Anjo das Trevas escrita por Elvish Song


Capítulo 33
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo! Não sei se vão precisar de lencinhos, mas fiquem com um à mão, por via das dúvidas, ok?
Um milhão de agradecimentos por todas as reviews divíssimas que vocês deixam! Nossa, nunca tive uma fic TANTOS comentários! Vocês são INCRÍVEIS!!!!!!! AMO VOCÊS!



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Annika embalou Alain, que se recusava a dormir, tentando ver tudo o que se passava ao redor. Desistindo de fazer o pequeno adormecer, sentou-o em sua cintura, abraçando-o firmemente, e deixou que se divertisse com as novas visões. Depois de terem viajado de trem até a Normandia, de charrete até a vila onde Erik nascera, e se hospedado por uma noite numa estalagem – onde o Fantasma tivera a presença de espírito de apresentar sua acompanhante como Annika Destler, sua esposa, para poderem dormir no mesmo quarto – era de se esperar que o bebê estivesse cansado, mas parecia ser o mais empolgado dos três!

— Você não se cansa nunca, baixinho? – perguntou o Fantasma, pegando-o do colo da Annika para que sua companheira pudesse ter algum sossego. Ela já viera cuidando do pequeno por toda a viagem de trem! – ande, dê um pouco de sossego a sua mãe. – ele lançou um sorriso à futura esposa, que lhe devolveu o gesto e beijou-o discretamente nos lábios, sussurrando:

— Eu te amo.

— Eu também amo você, minha Annika.

Deixando a modesta estalagem, haviam seguido até as ruínas do lugar que um dia fora a casa onde Erik nascera. Nada mais havia para ver, além de alguns poucos pilares de pedra onde houvera as fundações do prédio. De acordo com os locais, a mulher que ali vivera enlouquecera totalmente, e pusera fogo na própria casa, trancando-se lá dentro. Erik tentou não demonstrar sentimento algum, mas Annika pôde ver que, em seu íntimo, havia pesar. Por pior mãe que a mulher houvesse sido, ainda fora a mãe dele, e o Fantasma não era tão mau quanto tentava aparentar. Ela pensara em consolá-lo, mas sabia que fazê-lo faria Erik sentir-se fraco e vulnerável, irritando-o. Havia algo nos homens que fazia com que qualquer demonstração de fragilidade aviltasse profundamente sua masculinidade e, embora não compreendesse, Annika respeitava isso, assim como seu amado respeitava suas próprias manias e traumas.

E agora, restava apenas um lugar para ir. Seguiram juntos para a velha igreja de pedras, entrando pelo portãozinho lateral que, um dia, costumara ficar trancado, mas que hoje fora corroído demais pela ferrugem para tanto. Os olhos da músico enchiam-se de lembranças, reconhecendo os lugares os passara sua infância, e ele realmente não parecia muito bem. Entraram pela sacristia, indo para os fundos da igreja e, vendo como seu amado parecia abalado, Annika falou:

— Fique aqui, com Alain. Não vou demorar. – um beijo rápido impediu Erik de falar o que fosse, enquanto a moça desaparecia rapidamente pela porta que conduzia à nave da construção.

Não era uma igreja grande, de fato, e Annika pôde imaginar – com um sorriso levemente triste – um pequeno Erik Destler brincando por entre aquelas pedras, escalando as frias colunas e capitéis, perdendo-se entre as fracas luzes de velas que clareavam o ambiente. Direta, seguiu até a única pessoa naquele lugar: uma senhora que acabara de se levantar, e estivera rezando até o momento:

— Boa tarde, senhora. Poderia, por favor, dizer-me onde está o padre Erik Destler?

— Não sei se padre ainda ouvirá confissões a essa hora, menina – informou a outra, uma senhora de idade com mais anos do que Annie podia contar.

— Eu só preciso falar com ele. É importante.

— Tente o confessionário. Se não estiver lá, está na sacristia. Tenha um bom dia, criança.

— Obrigada, senhora. – um pouco perdida dentro da igreja, uma vez que há muito não visitava uma (sua mãe nunca fora o tipo religioso), acabou encontrando o confessionário. Ainda havia alguém dentro dele, embora não pudesse ver o rosto, de modo que perguntou – o senhor é o padre Erik Destler?

— Estou encerrando as confissões por hoje, filha – disse uma voz calma e gentil – mas posso ouvi-la, se for algo urgente.

— Creia-me, padre, é urgente. Mas não se trata de uma confissão... Quero dizer – de repente, as palavras lhe faltaram totalmente – até se trata de uma confissão, mas não minha. O meu... Esposo... Precisa falar ao senhor.

