Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 9
Quando as leis e moralidade impõem limites


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo grande para variar ;)



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Jenny deixou o jardim sem pressa. Correr poderia sinalizar medo e medo é muitas das vezes uma fraqueza. Apesar de ainda estar quebrada por dentro, a menina tinha uma esperança. Dentre ás várias cartas que encontrara distinguiu uma pela cor do papel e pela letra. Não fora escrita por seu pai e sim para o seu pai. Era um encontro naquela noite na “Calda de Baleia” com seu antigo contramestre: Adewale.

Nos tempos em que percorreu Londres pelos telhados, Jenny conheceu bem a cidade, suas ruas, caminhos, lojas, armazéns e até bons esconderijos, mas não se lembrava deste nome. Mas, havia alguns anos desde que não se aventurava por aí e apostava todas as suas fichas no porto. Lá havia dezenas de tabernas e prostibulos que permaneciam sempre abertos vinte e quatro horas por dia. Música alta era sempre audível de cada pequeno edifico. Bêbados movimentavam-se pelas ruas, alguns abraçados a algumas mulheres que se ofereciam por algumas moedas de ouro. Em alguns pontos havia pequenas brigas entre marinheiros que estavam igualmente bêbados. Nada que durasse mais de cinco minutos.

Logo, a Kenway compreendeu que a maior taberna e bordel dali era a The Whale. Tinha quatro andares e música alta acompanhada de gargalhas ecoavam a distância. Ela desceu do telhado que estava e foi até a entrada onde um cara estava sentado dando atenção as próprias unhas. Sem tentar chamar atenção, Jenny andou normalmente e já abriu as portas do estabelecimento quando o homem a puxou de volta.

– Hey. Aqui não é lugar para crianças.

Jenny o olhou enfurecido, odiava ser chamada de criança.

– Não sou criança, tenho dezesseis anos. – O homem riu e expeliu um bafo nojento de álcool.

– Com essa voz fina? Não deve nem ter pelos no saco ainda. Cai fora moleque.

A jovem fora lançada à rua e quase caiu com sua bolsa. A boa notícia é que o disfarce parecia estar funcionando, ou o homem simplesmente estava bêbado demais para notar a fraude. Fingindo a aceitação da derrota, ela caminhou para longe até o bendito não lhe prestar mais atenção. Virou na primeira ruela escura que achou e logo fora surpreendida por gemidos. Jenny corou instantaneamente e desviou o olhar da meretriz e do homem que estavam na parede a sua esquerda. Após o pequeno constrangimento, ela seguiu por alguns metros até chegar aos fundos da The Whale. Atentou-se a arquitetura do local, a construção era de madeira e tijolos, o que lhe cedia algumas brechas propicias para escalada, o local estava barulhento o suficiente para que ninguém ouvisse seus passos e havia janelas abertas nos andares mais altos. Sem hesitar, pôs-se a subir pela lateral, ainda abrigada pela escuridão daquela noite nebulosa. Alcançou o segundo andar e por uma janela entrou no prédio. Novamente seu rosto corou. Desta vez estava claro o suficiente para ver o que o casal ali fazia. O homem estava por cima de uma mulher desnuda que gemia de maneira exagerada e quando esta olhou para o lado e viu a intrusa gritou.

Rapidamente o homem se levantou e expos sua sexualidade que Jenny julgou ser humilde. Não que ela entendesse desse assunto.

– Ora, mas o que é isto moleque? Como chegou aqui? – Balbuciou ele.

– Ladrão! – A meretriz gritou ao cobrir os seios e se levantar, correndo até a porta. – Ladrão!

Jenny quis bater nela, mas não havia tempo. Ela correu até a porta e empurrou a mulher para o lado, logo as outras portas se abriram para ver o que era aquela gritaria. Ainda com a bolsa amarrada nas costas, ela saiu em disparada pelo corredor até chegar às escadas, olhou para trás e viu homens em seu encalço. Seus pés apressaram-se e desceram pelos degraus, no térreo a música continuava juntamente com a bebida. O homem que a impediu de entrar antes vinha em sua direção e parecia estar xingando-a. Encurralada por cima e pelo salão, ela saltou do meio da escadaria e se agarrou ao lustre bem no meio do bordel, aterrissando logo após sobre uma mesa. Copos e garrafas partiram-se diante seu impacto e cerveja espalhou-se pelo chão, tornando-o escorregadio. Seus perseguidores ficaram atônitos e separaram-se, bêbados como estavam esbarravam em mesas e cadeiras, quando não escorregavam na sujeira do local. Tudo virou uma bagunça só até que se ouviu um tiro. Jenny se abaixou e encolheu sobre uma mesa, estava próxima da saída, mas o susto deu tempo suficiente para ser capturada e carregada até o balcão.

– Escolheu o bordel errado para roubar. – Uma mulher gorda e de meia idade a advertiu por de trás do balcão. – Espero que saiba nadar. Joguem-no ao mar!

– Espere! – Uma segunda vez feminina interviu.

Um dos homens que a carregava abriu passagem para uma ruiva passar, com o sorriso travesso e uma flor enfeitando suas madeixas soltas por sobre os ombros e seios.

– Perdoe os modos do meu mensageiro. Ele deve estar um pouco bêbado não é rapaz? – Ela sorriu ao fitar Jenny erguida pelos “encarregados da segurança”.

Jenny assentiu, aderindo ao pequeno teatro.

– Ora, Bonny. Já avisei a você e seus amigos que não quero brigas em minha casa.

– Isso deve lhe pagar os custos. – A pirata deixou um saco pesado sobre o balcão. – Podem soltá-lo agora.

A dupla de homens olhou para a dona do bordel que contava as moedas que estavam dentro do saco sujo e lhes concedeu permissão para deixar a Kenway livre.

– Suma com esse moleque da minha frente, Bonny! – A dona esbravejou uma ultima vez.

– Vamos. Temos muito que conversar.

Jenny seguiu a ruiva por entre as mesas enquanto a música e as gargalhadas voltavam a se manifestar. Já na rua, sob o céu pouco visível elas dobraram na ruela à esquerda em que a menina escalva há poucos minutos atrás. Anne caminhou e desceu as ruas pedras até chegar ao porto. A maré estava calma e o cheiro de maresia era agradável às duas. A Kenway percebeu que desde o bordel um homem encapuzado as seguia, mas não se alarmou. Até que o trio parou sobre o solário de tábuas de madeira barulhentas que compunham o atracadouro.

– Quem é você e o que estava fazendo no The Whale? – Bonney foi direta ao se virar para Jenny, enquanto o terceiro elemento havia parado atrás dela.

A jovem por outro lado retirou a boina e deixou os cabelos castanhos compridos caírem por sobre os ombros.

– Meu nome é Jennifer Scott Kenway, lembra-se de mim?

Os olhos da ruiva se espantaram e sua boca sugou rapidamente o ar durante sua exclamação de surpresa. Mas logo em seguida um sorriso lhe tomou a face, ela se aproximou e abraçou a menina.

– Certamente me lembro de uma menina de seis anos com esse nome, mas nunca imaginaria encontrar essa mulher. – Jenny se emocionou e retribuiu o abraço enquanto ouvia a pirata.

– Meu pai morreu Bonny. – Suas palavras soavam tortas entre soluços e fungadas.

– Eu sei. – Anne a soltou e enxugou suas lágrimas. – Nós sentimos muito.

– Seu pai era um grande homem.

Jenny sentiu uma mão sobre seu ombro e se virou para encarar o dono daquela voz. Um homem negro de meia idade, careca e com uma voz gentil.

– