Anjo das Trevas escrita por Elvish Song


Capítulo 18
Depois da Performance


Notas iniciais do capítulo

Prometi romance, não foi? Pois bem, aqui está! Espero que gostem!



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Voltando para seu camarim, Annika se deixou cair na espreguiçadeira, exausta: enquanto tocava, colocara toda a sua alma, a sua força e a sua paixão na música, e agora estava completamente esgotada. Todas as emoções reprimidas por dez anos haviam aflorado de uma só vez, praticamente esmagando-a de dentro para fora, enquanto a música arrebatava sua alma e sua mente e a levava a mundos com que os outros seres humanos só podiam sonhar – ou talvez nem mesmo isso. Aquela apresentação revirara, torcera e esmagara todo o seu ser, curando-a e matando-a ao mesmo tempo. Agora, sentia-se leve, até mesmo um pouco entorpecida, e só queria descansar.

Tirando as sandálias de salto, reclinou-se no móvel e fechou os olhos, suspirando. Neste momento, ouviu o leve som de madeira deslizando contra metal e, sentando-se subitamente, viu seu amo entrar no camarim por uma passagem que não percebera antes; ao passar, ele fechou a porta, que desapareceu na parede sem deixar vestígios! Com um suspiro feliz, ela sorriu e se levantou:

– Erik...

O Fantasma se aproximou dela, parecendo que queria dizer algo; ela também foi em direção ao homem, até pararem a poucos centímetros um do outro, seus olhos presos, gelo e ouro ligados num magnetismo intenso. Foi o Fantasma quem, enfim, quebrou o silêncio, acariciando o rosto de Annika:

– Tocou como uma musa...

– Entreguei minha alma naquele palco, e agora ela não mais me pertence. – respondeu a moça, fitando-o intensamente, trazendo em si a força da música que tocara, ainda vivenciando parcialmente aquele transe extático – Foi como um sonho... Muito mais do que um sonho. Eu me senti... Livre... Linda.

– Nem um anjo tocaria daquela forma. – Erik segurou o queixo da moça, encantado por ela: como uma mulher que passara pelos horrores que ela vivera podia manter aparência tão pura e inocente? Como pudera manter uma alma tão bela, capaz de produzir música tão maravilhosa? Antes, ele só podia suspeitar das belezas dentro dela, mas aquela apresentação as expusera completamente a seus olhos, arrebatando a própria alma do Fantasma.

Um choque elétrico parecia percorrer o corpo da jovem - mistura de alegria, paixão e gratidão - que baixou os olhos para que eles não confessassem seus sentimentos. Erik parecia sem jeito, hesitante, e só depois de alguns segundos criou coragem para fazer o que pretendia: de dentro da capa, tirou uma única rosa branca, cujas pétalas se manchavam de vermelho nas bordas. Não tinha espinhos, e seu caule estava adornado por uma fita de cetim negro. Tomando a mão da pianista na sua, sentindo o calor suave da pele feminina, ele lhe entregou a flor e, para a moça, aquela era a mais linda de todas, muito mais bonita do que o buquê recebido no palco... Simplesmente porque viera de Erik.

O artista, por sua vez, queria dizer a ela tudo o que guardava em si: o quanto a via como uma mulher incrível, o modo como sua música o tocava... Como desejava acaricia-la e beijá-la quando estavam próximos... Coisas que jamais teria coragem de confessar. Até porque, como seria possível uma fada como ela retribuir aos sentimentos de um monstro como ele? O medo de uma nova rejeição – que, ele temia, fosse ser a mais dolorosa de todas – o emudecia e impedia de fazer qualquer avanço em direção à moça pela qual percebia ter fortes sentimentos, cuja natureza não compreendia muito bem.

– É a mais linda de todas; obrigada, Monsieur – respondeu a jovem, acariciando as pétalas delicadamente, antes de colocar a flor num vasinho sobre a penteadeira e virar-se para o Fantasma, que se pusera a milímetros dela. Queria agradecer-lhe, queria abraça-lo, beijá-lo... Queria dizer que só por ele conseguira vencer seus medos e tocar triunfalmente naquela noite, mas sua voz estava tão amarrada quanto a de Gabrielle já estivera. Tudo o que pôde fazer foi fitar o músico, que parecia tão emudecido quanto ela.

