Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 56
Capitulo 56


Notas iniciais do capítulo

Me Desculpem por não responder seus comentários, estou com o tempo muito corrido ultimamente, mas agradeço todos desde já. Boa leitura!



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Fiquei andando de um lado para o outro, guardando o sono de Djoser, mas ao mesmo tempo esperando a décima praga. A cada maldito minuto eu espero peço anjo da morte, mas eu não me convenço de que a praga irá acontecer já que nada de anormal está acontecendo. Também me preocupo com Uri, ele é o filho mais velho de Hur. Não sei se estou errada em considerar Djoser um primogênito, mas em todo caso eu fico aflita pelo meu filho. Também fico aflita por Anippe! Desde que aconteceu toda aquela discussão na sala do trono que eu não vejo minha filha, não sei como ela está. Também fico preocupada com Amenhotep, afinal de contas ele é o único filho de Ramsés. —Sinto minhas mãos transpirarem, primeiro sinal que estou nervosa. —Eu estou aflita por mim e ao mesmo tempo por Hur, não sei o que será dele se Djoser e Uri morrerem.

—Talvez eu deve-se ler este papiro esta noite mesmo.—Falo sobre o papiro que Djoser me entregou faz muitos dias. Sinto meu coração pesar, mas também sinto o peso de meu ventre aumentar com a criança que está sobrevivendo em mim.

Vou até a varanda do quarto de meu filho e olho para todo o céu estrelado, observo cada estrela até chegar na lua. Também olho para as casas e procuro pelo tal anjo, mas nada encontro. Choro amedrontada com a possibilidade perder aqueles que amo. Mas sigo firme e confiantes de que Deus não vai me abandonar agora. Ele não pode ter me deixado viver para ver meu filho morrer, ele não é cruel, Deus é misericordioso.

—Proteja o meu filho, eu te peço. E me dê forças para suportar toda a dor que é reservada para mim e aqueles que amo. —Rogo com as mãos erguidas para o céu. Sinto o vento frio soprar em minhas lágrimas que, ao me sentir melancólica, rolam em meu rosto.

—Henutmire. —Oritia chama por mim ao me ver desolada. —Não chore tanto, minha amiga. Isso vai te fazer mal!

—Estou com medo, Oritia. —Falo sobre a praga.—Medo de perder aqueles que amo.

—Eu também vou perder a minha filha quando os hebreus forem libertos, se forem libertos, Yaffa e Anippe fazem planos de partirem. —Oritia fala inconformada.

—Eu vou perder todos os meus filhos, todos menos o que insiste em crescer em meu ventre. —Falo ao tocar em meu ventre e sentir a seda fria em minha pele. —Minha mãe costumava dizer que chorava amedrontada ao ver tantos bebês hebreus serem mortos enquanto eu crescia em seu ventre.

—O decreto foi feito quando você ainda nem era nascida. Eu me lembro disso vagamente...—Oritia fala.

—Agora eu me vejo perdida, amedrontada com essa nova praga. —Falo e então fecho os olhos.

—Você deveria descansar hoje ao lado de seu filho. —Ela fala sugestiva. —eu preciso me recolher, boa noite. —Ela fala antes de se retirar da varanda. Eu então seco minhas lágrimas e respiro fundo antes de entrar para o quarto de meu filho novamente e me deparar com ele dormindo.

—Bons sonhos, príncipe. —Falo ao beijar a face de meu primogênito adormecido. Somente eu sei o quanto amo esse garoto, somente eu sei o elo superior que há entre nós dois. —Eu vou estar aqui, meu filho. Disposta a te proteger. —Falo ao me deitar ao lado de meu filho. Hoje, somente hoje, irei esperar pelo inevitável.

(...)

—Mãe?—Djoser me chama e então eu desperto apavorada ao ver que já é dia. —O que faz aqui?

—Meu filho! Meu filho você acordou! —Falo ao abraçar Djoser e sentir seu coração pulsar forte. —Eu pensei que fosse perder você. Fiquei acordada até não aguentar mais...

