Anjo das Trevas escrita por Elvish Song


Capítulo 6
Na mente do Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Primeiro POV Erik , meninas! Só espero ter descrito as coisas à altura do pensamento de um homem tão complexo... Se tiver falhado, me avisem, mas não me odeiem por isso, ok? Reescrevo o cap quantas vezes precisar, até ficar à altura de meu Anjo!
Torcendo para que gostem. Nos vemos nas notas finais.



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POV Erik

Passei o dia na Ópera, tentando organizar meus pensamentos. Ainda pensava em Annika, e na vingança que realizaria contra ela: seria um processo lento e gradual, submetendo-a a mim, apoderando-me de sua alma e esmagando-a, apenas para deixa-la respirar um pouco, antes de dar-lhe outro golpe. O primeiro fora a perda da tão próxima liberdade. Agora, faria com que me servisse, e controlaria cada simples segundo de sua vida, algo que eu já percebera ser por ela abominado. Cortaria suas asas e aniquilaria suas esperanças, até que desistisse de lutar. E quando já houvesse tirado dela o que pudesse, enviaria Gabrielle ao teatro, dizendo a sua irmã que a devolvera ao prostíbulo. Só então, quando a deixasse destruída de dor, minha vingança estaria completa.

Gabrielle, contudo, não deveria sofrer mal algum. Isso incluía não deixar que soubesse de meus planos, quando a trouxesse para a Ópera; o melhor que poderia fazer, portanto, seria ir acostumando a garota aos poucos com o lugar, no futuro próximo. Inventaria pequenos trabalhos para ela, fazendo com que criasse vínculos e amizades no lugar, de modo que a menina de nada suspeitasse, quando a fizesse ficar no teatro por alguns dias. Não seria muito tempo, de fato: apenas alguns dias, até que a alma de Annika estivesse totalmente quebrada. Quando a mulher me pertencesse completamente, sem qualquer força para lutar ou se rebelar, então eu lhe devolveria Gabrielle.

Satisfeito com os planos que fazia, deixei uma carta para os senhores Andres e Firmin, parabenizando-os pela última estreia na Ópera, e exigindo que meu camarote fosse preparado para mim, na próxima apresentação. Não entendia por que, mas a verdade é que sentia-me revigorado, arrancado de minha letargia. Os dias passados à procura de Annika, e o desafio que ela me apresentava, eram instigantes demais, e agitavam minha alma perturbada como há muito não acontecia.

Lembrando-me de Annika, foi impossível não pensar em sua beleza: lembrei-me de seus cabelos e olhos, do modo como me enfrentara, apesar de atemorizada – sempre mantendo em pé aquele nariz arrebitado de moça orgulhosa – e, também, de como lutara contra mim, de nossos corpos tão próximos... Uma lembrança muito perturbadora, que me causara uma noite agitada. O que havia nessa mulher, para que eu a odiasse tanto e, ao mesmo tempo, me sentisse tão fascinado? Queria mergulhar em sua mente, descobrir os segredos de sua alma, expô-la a mim como as páginas de um livro! Mas este seria um processo lento e gradual.

Meneei a cabeça, livrando-me dos pensamentos acerca de Annika, enquanto usava uma passagem para descer até a sala de estar de Madame Giry. Àquela hora do dia, no intervalo entre as aulas da jovens bailarinas, ela costumava ler na companhia da filha, ou programar as próximas aulas, de modo que era fácil encontra-la.

De fato, encontrei minha amiga e a jovem Meg entretidas com um livro cada uma; quando saí da passagem escondida na parede, ouvi uma dupla exclamação de surpresa. Antoinette se levantou e veio então ao meu encontro:

– Erik! – senti seu beijo em meu rosto (Ann era a única pessoa a quem eu permitia tal coisa!) – o que está fazendo aqui, homem?!

– Apenas acertando minhas acomodações para a apresentação de amanhã, Madame. – respondi, o que a deixou ainda mais atônita.

– O quê?! E desde quando você voltou a assistir às apresentações?

– Pretendo voltar a fazê-lo, agora. Esta ópera ainda precisa de um diretor artístico decente, afinal. Seus administradores são sofríveis.

