Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 80
Capitulo 80


Notas iniciais do capítulo

E O GRANDE DIA CHEGOU, AAAAAAAAAH!



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Sinto meu corpo pesar na cama macia por entre os lençóis finos e brancos. Meus olhos vão se abrindo aos poucos e então chego a conclusão de que não morri, mas que estou em meus aposentos repousando. Acabo me lembrando que a guerra acabou e meu filho se saiu vitorioso ao lado de Gab, mas não sei o que aconteceu com Amun. —Tento entender porque não morri, porque falhei. —Mas ao mesmo tempo fico aliviada ao saber que estou viva.

—Não... —Falo ao sentir novamente a dor em meu ventre. Me levanto assustada e então me deparo com Djoser ao meu lado.

—Mãe! —Djoser fala assustado e então segura a minha mão. —Graças a Deus que acordou! —Ele fala feliz e então beija o topo de minha cabeça.

—Djoser... —Falo ofegante ao sentir o líquido quente escorrer por minhas pernas assim molhando os lençóis. Meu primogênito se assusta ao entender que estou entrando em trabalho de parto.

—Eu não vou ver isso. —Djoser fala assustado e então suas mãos pousam em meu ventre. —Nascido do pós guerra.

—Vá chamar a parteira antes que eu morra de tanta dor. —Falo ao me contorcer na cama ao sentir a criança rasgar minha carne. Assim parece que meu filho tem em suas mãos dois punhais e insiste em me matar.

—Karoma! —Djoser fala assustado ao vê-la entrar.

—Não me diga que... —Karoma é interrompida por Djoser até então.

—Vá chamar a sacerdotisa! —Djoser ordena me deixando confusa. —Ou melhor, a parteira! —Ele mesmo corrige seu erro e me faz rir, logo a dor volta. Karoma então dá meia volta. —Onde estou com a cabeça?

—Calma, Djoser. A única que deve entrar em desespero sou eu. —Falo ofegante e a mesmo tempo risonha por ver a preocupação do meu filho mais velho. Grito de dor ao sentir algo de errado com a criança, meu grito acaba assustado Djoser novamente, não me sinto bem, algo está errado. —Tem algo errado. —Falo ao sentir meu filho se agitar dentro de mim. Vejo o sangue escorrer por minhas pernas e então me  assusto. —O veneno não me matou, mas vai matar meu filho!

—Não era veneno! —Djoser me surpreende. —Gab já sabia que a senhora pretendia algo e eu encontrei o veneno. Acabei colocando uma fórmula sonífera temendo que a senhora tomasse num momento de desespero.

—Tem algo de errado mesmo! —Exclamo assustada e então seguro firme na mão de Djoser. Meu filho tenta me acalmar, mas a dor é insuportável.

—Não é normal sangrar, não é? —Djoser pergunta assustado ao ver meu sangue contrastar nos lençóis brancos.

—Não. —Respondo assustada com tantas dores. Acabo deitando novamente ao lado de Djoser, mas isso parece piorar. —Eu não vou aguentar. —Falo ao sentir a dor se alastrar por todo meu ventre.

—Mãe, por favor! —Djoser pede assustado ao me ver abafar meus gemidos de dor. —O que eu posso fazer? —Ele pergunta assustado. —Essa parteira por acaso foi para Canaã? —Meu filho pergunta cômico e nervoso. —Será que eu mesmo não posso fazer o parto?

—Não! De modo algum! —Alerto. —Nenhum filho pode ver uma mãe dando a luz.

—Mas se eu vim do mesmo ventre?! —Djoser pergunta incrédulo. —Mãe, me deixe tentar.

—Eu já disse que não! —Repito dolorida. —Isso é embaraçoso demais para você, Djoser. Você ainda é um menino. Ainda é muito novo.

—Se eu tenho idade para perder meu pai e meu irmão, também tenho idade suficiente para ver essa criança nascer. —Djoser fala firme enquanto me observa. Meus olhos transbordam com tantas lágrimas ao sentir orgulho do meu primogênito, no entanto eu volto a gritar de dor.