De repente, e sem aviso, o homem a segurou pela nuca e cintura e colou seus lábios aos dela. Surpresa, mas feliz, a mulher correspondeu e passou os braços pelo pescoço do Fantasma, enquanto seus beijos se tornavam sôfregos e famintos, vorazes, intensos. As mãos da jovem se entrelaçaram aos cabelos negros, enquanto as dele a puxavam mais para junto de si, apertando-lhe a cintura esguia; estavam sozinhos no camarim, sem ninguém para interrompê-los, com toda a emoção do momento acelerando seus corações e expondo seus desejos.

Abraçaram-se com força, sem interromper o beijo, enquanto Erik empurrava Annie contra a parede, começando a deslizar as mãos timidamente pelas costas dela, acariciando-lhe as melenas louras, descendo então até pouco abaixo da cintura. Ela retribuiu, deslizando as unhas pelo braço do Fantasma e começando a distribuir beijos pelo lado exposto de seu rosto, descendo para o pescoço – o que provocou um gemido alto de prazer, vindo dele. Imersa em paixão, deu uma leve mordida na pele exposta e sensível do pescoço masculino, sentindo-o estremecer e arfar enquanto as mãos grandes a seguravam pelos quadris e a levantavam do chão. Sem hesitar, a pianista passou as pernas ao redor da cintura de seu amo, que a segurou pelas coxas e a carregou para a espreguiçadeira, deitando-a no móvel e colocando-se sobre ela, enquanto trocavam beijos cada vez mais famintos, seus corpos atritando perigosamente na busca do prazer.

Ainda sob efeito da música inebriante, que trouxera à tona os mais secretos sentimentos de ambos, já não conseguiam parar o que faziam. Annika abriu o casaco de Erik e enfiou as mãos por sob sua camisa, arranhando levemente as costas e a barriga musculosas, enquanto ele lhe levantava as saias para acariciar as pernas firmes e bem torneadas, experimentando um desejo e um prazer até então desconhecidos ao explorar pela primeira vez o corpo de uma mulher; e não uma mulher qualquer, mas a linda, talentosa e encantadora Annika! Ele poderia tê-la possuído ali mesmo, se a culpa não o assaltasse violentamente; não podia fazer isso! Ele era um monstro, um proscrito, uma criatura deformada de corpo e alma... Não merecia Annika. Não merecia nem mesmo a piedade daquela mulher, quanto mais possuir o corpo de uma criatura tão cheia de maravilhas e encantos! Além disso, Annika já sofrera tanto nas mãos dos homens...

No ato mais difícil de sua vida, ele se obrigou a parar de corresponder aos beijos dela, e tirou as mãos femininas de seu corpo, afastando-se. Confusa, a jovem se sentou e perguntou, envergonhada e com medo de ter passado dos limites:

– O que houve, meu senhor? Fiz algo que o desagradou? – ela não compreendia por que ele a afastava daquele modo. Teria nojo dela, por seu passado? Por ela não ser uma donzela? Mas parecia tão cheio de desejos, apenas segundos atrás!

– Não posso fazer isso, Annika. – respondeu o Fantasma, ofegante, levando a mão sobre a máscara – você não sabe o que sou, nunca viu o rosto sob a máscara... Sou um monstro. Uma gárgula repugnante, que só causou medo e horror a todos... Eu não a mereço. Não mereço tocar sequer um fio de cabelo seu, minha linda fada... Perdoe-me por ter ousado... – Annika sorriu com compaixão, e acariciou o lado exposto do rosto de Erik:

– Não se desculpe, Erik. Acredite: eu conheci muitos monstros em minha vida, e você não é um. Os piores monstros não usam máscaras, e sim, a imagem de bons homens. – ela lhe deu mais um beijo nos lábios – Mas eu entendo o que está sentindo; não se acha digno, não acha que merece ser querido – ela não se atreveu a dizer “amado” – e vou fazer de tudo para que veja como está errado.

Ele lhe lançou um olhar perplexo, confuso mesmo, como se não entendesse a compaixão da moça – como se sequer reconhecesse aquele sentimento! – e procurasse compreender sua motivação. Ela sorriu e lhe acariciou a máscara, pousando a fronte contra a dele enquanto sua respiração e pulsação se acalmavam e controlavam; o desejo que sentia chegava a assustá-la, considerando o quanto abominara o ato sexual em sua vida. Mas com Erik, tudo mudava: não se tratava de sexo, e sim, de amor, algo que nunca experimentara antes. Um jogo totalmente novo, cujas regras ela não compreendia bem, mas que estava louca para jogar, por mais doloroso e confuso que fosse. Ele, porém, parecia ter mais medo do que ela... Precisaria de mais tempo para se entregar, para vencer o medo da rejeição que se tornara seu eterno companheiro.

