I do, i need you. escrita por hollandttinson


Capítulo 10
Motivation.




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NARRAÇÃO: KATNISS EVERDEEN.

Definitivamente aquele tinha sido um grande, grande dia! Ter passado um dia quase todo com Peeta foi realmente transformador. Cada segundo que se passava eu me sentia alguém diferente, uma pessoa nova. Desde o momento em que ele me trouxe pão, se sentou comigo para comer ele, até agora.

Lembro-me das risadas que eu dei com ele, quando ele estava cheio de pó preto no rosto, e depois de farinha e água, que eu joguei nele. Não me lembro de quando foi a última vez que eu tive essa sensação, e eu amo a sensação de sentir a barriga doer de tanto rir, sentir dor pelas razões certas, e ele era o motivo disso. Eu me sentia leve, mesmo depois de lembrar de Prim, mesmo depois da dor que me causou a lembrança dela daquela forma. Mesmo quando eu voltei para casa e chorei como uma criança, encolhida num canto do banheiro enquanto deixava a água do chuveiro me molhar. Mesmo assim, a minha dor era leve, apesar de dilacerante, não era como da primeira vez. Peeta estava me curando.

Tínhamos marcado de nos ver ás três da tarde, mas ás duas eu já estava ansiosa, minhas mãos já estava suando e eu já o queria perto. Era mais de três quando eu comecei á ficar preocupada por sua demora, ele não podia ter desistido, e se sim, por quê? Fui até a sua casa, preparada para o pior, e se ele tivesse uma crise? Subi para o seu quarto e naquele momento eu quem estava prestes á ter uma crise.

Santo Deus, o que ela aquilo? Claro que eu já tinha visto Peeta sem camisa antes, mas nunca de toalha. Só de toalha, nunca, e que imagem maravilhosa! Eu tinha consciência de que meus olhos vagavam pelo seu corpo, eu estava constrangida por não conseguir parar de olhar para aquele corpo, mas o que eu podia fazer? Ele era maravilhoso!

Seu peito tinha cicatrizes claras, nada comparadas com as minhas cicatrizes, nada comparado com o horror que eu era. Ele era forte, sua barriga era bem definida, apesar de ele ter ganhado e perdido peso várias vezes. Os anos de trabalho pesado na padaria foram generosos com ele, lhe dando braços grossos. Ele tinha que fazer alguma coisa, não era normal um homem conseguir manter um corpo tão incrível sem fazer absolutamente nada!

Tentei não pensar sobre a toalha, mas era impossível. Eu conseguia ver o volume por debaixo da toalha, e a minha mente vagou por áreas que eu só vaguei algumas vezes, e a maior parte delas envolvia Peeta, e aconteceram quando ele dormia comigo no trem, ou em alguns sonhos algumas vezes, mas tudo isso eu fiz questão de esquecer. Esqueci tudo, só pra deixar tudo vir agora, como uma torrente! Meu estômago revirou, e eu reconhecia essa sensação, e todas as vezes em que eu fui invadida por ela, era Peeta o alvo. Boa parte de mim queria que aquela toalha caísse.

E quando ele finalmente foi para a minha casa, pra a gente começar o livro, eu não conseguia esquecer aqueles pensamentos, demorou um pouco para que eu me livrasse deles, e de repente eu parecia melhor amiga dele. Como se nada tivesse acontecido, como se os nossos fantasmas não fossem a maior composição química dos dois. Nós parecíamos como na turnê da vitória, a nossa melhor época juntos, na minha opinião... Até agora. Eu fiquei observando ele pintar, eu me sentia boba por olhá-lo assim, mas ele não pareceu se incomodar, e eu não seria a primeira á dar um passo para trás.

Greasy Sae veio trazer o meu jantar e não soube disfarçar a sua alegria por ver Peeta ao meu lado, eu sei que ela já imagina nós dois tendo um futuro final feliz, e apesar de eu repentinamente desejar muito isso, não vai rolar. Não dá pra esquecer o que aconteceu, sei que estamos tentando fazer isso, mas chegará um momento que tudo virá á tona. Hoje é um dia incrível, eu não posso deixar que nada estrague. E não deixei.