—Eu sei que você tem um coração nobre e boas intenções, Djoser. —Falo olhando bem para meu filho. —Mas minha resposta é não. —Em seguida abafo o meu grito de dor, as dores de fato estão se tornando constantes.

Nem quando perdi os filhos que carreguei quando jovem senti tanta dor, nem quando Djoser se manteve atravessado em meu ventre quando senti todas as dores indicando que ele iria nascer. Não posso reclamar de quando tive Anippe, naquele dia Hur estava comigo e eu me senti protegida. Mas agora eu não o tenho mais, tenho apenas Djoser e essa criança que hoje vai nascer.

—Por quê demoraram tanto, afinal? —Djoser indaga furioso ao ver a parteira e Karoma entrarem em meus aposentos. —Como ousam? —Ele indaga possesso.

—Mil perdões, príncipe das duas coroas, mas a verdade é que eu estava com meus filhos. Até porque são crianças e temiam a guerra. —A parteira pede. Djoser então faz um sinal para ela fazer seu trabalho.

—Dói muito... —Falo. A parteira então põe sua mão em meu ventre e me coloco em minha devida posição. Um novo grito sai de minha boca e então ela se assusta ao ver o meu sangue nos lençóis.

—Saia, por favor. —Karoma pede.

—O que foi isso? —Pergunto ao ver algo cair perto da janela. —Vá ver o que foi. Não quero imaginar que nenhuma rebelde de Amun invada meu quarto agora que estou para ter um filho. —Falo para Djoser. Meu filho então vai até a janela desconfiado e volta nervoso.

—Pardais. —Djoser fala enquanto eu respiro fundo. —Nada mais que isso.

—Ela não se mexeu mais. —Falo para a mulher assim que ela toca em meu ventre e me olha estranho. —O que foi? —Indago curiosa.

—Saia daqui. —A mulher ordena para Djoser. —Homens nessa hora apenas atrapalham.

—Meu pai viu minha mãe parir minha irmã, eu verei no lugar dele. Não vou deixar ela sozinha! —Djoser fala firme para a mulher. Ela então me olha de sobreaviso.

—Saia. —Peço para surpresa de Djoser. —Eu vou ficar bem. Você vai me ver depois... —Falo segurando as lágrimas ao entender o olhar da parteira.

—Eu vou estar lá fora. —Djoser fala ao beijar minha mão prolongadamente. —Vai ficar tudo bem com ela? —Meu filho pergunta para a parteira. Karoma então engole o choro, assim como a mulher.

—Ela ficará bem. —A parteira fala com dúvida sobre si mesma e suas palavras. Djoser então se vai aos poucos, sua mão vai se separando da minha aos poucos enquanto eu ele dá seus passos lentos.

—Me diga... —Falo ao ver meu filho partir. —A criança...

—Está morrendo. —A parteira fala ríspida ao tocar em meu ventre novamente. —Não vai dar tempo de fazer um mínimo esforço.

—Salve-a. —Meu pedido assusta a mulher. —Nem que para isso eu tenha que morrer. —Falo dolorida. —É como se tivesse uma espada furando meu ventre... —Falo e em seguida gemo de dor.

—Está enrolada com o cordão. —Karoma supõe.

—Diga ao pai dessa criança que será ou a mulher ou o bebê. —Ela fala ofegante para Karoma.

—Não tem pai. —Falo para sua surpresa. —Mas isso não importa agora! Me ajude a ter essa criança!

—Que assim seja... —Ela fala ao acatar minha ordem.

(...)

—Seja mais forte! —Karoma pede ao segurar minha mão com força. Eu então empurro a criança, mas ela não parece sair.

—Eu não aguento. —Falo ao repousar meu corpo na cama. Arfo de dor e cansaço entre os lençóis.

—O único jeito é fazendo mais força. —A mulher fala.