Ainda trêmulo de desejo, o músico pousou as mãos na cintura da pianista, aceitando o toque dela. Sabia que Annika era diferente de todas as pessoas que já conhecera, mas o medo de que ela o rejeitasse era grande demais. Algo estava nascendo em seu coração – já não podia negar para si mesmo – e ele não suportaria ser afastado outra vez. E por que não seria, afinal? O que tinha a oferecer àquela mulher, além de sua própria alma distorcida e rosto horrível? Aquele anjo que alçara asas diante de si não merecia algo tão torpe, tão cruel, tal como Christine não merecera.

– Annika... – O Fantasma murmurou mais para si que para ela, mas a moça tomou como o manifestar de sua hesitação, e compreendeu o receio de Erik, uma vez que Madame Giry já lhe contara algumas poucas coisas sobre o passado do homem. Poucas, mas suficientes para a outrora meretriz compreender os receios de seu amo, e o medo que tinha de se aproximar de alguém. Nunca alguém lhe dera motivos, afinal, para confiar em que não seria machucado novamente... Nem mesmo a própria mãe. Mas Annie estava determinada a lhe provar o contrário acerca de si mesma, e fazê-lo aprender a ser amado. Sabia em seu íntimo que era capaz disso!

– Quietinho – sussurrou ela, pousando dois dedos nos lábios dele – Não precisa dizer nada. Não precisa se desculpar. Vamos apenas assistir ao balé, e terminar esta noite tão bem quanto começamos, está bem?

Com um sorriso tímido – onde estava a pose arrogante e orgulhosa de Fantasma da Ópera? – o homem tomou delicadamente a mão da moça, que prendeu a rosa branca e vermelha ao decote das próprias vestes antes de segui-lo pelos corredores até o camarote cinco.

Ao ver o casal, que parecia mais feliz do que o normal, Gabrielle apenas sorriu, sem fazer comentários. Sabia que, de algum modo, aqueles dois se haviam acertado, e isso a fazia sentir muito alegre! Com um sorrisinho, ela se debruçou um pouco mais no balcão, fitando as cadeiras abaixo: ela e Annie haviam conseguido infiltrar Renard e Claude na ópera – devidamente vestidos como cavalheiros, é claro – e, agora, os moços a fitavam com um sorrisinho divertido, cúmplices na felicidade pelo triunfo da amiga, sem saber que este era muito maior do que apenas a apresentação perfeita.

Quando os amigos se viraram para novamente prestar atenção ao balé, como os bons cavalheiros que fingiam ser, a adolescente desviou a atenção do casal ao seu lado e se deixou perder longamente no contemplar de Renard: quando fora que o jovem se tornara tão bonito, sem que ela percebesse? Vestido em trajes formais, penteado e bem arrumado, ele mostrara à menina algo que ela até então não percebera: seu amigo de infância estava, enfim, tornando-se um homem... E ela gostava muito de tal mudança.

*

Uma semana depois

Uma vez que Gabrielle pedira para passar o final de semana na casa das Girys, Annika e Erik se encontravam sozinhos na casa. Desde os eventos no camarim da moça, haviam tentando fingir que nada se passara, mas era impossível! Seus olhares os traíam, e isso fazia a adolescente da casa rir-se baixinho – para constrangimento do casal – já sabendo o que acontecera, graças à irmã. De muito boa vontade, ela tentara conversar com o Fantasma acerca dos fatos, mas este não aceitara tocar em tal assunto com uma criança, para frustração da garota Anjou. Agora, o homem e a moça mais velha estavam sozinhos, e um silêncio constrangedor pairava sobre a sala.

Ocupada com seu caderno, no qual vinha escrevendo há vários dias, a mulher ocasionalmente erguia seus olhos para Erik, que lia atentamente um volume sobre óptica e ilusões – ele usava muito estes efeitos para criar truques que revigorassem a lenda do Fantasma – sério como sempre. Inquieta, ela pensava em como romper aquele silêncio desagradável, quando uma ideia lhe ocorreu; fechando o livro, perguntou:

– Monsieur, o senhor já foi ao jardim, nesta estação?