Peeta jantou comigo, lavou a minha louça, e depois eu fui buscar biscoitos em sua casa. Quando voltei, ainda fiquei observando ele terminar o trabalho, e fui até a cozinha fazer chocolate quente para ele. Ele me deu um susto chegando de repente, mas meu coração não acelerou com o susto nem um pouco do que palpitou quando ele se aproximou, quando sua mão tocou no meu rosto gentilmente.

Seus olhos cravados no meu, me hipnotizando. Sua mão gentil no meu rosto, me fazendo desejar mais do seu toque, eu queria que ele nunca parasse, eu queria que ele ficasse tocando em mim para sempre, era tão bom. Mas ele parou, e suspirou, e sorriu, e agradeceu. E mesmo que a maior agradecida da noite fosse eu, por tudo o que ele estava me fazendo sentir, tudo o que ele estava me fazendo viver, eu disse:

— Não por isso.- E saímos da cozinha. Bebemos chocolate quente com biscoitos e eu o deixei desenhar uma avox, a avox que eu podia ter salvado uma vez, mas não salvei, e por minha causa ela virou uma escrava na Capital. Contei para ele a sua história e ele pareceu triste enquanto me ajudava á escrever o seu perfil.

Quando acabamos, eu olhei no relógio e eram quase dez da noite, eu percebi que estava cansada, afinal não tinha tirado minha soneca depressiva santa de todo dia. Ele também percebeu e foi logo se levantando para ir embora. Eu queria me chutar por sentir sono.

— Eu volto amanhã de manhã para trazer pães frescos para você, prometo.- Ele disse, juntando todos os papéis e os pinceis, deixando-os em cima da mesa mesmo. Eu fiz uma careta, queria que ele não fosse embora, assim não teria motivos para voltar de manhã, pois já estaria aqui.- Tenha uma boa noite, Katniss.- Ele se levantou e foi na direção da porta, eu fui junto. Ele analisou meu rosto.- Algum problema?

— Você ficou o dia todo querendo ir embora.- Eu disse, não era exatamente isso que estava me incomodando, mas era um ponto á ser observado. Ele fez uma careta tímida.

— Eu não queria que você pensasse isso. Sua companhia é adorável, eu ficaria aqui a vida toda, se pudesse. Mas nós somos humanos e precisamos descansar, é só por isso que eu estou indo embora.- Ele disse, mordendo o lábio inferior. Eu observei maliciosamente a ação de seu dente e seu lábio, sem me preocupar em estar sem observada.

— Pode ficar, se quiser.

— Não posso.- Ele disse rapidamente, e então eu percebi o quanto meu convite era confuso para ele, e para mim, parcialmente. Suspirei, concordando com a cabeça.

— Tem razão. Até amanhã, Peeta.- Eu disse, fechando a porta sem deixar ele se despedir. Subi correndo para o quarto, para o banheiro para ser mais exata, tomei um banho frio e quando acabei, fiquei na janela do meu quarto, espiando para ver se ele iria para o seu quarto se pintura. Acabei dormindo nessa posição, e acordei com um pesadelo. Peeta tinha sido levado mais uma vez para a Capital.

Acordar gritando era comum, mas eu tinha tido um dia tão bom que talvez eu tenha tido certeza de que não ia acontecer dessa vez. Espirei o quarto de pinturas do Peeta, nenhum sinal de vida. Me espreguicei e fui para o meu quarto, ainda estava escuro lá fora. Me deitei na cama mas não consegui voltar á dormir. Vi o dia nascer, e quando o sol finalmente despontou no céu, eu desci e fiquei sentava no sofá, encolhida, esperando por Greasy Sae. Quando ela chegou e me viu, suspirou pesadamente. Eu sabia que não havia nenhum resquício da minha alegria do dia anterior.

Meus olhos deviam estar vermelhos e inchados, pelo choro que eu chorei sem perceber, pois já estou tão acostumada que nem sempre percebo que o faço. Ela foi até a cozinha em silêncio, ouvi o barulho do prato e ouvi ela colocando comida para o gato, que foi rebolando em sua direção, mas não me mexi. Ela voltou e colocou as mãos na cintura, olhando para mim.

