Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 55
Capitulo 55


Notas iniciais do capítulo

Se preparem para uma grande revelação e escândalo envolvendo a família real...



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Dias depois...

Despertei abraçada á Hur, mas não vi o sol brilhar no céu. Aliás, não vi sequer luz. Somente Deus sabe o quanto estou preocupada por mim mesma, agora que milagrosamente eu carrego um terceiro filho em meu ventre, devo tomar cuidado por onde ando. Nada contei ao meu irmão, aliás, somente Hur e nossos filhos sabem que estou grávida. Alguns irão rir de mim ao receberem a notícia, outros vão acreditar e se surpreenderem mais uma vez com o poder de Deus. Espero que essa criança que carrego em meu ventre traga um pouco de alegria para todos nós. Se bem que eu ainda duvido muito estar grávida, onde uma mulher com a minha idade poderia ter o ventre fértil? Não, há algum engano. Ou melhor, não há. Meu ventre já está saliente e eu sei bem que isto não é normal. Sim, estou grávida. Grávida em uma idade muito avançada e que pode gerar problemas de saúde.

Um filho. Como eu poderia imaginar que eu faria outro filho para Hur? Agora que ele seu neto está casado o certo deveria o meu marido ganhar um bisneto e não mais um filho. Não posso ter essa criança, de certa ela está pretendendo Hur ao Egito. Eu sou obrigada a permanecer neste reino e ainda mais porque estou grávida, mas Hur e meus filhos desejam partir. Mesmo que Djoser fale que não quer ir. Na verdade ele quer. Essa criança é o que impede aqueles que amo de realizarem seus desejos.

—Mas seu pai te ama tanto. E eu não tenho coragem para interromper uma gravidez... —Falo ao tocar em meu ventre. Observo Hur dormir em nossa cama com um de seus braços voltado ao meu lado da cama, certamente ele pensa que eu ainda estou lá quando na verdade estou de pé.

Eu não posso renegar uma benção de Deus, mas eu também não posso pensar só em mim. Hur já se sacrificou muito por mim durante esses anos. Somente eu sei o quanto estou mal por impedir sua partida. Eu desejei tanto ir com ele e nossos filhos para Canaã, mas agora que sou rainha não posso fazer isso. Essa criança que cresce em meu ventre é sim um impedimento.

—Eu não posso fazer isso. Eu estaria me igualando a Yunet. —Falo ao lembrar de todas as vezes que fui envenenada. Eu não posso fazer isso, mas eu também não posso impedir Hur de ir para a terra prometida.

Eu então vejo Anippe entrar em meus aposentos radiante, com sua atenção voltada ao meu ventre. Minha filha vem até mim e me abraça aliviada em saber que estou bem.

—Eu estou tão ansiosa... —Anippe fala. —Se bem que eu não verei meu irmão nascer.

—Por que até lá você estará fora do Egito. —Falo entristecida.

—Mas meu irmãozinho vai suprir a minha ausência. —Anippe fala radiante novamente.

—Eu não quero ficar longe de você. Me perdoe por tentar te prender no palácio... —Peço envergonhada.

—Está tudo bem. Se fosse em outra época, eu teria feito um escândalo ainda maior. —Anippe fala calma e mansa. De verdade, minha filha é outra.

—Eu não posso mais te prender aqui, Anippe. Eu não quero que fique no Egito e seja infeliz...

—Eu irei para Canaã, mas no dia em que eu souber que a senhora quer vir até mim, eu darei um jeito de fazer com que a senhora e meus irmãos venham para mim, venham ao meu encontro. —Anippe fala ao unir suas mãos nas minhas. —Eu quero que a senhora seja feliz com essa criança que está para nascer, mãe.

—Um milagre não acontece duas vezes, mas quando acontece, não podemos arriscar uma terceira vez. —Acabo assustando a minha filha mais nova. —Eu temo em morrer no parto, Anippe. Vi a morte de perto quando você e o seu irmão nasceram.