– mas eu pensei que... Quer dizer...

– Pensou que, sem Christine, eu não consigo mais compor? – fui incisivo. Aquela energia toda que me preenchia fazia-me sem paciência para sutilezas – e não consigo, mesmo. Mas meu senso crítico não foi afetado. De qualquer forma, rastejar nas sombras não vai fazer meu Anjo voltar para mim. E se tenho de continuar a viver esta vida miserável, então devo dar utilidade a ela, antes que enlouqueça de tédio.

Meg se levantou da poltrona onde estava, vestida com as roupas de ensaio do balé, e vi um sorriso travesso em seu rosto de menina-mulher, quando perguntou:

– Quem é você, e o que fez com Erik Destler? – marota, aproximou-se de nós – Não consigo reconhece-lo, Fantasma. Desaparece por quase três semanas e, quando volta, está mudado! O que lhe aconteceu?

Forcei um sorriso para a garota; nem eu mesmo sabia a resposta, então, apenas me calei. Afinal, lembrei-me do havia ido fazer, e me dirigi a Meg:

– A propósito, senhorita Giry, não me esqueci de seu aniversário próximo. – dezessete anos... a mesma idade que Christine tinha ao me abandonar. Se este pensamento não doeu menos do que das outras vezes, pelo menos a dor não aumentara, o que era uma boa coisa – com a permissão de sua mãe, gostaria de lhe entregar o meu presente.

A menina corou – ainda era apenas uma garotinha, em sua alma, embora já estivesse em idade de se casar – e agradeceu, tímida. Estendi-lhe uma carta, e expliquei:

– Entregue-a ao rapaz dos estábulos do teatro. Ele saberá do que se trata. – ela pegou a carta, agradecendo novamente. Ainda não sabia do que se tratava, mas eu suspeitava que, quando visse a égua alazã que lhe comprara, todo o teatro não tardaria a saber, devido aos gritos de alegria. Era sempre assim, com Meg, quando algo a alegrava.

Saudei Madame Giry com um curvar de cabeça, que ela retribuiu, antes de deixar a sala de visitas de minha amiga. Amiga... Antoinette era a única pessoa a quem eu poderia chamar assim. Talvez pela primeira vez na vida, eu percebia o quanto devia àquela mulher. Jamais havia pensado realmente no caso, e aquela percepção agora me atingia, enquanto seguia pelos corredores secretos da Ópera, indo em direção a um lugar que não visitava há quatro anos: a Casa do Lago.

À medida que fazia o caminho para os subterrâneos, contudo, as memórias me assaltaram sem piedade: lembranças de Christine, dos dias em que eu a levara comigo para aqueles subterrâneos, de tudo o que havíamos vivido... E de como ela me traíra. De como me expusera diante de toda Paris, humilhando-me sem piedade... De como me beijara por piedade, naquela noite distante... Lembranças insuportáveis, que quase fizeram parar meu coração – eu ainda tinha um?!

Em agonia, escorreguei para o chão, num pranto silencioso que jamais permitiria a alguém ver; era a minha dor secreta, o inferno que carregava dentro de mim, meu castigo pelos crimes que cometera, sendo que nascer fora o primeiro deles. Ah, Christine! Minha doce Christine! Como eu poderia voltar a nosso refúgio, sabendo que você não estaria lá, nunca mais? Como voltar ao lugar que fora palco de minhas criações, todas inspiradas por sua voz? Como?! As lágrimas escorriam por meu rosto em meio á escuridão – minha companheira de longa data, que tantas vezes assistira, cúmplice silenciosa, aos meus tormentos! Não... Eu não conseguiria retornar à Casa do Lago, provavelmente nunca mais. Aquele fora o templo da Música da Escuridão, e esta agora estava morta. Melhor que ficasse onde estava, longe de meus olhos.

Como a gárgula que me sentia, escondi-me nas profundezas, um fantasma esquecido nas masmorras daquela Ópera, até sentir que já devia ser noite. Apenas uma sombra, esgueirei-me pelas passagens até o ar livre, contemplando as estrelas acima: era a única coisa que eu amava no céu, a única luz que me agradava, delicada e poética como... Como minha amada musa, perdida para todo o sempre.