– Não me lembrei de fazê-lo, Mademoiselle – respondeu ele, mal erguendo o olhar de sua leitura. Como uma criança arteira, Annie se levantou e foi até o Fantasma, fechando seu livro; aquilo lhe rendeu um olhar zangado, mas ela o ignorou e puxou o homem pela mão:

– Então, venha! Tem algo que precisa ver! – Erik bufou, irritado por ser retirado de sua leitura, mas acabou aceitando seguir sua criada. Nunca assumiria em voz alta, mas esse lado dela o divertia muito! Bem mais, certamente, do que o lado agressivo e raivoso, que chegava a ser assustador.

Seguiu-a em silêncio para a porta pela qual já não passava há meses – também, o jardim nada mais tinha para ver, desde que deixara de cuidar dele. E quando atravessou a passagem, não acreditou em seus olhos: não apenas as roseiras de várias cores, como dezenas de flores que não existiam antes explodiam de vida e viço, numa miríade multicolorida e perfumada. O caminho que costumava ser de terra batida e pedriscos agora estava coberto de grama; canteiros de amores-perfeitos, alfazemas e jasmins se intercalavam às rosas, trazendo harmonia à paisagem. As árvores, antes desfolhadas e cobertas de trepadeiras parasitas, agora haviam recuperado o vigor; e a fonte, outrora seca, vertia água pelo cântaro nas mãos de Vênus.

Tomado de surpresa pela beleza que se apossara daquele recanto antes morto, o Fantasma caminhou em silêncio por seu jardim, contemplando tudo com olhos maravilhados. Afinal, voltou-se para Annika e perguntou:

– Como você fez isso? Este lugar estava morto!

– Gabrielle é responsável por metade do trabalho – respondeu a mulher, dando de ombros – levou tempo, mas conseguimos consertar este lugar. A fonte foi o que deu mais trabalho, pois tivemos de consertá-la... Mas deu tudo certo, no final, e agora isso pode ser chamado, realmente, de jardim. – ela se aproximou dele, como uma criança marota – gostou?

– Se eu gostei? – perguntou o Fantasma, ainda mal crendo no que via – É incrível! Você e Gabi trouxeram de volta à vida um lugar morto! – pela primeira vez naquele ano em que conviviam, o Fantasma sorria abertamente, genuinamente feliz. Num impulso impensado, ele abraçou a jovem pela cintura e a tirou do chão, fazendo-a rir com verdadeira alegria, por ter conseguido deixa-lo feliz, enfim.

Desfrutaram juntos do jardim, onde Erik outra vez fez a moça cantar para si – ele nunca revelaria que a fazia cantar por amar sua voz, e não, por algum metodismo de professor – o que ela fez de muito boa vontade. E a voz dela, embora dificilmente fosse alcançar o brilho e perfeição da voz de Christine, tocava o Fantasma com uma beleza pura, menos ligada à técnica empregada do que à emoção pura dos sons, emitidos para ele com uma entrega e felicidade que nunca houvera na voz da soprano morena... Pelo menos não dirigida a ele.

POV Erik

A voz de Annika não possuía muita técnica; com tão pouco tempo de treino, na verdade, quase não possuía técnica alguma. Mas havia nela uma beleza pura e despretensiosa, que me encantava e deleitava; ela não cantava para se exibir, ou para ganhar admiração, fama ou sucesso. Cantava porque gostava da música, e só por isso aceitara minhas aulas de canto; sua voz era afinada e delicada, extremamente agradável aos ouvidos, e ouvi-la cantar – embora eu fingisse estar apenas avaliando seu progresso – era, para mim, um prazer. Christine jamais cantara para mim por prazer, depois que descobrira meu rosto... E como poderia? Como se sentir inspirada e alegre perto de alguém como eu? Mas Annika já vira o pior de meu mau gênio – embora não houvesse visto meu rosto – e, ainda assim, parecia gostar de minha presença...