—Mas agora a senhora reconhece a existência de Deus. Ele não vai abandonar a senhora...

—Nem em vida, nem em morte. —Deixo claro o meu medo e então Anippe solta as minhas mãos.—Eu temo pela minha vida, filha. Algo me diz que eu não irei suportar...

—Vai! A senhora vai ter que suportar, mãe. —Anippe pede.

—Eu sei muito bem que eu apenas suportei o primeiro e segundo parto apenas por ainda ser jovem. Mas uma gravidez a essa altura da vida, Anippe... —Paro de falar imediatamente ao ver o sol iluminar o meu quarto. Eu e minha filha então vamos até a varanda e observamos toda a claridade.

—Moisés deve estar no palácio. —Anippe fala contente.

—Com certeza ele está. —Falo ao olhar as ruas próximas ao palácio. —Mas deve estar conversando com Ramsés.

—Acha que meu tio não vai ceder? —Minha filha pergunta. —Nove pragas já deixaram claro que nenhum dos deuses são capazes de deter o Deus de Israel.

—Mas Ramsés está cego pelo poder e com o coração inacessível desde a morte de Nefertari. —Falo fracassada. —Certamente outra praga será mandada para nós.

—Mas a senhora não pode viver em meio a tudo isso, mãe. —Anippe fala e eu concordo. —Abra mão de ser rainha e venha conosco para a terra prometida.

—Abrir mão? —Pergunto tentada para Anippe. Vejo os olhos de minha filha brilharem com a ideia, mas mesmo assim não sou capaz de opinar.

—Sua mãe não vai ter que abrir mão de nada, Anippe. —Hur fala e nos assusta. —Por que ela não irá sair do Egito assim como eu.

—Mas a senhora tinha o plano de fugir exatamente para isso. —Anippe ressalta.

—Mas agora sua mãe é a rainha. —Hur parte em minha defesa mais uma vez. —Além do mais, ela está grávida.

—Abigail também está. —Anippe fala sobre a irmã mais nova de Leila.

—Mas Abigail é jovem. —Falo. Os dois então se envergonham e me olham amedrontados. —Eu não posso ir, minha filha...

—Mas a senhora lutou tanto por isso... —Anippe lamenta. —Foi presa, passou fome, quase morreu...

—Mas eu não posso ir. —Rebato. É então que eu me dou conta de que engravidei antes mesmo de Yunet voltar ao palácio. A criança... Eu não estava delirando. Aquela menina que apareceu para mim enquanto eu estive presa era um sinal, não foi aparição!

—Eu sinto muito... —Anippe lamenta. —Mas eu irei para Canaã com Moisés e Arão. —Minha filha deixa claro a sua decisão e nos dá as costas ao sair.

—Não vai ser fácil. —Falo atormentada para Hur. —Eu vou perder Anippe de todo jeito. Mas eu não quero prender ela aqui...

—Deixe Anippe ir, Henutmire. Nós sabemos que haverá brigas entre mim e ela...

—Você está pedindo para eu abrir mão da nossa única filha? —Pergunto incrédula. —Hur, não me peça para fazer isso!

—Anippe irá partir de um jeito ou de outro, Henutmire. —Hur altera o seu tom de voz. —Não vai adiantar de nada você chorar...

—Soberana. —Karoma chama por mim e faz sua devida reverência. —Seu filho, Moisés, está aqui.

—Moisés? —Indago surpresa pela presença de meu filho.

—Precisamos conversar, minha mãe. —Meu filho fala com um semblante muito sério ao surgir de repente.

—Vou deixar vocês dois sozinhos...

—Não, Hur. É bom que você fique para ter noção do que vem por ai. —Moisés interrompe Hur e então respira fundo. —A próxima praga será a última. —Moisés anuncia e então eu olho surpresa para Hur. —Mas será a pior de todas para aqueles que são pais.

—O que quer dizer com isso? —Pergunto aflita pelos meus filhos. Senti meu coração bater forte ao ver o medo no olhar de Moisés.

