Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 74
Capítulo 74


Notas iniciais do capítulo

Vamos começar com um sonho...



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—Djoser? —Chamo por meu filho ao ver o palácio em ruínas. A sala do trono está completamente destruída.

Ando apressada para fora da sala do trono e então me deparo com mais destruição por todos os lados. Tudo está acidentado, sem os raios do sol e pleno de destruição. O mal cheiro e a fumaça me fazem crer que tudo pegou fogo.

—Pai? —Chamo-o ao vê-lo de costas para mim com outra pessoa.

—Mãe. —Djoser fala ao virar seu corpo assim como meu pai.

—O que fazemos aqui? —Pergunto assustada.

—Não se lembra de nada? —Meu pai pergunta paciente, algo que ele nunca foi.

—Perdemos. —Djoser fala me deixando confusa. —Perdemos a guerra. —Meu filho esclarece e então eu sinto a mão de meu pai em meu ombro.

—Lamento muito, Henutmire. Você fez o que estava em seu alcance. —Meu pai me conforta. Todavia eu me afasto ao entender tudo.

—A criança... —Falo ao ver que não carrego meu filho no ventre. —Onde ela está? —Pergunto assustada.

—Com meu pai. —Djoser responde e então eu olho para todos os lados procurando Hur.

—Onde ele está? —Pergunto ofegante e preocupada. —ONDE?
Acordo com meu próprio grito no meio da noite. Toco em meu ventre ainda assustada pelo sonho que acabo de ter e então me levanto da cama. Sinto meu coração bater forte enquanto respiro fundo ao lembrar melhor do sonho. Isso só pode ser um sinal de que estou muito preocupada. —Bebo um pouco de água tentando me acalmar. Mas isso não funciona. —Olho para o veneno que peguei na sala de Paser e de imediato o escondo. Eu posso beber isso sem me dar conta de tão nervosa que estou.

—Ai meu Deus... —Falo ao derrubar a taça de vinho no chão de tão amedrontada que estou. —Calma, Henutmire... —Falo comigo mesma ao ver o quanto nervosa estou. Não posso ficar tão nervosa assim, vou acabar transmitindo isso para o bebê. —A sua mãe é assim mesmo, meu anjo. Ela sonha demais e vive de menos. —Falo com meu filho, mas de imediato me deito em minha cama novamente. Ouço leves batidas na porta e então me assusto, mas logo trato de me recompor. —Entre. —Permito. Eu então vejo os fios de cabelos negros de Djoser surgirem e em seguida seu rosto pálido. —Aconteceu alguma coisa? —Pergunto ríspida, porém preocupada ao ver que meu filho não está bem.

—Tive um sonho ruim. —Djoser fala como se esperasse que eu pergunte algo.

—Fique no divã até se acalmar. —Falo friamente e então meu filho corre até o divã. Na verdade eu quase pedi para ele dormir ao meu lado como costumava fazer quando criança. —Não faça muito barulho quando sair. —Falo ríspida ao olhar para meu filho pela última vez. Ele então tenta se acomodar no divã, mas não consegue. Eu então tento voltar a dormir, mas ainda estou abalada com o meu sonho.

—Sonhei com meu avô. —Djoser fala e então abro os olhos. Seria possível ele ter sonhado a mesma coisa que eu? —O palácio estava em cinzas como se a senhora e Amun tivessem se destruído na guerra. O fogo parecia ter consumido tudo. —Ele fala assustado. —A senhora tinha escolhido fogo, vi quando tudo sumiu. Depois meu avô estava ao lado da senhora.

—E depois? —Pergunto curiosa.

—Eu vi Anippe gritando pelo palácio, mas ela não me viu, apenas chamava pelo nosso pai. Mas então uma vez disse que ele não estava conosco, nem ele nem a criança que a senhora espera. —O conto de Djoser me assusta.

—Foi apenas um sonho. —Falo um pouco assustada ao saber que eu e Djoser tivemos o mesmo sonho. —Apenas durma.

(...)

—Eu diria que era apenas um sonho. Mas alguns sonhos que já tive já se tornaram realidade. —Falo para Paser.

