabelo, sentindo aquela maravilha de cheiro.

— Acho que eu fico porque eu não sei viver sem você.- Eu disse baixinho, assustado por essa mensagem ter saído sem filtro, sem eu pensar antes. Ela se afastou, sem sair do abraço, e me olhou. Coloquei minhas mãos uma em cada lado do seu rosto, sentindo meu coração acelerar diante de uma vontade que me consumiu de repente, torcendo para que eu não tivesse uma crise de repente.- Voltei para o Distrito 12 para reconstruir a minha vida, mas eu não ia conseguir sem você. Em você eu arranjo motivo para tentar todos os dias, Katniss. Obrigado.- Eu agradeci, aliviado por finalmente estar falar isso para ela.

— Eu não mereço você.- Ela disse olhando para mim.- Você merece alguém melhor.- Ela disse, e quando eu a vi se afastar, coloquei a mão nas suas costas, não deixando que ela o fizesse. O que ela estava dizendo? Eu não quero ninguém melhor, não existe ninguém melhor para mim. Segurei sua nuca, decidido á fazer o que eu queria á muito tempo.

— Eu quero você, Katniss.- Eu disse, puxando-a para um beijo.

Eu não estava preparado para o choque que a saudade nos causou. Ainda esperava que ela me empurrasse e me mandasse embora da casa dela, mas nesse momento eu estava anestesiado pelo toque dos seus lábios nos meus. Ela abraçou minha cintura, finalmente retribuindo o abraço, e abrindo a boca para que eu aprofundasse o beijo, e isso fez meu coração bater mais acelerado ainda. Ela me queria também. Toquei sua língua com a minha, gemendo baixinho, satisfeito pelo toque.

Sentir falta de ar rápido demais, mas não me permiti afastar de seu corpo, mesmo quando afastamos nossas bocas. Minha mão em sua cintura ainda a segurava com força, e ela suspirou. Eu não queria abrir os olhos, não queria ver se era real ou não. Normalmente era nesse momento em que meus sonhos se tornavam pesadelos.

— Eu esperei tanto por isso.- Eu disse baixinho, mais para mim do que para ela. Abri os olhos e encontrei os seus já abertos, sorrimos um para o outro, e então eu deixei que nós quebrássemos o abraço.

— Você podia ter ganhado ontem á noite.- Ela disse, dando de ombros, saindo da cozinha e indo em direção ao sofá. Eu abri a boca, chocado. Ela queria á tanto tempo quanto eu? Deus, perdemos tempo com coisas inúteis! Me sentei ao seu lado no sofá.

— Você devia ter me contado, teria poupado muito sofrimento.- Eu disse, quase irritado por ela não ter me contado. Coloquei meu braço atrás da sua cabeça, sentindo ela se apoiar ali, e concordar com a cabeça.

— Na próxima vez eu aviso.- Ela sorriu, e eu não consegui não sorrir. Ela queria mais, assim como eu.

— Na próxima vez eu aviso.- Eu disse, sorrindo. Ele abriu um sorriso enorme, que fez meu coração acelerar. Ele não podia fazer essas coisas e não esperar que eu fique nervosa.

— Vai haver próxima vez?- Ergui uma sobrancelha, provocando-a e balançando a cabeça quando ela revirou os olhos de forma imparcial.- Na próxima vez, você quem vai me beijar.- Eu disse, dando de ombros. Ela riu.

— Ué?- Ergueu uma sobrancelha para mim, e eu apenas sorri.

— É, pra não ficar parecendo que eu sou o louco que sempre rouba beijos.- Eu disse, apesar de não ficar incomodado em roubar beijos seus, o importante é beijá-la. Ela balançou a cabeça e me abraçou, apoiando a cabeça em meu peito, parecendo satisfeita.

— Em breve vai nevar, como nós vamos fazer o livro, e como você vai terminar a padaria?- Perguntou, mudando de assunto. Eu suspirei, eu não tinha pensado sobre isso ainda.

— O livro é fácil, eu posso vir aqui. Mas quanto á padaria, bem, logo poderemos inaugurá-la, já está quase tudo pronto. Em algumas semanas eu acho que poderemos inaugurar.- Eu disse, sorrindo feliz. Ela concordou com a cabeça.