—A meia-noite Deus enviará um anjo que irá passar em cada casa, cada lugar, até mesmo no palácio. E este anjo irá levar consigo a vida de todo filho primogênito, sendo ele hebreu ou egípcio, novo ou já adulto, desde o servo até o herdeiro do trono. —Cada palavra de Moisés me deixou aterrorizada. Amenhotep, o meu sobrinho, irá morrer.

—Todo filho primogênito? —Indago ao lembrar que Djoser é o meu primogênito e que Amenhotep é o primogênito de Ramsés. Assim como Uri também é o de Hur.

—Não pode ser. Você precisa fazer alguma coisa...

—Não há o que fazer. Apenas Ramsés pode mudar isso. —Moisés fala e então meu desespero apenas cresce ainda mais. —O Egito inteiro irá chorar pelos seus mortos e Ramsés irá chorar pelo seu filho.

—Eu preciso fazer alguma coisa.—Falo atônita e então Moisés segura levemente em meus braços. —Faça alguma coisa, Moisés. Isso é horroroso!

—Todo o Egito irá chorar pelos seus mortos. E Ramsés vai chorar pelo seu menino. —Moisés fala manso, mas ao mesmo tempo deixa claro a gravidade do perigo.

—Você não pode fazer nada, Henutmire. —Hur fala angustiado ao saber do risco que corremos. —E o quê iremos fazer para salvar todos os primogênitos?

—Nada. —Sinto que Moisés mente para mim, vejo isso em seus olhos. —Eu sinto muito, mãe.

—Eu sinto ainda mais. —Falo magoada, mas com a fé mantida de pé. Moisés então me dá um último abraço e vai embora tomado pela angustia e duvida. Eu sinto que meu filho mente para mim. —Eu estou com medo, Hur.

—Uri... —Hur protesta infeliz. —Uri é meu primogênito.

—Mas Djoser é o meu. —Os olhos de Hur ficaram ainda mais negros ao me ouvir falar. —Eu sei que de todos os filhos Uri é o mais velho, mas Djoser é meu primogênito, Hur. Assim como Amenhotep é o primogênito de Ramsés.

—Isso quer dizer que Djoser também irá morrer? —Hur pergunta magoado e aflito.

—Eu já perdi muitos filhos ainda no ventre, Hur. Eu não vou suportar ver Djoser morto! —Falo apavorada e então desabo no chão frio. Hur vem ao meu encontro e me abraça forte. —Eu não quero perder mais nenhum filho, Hur! Eu não vou suportar! —Protesto infeliz.

—O que vamos fazer agora para proteger nossos filhos? —Hur pergunta tomado pela dor ao saber que pode perder Uri e Djoser de uma vez só. 

—Não teremos nem Anippe, Hur. Pois ela partirá com o teu povo enquanto, supostamente, estaremos chorando a morte de Uri e Djoser. —Falo entristecida por perder todos os meus filhos.

—Ou seja, somente irá nos restar está criança. —Meu choro foi ainda mais agonizante ao entender o propósito de Deus. Essa criança foi concebida apenas para suprir a ausência dos meus filhos. Porque Anippe e Moisés irão partir, e certamente Uri e Djoser irão morrer na próxima praga.

—Hoje, a meia noite. —Sussurro  aflita. Eu não sei quem pode estar mais desesperado neste momento, talvez nós dois estejamos sofrendo juntos, mas de certa forma eu não posso sentir toda a dor de Hur. —Eu não vou suportar perder mais ninguém. —Minha dor se tornou ainda maior ao imaginar meu filho e meu sobrinho mortos. E o que ainda me deixa ainda mais aflita, é temer pela vida de Uri. Eu não tenho certeza se Djoser corre perigo já que ele é o segundo filho de Hur, mas de certa forma ele é meu primogênito.

(...)

—Henutmire. —Ramsés fala o meu nome ao meu ver entrar aflita na sala do trono.