—Ela já não tem força... —Karoma protesta.

—Ela terá que fazer novamente. Então eu oprimo o ventre dela fazendo a criança sair. —A parteira sugere e então eu olho para a janela. Sinto como se algo me observasse da janela. Mas logo volto a minha atenção para o meu filho que não quer nascer. —Quando sentir dor, faça força. —Ela ordena. —Eu vou forçar a saída da criança. —Ela deixa claro que eu não posso resistir apenas com a entonação da sua voz. —Sinto muito.

—Senhora... —Karoma chama por mim como se quisesse chorar.

—Eu vou ficar bem. —Minto, não ficarei nada bem. As dores são aterrorizantes! Nunca senti tanta dor. Sinto uma nova contração chegar e com isso me preparo para fazer força.

—Essa criança tem que nascer agora! —A mulher fala ao pôr suas mãos em meu ventre. Karoma segura firme em minha mão enquanto eu respiro fundo para adquirir toda a energia e força possível para o meu esforço.

Meu grito de dor se intensificou ao sentir o peso das mãos da parteira em meu ventre pressionando a criança para fora de mim enquanto eu faço todo o esforço possível. Minhas últimas forças se esvaíram como o vento entre os campos de trigos na época da primavera. Meu grito pode até ser de dor, mas o sorriso que estampa meus lábios não pode ter outro significado a não ser felicidade. As lágrimas que escorrem em meu rosto juntamente com o suor pelo esforço parecem fazer por onde meu corpo cair exausto na cama de finos lençóis. Os mesmos lençóis onde concebi essa criança. Ouço o choro que mais parece uma melodia, com isso tenho uma ansiedade súbita em saber como a criança é.

—O quê é?—Pergunto curiosa.

—É uma menina. —Karoma e a parteira falam em uníssono.

Sorrio ao ouvir o choro da minha filha e então uma necessidade súbito de vê-la me toma a voz, no entanto estou muito fraca. Mal consigo manter meus olhos abertos, estou muito cansada. Tento me manter acordada, mas o esforço que fiz me impede. —Eu dei mais uma filha para Hur, agora Anippe não é nossa única filha. —Karoma vem até mim com minha filha em seus braços, vejo minha filha em um tecido azul claro, uma seda tão fina quanto a sua pele.

—Está tudo bem, meu amor... —Falo ao segurar minha filha com a ajuda de Karoma. —Não chora, meu anjo. Não chora... —Repito exausta.

Me surpreendo ao ver que de fato fui atendida. Minha filha se parece com Hur, até mesmo o desenho de seus olhos. Seu choro é forte e isso me leva a crer o quanto irritada ela está por ter saído de meu ventre. Mas quem não ficaria ao chegar nesse mundo tão cruel e pleno de dor?

—Chame, Paser. —Falo para a parteira. —Eu não me sinto bem. —Minhas palavras assustam ambas. —Olá,minha filha. —Falo carinhosa ao ver minha filha abrir os olhos enquanto se acalma em meus braços.

—Como ela vai se chamar? —Karoma pergunta enquanto eu tento permanecer acordada. Eu então ponho minha filha ao meu lado e permaneço olhando para ela. —Majestade? —Karoma chama por mim ao me ver fechar os olhos aos poucos. —Por favor, tente manter os olhos abertos! —Ela pede mais uma vez enquanto eu olho apenas para a minha filha. Sorrio ao tocar em suas pernas fartas e com dobrinhas demonstrando o quanto ela é forte. Lyanna não é tão delicada como Anippe foi um dia, seu tamanho e porte não são nada parecidos com as crianças de minha família. Apenas Djoser nasceu tão forte assim. Uma vez ouvi Hur me falar que as crianças de sua família hebreia tinha a tendência de serem rechonchudas de pele clara e olhos negros. Uri nasceu com todos esses traços, seus olhos verdes eram herança de sua mãe. Assim como os meus olhos são a herança que dei para Djoser e Anippe. E Lyanna... Essa é o último vestígio de Hur no mundo. Ver minha filha crescer dentro mim enquanto seu pai está morto foi uma das piores sensações. Mas aqui está Lyanna. A última jóia que Hur me deu... Espero que de onde ele estiver, esteja feliz e orgulhoso da nossa filha. —Beijo o rosto de Lyanna, meus lábios permanecem na pele de seu rosto assim como minha lágrima molha o seu peito.