Meneei a cabeça, tentando esquecer, e segui para os estábulos. A fim de me distrair, voltei os pensamentos a Annika: a vingança me aguardava. Aquele pensamento aliviou a dor, e me fez sorrir com uma sensação de crueldade; hora de ir para casa.

POV Narrador

– Annika! – o Fantasma adentrou a casa muito quieta, esperando que a jovem houvesse fugido. Contudo, uma voz respondeu da escuridão:

– Estou aqui, patrão. – a luz fraca de uma vela surgiu no corredor, iluminando a moça, que se banhara e estava usando um vestido cor de creme, com renda branca na gola alta e nas mangas; por um segundo, Erik ficou desnorteado com a beleza dela, e quase se esqueceu do que ia dizer. Afinal se recobrou, e perguntou à mulher:

– Por que a escuridão na casa?

– Gabrielle está dormindo, senhor. E eu gosto do escuro. – respondeu a moça, dando de ombros antes de acender as lamparinas a gás, do modo como Madame Tremain lhe ensinara, usando o acendedor para não sujar as mãos. Quando a sala já se encontrava iluminada, ela se voltou para o Fantasma, que a observava com grande interesse, o que muito incomodou a jovem. Odiava ser alvo da admiração dos homens, embora sua aparência o tornasse inevitável. Chegara a tentar se mutilar para fugir a tal assédio, mas isso resultara em novo espancamento, e coibira novas tentativas.

– Quer jantar, messieur Destler? – perguntou a jovem, seguindo para a cozinha. Já aprendera o funcionamento da casa, e estava determinada a desempenhar o melhor possível o papel de “serva obediente”, pelo tempo que isso lhe fosse conveniente. O Fantasma a seguiu, imaginando o que haveria na cabeça daquela mulher que, no dia anterior, parecera tão furiosa e determinada e, agora, mostrava-se cordata e resignada. O mundo havia enlouquecido, ou havia sido ele mesmo quem perdera a sanidade?

Ela lhe serviu o jantar, silenciosa, antes que o homem a dispensasse com um gesto. Annika ia deixando a sala de jantar quando, com o ar mais puro e inocente que poderia ter, falou:

– Patrão, eu gostaria de perguntar-lhe algo...

– Estava bom demais para continuar por muito tempo – resmungou o músico – pergunte de uma vez, e deixe-me em paz!

– No segundo quarto há um porta-joias com um nome gravado. Quem é Christine?

Ela podia esperar tudo, menos a velocidade com que o Fantasma se ergueu e a alcançou, segurando-lhe o rosto na mão. A mulher era alta, mas Erik o era ainda mais, e agigantava-se diante da moça, mais de um palmo acima dela enquanto apertava-lhe o rosto com dedos frios e duros como aço; seus olhos dourados tinham um perigoso brilho alaranjado, e a mão livre torceu o braço da criada para trás, imobilizando-a enquanto ele praticamente rosnava:

– Nunca mais repita esse nome. Você não é digna sequer de pensar nesta mulher, quanto mais de pronunciar seu nome com sua boca imunda. Se eu a ouvir mencionar minha Christine outra vez, vou me esquecer de que não agrido mulheres, fui claro?

Assustada com o rompante de fúria de seu amo, que o fizera passar de um elegante cavalheiro a um assassino frio em menos de um segundo, a mulher não teve tempo de se impedir, antes de tatear à procura de qualquer objeto que pudesse usar para se livrar do aperto forte em seu rosto e pulso. Sua mão encontrou um castiçal de ferro sobre o aparador, com o qual tentou golpear seu carcereiro. Messieur Destler, porém, era veloz, e a mão no rosto da moça agarrou seu punho no ar, impedindo-a:

– Então, a leoa finalmente mostra as garras – sorriu o Fantasma, parecendo morbidamente divertido com a luta de sua serva – sabia que não ia se controlar por muito tempo, senhorita. – ele lhe tomou o castiçal com a facilidade de quem tiraria algo da mão de uma criança, e segurou-lhe ambos os braços às costas, apenas contendo-lhe os movimentos, sem machuca-la. Por algum motivo, era muito bom sentir um corpo tão próximo ao seu, ainda que fosse o de uma reles meretriz; tratava-se de algo inédito na vida do Fantasma, na verdade, e a sensação não era desagradável, em absoluto. – Melhor parar de se debater, ou vai acabar se machucando. Só vou soltá-la quando se aquietar.