—Você precisa impedir isso, Ramsés. Você sabe que Amenhotep e todos os primogênitos correm perigo. —Falo, mas Ramsés não me dá atenção nenhuma. —Seu filho, Uri, Djoser e outros podem morrer.

—Mas Djoser é o segundo filho de Hur, Henutmire.

—Ele não é o primogênito de Hur. Mas é o meu! —Esbravejo.

—E mais velho que Amenhotep, Djoser de fato é o herdeiro do trono. —Ramsés fica pensativo e então me olha assustado. —Eu não posso, Henutmire...

—O seu filho pode morrer assim como o filho que Nefertari carregava no ventre. —Falo em relação a gravidez ainda desconhecida de Nefertari. Ramsés me olhou assustado, quase louco, e então soltou um grito de terror em meio a sala do trono enquanto eu permaneci de pé. —Você não pode se deixar cegar pelo ódio, ou então vai chorar pela morte  de teu único filho, Ramsés.

—Isso é culpa de seu filho! —Meu irmão grita. Eu então me afasto dele assustada. —Maldito seja Moisés!!

—Cale-se! —Berrei incrédula ao ver Ramsés amaldiçoar o meu filho e ao mesmo tempo lembrar da infância.

Flash Back On

—Henutmire? —Nayla chama por mim ao me ver entrar e ser seguida por um guarda com Moisés nos braços. —Quem é essa criança?

—Me dê ele aqui. —Ordeno ao guarda, chorando assim como Moisés também chora pela mãe de sangue. É então que uma serva vem até mim e tenta tirar Moisés de meus braços. —Não... —Falo. Mas a mulher insiste. —SAIAM DAQUI! SAIAM TODAS! —Grito tomada fúria.

—Vamos, Ramsés. —Nayla chama pelo meu irmão mais novo enquanto Moisés para de chorar ao ver os brinquedos de Ramsés.

—Espera, Nayla. Você gostou dos brinquedos? —Pergunto ao ver os olhos de Moisés brilharem. —Ramsés pode te emprestar, não pode, Ramsés? —Pergunto olhando fixamente para meu irmão.

—Claro, vem brincar. —Ramsés fala e então eu ponho Moisés ao lado de meu irmão mais novo. —Não chora. —O príncipe fala e então entrega um pequeno crocodilo de madeira para meu filho. —Quem é ele?

—Ele é meu filho.

—Seu filho? —Nayla indaga incrédula. Posso ver no olhar de minha madrasta que existe uma dúvida terrível. Como essa criança é minha?

—Eu não sabia que você tinha filho. —Ramsés fala ao olhar para mim e em seguida olhar para Moisés.

—Mas eu tenho. —Falo ao meu ajoelhar entre os dois meninos. —Ramsés, este é Moisés, meu filho. Moisés, este é Ramsés, seu tio. Vocês ainda vão brincar muito juntos. —Apresento as duas crianças e então olho para Nayla. —Não é mesmo, Nayla?

—Eu acho que sim. —Nayla fala ainda temerosa por Moisés ser um hebreu. Mas de toda forma ela fica feliz ao me ver alegre.

Flash Back Off

—Eu sou a responsável por tudo isso, soberano. Você querendo ou não, fui eu quem trouxe Moisés para este palácio, ele hoje carrega meu nome, carrega o nome de Disebek, é neto de Seti e também é seu sobrinho. Moisés não tem o nosso sangue, mas tem um grande pedaço de mim com ele. —Falo sendo tomada pelo orgulho. —Você querendo ou não, eu fui capaz de me livrar desse mal que você e nosso pai tem em comum!

—Como ousa, Henutmire? —Ramsés pergunta pondo-se de pé e ficando frente a frente comigo. —Eu sou o rei!

—E eu sou sua irmã mais velha! Sua única irmã! Filha de Seti e agora rainha do Egito! —Desafio o meu irmão.