— E então você vai ficar lá todos os dias, o dia inteiro?- Perguntou, parecendo desconfortável. Eu sorri, talvez acreditar que ela me queria por perto me fizesse mais feliz do que eu queria admitir. Balancei a cabeça.

— Provavelmente, sim. Pretendo contratar algumas pessoas para ficarem na cozinha, mas antes eu vou ter que mostrar á elas todas as receitas, e além disso, eu não quero ficar na burocracia da padaria, quero trabalhar com a massa. Acho que vou deixar Delly no setor administrativo.- Eu disse, dando de ombros. Ainda não tinha falado sobre isso com Delly, mas conhecendo-a como conheço, tenho quase certeza de que a resposta seria sim. Ela fez uma careta.- O que?

— Eu gosto da Delly, mas você não acha que anda muito tempo com ela? Qualquer um que vê de longe pensa que vocês dois são um casal.- Ela disse, dando de ombros e se afastando para cruzar os braços. Dei de ombros, eu não me importava que os outros achassem, me importava que Delly não imaginasse isso.

— Não me importo com o que as pessoas dizem, eu e Delly somos apenas amigos, e não tem nem como passar disso. Eu sou apaixonado por outra.- Eu disse, piscando para ela. Não queria falar sobre Delly, era quase traí-la. Ela sorriu.- E além disso, eu acho que ela está com alguém.

— É mesmo? Quem?- Ela ergueu uma sobrancelha para mim, mordendo o lábio inferior em seguida. Eu dei de ombros, não era mentira que eu achava que ela tinha alguém, mas eu sabia que ela gostava de mim. Talvez ela estivesse querendo me esquecer, e eu torcia para que ela conseguisse.

— Não sei, mas ela anda enigmática, e nunca mais jantou comigo, ou conversou comigo direito. A culpa é sua, porque eu fico muito tempo com você, e quando eu estou com ela, normalmente falo da padaria, ou sobre você.- Mas a culpa também era minha, porque eu devia ser o amigo que ela é para mim, e isso me fez suspirar.

— O que foi?

— Sou o pior amigo do mundo.- Lamentei e ela balançou a cabeça.

— Ninguém espera que você seja perfeito.- Ela de ombros, e eu também, olhando para ela e sorrindo, feliz por estarmos aqui, como se não houvessem fantasmas ou passado. Até que ela me lembrou que eles existiam.

— Vamos voltar para o livro?- Perguntou, olhando para a mesa de centro e os objetos de pintura.

Depois de algumas horas fazendo nosso trabalho, ela bocejou, e eu percebi que era a hora de eu voltar para casa. Ela me levou até a porta, e apesar de eu querer muito beijá-la, achei que seria melhor deixar para amanhã, e apenas dei um beijo em sua testa, indo embora.

Entrei em casa, completamente consumido pela solidão e o silêncio. Eu devia arranjar um gato, ou gansos... Lembrei-me de Haymitch e saí de casa novamente, indo até a sua casa. Quando entrei ele estava arrumando a sua sala de estar, o que me fez ficar tão surpreso quanto divertido. Comecei á rir e ele notou a minha presença. Ele não estava bêbado.

— O que você está fazendo?- Ergui uma sobrancelha olhando para ele, que fez uma careta, balançando a cabeça.

— Minha sala estava uma bagunça, os gansos fazem muita bagunça por aqui.- Ele disse, dando de ombros e terminando de limpar farelos de pão em seu sofá, pegando uma vassoura que estava escorada no mesmo, e varrendo a sujeira do chão.

— Seu nome agora é ganso? A única sujeira que eu vejo é causada por você.- Eu dei de ombros ele bufou e me olhou irritado.

— Veio aqui para quê? Não devia estar com a Katniss?

— Está muito tarde para isso.

— E não está muito tarde para me encher o saco?- Ele perguntou, jogando o lixo do chão em um saco plástico, fechando-o e levando para a cozinha, eu fui atrás. A cozinha estava tão limpa que eu fiquei sem palavras por alguns segundos.

— Sério Haymitch, o que você tem?- Perguntei, começando á ficar preocupado. Ele suspirou irritado e revirou os olhos.