—Ela vai se chamar Lyanna. —Falo para Karoma enquanto observo a minha filha chorar ao meu lado. Minha mão está ao seu lado de forma protetora, mas eu sinto as lágrimas brotarem ao sentir minhas forças irem embora. —Princesa Lyanna. —Repito ao fechar meus olhos e me entregar a completa escuridão, mas antes ouço Karoma gritar por mim.

(...)

"Duas coroas serão suas. Uma para o amor, que será de grandes glórias e feita de flores azuis. A outra será de ouro, assim como seu sorriso. Seu nome será lembrado como Senhora da Vida, a resposta tão esperada. A possível Rainha da nova ordem..."

Ouço Djoser cantar bem perto de mim. Ao abrir meus olhos lentamente, me deparo com meu Djoser acalmando Lyanna em seus braços. Sorrio ao ver tal cena, mas logo me entristeço ao me lembrar que Hur não verá nossa filha. Uma filha! Eu dei uma filha para Hur novamente e ele não a conheceu. —Djoser parece dançar com Lyanna em seus braços. Balança a irmã caçula nos braços, dando dois passos leves para frente e para trás repetidas vezes. —A única coisa que Djoser e Lyanna possuem em comum fisicamente são os fios de cabelos negros herdados do pai. Diferente de Anippe que herdou o tom claro dos meus. —Toco solenemente no meu cabelo e vejo o quanto ele cresceu. Os fios não são todos loiros como deveriam ser quando eu era criança, há a existência de fios brancos que deixam claro o peso da idade.

Djoser é meu primeiro filho, aquele que carreguei dentro de mim sem saber enquanto me atormentava sem saber onde Moisés estava e como estava. Poderia não ser o primeiro filho de Hur, mas tinha tanta importância que para mim era como se fosse. Ver aquele menino ativo, de olhos azuis como os meus e cabelos negros como os de Hur, correr pelo palácio me chamando de mãe foi a melhor sensação que tive em toda minha vida. Mais emocionada fiquei quando Djoser andou pela primeira vez, sendo ele aparentava dificuldades. Lembro que Amenhotep andou primeiro que Djoser, com isso os sacerdotes pensavam que meu filho não iria andar.

Flash Back On

—Acha que isso é anormal? —Pergunto para Paser com Djoser nos braços e Hur ao meu lado.

—Não pode ser hereditário. —Hur fala ao olhar para Djoser.

—Há uma explicação. —Paser fala e então olhamos para ele. —Pode ser que, por ter desenvolvido em um ventre que sofreu inúmeros abortos, o príncipe Djoser não tenha desenvolvido a coordenação motora.

—Não faz sentido. —Hur fala ao ver que as palavras de Paser me atingiram. —Henutmire é saudável, não pode  ser que depois de tanto tempo...

—Ele nunca vai andar? —Pergunto melancólica. Lágrimas se formam em meus olhos e então sinto Djoser pôr sua mão em meu rosto.

—Daremos um jeito. —Hur fala ao me ver infeliz. —Nosso filho vai andar, eu prometo isso.

Flash Back Off

—Me deixe pegá-la. —Peço ainda dolorida por ter dado a luz. Djoser vem até mim com Lyanna nos braços, meu filho me ajuda a segurar Lyanna.

—Acha que consegue? —Djoser pergunta assustado ao me ver tão fraca. Seus olhos preocupados e admiradores caem sobre mim e Lyanna, todavia, pela segunda vez em minha vida, eu dou atenção a outro filho ao saber e sentir esse olhar de Djoser. Nunca pensei que fosse ter uma outra filha em meus braços, nunca pensei que seria mãe novamente. Mas aqui se encontra Lyanna, em meus braços.