—Chega. —Gab fala ao entrar na sala do trono. Eu então vejo várias pessoas na porta, inclusive Hur e nossos filhos. Também vejo Radina, Amun e Oritia. —Conte para ela, Ramsés.

—Contar? —Radina pergunta incrédula ao olhar para meu irmão. —Vocês ainda não contaram? —Ramsés então foi até o trono.

—Contar o quê? —Pergunto ao seguir Ramsés.

—SUA MÃE TE ENGANOU A VIDA INTEIRA! —Gab grita e então eu movo meu rosto sorrateiramente até olhar para ele. Vejo Hur se aproximar, mas ele é impedido por Djoser. —VOCÊ NÃO É A PRIMEIRA FILHA DE SETI!—Seu grito estremeceu o meu corpo dando inicio a forte batidas em meu coração.

—CALE-SE! —Ramsés grita ofegante. Volto minhas atenção para Amun que vem até mim acompanhado por Paser.

—Tirem ele daqui e agora.—Falo por entre os dentes sem desviar meu olhar de Gab, que amedrontado, abaixa o olhar.

—Ele está louco. —Paser fala aflito.

—Henutmire, seja forte. —Amun pede ao segurar minhas mãos. —Você precisa...

—Meu amor... —Hur me surpreende ao saber da verdade antes de mim. —Gab acabou de nos revelar tudo...

—O que está acontecendo afinal? —Pergunto já sem paciência. Olho para cada pessoa até chegar em Ramsés. —Ramsés!

—Sua mãe te enganou a vida inteira, Henutmire. —Hur fala ao vir até mim e segurar minhas mãos.

—Como? —Pergunto sentindo um nojo de repulsa e vergonha.

—Gab é nosso irmão. —Ramsés revela. Garanto que se Hur ou Amun não estivessem tão próximos de mim, eu estaria no chão com susto que acabo de levar. —Filho de nosso pai com Nayla.

—Nayla? —Indago furiosa. —Isso não pode ser verdade.

—Mas é. —Hur fala envergonhado.

—Vocês sabiam esse tempo todo? —Pergunto furiosa. —Eu era a única que não sabia se nada disso?

—Eu soube faz pouco tempo, Henutmire. —Ramsés fala. —Jahi revelou tudo para mim e Gab.

—E nosso pai sabia disso? —Pergunto.

—O rei só soube que eu era seu filho quando pedi você em casamento. —Gab responde. —A rainha e Nayla impediram tudo isso temendo um incesto.

—E por que você não nasceu aqui? Porque meu pai rejeitou você? —Pergunto incrédula.

—Nossa mãe e Nayla engravidaram na mesma época, mas nossa mãe estava ressentida e então pediu para o nosso pai mandar Nayla em uma missão diplomática pela Núbia, mas na verdade ela estava indo ter o filho, Gab, longe do Egito. —Ramsés fala pausadamente e então eu olho entristecida para Gab. —O inevitável aconteceu. A esposa secundária deu um herdeiro enquanto a rainha de uma filha mulher ao rei. Com isso nossa mãe ameaçou Nayla e fez com que Gab fosse criado como primo de Jahi e Radina.

—Então Gab é o verdadeiro rei? —Radina pergunta e então todos permanecem calados.

—Não. —Gab responde ao olhar para mim.

—Você. —Falo olhando para Ramsés. —Você quase me casou com Gab. Você tem ideia do nojo que estou sentindo agora? —Minha voz ecoa pela sala do trono e ao mesmo tempo meu olhar queima Ramsés.

—Henutmire... —Amun chama a minha atenção.

—Você... —Não consigo terminar de falar ao sentir nojo do plano infeliz de Ramsés.

—Eu e você somos irmãos. —Gab fala ao vir até mim. Todos nós olham assustados, mesmo assim eu não falo nada para Gab. —Eu sinto muito pelo mal que causei para vocês dois. —Ele fala ao olhar para mim e Hur.

—Henutmire, fale alguma coisa. —Hur pede ao me ver calada. Eu não sei o que falar, muito menos para quem olhar.