— Vou receber algumas visitas amanhã, eu não lia minhas cartas á tanto tempo que não sabia que as tinha recebido, até que hoje Effie telefonou perguntando se estava tudo bem.- Ele disse, abrindo a geladeira. Um cheiro horrível de comida estragada invadiu o lugar, e eu tive que tapar o nariz para falar.

— A Effie vai vir para o Distrito 12? Meu Deus, o que está acontecendo com vocês dois?- Eu perguntei, confuso. Ele balançou a cabeça.

— Parece que ela vai vir ajudar você com alguma coisa com a padaria, eu não entendi direito Peeta!- Ele disse, exasperado. Então eu me lembrei que ela estava responsável por trazer as tintas para a padaria.

— Ah, é verdade.- Eu disse. Eu achava que ela ia apenas mandar as tintas, e não que viria. Dei de ombros.- E ela quer ficar na sua casa?

— Onde mais ela ficaria? Katniss é grossa demais, e Effie definitivamente não quer ficar perto de Katniss agora. Você vive com a Katniss.- Ele deu de ombros. Eu ergui uma sobrancelha.

— Ela acha que é melhor ficar na sua casa, do que ficar comigo ou Katniss? O que você está me escondendo?- Eu perguntei, me aproximando dele e ajudando-o á tirar toda a comida estragada e jogar no lixo.

— Porque você não cuida da droga da sua vida?- Ele perguntou, o que me deixou ainda mais confuso. Tentei pensar em qualquer explicação óbvia, mas apenas dei de ombros.

— Tem razão, eu só vim aqui saber se você tinha comido hoje, mas acho que comeu.- Eu disse, olhando para a geladeira e não encontrando mais as garrafas de leite que eu e Delly tínhamos trazido, e a maior parte da comida já tinha acabado.- De que horas Effie chega?

— Meio dia. Você pode fazer comida por mim? Eu vou ter que ir no mercado comprar mais daquelas coisas que você comprou naquele dia.- Ele disse, passando a mão no cabelo, parecendo constrangido por ter que me pedir algo. Eu dei de ombros, sorrindo.

— Claro que posso, vai ser um prazer! Venho para cá fazer, ou você quer que eu traga de casa?- Perguntei, me afastando do odor quando tudo já estava jogado devidamente no lixo, e ele lavava as panelas na pia. Ele balançou a cabeça.

— Faça em casa e depois você traz para cá.- Ele disse. Eu concordei com a cabeça.

— Tudo bem, volto amanhã. Boa noite, Haymitch.- Eu disse, sem esperar a resposta, pois ele nunca dava.

Finalmente entrei em casa, sendo consumido mais uma vez pela solidão, mas dessa vez eu estava cansado, então apenas subi as escadas e tomei um banho, para depois dormir.

Me deitei pensando em Katniss, e os pesadelos que me acordaram também foram sobre ela. Eu acordei suado, como se eu tivesse corrido uma maratona. Apesar disso, a minha cama estava tão organizada, como se eu não tivesse me mexido. Balancei a cabeça, eu sou muito silencioso e quieto enquanto durmo, e em tudo, pelo menos.

Tomei um banho e fui para o meu quarto de pinturas, quando eu ia começar á pintar, ouvi um barulho de gritos abafados, que eu só pude ouvir porque tinha muito silêncio na minha casa. Olhei para o quarto de Katniss, estava tudo apagado, mas a janela estava aberta, então eu podia ouvir. Peguei um casaco e desci as escadas, indo na direção da casa dela. Não sei porque estou fazendo isso, mas enquanto eu ando para lá, observando como estava ficando mais fria a noite, eu apenas me sentia bem fazendo isso.

Entrei em sua casa, Buttercup me recebeu no sofá, com um miado de quem estava me esperando. Acenei para ele, como se ele fosse humano. Subi as escadas e abri a porta do quarto dela, encontrando-a se debatendo na cama, me aproximei e a abracei, deitando ao seu lado. Logo ela foi se acalmando enquanto eu pedia para que ela entendesse que não era real. Katniss acordou depois de alguns segundos, mas não olhou para mim, apenas abraçando a minha cintura com força.

— Obrigada.- Ela disse, quando sua respiração se acalmou. Eu balancei a cabeça.

