Fiquei olhando pro nada por um tempo, sem saber exatamente o que fazer. Até que Angie entra no meu quarto.

– Vilu, vai logo senão vai se atrasar.

– Não vai ter mais nada.

– Não vai ter mais o que?

– O León teve que cancelar, ele tem um compromisso.

– Sério Vilu?

– Sério.

– Bom, e o que você vai fazer?

– Acho que vou estudar. – Eu disse olhando meus cadernos ainda abertos em cima da escrivaninha.

– Então tá bom. – Ela disse fechando a porta.

Não posso dizer que não fiquei meio chateada, mas não tinha nada a fazer. Apenas me sentei e revisei minha tarefa de casa feita ás pressas, que estava cheia de erros, claro. Depois revisei a matéria do dia, como sempre. Ao terminar tudo, fechei meus livros e comecei a pensar.

No dia em que o León esqueceu o celular na minha casa, ele disse que iria em um compromisso. Quando eu e Francesca fomos entrega-lo, um homem estranho ligou perguntando onde ele estava, com um tom de urgência. Será que esse cara fazia parte dos “compromissos” do León? Por que esses compromissos são diários? Será que é o mesmo compromisso todos os dias, ou será que cada um é uma coisa diferente?

Fui me fazendo um milhão de perguntas que eu não saberia responder, até que Angie mais uma vez me tira do transe.

– Vilu, a janta está pronta. – Ela disse abrindo devagar a porta do quarto. Olhei pro relógio e percebi como o tempo passou rápido.

Desci com ela e não falei muita coisa durante a janta. Eu me sentia cansada e tudo que eu queria era ir para a cama dormir. Terminei de jantar e fui para o meu quarto, vi um pouco de TV e dormi sem dificuldade.

No dia seguinte, no colégio, encontrei a Camila na porta conversando com algumas meninas. Quando ela me viu, foi até mim:

– Vilu, o León veio com você?

– Não, por quê?

– Porque ele ainda não chegou e ele sempre chega cedo, então pensamos que ele estava vindo com você.

– Não, mas não está.

– Que esquisito hein. Bom, talvez ele tenha dormido demais e perdido a hora, não sei.

Eu e Camila ficamos conversando por mais um tempo, até que o sinal tocou e tivemos que ir para a sala de aula. Sentei na minha última carteira e fiquei olhando pra porta, vendo se o León entraria ou não. O professor chegou na sala e nada do León aparecer. Fiquei preocupada, mas então tive que me concentrar na aula.

A próxima aula seria de álgebra. O professor entrou na sala e rapidamente distribuiu uma folha para nós.

– Podem começar classe. Essa é uma prova surpresa. – Ele disse e logo se sentou, observando todos para ver se haveria alguma sinal de cola.

Prova de álgebra. O León faltou, ou seja vai ficar com zero! E ele não pode repetir de jeito nenhum, toda vez que fala nessa hipótese deixa bem claro isso. Fiz a prova rápido, para mim não estava tão difícil. Quando o professor se aproximou da minha carteira para pegar a prova, eu resolvi perguntar:

– Professor, se alguém falta em uma prova surpresa, o que acontece?

– Dependendo do que aconteceu eu posso deixa-la fazer em um outro dia.

– Dependendo do que?

– Se o aluno faltou porque perdeu a hora logicamente ele tira zero, agora se ele está no médico ou coisas desse tipo eu posso deixar que ele faça a prova.

– Ok, obrigado. – Eu disse.

Aí eu já nem sabia para o que torcer. Se ele estivesse no médico, é por que alguma coisa aconteceu com ele e isso me deixava meio nervosa. Mas se não fosse isso, ele tiraria zero e ele (e eu) teria que ralar muito pra poder recuperar a nota. Bom, me resta esperar.

Depois das aulas, quando cheguei em casa, antes mesmo de almoçar eu liguei pra ele. O telefone tocou, mas ele não atendeu. Tentei de novo e foi a mesma coisa. Dei uma respirada e tentei pela última vez, nada de novo.

Fiquei mais preocupada ainda. Por que ele não atendia? Eu tinha que contar da prova, perguntar por que ele faltou.

– Vem Vilu, senão a comida vai ficar fria! – Chamou Angie. Fui até a mesa e me sentei, mal comi.

– Vilu, aconteceu alguma coisa?

– O León faltou hoje, justo no dia da prova surpresa.

– É, isso é muito ruim mesmo.

– Mas ele não atende o celular! Não sei o que está acontecendo.

– Calma Vilu, daqui a pouco ele aparece.

– Já sei o que vou fazer.

Depois do almoço liguei para a Francesa.

– Alô Vilu?

– Oi Fran.

– Oi Vilu! Tudo bem.

– Mais ou menos. Você sabe que o León faltou hoje né?

– Sim, estranho né.

– Então, eu liguei pra ele várias vezes agora a pouco e ele não atendeu.

– Sério?

– Sério. Você pode tentar ligar pra ele?

– Posso, claro. Depois eu te aviso.

– Obrigado Fran.

– De nada. Espera um pouco.

Ela desligou e eu me sentei no sofá, sem tirar os olhos do meu celular, a qualquer momento a Francesca ligaria e me contaria as notícias.

Depois de vinte minutos ela ligou novamente, na velocidade da luz atendi.

– E então? Falou com ele? – Perguntei.

– Olha Vilu, eu tô indo pra sua casa. Aguenta aí.

Ela desligou novamente e eu tive que esperar mais quinze minutos ela chegar na minha casa. Se ela tinha que vir na minha casa contar, então o negócio era grave, Eu já estava angustiada. Alguém tocou a campainha e eu logo abri a porta. Francesca entrou e se sentou ao meu lado no sofá.

– Fala Fran.

– Então, na verdade uma enfermeira atendeu.

– Um enfermeira?

– Calma, deixa eu contar. Ela disse que o León está no hospital, que ele estava acordado do lado dela, mas não tinha muitas condições de falar no momento. Ela disse que ele o León não queria que eu contasse nada para “uma tal” de Violetta. Mas você é minha amiga, eu não poderia esconder isso de você. – Ela disse tudo devagar.

– O que isso quer dizer?

– Que ele está no hospital e, pelo jeito está ele está acordado e consciente. Mas eu não sei se foi alguma coisa grave.

– E por que ele não quer que eu saiba?

– Não sei. Mas quando você ligou, o León viu que era você e não deixou a moça atender, mas quando eu liguei ele deixou.

– Mas não faz sentido.

– Você tá pensando em fazer alguma coisa? – Ela perguntou meio preocupada.

– Você sabe o nome do hospital?

– Não, a enfermeira não falou.

– Então vamos ter que descobrir.