Mesmo sabendo que estava apenas me iludindo, eu gostava de fingir que Annie – sim, em meu coração, eu já a chamava deste modo – cantava para mim, para me ver feliz, para me agradar. Queria alimentar aquela ilusão, porque me fazia feliz e satisfeito, embora soubesse que mais tarde - quando estivesse sozinho em meu quarto e a realidade pesasse em meus ombros – a raiva me consumiria. Raiva de mim mesmo, de Christine, até mesmo de Annika. Raiva, porque jamais poderia ser amado. Ninguém amava os monstros; eles não têm finais felizes. Naquele momento, porém, eu queria acreditar no contrário, e apenas desfrutar a companhia daquela insolente garota de cabelos dourados, cuja presença me era tão agradável.

Ficamos ali por mais de uma hora; afinal, quando a liberei de seus exercícios vocais, minha serva e pupila caminhou até o chafariz e, sentando-se na beirada, mergulhou os pés descalços na água. Com gestos calmos e delicados, molhou as mãos e o rosto, refrescando-se naquela tarde de verão; meus olhos se prenderam a uma pequena gota, no canto daqueles olhos azuis, que escorreu pelo rosto até o canto dos lábios, e então pelo pescoço, até o decote, indo se perder entre os seios... Meu ato era deveras indiscreto, mas não consegui evitar uma enorme inveja daquela pequena gota, que podia passear tão sem culpa por aquele corpo perfeito.

Sabendo que fita-la por mais tempo apenas me faria precisar de um banho frio – a mulher conseguia ser sedutora até mesmo quando não o pretendia! – franzi o cenho e falei:

– Tenho de subir para a sala de música. - Vi uma pontada de desapontamento em seus olhos e, por algum motivo, quis corrigir isso – Por que não vem comigo?

Um sorriso surgiu nos lábios rosados, e percebi que, agora, aquele simples ato me trazia uma felicidade que não conseguia compreender. Vê-la sorrir se tornara um bálsamo para os pensamentos sombrios que sempre haviam sido meus companheiros... E não podia deixar de me sentir culpado por isso, porque, pouco a pouco, a imagem de Annika substituía a de Christine, não apenas em minha mente, mas em meu coração. E eu não estava preparado para deixar Christine partir...

Não me julgue precipitadamente: quando uma dor é sua companheira há muito tempo, ela se torna parte de você. Aquela dor era tudo o que me restava da mulher que eu criara e ensinara, a quem dedicara amor e adoração... Se eu deixasse partir a dor por sua perda, se rompesse enfim os laços, eu perderia tudo o que havíamos tido, todo o passado, em seus bons e maus momentos. Deixar que o sofrimento se fosse seria perder um ente que estivera comigo desde a perda e, também, reafirmar tal perda... Não estava preparado para tanto. Além disso, havia mais uma coisa a me perturbar: não seria melhor sofrer por um amor já perdido, do que me arriscar a deixar outra pessoa entrar em meu coração, já sabendo que ela o partiria? Pois eu sabia que assim seria: cedo ou tarde, Annika veria meu rosto, veria o quanto sou podre, por dentro e por fora, e então também ela partiria. Talvez fosse melhor que o fizesse enquanto isso ainda não me causasse tanto sofrimento.

Mas será que realmente não causaria? Pois só a ideia de vê-la partir começava a ferir meu peito... Cadeias se prendiam a meu coração, cadeias que eu não queria romper... E, ainda assim, eu ainda estava preso a meu Anjo da Música... Que terrível e torturante confusão se passava em minha mente! Só havia uma coisa que poderia acalmá-la: música. E o fato de que Annika subiu ao meu lado para a sala de instrumentos, e dividiu aquele bálsamo comigo, só fez piorar tal confusão.

Jardim do Sobrado


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Notas finais do capítulo

Pois bem, é isso. Gostaram? Detestaram?
Alguém aí percebeu o interesse de Gabi por Renard? O que pensam disso? E quanto a Erik e Annie, como ela vai mostrar a esse Fantasma que ele não é um monstro?
E como ele pode reagir a essa divisão perigosa de seu coração? Pois Christine ainda é um fantasma para ele e, se Erik não se libertar, sua relação com Annika estara´prejudicada antes de se confirmar.
Espero realmente que tenham gostado (POV Erik convincente ou não? Morro de medo de descrever os pensamentos desse homem, e pisar na bola com o personagem).
Beijos enooormes!

PS - gente, estou lendo uma fic superfofa de uma leitora minha, também sobre o Phantom: chama-se Descendente, da Tiete Drama Total. Está ótima! Que tal dar uma conferida?



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