—Me perdoe por esconder isso de você... —Ramsés fala ao pôr sua mão em meu ombro, mas eu me esquivo dele.

—Não toque em mim. —Ordeno enfurecida.

—Henutmire, eu...

—Não ouviu a nossa irmã? —Gab pergunta ao se pôr entre mim e Ramsés. O ambiente então fica ainda mais tenso e então Hur segura em minha mão.

—Como ousa? Henutmire é mais minha irmã do que sua! —Ramsés fala ao ficar mais perto de Gab. —Saia da minha frente!

—Chega. —Falo com muita calma, eles então me ouvem e se calam. —Eu não quero que essa história saia deste palácio. —Falo friamente.

—Mas ela vai. —Ouço Radina falar. Eu então dou meia volta e olho para ela. —Eu mesma irei me encarregar disso. Gab é o verdadeiro rei!

—Guardas!—Falo tomada pela raiva. —Como ousa? —Indago. Os guardas então se apresentam. —Prendam essa mulher.

—Henutmire, não! —Hur pede aflito. Vejo meus filhos apavorados ao presenciarem esta cena onde eu mostro todo o meu poder. —Ela será morta!

—A rainha finge ter medo por que diz que por um fio não aconteceu um incesto? —Radina pergunta nervosa ao ser segurada pelos guardas.—Mas de fato aconteceu! —Todos olharam para mim e Gab apavorados. —Gab uma vez falou que a princesa Anippe era filha dele!

—Pelos deuses! —Ramsés fala assustado.

—Você não é filha do joalheiro, Anippe! Você é filha de Gab! —Radina mente descaradamente.

—Isso é verdade, então? —Anippe pergunta sendo amparada por Djoser. Tento ir até minha filha, mas Djoser a mantem firme em seus braços.

—Claro que não. —Hur responde e então olha furioso para Gab. —Gab inventou isso para me separar de Henutmire.

—É verdade! Gab deixou a rainha grávida e então voltou para a Núbia! —Radina grita. —Façam as contas! Gab foi embora pouco tempo depois do nascimento de Amenhotep e Djoser!

—Tirem essa mulher daqui! —Ramsés ordena furioso.

—Eu devia mandar cortar a sua cabeça! —Falo ao avançar em Gab. Ele tenta se esquivar dos tapas que dou nele, mas ele não consegue. —Eu poderia te matar com minhas próprias mãos!

—Calma! Calma! —Hur pede ao me segurar pelos braços.

—Levem a princesa para os seus aposentos. —Amun fala para Djoser sobre Anippe. Eu então vejo eles levarem minha filha ainda incrédula para o seu quarto.

—Não se altere, minha rainha. Pode fazer mal a criança que está em seu ventre. —Paser acabada falando da minha gravidez para todos.

—Criança? —Gab pergunta incrédulo.

—Sim. Muito em breve irá brotar um filho de meu corpo. —Confirmo. —Apesar da idade avançada, eu acabei concebendo mais um filho.

—Pelos deuses. —Ramsés fala assustado.

—Henutmire, sua mãe não teve culpa de nada... —Gab tenta defender a minha mãe. —Ela apenas tentava te proteger.

—Proteger? E o que isso custou? Você é um filho bastardo graças á ela! —Altero minha voz.

—Não se aborreça agora! Não crie um ódio contra sua mãe! —Hur pede ao me segurar pelos braços.

—Eu não posso acreditar em tudo isso. —Falo angustiada.

—É melhor deixar os três sozinhos. —Paser pede ao olhar para Hur.

—Eu estarei por perto. —Hur fala antes de sair acompanhado por Paser. Quando as portas da sala do trono foram fechadas, eu olhei para Ramsés e Gab.

—Eu soube faz pouco tempo. Nosso pai soube apenas quando Gab pediu a sua mão em casamento e nossa mãe revelou tudo. —Ramsés tenta se defender. —Eu tentei esconder isso por que...