— Seu café está na mesa.- Ela disse, eu apenas concordei com a cabeça, não conseguindo encontrar forças para me levantar, eu nem ao menos sabia o porquê de eu estar tão triste, de eu estão mal. Ela se aproximou de mim e se sentou ao meu lado, colocando a mão no meu ombro.- Pesadelos?

— Eu não vou tomar café hoje.- Eu disse, ficando em pé e indo para as escadas. Correndo para o meu quarto e me trancando lá, chorando loucamente.

Eu não sabia responder o motivo de tanta tristeza, mas eu sentia tanta dor. Eu estava tão triste! Meu peito estava literalmente doendo, meu estômago revirava de tristeza. Eu não conseguia encontrar nenhum motivo para parar de chorar, para me levantar da cama, nem mesmo quando Peeta bateu na porta e me pediu para abrir, eu não tive reação. Eu não queria mesmo ver ele, não queria que ele visse o quanto eu era fraca.

Á tarde ele voltou, perguntando se eu não ia querer terminar o livro. Eu não abri a boca. Quando Greasy Sae apareceu de noite para me dar o jantar, eu também não me mexi. Peeta veio alguns minutos depois de ela vir embora, e mesmo eu ouvindo a dor na sua voz, e sentindo-me péssima por isso, não consegui me mexer. Em algum momento todo o meu corpo reclamou de fome, e eu me levantei roboticamente. Desci as escadas me arrastando e procurei pela minha comida.

A minha mesa continha o pão que Peeta trouxe de manhã, meu café da manhã e o meu jantar. Também tinha um bilhete de Peeta, estava escrito “O calor parece estar indo embora, em breve vai ser frio, eu tive que mexer no seu jardim esta tarde, espero que você não tenha se importado. Estou preocupado, Katniss. - Peeta.” Aquelas malditas prímulas, pra começo de conversa nada aconteceria se não fosse por elas!

Levei toda a comida para o meu quarto e me tranquei novamente. Comi o que era o meu jantar, pois estragaria logo, e eu não sei quanto tempo eu vou ficar trancada aqui. Se passaram 3 dias comigo nessa ladainha, e a minha comida durou exatamente três dias, mas não foi a fome que me manteve aqui, um certo dia eu acordei melhor.

Quando amanheceu já estava mais frio, o céu estava nublado, o que não era comum, já que normalmente fazia muito calor aqui. Eu fui até o banheiro e tomei um banho morno, coloquei uma roupa de caça e saí correndo para a floresta. No frio tinha menos animais para caçar, mas eu achei morangos e amoras, o Peeta gostaria disso para fazer alguma receita de alguma coisa. Coloquei tudo dentro da minha sacola quando acabei, e voltei para a vila.

Entrei em casa e tinha um bilhete de Greasy Sae e outro de Peeta. O Greasy Sae era objetivo: “Seu café da manhã está coberto em cima da mesa, volto á noite.” já o de Peeta era mais preocupado, e eu fiz uma careta de desgosto por fazer ele passar por isso. É claro que ele não merecia, mas eu sou um ser muito egoísta. O bilhete dizia o seguinte: “Onde você está? Já não é difícil o suficiente que você esteja trancada no seu quarto sem falar com ninguém, agora você simplesmente some? Droga, Katniss. - Peeta.” eu joguei os dois bilhetes fora, lavei as frutas e coloquei em dois potes pequenos. Me sentei á mesa e comi o café da manhã que Sae me trouxe, tomando a vitamina também, estava com saudade de comer bem. Peguei um pedaço do pão de Peeta, estava maravilhoso como sempre, e guardei o resto para comer no almoço, já que Sae tinha levado toda a comida que eu desperdicei trancada no quarto, embora.

Subi para tomar um banho e trocar de roupa, então desci, coloquei comida para o gato, que não estava em lugar nenhum, e fui até a casa de Peeta. Bati na porta várias vezes e ninguém atendeu, então eu entrei, procurei-o por todo lado mas ele não estava em casa. Bufei, tentei imaginar qualquer lugar onde ele estivesse, mas só me vinha Delly na cabeça, e os pensamentos não eram nada felizes. Peguei um papel qualquer e deixei meu próprio bilhete, saindo da sua casa em seguida. Voltei para casa e me sentei no sofá, começando á assistir tevê.