Furiosa e odiando aquela proximidade com o mascarado – a vida lhe ensinara a abominar o toque de outras pessoas – Annika tomou a segunda decisão errada da noite: com toda a sua força, pisou no pé do Fantasma, que a soltou com o susto e a dor. Ia corre para o quarto e se trancar, quando se lembrou das ameaças dele; melhor seria ficar e enfrentar a fúria do homem, pois, se fugisse, poderia estar arriscando sua irmãzinha. Todavia, enquanto ele pudesse descontar sua raiva na moça mais velha, não se lembraria da criança.

Para a completa surpresa dela, porém, o homem meneou a cabeça e soltou uma gargalhada. Mas do que ele estava rindo, afinal?! Agora há pouco ameaçava agredi-la, e agora ria como se houvesse visto algo muito engraçado!

– Já percebi que vamos nos dar muito bem, senhorita. – disse ele, enfim, aproximando-se outra vez sem tocá-la – Dobrá-la à minha dominação será um prazer à parte. Vou podar-lhe as asas, cotovia, acredite. – e acariciando-lhe o rosto com dois dedos – agora, vá para seu quarto, e não me perturbe mais. Sua rebeldia me diverte, mas também me irrita. Não abuse da sorte que tem.

Completamente surpresa e sem compreender as ações de seu amo, Annika achou por bem não desobedece-lo: já havia tentado demais a própria sorte, por uma noite! Mas que droga! Pretendia manter o papel de serva submissa, mas o homem enlouquecera à simples menção do nome Christine! E uma vez que se vira ameaçada, reagir fora seu instinto natural, que nem mesmo nove anos de espancamentos haviam conseguido destruir. Malditas mãos mais rápidas que a mente!

Trancando-se no quarto, ela só não gritou de raiva porque Gabrielle estava profundamente adormecida; sua alma, contudo, bradava todos os xingamentos que conhecia, e todos dirigidos a seu patrão. Chaveou a porta – embora duvidasse que, com a força que tinha, messieur Destler tivesse algum problema em arrombar a porta, se desejasse – e trocou o vestido por uma camisola, indo se deitar junto a sua irmã, que apenas gemeu e mudou de lado. Estranho o modo como, no sono, a pequena recuperava a voz... Talvez pudesse fazê-la voltar a falar, agora que não conviviam mais com os abusos e medos do prostíbulo; agora, apenas Annika sabia que tinham algo a recear, e faria o impossível para que a criança nunca viesse a saber do que realmente se passava. Mas para isso, teria de aprender a não retrucar, a não se defender, a não protestar, mesmo que isso fosse totalmente contra sua natureza. Por Gabrielle, porém, ela se obrigaria a fazê-lo.

Sentindo o sono pesar em suas pálpebras, ela adormeceu imaginando planos para matar seu patrão; contudo, nenhum deles pareceu bom o suficiente, ante a perspicácia e os ágeis reflexos do amo. Teria de pensar com muito cuidado, e isso implicaria em longos dias de submissão àquele monstro. Que fosse, então! Por Gabrielle, valeria à pena.


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Notas finais do capítulo

Sério, eu nem sei se tenho mais pena do Erik ou da Annika: ele vive preso em seus tormentos, e a dor que a menção a Christine deve ter causado foi imensa! Ela, por outro lado, deve estar muito assustada e sem entender nem um pouco o que, enfim, seu novo amo quer! Afinal, que tipo de homem ameaça alguém tão friamente, e no instante seguinte está rindo por sua prisioneira o ter machucado, mesmo que de leve?
Torço para que tenha ficado a contento, e peço que deixem suas reviews, ok?
Beijos enormes, flores!

PS - #euamoMadameGiry!