—A senhora sonhou com vivos e mortos, e além de tudo estava sob pressão. —Paser fala o que já é óbvio. —Precisa se acalmar, é natural ficar tenso diante de uma guerra.

—Eu sei, mas no momento eu penso que Amun pode invadir o palácio novamente. —Falo ao me lembrar do dia em que isso aconteceu.

—Ele sabia. —Paser fala e me deixa confusa. —Hur sabia, ou melhor, tinha a noção que Amun o mataria. Ele sabia que seria naquela noite.

—Como assim? —Pergunto incrédula. —Se Hur soubesse teria dado um jeito de fugir.

—Se ele fugisse, Amun mataria a senhora. —Paser fala me deixando ainda mais chocada. —Ele a salvou.

—Não é possível que Hur... —Falo confusa. —Ele não sabia de nada, Paser.

—Todos sabiam. —Paser revela. —O rei, Hur, Gab... Todos, até mesmo o príncipe Djoser. —Fico ainda mais chocada com tamanha revelação. —Por isso de certa forma a segurança do palácio, ainda abalada, facilitou a morte de Hur.

—Está me dizendo que todos sabiam e ainda por cima facilitaram isso? —Pergunto brava. —Por quê?

—Por quê Hur não queria mais viver, senhora. —Paser é cruel ao me revelar tal coisa. —Não depois de ver Uri morto.

—Mas...

—Tudo o que a senhora precisa saber é que ele salvou sua vida. —Paser me interrompe.

Gab sabia... Naquele dia em que enfrentei Amun, ele me falava coisas e até mesmo falou sobre Amun matar Hur. Todos eles sabiam! A sensação de traição é enorme dentro de mim. Não foi Amun quem tirou Hur de mim, em parte meu próprio marido desistiu da vida.

—Eu não acredito nisso... —Falo assustada. —Isso não tem cabimento. —Falo ao me lembrar que Ramsés desejava me falar algo sobre Hur antes de morrer. —Até meu filho sabia... —Falo desapontada e então Paser parece se arrepender de ter me contado isso. —Como vocês tiveram coragem? Como? —Indago furiosa. —A única família que eu tenho me traiu! —Falo furiosa ao derrubar todos os pertences de Paser no chão. O homem se mostra assustado, mas nem por isso me acanho. —Eu deveria ter imaginado! O tempo todo todos me falavam algo do tipo!

—O que está acontecendo? —Gab pergunta assustado ao ouvir minha voz alterada.

—Eu deveria ter matado você com minhas próprias mãos. —Minhas palavras assustam Gab.

—Eu contei para ela. —Paser fala para Gab.

—Contou? —Gab pergunta assustado. Mas ele fica mais assustado ao me ver tão furiosa. Estou a ponto de gritar com toda a raiva que sinto.

—Senhora! —Paser fala ao me ver passar mal. Tanto ele quando Gab me seguram firme, se não fosse por isso eu já teria caído no chão.

—Não toquem em mim! —Falo ainda fraca. Sinto meu coração bater forte, fora do normal. —Meu coração... —Falo ao levar minha mão até meu peito e sentir novamente meu coração bater descompensado.

—Se sente. —Gab pede e então me ajuda a sentar. —Dê algo para ela beber, Paser! —Meu irmão pede ao olhar para o meu rosto. Devo estar pálida demais.

—Eu não quero nada. —Falo calma pela dor que sinto em meu peito. —Bate descompensado demais... —Reclamo para espanto dos dois. Paser então me entrega uma taça contendo algum liquido que não gosto apenas em olhar.

—Beba... —Ele pede preocupado e assim faço.

(...)

—Eu soube que passou mal. —Djoser fala ao me observar deitada em minha cama. —O que aconteceu?

—As vezes eu me pergunto se eu realmente conheço as pessoas, Djoser. Algumas me surpreenderam como Yunet, outras me surpreenderam para o bem como Hur, e até mesmo Anippe me fez pensar se de fato eu conheço suficientemente o caráter de uma pessoa. —Falo perplexa pela forma que meu filho ainda me dirige a palavra. —Mas você...

—Eu? —Djoser pergunta assustado.

—Sim. Você... —Falo. —Você sabia que Amun iria matar seu pai. —Revelo para seu espanto. —Sabia, ou melhor, tinha noção que iriam atacar o palácio e não me falou nada.