— Posso ouvi-lo, se ele vier aqui. – a voz do homem parecia confusa, e não era para menos!

— Padre, poderia, por favor, vir comigo? Meu companheiro não gosta de ser visto e, se for possível, gostaria de falar com o senhor a sós!

A porta do confessionário se abriu, e de lá saiu um senhor aparentando cerca de setenta anos, o rosto enrugado e gentil, cabelos totalmente brancos bastante ralos no topo da cabeça, olhos castanhos e serenos. Dirigindo-se a Annika, declarou:

— Menina, eu tenho meus afazeres, nesta igreja. Não posso me demorar... – suas palavras, porém, foram interrompidas por um som bastante característico: um órgão sendo tocado, lento e intenso, carregado de emoções. Uma música não muito complexa, talvez com algo infantil, mas linda e tocante; poderia mesmo ser uma releitura da Ave-Maria de Gounot. Ouvir aquela melodia fez fugir todo o sangue ao rosto do monge, que caminhou até os bancos, de onde podia ver o órgão, ao fundo da nave. Ali, um homem estava sentado no banco do instrumento, tendo um bebê sentado em seu colo, e suas mãos deslizavam pelo teclado com maestria, os olhos fechados enquanto se lembrava de uma música há muito não tocada. Os olhos do ancião marejaram ao encarar o músico e, antes mesmo que este se virasse e mostrasse o rosto mascarado, perguntou à jovem – ele é...?

— Sim. – confirmou Annika – e ele precisa muito falar com o senhor.

Trêmulo, o idoso cruzou toda a nave até chegar ao instrumento; parecia incrédulo, ao mesmo tempo feliz e perplexo, mal crendo no que seus olhos viam. O mascarado ouviu os passos que se aproximavam, e parou de tocar, voltando-se para o homem que dera a ele seu próprio nome. Surpreendeu o Fantasma o modo como padre Erik – do qual se lembrava como um jovem sacerdote alto, de cabelos castanhos e rosto severo – envelhecera, mas não tanto quanto o sorriso que via no rosto do ancião. Com mãos trêmulas, o padre se aproximou do homem moreno e, tomando nas mãos o rosto do moço a quem conhecera como um menino, perguntou:

— Erik? – a música que o homem tocara fora composta por ele próprio, quando não era mais que uma criança de sete anos! E o sacerdote reconheceria tal modo de tocar em qualquer lugar, dentre outros mil!

— Sou eu, padre Destler. – respondeu o músico, erguendo-se com Alain nos braços. Não sabia por onde começar... Ele fora embora com nove anos, e nunca mais falara com aquele homem que, numa fria análise, fora seu verdadeiro pai. O que dizer, depois de tantos anos? Incerto, um tanto envergonhado por não ter procurado antes aquele a quem devia a própria vida, entregou Alain a Annika – Faz muito tempo...

Padre Erik, porém, não parecia estar se importando com o tempo que passara, e lançou os braços ao redor do mascarado, quase em pranto, exclamando:

— Meu menino! – o mascarado primeiro enrijeceu naquele abraço, antes de deixar-se vencer por todas as emoções que reprimira por uma vida: ali estava a primeira pessoa que se importara consigo, aquele que fora seu pai, seu socorro, o motivo pelo qual não fora morto ainda no berço. Retendo as lágrimas que o orgulho não lhe deixava derramar, o Fantasma retribuiu o abraço, envolvendo com força o idoso, que chorava copiosamente – eu pensei que estava morto! Ah, meu Deus! O pequeno Erik! – ele olhou para cima, sorrindo por entre as lágrimas – Acho que não é mais tão pequeno, assim...

— Ainda sou o garoto que o senhor carregava no colo – disse o Fantasma, e sua voz estava embargada. Por que não voltara ali, antes? Por que nunca viera falar com aquele a quem devia absolutamente tudo? Porque fora egoísta demais, pensando demais no quanto sofrera, remoendo-se em autopiedade, sem pensar no bem que lhe havia sido feito.- Perdoe-me, pai. Perdoe-me por não ter voltado, quando pude. Perdoe-me por ter fugido do passado e, com isso, fugido do senhor. Queria ter voltado antes... Mas não tinha coragem de enfrentar o passado.

Os dois permaneceram um longo tempo abraçados, numa conversa silenciosa, feridos por saudades grandes demais para manifestar com palavras; gratidão, culpa, alegria, amor... Tudo parecia estar contido naquele abraço esmagador entre o homem mais jovem e o ancião.