Perto das duas da tarde minha barriga roncou e eu fui atrás do pão de Peeta, fiz torrada e me sentei no sofá novamente, comendo-as. Esperava que Peeta viesse, como eu pedi no bilhete, mas ele não veio. Quando estava começando á escurecer, eu já tinha desistido dele, e estava suspirando triste, então fui para a cozinha e fiz um suco para mim, esperando que Greasy Sae voltasse logo com o meu jantar, pois eu estava mesmo com fome.

Algumas batidas na porta fizeram meu coração acelerar, e eu fui correndo na direção da porta, suspirando aliviada quando vi Peeta, ele também pareceu aliviado, mas nada me surpreendeu mais do que ele dar alguns passos na minha direção e me abraçar, me abraçar forte. Cada centímetro de Peeta estava grudado no meu corpo, e eu o abracei de volta. Ele foi empurrando o meu corpo, me fazendo andar para trás, para que pudesse fechar a porta e nos dar privacidade para esse abraço. Ele tinha mesmo sentido a minha falta, e eu também tinha sentido a sua.

Eu fechei os olhos quando ele colocou o rosto entre meu ombro e meu pescoço, sua respiração quente batendo ali. Seus braços fortes me faziam ficar segura, e eu de repente estava arrependida de não ter aberto a porta para ele quando estava no quarto, ele saberia o que fazer para que eu saísse daquele estado deplorável.

— Eu estava com saudade.- Ele disse baixinho, fazendo cócegas no meu pescoço. Eu concordei com a cabeça.

— Eu também, desculpa.- Eu disse. Nós não devíamos nada um para o outro, no entanto era como se a gente precisasse falar isso um para o outro, para que as coisas ficasse bem novamente. Eu respirei fundo, sentindo o seu cheiro. Ele se afastou e olhou para mim, seus olhos estavam tristes, mas, ao mesmo tempo, aliviados, eu dei um sorrisinho para ele.- Você viu meu bilhete?

— Me desculpa, eu fiquei o dia todo fora de casa, fui fazer compras com o Haymitch, aquele velho precisa de um monte de coisas; e depois eu voltei e fui arrumar a casa dele com a Delly, a gente teve muito trabalho, eu só vim ver o bilhete agora.- Ele disse, passando a mão no cabelo. Eu crispei os lábios, ele passou o dia com Delly, é claro. Aparentemente é isso que ele faz quando não está comigo: fica com ela. Ela é a segunda opção, mas não deixa de ser uma opção, e isso é irritante.

— Sem problemas.- Eu disse, mas minha voz não disfarçou a minha irritação. Ele olhou para mim confuso, e eu me afastei do seu corpo, indo na direção da minha cozinha, consciente de que ele estava vindo atrás de mim.- Você viu Sae?

— Ah é, a neta dela está gripada, eu acho. Porque?- Ele perguntou, eu fiz uma careta. Isso explica o porquê de eu estar com fome, balancei a cabeça.

— Ela não trouxe o meu jantar e eu estou com fome.- Eu disse, cruzando os braços, pensando no que eu podia fazer agora. É claro que eu podia arranjar alguma coisa para fazer, mas eu não queria comer comida ruim, e eu não sou a melhor cozinheira do mundo. Peeta estalou a língua, como quem tem uma ideia. Olhei para ele.

— Janta comigo, ué.- Ele disse, sorrindo. Parece que ele não estava mais triste, mas eu ainda estava irritada. Neguei rapidamente com a cabeça.

— Não.

— Porque não?- Ele perguntou rapidamente, parecendo irritado pela minha recusa. Eu bufei.

— Você devia jantar com Delly.- Eu disse, pegando a jarra de suco recém-feito e colocando na geladeira. Indo até o lavador de louça e colocando o liquidificador para lavar.

— E por que eu faria isso?

— Vocês não fazem isso todos os dias?- Eu virei para ele. Não queria que ele soubesse que eu o espionava, mas ele realmente fazia. Ele deu de ombros.

— Isso foi antes de eu dizer á ela que todas as noites eu ia estar ocupado na sua casa, fazendo o seu livro de recordações. Aliás, eu já adiantei bastante coisa pra você.- Ele deu um sorriso para mim, eu crispei os lábios novamente. Ele tinha deixado de jantar com ela para ficar comigo? Isso era... Bem, isso era incrível. Eu estava feliz.