—Lembra-se de quando falei que Paser deu uma fórmula forte para o meu pai? Eu não estava brincando quando usei a palavra "morte". —Djoser fala seriamente. —Meu pai já imaginava o pior.

—E por você me escondeu isso, matei pessoas. Matei a mãe de Yaffa, matei Radina. Sabe o que isso significa? Significa que a maioria das pessoas pensam que estou louca para proteger meu filho. Enquanto ele mente para mim sobre o que sabe. —Falo deixando claro que toda a culpa é de Djoser. —Você me culpou pela morte do seu pai sabendo que ele queria morrer.

—Tanto sabia que não se debateu ao ser atacado. —Djoser fala e então me lembro de que havia somente uma grande marca no pescoço de Hur. —Meu pai se rendeu.

—Seu pai não se rendeu! Ele não era um covarde! Ele era seu pai! —Falo tomada pela fúria e com isso meu filho se assusta. Minha voz é tão branda que sinto minha garganta doer. —Ele amava você e seus irmãos. Se importava com Moisés, se importava com todos apesar de qualquer coisa e agora você fala dele como se ele fosse um covarde!

—E NÃO É? —Djoser pergunta aos berros ao derrubar tudo o que pode pela sua frente. É como se dois leões estivessem brigando na selva. —Ele fugiu quando aceitou ser morto. —Meu filho fala com o olhar vago. —Se prefere viver com a ilusão de que ele foi corajoso, então viva. Mas ele foi um completo covarde. Fingiu se importar com essa criança...

—CALE SUA BOCA! —Grito enfurecida ao ver que Djoser fala com a maior tranquilidade do mundo. —SAIA JÁ DAQUI! AGORA! —Ordeno ao ver que Djoser permanece inexpressível. Meu filho então me olha pela última vez e se vai como ordenei. —O que está acontecendo? —Pergunto ao tremer de tanto medo pela forma como Djoser me trata. —Calma, meu anjo... —Falo ao sentir a criança em meu ventre se mexer. —Vai ficar tudo bem conosco. Eu prometo isso para você. Nada do que seu irmão falou é verdade. —Começo a chorar ao ver que por um certo ponto meu filho tem razão.

Deito-me em minha cama totalmente exausta e fracassada pelos últimos tempos. Não pode ser o que aconteceu comigo. Hur não poderia ter aceitado sua própria morte, poderia? Não! Ele não seria covarde ao ponto de fazer isso comigo. Eu sei o quanto ele estava abalado pela morte de Uri, mas isso não justifica! Ele sabia o quanto frágil eu ficaria grávida e viúva, sabia do risco que correria.

Hur não tinha tamanha incapacidade de ser responsável, nem mesmo se todo este palácio estivesse pegando fogo Hur me abandonaria.
Hur não era um traidor como Disebek, não era um covarde como Amun é. Também não era louco como meu pai, nem obcecado como Gab. Hur foi o homem mais puro de sentimentos e honrado em sua palavra que já vi em toda minha vida. Não existiu, ou existirá outro homem como ele. Certo que duvidei disso quando soube que ele destruiu os sentimentos de Miriã, cheguei a igualar Hur e Disebek. Mas a verdade é que nosso amor é sublime pelo fato de não ser deste mundo, chega a ser indecifrável. Foi esse mesmo amor que tivemos ao gerar nossos filhos.

—Eu não posso acreditar nisso. —Falo ao olhar para o anel que me foi dado por Hur quando ele me pediu em casamento. —Por qual motivo? —Pergunto infeliz ao chorar tentando entender. Antes minhas lágrimas eram de felicidade por ter Hur comigo, por saber que todas as manhãs ele despertaria ao meu lado.

Flash Back On

—Eu sempre esqueço a realidade quando estou com você. —Hur fala ao acariciar o meu rosto enquanto repouso meu corpo sobre o dele. —Sempre esqueço que lá fora todos reprovam nossa união.

—Já somos marido e mulher agora. —Falo ao me aninhar ainda mais em seus braços. Sua pele esbarra na minha enquanto isso posso sentir o seu calor. —O casamento já foi consumado. —Falo.