— Por onde você andou, criança? – perguntou o monge, soltando enfim o músico de seu abraço esmagador. Erik estava alegre, mas havia uma grande sombra em seu rosto; carregava consigo coisas que jamais poderia contar a seu mentor, a seu protetor. Coisas que um homem na idade dele não precisava ouvir; o monge não precisava, aos quase oitenta anos, envergonhar-se dos atos que seu pupilo cometera, nem arrepender-se de ter-lhe salvo a vida.

— É uma longa história... – disse o Fantasma - Andei por muitos lugares, vivi muitas coisas... Cometi muitos erros, mas também recebi um enorme presente. – Erik voltou para junto de Annika, e a abraçou pela cintura – já era hora de voltar, e rever meu pai. – as palavras dele emocionaram outra vez o idoso que, observando Annika e o bebê, perguntou:

— Sua esposa e filho?

— Sim. – foi a vez de Annika se emocionar: Erik já a assumia como sua mulher, ainda que não houvessem se casado formalmente! E ainda assumia o pequeno Alain como sendo seu... Ah, como agradecer àquele homem maravilhoso que era seu noivo? – Queria que os conhecesse.

O senhor de ralos cabelos brancos beijou duas vezes o roto de Annika, antes de pegar no colo o pequeno Alain, que lhe estendia os bracinhos. Estava completamente emocionado: quando Erik partira, culpara-se enormemente por não ter tomado o menino à mãe, por não ter lhe dado um lar verdadeiro, onde pudesse estar a salvo dos espancamentos e sofrimentos... Sentira que, qualquer que fosse o destino do pequeno, a culpa seria sua. E agora, trinta e dois anos depois, quando já não tinha quaisquer esperanças de revê-lo, eis que seu protegido, o filho que não tivera, ressurgia à sua frente, já homem feito! Orgulhoso, bonito, elegante, acompanhado de uma linda mulher e de uma criança absolutamente adorável!

— Deus abençoe aos três – e para Annika – bendita seja, minha santa menina, por dar a este homem o amor que ele merece! Bendita por todos os anjos! – então, voltou-se outra vez para Erik, sem ligar para as mãozinhas de Alain, que brincavam com seu crucifixo - Conte-me por onde andou, meu filho!

*

Erik não contara sua história; pelo menos não inteira. Havia coisas que eram simplesmente desnecessárias, como relatar a um homem idoso o modo como a criança que ele salvara da morte se tornara um assassino, torturador, alguém capaz das piores atrocidades. Também não havia motivos para contar como fora torturado, humilhado e escorraçado tantas vezes... Preferira apenas dizer que passara das mãos dos ciganos às de um preceptor persa, que aprendera o ofício da arquitetura e a arte da música, e retornara a Paris. Contara que passara a vida sozinho, sim, e que fora deixado por Christine; neste ponto, olhara para sua futura esposa e, segurando-lhe a mão, concluíra:

— E nada no mundo poderia ter sido melhor, pois, de outro modo, Annika não teria entrado em minha vida. – ele meneou a cabeça – há muitos detalhes que não quero, nem devo lhe contar, padre. Cometi muitos erros nesta vida, muitos crimes...

— E veio à procura de perdão? – o idoso sorria com um misto de tristeza, felicidade serena e piedade.

— Para o único do qual realmente me arrependo: ter ido embora sem lhe falar nada, meu pai. – respondeu o mascarado – e não ter retornado a este lugar tão logo tive a chance. O senhor merecia mais consideração, por tudo o que fez por mim... Um pai, mesmo que não o seja de sangue, merece mais consideração por parte de seu filho.

— Os erros que tenha cometido já estão perdoados, se deles se arrepende realmente. Deus é clemente, meu filho, e eu seria a última pessoa a julgar seus atos. – era impossível ao ancião dizer como se culpava por ter, de certa forma, abandonado o menino à própria sorte com a mãe enlouquecida – Também eu cometi erros com você, rapaz. Não o protegi como devia ter feito, e só Deus sabe como isso me perseguiu, até hoje. Mas hoje... Hoje você deu paz ao coração deste velho – o ancião fez mãos postas, numa prece de gratidão – hoje eu pude olhar para você, e ver o que se tornou. Não preciso saber dos detalhes de sua vida para saber que, sejam quais forem seus erros, você é um bom homem, meu filho.

Erik ia protestar, mas Annika tomou a palavra:

— Ele realmente o é, padre. – ela pousou a mão sobre a de seu amado, e sorriu para ele - meu companheiro, meu Anjo da Música. Eu não estaria aqui, se não fosse por ele.