—Mãe, eu estou bem.Aliás, eu não sou o primogênito. Uri quem é. —Djoser fala e então nos levantamos apavorados da cama. —Precisamos saber de Uri, mãe!

—Você acha que não teriam nos avisado se algo de ruim tivesse acontecido com ele?—Pergunto preocupada com meu enteado. Sinto uma cólica quase insuportável, mas devido ao medo de meu filho em relação ao irmão mais velho, nada falo sobre a minha dor.

—Ai estão vocês.—Anippe fala ao entrar eufórica no quarto. —Procurei a senhora por toda parte deste palácio, menos aqui...

—Precisamos conversar.—Falo ao relembrar o escândalo do dia anterior.

—Se for sobre o que Radina falou, saiba que aquilo tudo não me atingiu. Se eu não fosse filha de Hur, eu teria sofrido com as pragas.—Anippe fala convencida e um sorriso se forma em meus lábios. —Gab é o primogênito de Seti, mãe. Ele pode morrer...

—Então a praga não se concretizou? —Pergunto incrédula.

(...)

—Venha comemorar comigo, querida irmã.—Ramsés pede ao lado de Amenhotep. Eu olho assustada para Hur e Gab, ambos me olham preocupados. —Teu filho mentiu, os primogênitos do Egito vivem.

—É o que parece.—Falo ainda assustada por ver meu sobrinho vivo. —Eu não entendo...

—Não entende que desta vez Deus não foi capaz de vencer o Hórus vivo?—Ramsés pergunta pleno de soberba. —Sirva algo mais leve para minha irmã, Gahiji. Sabemos que, milagrosamente, a rainha não deve beber nada muito forte.

—Eu não quero nada. Eu apenas preciso de algum chá calmante, Gahiji. —Falo ainda preocupada com Moisés. Por que a praga não aconteceu?

—Se sente mal,tia?—Amenhotep pergunta.

—Talvez o chá resolva.—Falo tentando amenizar minha preocupação. Tento esconder meu incomodo já que a cólica faz com que eu me sinta indisposta.

—Algum problema com a criança?—Hur pergunta preocupado. Eu olho admirada por ter Gab e Ramsés no mesmo ambiente após toda a discussão, todavia demonstro coerência.

—A criança é o que menos me preocupa.—Respondo para a surpresa de todos. —Como Uri está?

—Nenhum mal aconteceu. Com nenhum primogênito...—Hur fala ao lançar um olhar para Ramsés e Amenhotep, ambos conversam e se esquecem de nós três.

—Precisamos falar sobre Radina.—Gab interfere.

—Se de pendesse de mim Radina estaria longe, talvez, assim como você. —Falo.—Mas eu preciso de respostas, Gab.

—Eu também preciso.—Gab fala impaciente.

(...)

—O que vai acontecer agora com o reino?—Gab pergunta assim que ficamos sozinhos no santuário.—A conversa já se espalhou!

—Eu não faço a mínima ideia do que eu vou fazer com a minha vida, quanto mais com o Egito, Gab. Você e Ramsés devem se...

—Engano seu. Se houver uma guerra pelo trono, eu irei duelar com você e não com Ramsés. —Gab me interrompe com sua revelação rosca.—Afinal, você é a mais velha e não ele.

—E eu entrego o reino para ele assim que te vencer?—Pergunto debochada.—Duelem vocês dois, queridos.

—E você acha que é fácil assim como uma partida de Senet? Você é a rainha, Henutmire. O povo clama uma única coisa, com uma única voz, querem você no lugar de Ramsés e após sua morte Djoser governe o reino.—Gab revela.—Mas se caso a maldita história sobre mim saia dos portões do palácio, pode acontecer uma reviravolta.

—Que aconteça. Não estou disposta a governar o Egito e depois Djoser se encarregar disso...