—Claro. —Minto. Nunca senti falta da minha vida saudável como sinto agora. —Paser disse que apenas uma de nós iríamos sair vivas. —Falo ao ter Lyanna e meus braços novamente.

Me emociono ao ter minha filha tão perto de mim, sentindo seu calor e inalando o seu cheiro. Acabo me lembrando de quando Anippe nasceu, de quanto eu amava olhar para ela todos os dias e ver o quanto ela se parecia comigo. Mas agora eu choro de tristeza e alegria ao mesmo tempo ao ver o quanto Lyanna se parece com Hur, o quanto seus traços se parecem com ele. Mesmo recém nascida, eu posso afirmar que não há outro filho ou outra filha que tanto se pareça com Hur como Lyanna se parece. Nem mesmo Uri que era o filho mais velho, muito menos Anippe, que de acordo com Leila, deveria se parecer com Hur pelo fato de ser mulher e toda filha é obrigatoriamente parecida com o pai. Lyanna é a resposta que pedi ao Senhor, a minha pergunta de dor por ter perdido Hur foi respondida com Lyanna.

—Paser falou que a senhora perdeu muito sangue. —Djoser fala aparentemente preocupado. —Que poderia ter complicações.

—Eu não me importo. —Falo ao ninar Lyanna em meus braços. —Eu só me preocupo com sua irmã, apenas com ela e nada mais. —Djoser sorriu ao me ouvir falar, mas mesmo assim permaneceu preocupado.

—Eu sabia que a senhora iria cometer uma loucura. —Djoser fala enquanto me abraça. —Por isso retirei todo o veneno daquele frasco.

—Você é mais inteligente do que pensei. —Falo orgulhosa e sorrio para o meu filho. —Mas se Amun tivesse ganhado a guerra, e eu acordasse tempos depois, como acha que eu me sentiria ao saber que você morreu e que teria Lyanna arrancada de mim?

—Isso não aconteceu. Amun está preso na masmorra mais segura deste palácio. —Djoser revela. —Eu vou fazer ele pagar pela morte do meu pai, mãe. Vou fazer ele pagar em vida por ter matado Kamés, assim como ele matou meu tio Ramsés. —Djoser promete e então segura a minha mão. —Yaffa e Anippe vão voltar, mãe. Eu vou atingir Amun onde mais lhe dói.

—Pretende usar Yaffa? —Indago.

—Sei que não é correto brincar com os sentimentos das pessoas. Mas eu vou fazer isso com Yaffa, depois irei arranjar uma maneira de recompensá-la. —Djoser fala e então passa a me olhar de uma forma estranha. —Eu faço qualquer coisa para manter essa família de pé. Eu vou fazer por onde Yaffa voltar o mais rápido possível para o Egito, e vou fazê-la ficar contra o próprio pai. —Os olhos de Djoser brilhavam me fazendo ver o desejo de vingança nítido e avassalador. —A senhora e Gab não precisam mais se preocupar com Amun. Eu mesmo vou fazê-lo pagar.

—Eu não quero pensar em Amun agora. —Falo seria para Djoser, mas volto a olhar para Lyanna. —Eu quero apenas pensar em Lyanna. —Falo ao escutar o bocejo da minha filha mais nova. —Notou o quanto ela se parece com seu pai?

—Gostaria que ele estivesse aqui para ver isso. —Djoser fala penoso. —E ele está.

—Claro que está. —Falo risonha ao ninar Lyanna em meus braços. —Eu posso sentir o seu pai aqui. —Minhas palavras ferem Djoser de tal forma que ele dá as costas para mim. —Posso sentir em meus braços. Posso vê-lo até mesmo em você. —Falo e as lágrimas insistem em cair. Lyanna finalmente abre seus olhos e mexe em meus braços tentando se acomodar. Sorrio emotiva ao ter minha filha nos braços, mas logo dou atenção para a Gab que entra em meu quarto.