O sacerdote sorriu ao ver, com olhos de quem já assistira a muitas uniões e relacionamentos, o modo como aqueles dois se amavam, pois isso estava claro no modo como se olhavam. Curioso, perguntou:

— Há quanto tempo estão casados?

— Ainda não estamos, de fato – explicou Erik – mas pretendo remediar isto o mais breve possível.

— Então, estão vivendo em pecado?! – aquilo ia contra tudo o que o monge ensinara a seu pupilo, na infância deste. Annika, porém, respondeu com a mais alegre das vozes:

— Não importa que nossos nomes não estejam assinados em um papel, ou que uma cerimônia não tenha sido celebrada, padre Erik. Não sou religiosa, mas lembro-me bem que a lei maior pregada por sua igreja é o amor... E se o amor é a lei maior, então nossa união é totalmente legítima, pois mulher alguma poderia amar seu homem mais do que amo meu companheiro. – ela nunca falaria de seus sentimentos daquela forma, não fosse para evitar constrangimentos a Erik. O Fantasma já estava bastante desajeitado e sentindo-se culpado por muitos motivos; não precisava, além de tudo, ser atormentado por alguma culpa católica que houvesse restado de sua primeira infância. Ouvir as palavras dela, porém, fez o Fantasma sentir como seu mil raios o atravessassem de uma só vez; Annika, a sua reservada Annika, dizia aquilo em alto e bom tom, para um estranho ouvir?! Ele só podia estar sonhando!

— Assim como eu amo você – sussurrou ele, de volta para a pianista. Trocaram um olhar que durou apenas um segundo, antes de Alain chamar a atenção do padre, balbuciando algumas palavras, o que fez o idoso sorrir:

— E esta criança encantadora? Seu filho, eu presumo. – o idoso estava curioso e, embora fizesse o possível para se conter, queria saber tudo sobre a vida do menino a quem ensinara, ao qual amara, e o qual perdera por pura estupidez de pensar que o lugar de uma criança era com sua mãe, independente de quem esta fosse.

— Sim. Eu ainda não o assumi legalmente, pois seria muito difícil explicar que eu assumisse o filho de Annika, mas não a tomasse por esposa. Resolveremos este detalhe assim que nos casarmos oficialmente, é claro.

— Mas por que ainda não se casaram, se já têm até um filho, meu garoto! Não foi o que lhe ensinei!

Annika riu, a fim de desfazer a tensão do momento:

— Alain não é nosso filho de sangue, Monsieur. Era filho de uma amiga que veio a falecer e, como a adoção por uma mulher solteira não é permitida, eu precisei... Trapacear um pouco, e registrá-lo como meu filho. – o bebê começou a choramingar, claramente com fome, e a moça se levantou da mesa – se me derem licença, senhores, Alain está com fome. Vou voltar à hospedaria. Foi um prazer conhece-lo, padre Destler.

— O prazer foi todo meu, minha jovem – respondeu o senhor, beijando a mão da moça; ela se despediu de seu amado com um beijo na fronte, e sussurrou:

— Sabe onde estou, se precisar de mim. – e logo em seguida deixou a humilde residência. Sabia que Erik ficaria bem, mas ele precisava conversar a sós com padre Destler. Enquanto ela estivesse ali, eles não poderiam dizer livremente as coisas que deviam resolver entre si.

*

Os dois homens caminharam juntos e em silêncio pelo jardim de roseiras do sacerdote – Erik já quase não se lembrava mais de que ali se iniciara seu apreço por rosas – e cada simples passo relembrava o homem mais jovem de sua infância, dos momentos felizes que tivera naquele mesmo caminho que faziam, num tempo onde ainda não tomara ciência da própria deformidade e, mais tarde, enxotado pelas outras crianças, encontrava ali seu refúgio tranquilo, o lugar onde se sentava com seus livros e partituras, compondo as primeiras músicas que se formavam em sua mente. Sua infância fora ao mesmo tempo um pesadelo e um sonho dourado, dependia apenas do modo como olhava... E fora Annika quem lhe ensinara a encontrar o lado dourado. O lado que só ela podia enxergar, mesmo nas coisas mais horríveis. Como sonhar com contos de fadas, enquanto estava presa no inferno. Pensar em sua amada o fez sorrir, distraído, até que a voz de Padre Destler o chamou de volta à realidade:

— Filho, eu queria lhe pedir desculpas.

— A mim, padre? – perguntou o Fantasma, surpreso – pelo quê?