— Disponha.- Eu disse, fechando os olhos e sentindo o cansaço me pegar. Eu acabei dormindo, mas acordei quando o sol nasceu, ainda com ela em meus braços.

Me desprendi de seu corpo, escrevi um recado para ela e saí da sua casa, indo para a minha.

Coloquei biscoitos e pães para assar, já que Effie viria, e subi para tomar um banho. Quando desci, os biscoitos estavam quase prontos, e enquanto eles não ficavam, eu peguei um pedaço de torta e fiz um chocolate quente. Tomei café da manhã assistindo a tevê, onde passava algum tipo de plantão sobre as coisas que aconteceram no dia anterior, e eu fiquei surpreso quando vi Gale na tela.

Surpreso não, eu fiquei em choque.

Olhar para ele me causou sentimentos diversos. É claro que eu já o tinha visto antes, e já tinha conversado com ele, mas já fazia tanto tempo desde a última vez, que vê-lo agora me deixou agoniado. Descobri rapidamente que o motivo do meu desconforto era Katniss. Sei que ela o mandou embora, mas também sei que ela sente falta dele, e eu me pergunto o que ela faria se ele voltasse e dissesse que queria recomeçar? Já faz tanto tempo, eu duvido que ela ainda o culpe pela morte de Prim.

Desliguei a tevê, pensar sobre isso me deixava mais nervoso, um nervoso que podia despertar o Peeta cruel á qualquer momento, e eu e Katniss não merecemos ser corrompidos por algo que não vai acontecer. Gale não vai voltar, ele está feliz no Distrito 2, e pelo que eu vi na reportagem, ele subiu para algum tipo de líder dos pacificadores do Distrito 2, ele sempre quis mesmo.

Tirei os biscoitos e pães do forno, quando a porta foi aberta por Delly entrando com Ian. Eles sorriram quando viram os pães e biscoitos. Parti pães para nós três comermos, e coloquei chocolate quente para eles também.

— E então, como vocês estão?- Perguntei. Ian sorriu.

— Eu estou bem, a escola é legal.- Ele disse, animado demais. Eu ri, Delly deu de ombros e revirou os olhos.

— Ele só está tão animado porque a irmã de Gale está dando mole para ele.- Delly disse, balançando a cabeça. Eu engoli em seco, tentando não demonstrar meu desconforto diante do nome de Gale.

— Eu fico feliz por você.- Eu disse, dando uns tapinhas no ombro de Ian, que pareceu constrangido com a situação. Olhei para Delly.- E você?

— O hospital vai inaugurar sábado, e todos os médicos vão ser apresentados.- Ela disse, eu mordi o lábio inferior. É, parece que não vai dar pra chamar ela pra me ajudar com a padaria. Dei de ombros.

— Fico feliz por vocês dois estarem conquistando essas coisas, de coração.- Eu disse. Ian concordou com a cabeça.

— Eu passei na padaria ontem, está ficando muito legal.- Ele disse, sorrindo para mim. Cada dia que passava, ele ficava mais parecido com Delly, eu sorri para ele.

— Não quero que seja parecido com o que era antes, apenas o nome.- Eu dei de ombros. Delly concordou com a cabeça, compreendendo o motivo.

— E Katniss?- Delly perguntou. Ian revirou os olhos, e eu percebi que ele preferia que ela não falasse de Katniss perto de mim, não entendi o porquê, então apenas dei de ombros.

— Ela está bem, melhorando pelo menos.- Eu disse.

— Com a sua ajuda. É muito legal da sua parte ajudar ela, Peeta.- Delly sorriu, não parecia falsidade, mas eu também não queria falar sobre isso com ela.

— Eu sei.- Eu disse, dando de ombros. Ela concordou com a cabeça e Ian deu um pulo da cadeira.

— Vamos, Delly? Hoje é o dia em que vamos ter nossa primeira aula de esportes.- Ian parecia animado. Delly revirou os olhos.

— Tenho que levá-lo, nos vemos mais tarde na padaria. Prometo que vou dar uma passada lá!- Ela disse, se aproximando e dando um beijo na minha bochecha, e depois indo embora. Suspirei. Delly era uma ótima amiga, eu espero que ela tenha apenas confundido aquela história de sentimentos.

(…)


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