—Djoser pode não querer ser o futuro rei, minha irmã.Mas caso a criança que cresce em seu ventre for um menino as coisas podem mudar neste reino. —Gab fala e então eu levo minha mão ao meu ventre. —Se você quer mesmo que Djoser vá para Canaã, ore para Deus que essa criança que está para nascer seja um menino.

—Mas e Amenhotep? Esquece de nosso sobrinho!—Falo alterada.

—Amenhotep não será rei se essa praga se concretizar, Henutmire. —Gab fala e deixa claro toda a verdade. —Você é a única que pode dar um rei ao Egito, você tem três filhos de seu sangue, sendo que Anippe já tem planos de ir para Canaã...

—Case-se.—Ordeno com a voz embargada, todavia Gab me olha incrédulo. —Tome o reino, assim eu poderei ir para Canaã e você terá o reino para você.

—Eu não quero esse maldito trono, ele é seu, somente seu. Acha mesmo que eu irei me sentar no trono do homem que não me assumiu como filho por vergonha? —Gab pergunta e eu sinto um nó se formar em minha garganta.

—Mas eu quero ir para Canaã.—Enfatizei para seu espanto.—Não quero ser mais rainha!

—Como é?—Gab pergunta incrédulo.—Enlouqueceu? Nefertari está morta, você é filha de Seti, sangue real corre em suas veias, nas veias de teus filhos...

—Não quero! Eu não quero ser rainha!

—Acontece, minha amada irmã, que você já é rainha desde que nasceu, desde que tomou o meu lugar. —Gab fala friamente. Permaneci imóvel olhando para ele, dor era o que tinha em seus olhos. —Se Ramsés não tivesse nascido, você estaria sendo a rainha desde que se casou com Disebek!

—Cale-se!—Ordeno aflita.—Acha mesmo que darei um sucessor legitimo ao meu pai?—Indago furiosa. —Eu mandarei meus filhos para Canaã, mesmo que eu não vá, portanto, caso essa criança for uma menina, a dinastia de nosso pai irá desaparecer como fumaça. Mas, eu não vou me abalar com isso, não vou me culpa por ter feito o reino ruir, Gab. Por que somente agora lembraram-se de que eu sou a rainha por direito, mesmo sendo uma mulher, o preconceito real ofuscou, não foi? —Minha raiva é tão perceptível! Gab então entendeu tudo, o preconceito real abalou tudo.—Agora a queda do maior império será feita por culpa dos homens, por que os homens são a sua própria desgraça, Gab. E não, não quero que nenhum filho meu se tornei rei, ou rainha se caso Anippe assuma o trono por algum milagre, quero que eles virem hebreus, prefiro que eles sejam esquecidos!

—Então você...

—Me poupe. —Falo brutalmente para sua surpresa.—Dê você um sucessor, claro, se for capaz.

—Você tem noção do que está fazendo, Henutmire?—Gab pergunta com lágrimas nos olhos. —Uma dinastia devastada pelo seu orgulho! Por que você não pode perdoar o nosso pai!

—Nosso? Ponha-se no seu lugar! —Esbravejo enfurecida.—Quer ele como seu pai? Pois então grite aos quatro cantos do Egito que ele é seu! Grite e duele apenas com Ramsés, Gab. Por que eu estarei em Canaã, ou talvez até morta já que ultimamente tantas pessoas vem morrendo!

—CALE-SE! —Gab berrou enfurecido por perder para mim. Arregalo os olhos ao vê-lo gritar comigo.

—COMO OUSA GRITAR COM A RAINHA?—Grito tão alto que ouço minha voz ecoar pelos corredores do palácio real, espantando algumas aves aninhadas aqui por perto. Gab me olhou assustado, porém firme.

—Me perdoe, majestade.  —Gab é irônico ao ponto de me fazer sentir nojo.—Mas eu não tenho culpa se me apaixonei pela minha própria irmã.

—Mate esse amor, ou se mate.—Aconselho antes de dar meia volta e deixar Gab sozinho no santuário.