—Por que quase me casou com meu próprio irmão. —Falo enojada. Um silêncio se estabeleceu no local por que os dois homens não sabem o que falar para mim. —Você tem ideia da tragédia que poderia ter acontecido, Ramsés? Você pelo menos tem noção da gravidade? Se nosso pai não permitiu meu casamento com Gab, por que você iria permitir?

—Ramsés nunca aceitou o fato de ter Hur como cunhado, Henutmire...

—Mas agora terá que aceitar você como irmão. E o pior, o legítimo herdeiro de Seti. —Falo enfurecida. —Esse trono nunca foi seu, nunca foi do nosso irmãozinho que morreu ainda criança... —Comecei a chorar ao lembrar da morte de meu irmão. —Esse trono é de Gab.

—Eu não quero o trono, não quero a coroa, não quero nada. O que eu queria, agora não posso mais ter. —Gab fala olhando decepcionado para mim. —Eu sinto muito por todas as brigas que fiz você e Hur terem.

—Sente? Anippe agora pensa que é sua filha, Gab! —Falo endurecida. —Você fez com que minha filha se voltasse contra o próprio pai!

—Me perdoe. —Gab pede erguendo os braços, me esperando para um abraço. Eu vou em sua direção, mas rapidamente me desvio e saio da sala do trono sem dar uma palavra sequer.

(...)

Corri desesperada até o Nilo e lá, chorei desconsolada por saber o que minha mãe fez com Nayla e Gab. Meu pai, o rei, teve dois filhos, um menino e uma menina, a única diferença era de apenas dois dias, eu sou aquela menina, filha da rainha ressentida por que uma esposa secundaria foi capaz de dar um herdeiro homem ao meu pai. Eu roubei toda a atenção de Gab, por ser uma mulher eu não deveria ter tantos prestígios, mas aprendi a ler e escrever, a me comportar como uma rainha graças ao meu pai. Cresci como uma rainha até o nascimento do meu irmão falecido e de Ramsés, mas mesmo assim o mal já estava feito.

Enquanto eu cresci rodeada de luxo, carinho, disciplina, riquezas, ou seja, tudo o que uma filha de rei merece, Gab cresceu como o primo bastardo e adotivo de Jahi e Radina. Por Deus! Jahi morreu e revelou toda a verdade! Ele sabia que Gab era meu irmão quando nos apresentou! —Caio desolada na areia e então começo a chorar novamente. —Gab é meu irmão! Eu me sinto tão suja por saber que meu próprio irmão se apaixonou por mim! Como isso pode ter acontecido? Graças ao ressentimento de minha mãe, claro!

—Rainha Henutmire. —Ouço uma voz familiar me chamar. —O que aconteceu? —O homem, Arão, pergunta ao me ver caída no chão. Ele então se ajoelha e me abraça forte tentando me apoiar.

—Eu estou me sentindo tão suja! —Falo entre soluços e lágrimas. Arão me olha abismado ao me ouvir falar.

—Por que? O que aconteceu? —Arão pergunta incrédulo, mas eu apenas choro. —Não me diga que... —Arão não termina de falar ao entender tudo errado. —Quem fez isso? —Eu não consigo explicar o que está acontecendo comigo, e isso faz Arão pensar o pior. —Fale alguma coisa, por favor!

—Gab é meu irmão. —É a única coisa que consigo falar. —Meu irmão se apaixonou por mim!

—Que horror! —Arão fala ao entender tudo. O hebreu então me abraça como forma de tentar aliviar a minha dor, mas nada pode me ajudar agora. Eu estou me sentindo suja ao lembrar de cada flerte de Gab comigo, me sinto culpada por saber que de certa forma sou culpada pelo meu irmão ser apaixonado por mim.

—Henutmire. —Ouço Oritia me chamar. —Pelos deuses, coitadinha! —Ela fala assim que, com a ajuda de Arão, me põe de pé. —Eu sinto muito, minha querida.