—Eu vim apenas ver como você está. —Fala nervoso ao olhar para Lyanna. —Karoma me disse que sua filha se chama Lyanna. —Gab fala nervoso ao se aproximar de mim.

—Quer segurar? —Pergunto sugestiva, mas Gab evita.

—Eu já havia carregado Djoser nos braços. Mas não me atrevo a fazer tal coisa novamente. —Gab fala nervoso e faz Djoser rir.

—Não tem jeito com criança? —Djoser pergunta risonho.

—Não se trata disso. Eu apenas não tenho o hábito de segurar uma criança no colo. —Gab fala nervoso enquanto olha para Lyanna. —Ela não herdou nenhum traço seu. —Gab fala ao olhar bem para a sobrinha. Sobrinha... Como a vida é irônica. —Ela me lembra Hur. —Ele fala e em seguida olha para Djoser com tristeza. —Como você se sente? —Ele pergunta preocupado.

—Ainda fraca. —Respondo com a verdade. —Mas toda vez que olho para para ela... —Falo me referindo à Lyanna. Pode ser possível eu ter um anjo em meus braços? Sim, Lyanna é surreal demais para mim. Sua pele é clara como algodão, e seus olhos são negros como o céu da noite, mas ao mesmo tempo frios como as estrelas.

—Então é melhor você descansar. —Gab sugere ao olhar unicamente para Djoser. Meu filho então vem até mim e deposita um beijo carinhoso em minha testa, em seguida ele beija a pequena mão de Lyanna. Acabo me comovendo com essa cena. Djoser sempre teve apenas uma irmã em toda sua vida, Anippe. Agora ele tem Lyanna.

Eu me lembro bem de como Uri e Djoser se comportavam todas as vezes que alguém elogiava a beleza de Anippe. Uma certa vez Ramsés elogiou a beleza de Nefertari em meio a uma festa, mas um antigo mestre e sumo sacerdote lhe desaprovou filosoficamente:

"Por mais brilhante e intensa que a luz da lua seja (Nefertari), nunca corresponderá ao brilho intenso e avassalador do sol nascente (Anippe)."

Anippe tinha apenas doze anos quando todos os nobres pararam para ouvir tal poema. Me lembro de que Nefertari sorriu debochada e falou que Anippe era apenas uma criança, mas foi então que todos riram e muitos falaram que quando Anippe chegasse a determinada idade, seria tão bela quanto Ísis, assim toda a beleza dela iria desabrochar enquanto a de Nefertari iria apenas murchar como uma flor sem vitalidade. Djoser e Uri sentiam na necessidade de proteger Anippe. Não proteger dos elogios quais eles achavam que eram audaciosos, mas sim do ego de Anippe. Mas, assim como Anippe, Lyanna é dona e senhora de uma beleza única. Acho que agora tenho certeza que toda a beleza que um dia tive estão nas minhas filhas, tal como também está em Djoser. Mas eu me orgulho por ter duas filhas tão diferentes como a lua e o sol, tão diferentes... —Isso me faz pensar que não irei ver Lyanna crescer. — Com certeza não irei ver.

—Descanse, princesinha. —Djoser pede ao ver Lyanna bocejar. —Chame-o. —Djoser ordena para Gab. Balanço Lyanna em meus braços e olho para Djoser.

—Chamar quem? —Indago curiosa. Lyanna parece se irritar em meus braços, não consigo acalmar minha filha de modo algum. Olho curiosa para meu filho.

Logo vejo a figura misteriosa entrar em meus aposentos e olhar diretamente para Lyanna. É o mesmo que homem que me vigiava, o mesmo homem que sempre temi. Seu rosto está coberto, posso ver apenas os seus olhos. Com medo olho para Djoser e Gab, mas ambos mal olham para mim.