— Eu vejo a sombra em seus olhos. Pode não ter me contado, mas sei que coisas horríveis lhe aconteceram. Não me importa que você tenha cometido crimes, que tenha feito coisas inomináveis, como posso ver em sua alma que fez – conhecera bem demais o menino, para não conhecer aquele homem, para não reconhecer a culpa nos olhos dele – E sei, também, que se eu houvesse feito o que devia, e tomado você sob meus cuidados em definitivo, nada disso teria acontecido. Todos os seus tormentos, toda a sua dor... Talvez a vida monástica não seja a melhor para um garoto, mas eu teria podido protege-lo da crueldade do mundo. E não haverá um dia em que não me culpe por não tê-lo feito.

Os dois pararam e se fitaram longamente; Erik fitou o céu, um pouco nublado naquele começo de primavera, e então voltou a encarar seu primeiro mentor:

— Em outros tempos, padre, eu o teria culpado. Eu o teria culpado pelas coisas que me aconteceram, e por todos os crimes que cometi; mas não hoje. Hoje, eu não gostaria que minha vida houvesse sido diferente, pois cada passo meu levou-me a Annika.

— Ama mesmo essa jovem.

— Mais do que palavras podem dizer. Lutei contra esse sentimento tanto quanto pude, mas, quando me rendi, ele me tomou com uma força inexplicável. – ele suspirou e acariciou um botão de rosa, pensando nos jardins do sobrado, que sua amada um dia fizera reviver.

— Ela também passou maus bocados. Os olhos não mentem, e os dela carregam muitas dores...

— De nós dois, acho que foi ela quem mais sofreu. Mas, ao contrário de mim, não se deixou contaminar por isso... Ela é... Ela tem uma luz interna, um brilho que não sei explicar. Eu a ouvi dizer, uma vez, que a sombra mais negra é projetada por uma luz muito brilhante... E ela sabe encontrar essa luz. Ela soube encontrar essa luz em mim, quando eu mesmo não sabia que ela existia. – ele sorriu, pensativo – não sou um bom homem, padre. Mas, graças a minha noiva, hoje sei que também não sou um homem totalmente mau. Sou apenas humano, e faço o melhor que posso. Graças a ela, eu encontrei alguma paz com minha consciência. Ou quase...

— Quase? – o monge não compreendeu. Erik falava da mulher com tanto amor, com tanta entrega, que o senhor não compreendia o que podia tirar o sossego do mascarado.

— Eu precisava voltar. Precisava vir aqui, e olhar para o senhor. Precisava lhe agradecer e, também, pedir seu perdão. Precisava dizer-lhe que estou vivo, que estou feliz. Precisava rever meu pai, e saldar a dívida que adquiri ao partir sem nada dizer.

— Não há dívida alguma, garoto. – o idoso abraçou o Fantasma outra vez – e mesmo que tenha cometido crimes, que tenha errado, como afirmou... Tenho orgulho do homem que vejo aqui, diante de mim. Tenho orgulho do que você se tornou, filho, e agradeço o anjo bom que o trouxe de volta aqui. Agora estou em paz. Agora, se Deus me chamar para junto de si, poderei fazê-lo de consciência limpa, pois sei que meu filho está bem. Apenas peço que me prometa uma coisa.

— O que me pedir, padre.

— Seja feliz. – e com divertimento na voz – e pare de enrolar aquela pobre moça. Case-se logo com ela!

— Eu o farei, pai. Embora deva dizer que é ela quem está, como o senhor disse, enrolando-me.

Os dois sorriram, serenos e felizes com aquele reencontro, e continuaram seu caminho em silêncio, apenas eles e o suave barulho do vento nas flores. Tudo estava bem, naquele momento. O passado fora perdoado, e ambos tinham suas mentes outra vez livres de culpa; para o Fantasma, essa era uma sensação completamente nova.


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Notas finais do capítulo

E aí? Precisaram dos lencinhos ou não? rsrsrsrsrsrs
Sei que esse reencontro com o passado foge um pouco ao tradicional das fics do Phantom, mas espero que tenha ficado legal. Não sei se as palavras de padre Erik ficaram boas, se estão bem caracterizadas pelo personagem (não sou cristã, e não faço a menor ideia do que um padre diria, em termos de religião), mas preferi tratá-lo como um pai adotivo que revê um filho há muito perdido. Cruzo os dedos para ter funcionado, e me despeço de vocês com beijos grandes!
PS - estamos na reta final da fic. Não sei quantos caps mais, mas não serão tantos assim. Se alguém quiser recomendar, ficaria grata.
kisses, amores!



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