—Não sabe como isso me agrada. —Hur fala pleno de ironia enquanto eu me sinto completamente envergonhada. —E é por isso que enfrento o olhar de cada pessoa. Cada olhar de reprovação.

—Não ligue para isso. —Falo ao entrelaçar nossas mãos. —A maioria das pessoas não vão entender. Elas não sabem o que acontece.

—Mas é exatamente por isso que devemos temer. Nunca saberemos o que de fato pensam. —Hur fala preocupado. —As vezes penso que alguns pensam que obriguei você.

—Me abrigou? —Indago curiosa e ao mesmo tempo confusa.

—A se tornar minha esposa. —Hur concluí. —Temo que pensem assim.

—Mas, não tem por que pensarem assim. —Falo. —Não sou ingênua para tal coisa.

—Sabemos que não. —Hur fala ao me abraçar carinhosamente. —Mas eu não quero que passe por nenhuma represália por minha causa.

—Não vou. —Falo ao repousar minha cabeça em seu ombro. —E mesmo que eu passe, irei ter você comigo do mesmo modo...

Flash Back Off

—Henutmire, eu vim avisar que... —Gab fala ao entrar em meu quarto, mas não termina ao me ver chorar. —Está chorando? —Ele pergunta e então evito olhar para ele. —Deve ser por causa de Hur, eu imagino. —Ele fala com tanta certeza que parece de fato saber como sou.

—A dor não passa, apenas piora com os dias. —Falo agora olhando para ele agora, com uma certa vergonha. Assim como ele fica envergonhado ao me ver chorar. — Ainda espero ele aparecer pela porta com o sorriso que só ele tinha. Seja lá me perguntando por alguma praga, ou preocupado comigo. —Falo. —A morte é traiçoeira.

—A morte é a certeza de que não sabemos onde a pessoa está. —Gab fala pensativo.

Nossos olhares infelizes se encontraram em um momento de dor, mas não nego que senti os braços dele pedirem por mim para um simples abraço.

—Sim. Ele poderia estar em qualquer lugar, mas eu sempre tinha a certeza de que o encontraria pelos corredores e até mesmo ao anoitecer. —Falo ao tocar em meu ventre. Essa criança é a última lembrança concreta que tenho de Hur. —Mas agora a única coisa que sei é que tanto ele quanto Ramsés estão mortos. E não se cria expectativas com mortos. —Falo um pouco ríspida comigo mesma.

—Eu gostaria de te falar que Hur vive para fazer você um pouco feliz. —Gab fala e então eu posso ver o quanto fútil ele se sente. —Mas a única coisa que posso falar agora é que amanhã será o cortejo de Ramsés.

—Acha prudente sairmos do palácio? —Indago preocupada.

—Antes não, mas agora temos mais segurança. —Gab fala ao segurar uma de minhas mãos e se sentar ao meu lado. —Vamos ganhar essa guerra.

—As vezes eu gostaria de abandonar tudo e fugir. Mas eu acho que Amun teria coragem de ir atrás de mim. —Falo angustiada.

—Se perdermos, irei voltar o mais rápido que puder para levar você para a Núbia. Lá você e Djoser vão estar seguros. —Gab fala e então eu posso ver a boa vontade em seu olhar. E pensar que Ramsés quase me fez casar com Gab...

—Mas e se você não chegar a tempo? —Indago.

—Irei. —Gab insiste.

—Não, não irá. —Falo certa. —Mas enquanto a mim não se preocupe, irei dar um jeito. —Falo ao me levantar e sair de seu lado. —Amun não tocar em mim. Eu darei um jeito de fugir daqui...

—Sozinha? —Gab pergunta com um pouco de curiosidade.

—Isso não importa. Irei fugir, irei me salvar. Amun não vai pôr suas mãos em mim. —Falo ao acariciar meu ventre após sentir meu filho se mexer. —Irei me salvar do meu modo. —Falo ao me lembrar do veneno. Amun não irá me matar, eu farei isso antes caso ele esteja vindo rumo ao palácio após vencer Gab e Djoser. —Se Amun acha que pode me vencer, ele está errado. Ele pode até ter o trono, mas nunca será da família real. Eu sou a rainha! Ele não pode ir contra mim!


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