—Acho melhor a senhora voltar para o palácio. —Arão fala ao retirar alguns fios de cabelo do meu rosto. —Eu sequer poderia imaginar que ao passear pelo Nilo fosse lhe encontrar tão infeliz.

—Parece que Deus sempre te coloca no meu caminho. —Falo ao olhar fixamente para Arão.

—Parece que este Deus também protege a criança que você carrega. —Oritia fala e então Arão me olha assustado.

—Isso é possível? —Arão pergunta incrédulo. —Quando eu penso que Deus não pode mais me surpreender, ele mostra o quanto é poderoso.

—Nem eu mesma sei explicar como isso pode ser possível. —Falo sobre a minha gravidez.

—De qualquer maneira você tem que se acalmar. —Oritia pede preocupada comigo.

—Eu não sei se consigo caminhar até o palácio. —Falo ainda abalada por tudo o acontece hoje.

—Não seja por isso. —Arão fala ao me pôr em seus braços rapidamente. Eu me apoio nele assustada pelo seu gesto, mas mesmo assim fico agradecida.

—Tome muito cuidado. —Oritia pede ao me ver nos braços de Arão.

—Eu já sei o caminho. —Arão fala risonho e começa a me carregar em seus braços.

(...)

Por todo o trajeto até o palácio nos braços de Arão, eu permaneci calada e pensativa. Por minha causa Jahi foi morto, por minha causa Anippe está doente. Também é minha culpa Gab ter sido criado na Núbia. E agora para piorar, eu sei o quanto minha mãe foi maquiavélica com Nayla. E meu pai? Que nunca falou sobre nada? Eu me sinto não culpada por tudo isso! Eu sou a pior das mulheres! Meu próprio irmão se apaixonou por mim. —Acabo fechando os olhos e repousando minha cabeça nos ombros de Arão. —Somente eu sei o quanto meu coração está dilacerado.

—Abram os portões! —Ikeni grita ao me ver nos braços de Arão e Oritia ao nosso lado. —Saiam da frente! A rainha está desacordada! —Ikeni fala ao me ver de olhos fechados nos braços de Arão.

Sinto que Arão permanece sério ao entrar no palácio me tendo em seus braços. —Todavia eu não abro meus olhos para mostrar que estou bem. —Eu apenas me deixo ser levada por ele.

—O que aconteceu com ela? —Ouço Uri perguntar ao me ver nos braços de Arão. Eu permaneço de olhos fechados.

—Me leve até Hur. —Arão pede então volta a andar sereno e tranquilo. 

(...)

—Henutmire. —Hur fala ao me ver nos braços de Arão. —Não sabe o quanto fiquei preocupado com você.

—Ela estava com Arão nas margens do Nilo. —Oritia fala para Hur.

—Acho melhor você ficar com ela. —Arão fala ao me entregar nos braços de Hur. —Ela precisa descansar agora.

—Obrigada. —Agradeço com palavras e um sorriso para Arão. O hebreu então dá meia volta acompanhado por Oritia rumo á vila mas antes disso nos olhamos carinhosamente.

—O que você foi fazer sozinha no Nilo? —Hur pergunta olhando para o destino que Arão foi embora.

—Quis ficar sozinha. —Respondo ainda magoada com tudo o que aconteceu hoje mais cedo.

Hoje a meia noite o anjo destruidor irá passar e levar a vida de cada primogênito e isso... —Gab! —Gab é o primogênito de meu pai. Certamente ele irá morrer assim como meu enteado e meu sobrinho. Mesmo com todo mal que Gab me fez, eu não consigo me alegrar com a sua suposta morte. Nada poderei fazer para salvar todos os primogênitos da próxima praga...


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Notas finais do capítulo

Quantas brigas, quanta dor. Agora Gab não pode mais infernizar a nossa rainha hehee
Passando para dizer que estou morrendo com a ideia de vocês de "Império Hurmire" eu nem tinha pensado nisso!



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