— Você fez o livro sozinho?- Eu perguntei, não estava irritada, mas queria mantê-lo falando. Ele mordeu o lábio inferior, passando a mão no cabelo, nervoso.

— Eu precisava me manter ocupado para não enlouquecer pensando em você lá em cima. Foram 3 dias bem difíceis... mas você vem jantar comigo ou não?- Ele mudou de assunto rapidamente. Eu sorri.

— Agora.- Eu disse, seus olhos brilharam mas ele disfarçou rapidamente, virando-se e indo na direção da porta, para sair. Eu fui atrás, fechando a porta sem trancar, pois eu realmente não me preocupava com esse tipo de coisa. Ninguém invadiria a minha casa, e mesmo que o fizesse, eu não me importava. Quando chegamos em sua casa tinham caixas enormes na sala, eu estreitei os olhos e ele fez uma careta.

— Estou reerguendo a padaria, eu ainda não abri as caixas, mas deve ser alguma coisa envolvendo isso. É horrível ter isso no meio da minha sala, detesto toda a desorganização que causou, mas amanhã um rapaz vem aqui para levar para onde está sendo construído.- Ele explicou, dando de ombros e indo na direção da cozinha, mais uma vez eu fui atrás. Me sentei em uma cadeira no balcão e observei ele “caçar”.

— Em três dias você já conseguiu bastante coisa.- Era um elogio, ele virou-se para mim, segurava uma travessa de macarrão, e na outra mão um jarro de suco de alguma coisa. Eu observei os morangos e amoras que ele não tinha tocado, depois olhei para ele novamente.

— Eu estou tendo ajuda, tenho certeza de que pessoas normais não conseguem reconstruir as coisas com tanta facilidade quanto eu. Mas eu pedi á Effie que me arranjasse, então...- Ele deu de ombros, eu concordei com a cabeça. Ele colocou a travessa no micro-ondas, e enquanto pegava os copos, de costas para mim, continuou:- Eu consegui alguns pedreiros daqui mesmo, eles parecem estar ansiosos para começar o trabalho, e eu estou ansioso para colocar logo aquele lugar de pé.

— Acha que vai demorar quanto tempo?- Perguntei, mordendo o lábio inferior. Se Peeta fosse reerguer a padaria ele passaria a maior parte do tempo lá, em que instante eu o veria? Ele olhou para mim e eu tentei disfarçar meus pensamentos olhando para os morangos. Ele foi até eles e pegou-os, indo até a pia para lavá-los, respondendo de costas para mim mais uma vez.

— Á dois dias começaram á limpar a área por lá... Aliás, você sabia que tem um mercado aqui no Distrito? Não é como o Prego, é mais limpo e tudo mais, mas eu achei um máximo.- Ele deu de ombros, eu estreitei os olhos, acho que Greasy Sae tinha me falado algo sobre isso.

— A Greasy Sae não trabalha lá?- Perguntei. O microoondas fez barulho e ele foi até lá.

— A neta dela, na verdade. Elas são donas de uma lanchonete, os pedreiros vão lá para comer o dia todo, Haymitch e eu comemos lá hoje.- Ele disse, trazendo a travessa para o balcão e depois voltando para os armários.

— Então você mandou limparem os escombros da padaria?- Eu voltei ao assunto, ele concordou com a cabeça, voltando para mim com dois pratos e talheres, e voltando novamente para o armário.

— Sim, tem uma boa parte que já está limpa, encontraram bastante coisa por lá.- Ele voltou para o balcão de cabeça baixa, e eu percebi que o entristecia falar sobre isso. Mordi o lábio inferior, olhando ao redor, procurando pelas coisas encontradas, mais por impulso.- Não estão aqui. Eu os mandei deixarem na casa de Delly.

— Na casa de Delly? Porque?- A minha voz saiu mais alta e indignada do que eu esperava, ele ergueu uma sobrancelha, eu suspirei, acalmando minha voz.- Quero dizer, são coisas da sua família, porque você mandaria para a casa de Delly?