(...)

—Ele falou tudo isso?—Hur pergunta incrédulo ao me servir o chá de Gahiji.

—Eu não sei o que fazer com ele, Hur. Certamente ele poderia ser morto, mas eu não quero manchar minhas mãos com o meu próprio sangue.—Falo ao tomar um pouco da bebida de Gahiji. —Por Deus, como é acida!

—Gahiji avisou sobre o sabor. —Hur fala aparentando estar preocupado. —Henutmire, você precisa saber de uma coisa sobre Moisés.

—Algo aconteceu com ele?

—Moisés vai viajar para o alto Egito para chamar todos de nosso povo para a nossa partida, Ou seja, ele tem certeza de que o meu povo ficará livre. —Hur revela.—A décima praga vai acontecer...

—Eu estou com medo, Hur. Djoser é o meu primogênito, acha que algo de mal vai acontecer com ele? Mesmo que Uri seja o seu filho mais velho?

—Eu não sei, Henutmire. Nossos filhos correm perigo. Moisés está em perigo por desafiar o rei, Uri por meu primogênito, Djoser por ser o seu e Anippe por querer sair do Egito. —Hur fala atordoado pelos nossos filhos.—E essa criança? O que vamos fazer com ela?

—Eu não faço a mínima ideia do que será de mim, Hur. —Falo ao puxar meu marido pelas mãos e fazê-lo sentar na cama. —Hur, se algo me acontecer...

—Não me diga isso, Henutmire. Eu não estou disposto a ouvir isso, não agora. Nem depois! —Hur fala emotivo, todavia evita as lágrimas.

—Saia do Egito com a criança em seus braços e nossos filhos quando o povo partir, Hur. Seja feliz em Canaã, eduque cada um de nossos filhos como você achar melhor, e fale de mim para essa criança caso eu não resista. Melhor dizendo, não irei aguentar.

—Você vai!

—Sabemos muito bem que não. Se suportei dar dois filhos para você foi por que eu era mais jovem, mas com a idade que tenho, mesmo que seja um absurdo eu estar grávida, eu não irei resistir.

—E como vou para Canaã se esta criança irá nascer daqui a alguns meses sendo que falta pouco para os hebreus partirem?—Hur pergunta me fazendo pensar.

—Até lá encontrarei uma forma de você partir e alcançar Moisés, Hur. Mas eu quero que você vá para fora daqui quando essa criança nascer e leve Djoser contigo. Pois, já que Anippe vai partir ao lado de Moisés e Arão, terás apenas que levar Djoser e o bebê. —Falo e Hur fica desconsolado. —Isso claro Djoser não morra na próxima praga.

—Não vai ter sentido ir para a terra prometida sem você. —Hur fala amedrontado com a hipótese de me ver morta.

—Eu não irei para Canaã, Hur. Meus pés nunca pisarão nas terra prometida por deus aos seus ancestrais. Mas nossos filhos, nossos netos, vão sim, entrar na terra prometida. E então, será como se nós dois estivéssemos fazendo tal coisa. —Mal terminei de falar e Hur selou seus lábios nos meus como de costume. Segurei o seu rosto delicadamente enquanto ele prendia meu corpo ao dele tentando sentir o meu calor. —Tudo isso vai acabar, mas nós dois um dia estaremos juntos ao lado do Senhor.

—Mas eu não quero te perder nunca, Henutmire. Eu não lutei ao seu lado, não enfrentei Gab e Ramsés e todo o palácio para no final das contas te ver morta em meus braços! —Hur lamenta já sentindo o sabor da derrota, todavia eu o abraço forte.

—A vida é assim mesmo, mas até lá iremos aproveitar cada momento dessa gravidez.—Falo tentando espairecer a mente de Hur. —E desejar que esse mais novo filho agora seja mais parecido com você do que comigo...


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Notas finais do capítulo

As coisas estão ficando tensas enquanto a décima praga não vem...



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