—Não... —Falo ao ver o homem segurar um dos meus braços e tentar tirar Lyanna de mim. Seu toque me é familiar! Sim! Eu já mantive contato com esse homem antes.

—Deixe ele levar Lyanna, mãe. —Djoser pede ao ajudar o homem. Meu próprio filho ajuda o estranho a arrancar Lyanna de meus braços. As lágrimas brotam e eu sinto o gosto da traição. Por que estão fazendo isso comigo? Por que estão tirando Lyanna de meu braços?

Não! Não! Me devolve! —Peço eufórica ao ter Lyanna arrancada dos meus braços.  —A minha filha... —Falo ao ser segurada por Djoser e Gab.

—Me perdoe... —Djoser pede ao me abraçar enquanto tento me levantar e ir atrás do homem que acaba de levar Lyanna em seus braços.

—Lyanna... —Chamo por minha filha pela última vez ao erguer minha mão em direção à porta por onde o homem passou e a levou. Eu não sei por que tiraram a minha filha de mim, eu apenas sei que fui traída por Gab e pelo meu próprio filho. Não sei que mal fiz para ter minha filha tirada de mim, levada, levada para longe de mim. O último vestígio de vida que Hur deixou no mundo para que eu pudesse contemplar, a minha princesinha... —Quem é esse homem? O que ele vai fazer com Lyanna? —Pergunto enquanto tento fugir. —LYANNA! —Grito enquanto me debato entre os dois traidores tentando fugir. Meus gritos são de total desespero, por isso Djoser me solta, no entanto Gab me segura. —Enlouqueceu? —Pergunto incrédula ao ser segurada por Gab.  —Eu sou a rainha!—Repito enquanto tento me soltar de Gab, mas ele não desiste. —Olhe para mim... —Falo ao vê-los sair e me deixarem na cama totalmente vazia por não ter minha filha. Eu e Gab nos olhamos por alguns segundos, até eu começar a falar. —Sou a Rainha-Mãe, soberana absoluta, filha e irmã de faraós, sua irmã! Mãe do libertador do povo escolhido por Deus, a Mãe desse reino do sangue da antiga dinastia de Ramsés I, o rei do sangue de leão que construiu essa cidade, princesa hereditária por direito! —Exclamo. —Olhe bem para o meu rosto, seu bastardo. E você também! —Falo enfurecida para Djoser. —Eu vou sair daqui, e eu mesma irei matar você. —Falo em relação a Gab. Ele me olha assustado. —Se achavam que eu travei uma guerra com meu pai dentro deste palácio, agora todos precisam saber que você ocupou o lugar dele.

—A sua guerra é com o homem que levou sua filha. —Gab fala sem ao menos olhar para mim.

—Tanto ele quanto você vão arder no fogo quando eu sair daqui. Olhe para o meu rosto, e diga ao homem que guarde meu nome, porque você e ele vão se lembrar disso quando estiverem ardendo... —Falo.

—Eu voltarei para pedir o seu perdão. —Gab fala ao me olhar penoso.

—Você sabe onde me encontrar. —As portas então são fechadas e eu fico trancafiada, mas antes grito. —Lyanna!


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Notas finais do capítulo

Vamos lá... Eu não iria mesmo revelar para vocês quem é esse homem misterioso, muito menos porque Gab e Djoser o ajudaram a fazer isso. Já deixei isso bem claro aqui, isso vai virar um ditado "Em CDS não existe bem ou mal, todos os personagens são bons e maus ao mesmo tempo, uns mais que os outros". Agora vocês vão entender porque a segunda temporada vai ser narrada por Anippe. E deixando claro, mais uma vez, que a segunda temporada de CDS não vai ser totalmente fiel a segunda temporada de ODM, jamais! Como se trata de Anippe narrando, ela vai mostrar somente aquilo que ela vê! Espero vocês no próximo capitulo.
OBS: Continuarei a postar a segunda temporada aqui normalmente. A partir do capitulo 81, Coração de Seda será narrada por Anippe.



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