— Porque é mais perto da padaria. Não sei se eu quero aquelas lembranças perto de mim mesmo.- Ele deu de ombros, começando á servir os nossos pratos. Eu concordei com a cabeça, aquela desculpa não me desceu, mas se ele não queria me contar, eu não podia obrigar. Além disso, a casa de Delly é perto da padaria? Então quer dizer que eles vão se ver sempre? Não gostei disso.

— O que você acrescentou ao livro?- Depois de uns minutos nós dois ficamos num silêncio insuportável, então eu decidi voltar á qualquer tipo de conversa, ou pelo menos tentar. Ele sorriu para mim.

— Seu perfil.- Ele disse, dando de ombros. Eu o olhei confusa.

— Meu perfil?- Eu ergui uma sobrancelha, ele pareceu constrangido e depois deu de ombros.

— Termine de comer e eu explico.- Ele disse, e nós dois ficamos em silêncio novamente, mas dessa vez não estávamos constrangidos por ele. Quando eu acabei de comer, nós dois lavamos a louça juntos, em silêncio.

— O livro?- Eu o lembrei quando o vi indo para a sala. Ele riu.

— Eu não tinha esquecido, Katniss.- Ele disse e eu fui atrás dele até a sala. Fiquei sentada no sofá e o esperei procurar o livro em algum lugar, fiquei um pouco incomodada por ele ter trazido para cá, mas fiquei na minha. Ele se sentou ao meu lado no sofá, perto o suficiente para que nossos joelhos se tocassem, eu tentei ignorar isso, mas estava completamente consciente do quanto ele estava próximo de mim.- Espero que você goste.

— Eu vou.- Eu disse, apesar de ele não parecer receoso ou preocupado, mas eu conheço o Peeta, ele não demonstraria. Pelo menos não o Peeta que eu costumava conhecer.

Peguei o livro e coloquei sobre as pernas, respirei fundo fazendo drama antes de abrir, a primeira página era eu, uma pintura minha. Na verdade era um conjunto de pinturas, e eu estava de boca aberta. Peeta era fantástico, em todas as formas! Vi-me no primeiro dia de aula, e parecia como me olhar no espelho á anos atrás. Vi uma pintura minha deitada no chão, quando eu estava mendigando pelo seu pão, quando ele salvou a minha vida. Vi uma pintura minha em cima do palco da colheita, quando eu me virei para apertar a sua mão porque Effie me mandou, e eu nunca tinha me visto desse ângulo antes, mas ele sim.

Basicamente, Peeta tinha me pintado em várias formas diferentes, em momentos memoráveis para a maior parte do mundo, e em alguns, apenas para ele. Como a pintura em que estamos no telhado do prédio dos tributos na Capital, ninguém tinha acesso aquilo, mas ele tinha, porque ele lembrou daquele momento. Aquele pequeno momento sem muita importância tinha sido gravado por ele.

— E então?- Eu já tinha me esquecido de que eu tinha companhia, completamente imersa nos meus pensamentos que declaravam amor por Peeta Mellark. Olhei para ele, talvez eu estivesse com os olhos marejados, a minha garganta estava travada, eu não ficaria surpresa se eu chorasse agora. Quando foi a última vez que alguém realmente demonstrou amor por mim? A última vez em que eu tive certeza de que valia á pena continuar?

— Obrigada Peeta.- Eu disse, a minha voz saiu rouca, ele sorriu para mim, seus olhos estavam brilhando.- Você é o artista mais incrível do mundo.

— A sua crítica é bastante importante para mim.- Ele disse, suspirando aliviado, eu percebi que tinha realmente tirado um peso das suas costas, mas na realidade a pessoa mais leve que tinha aqui era eu. Eu quem estava completamente feliz. Fechei o livro e o abracei, fechando os olhos e respirando fundo. Não importa que ninguém nunca vá ver esse livro, eu sei que ele vai mudar tudo entre mim e o Peeta, de uma forma ou de outra.


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Notas finais do capítulo

O capítulo foi grande, e teve momentos tensos, sim! Eu queria que vocês se lembrassem de que Peeta e Katniss ainda tem fantasmas. Eles ainda são aterrorizados pelo que se passou, e ás vezes vocês esquecem disso, e eu me sinto no dever de lembrar. Espero que vocês tenham gostado do capítulo, porque eu gostei muito de escrever. E se preparem para o próximo, porque está um amor!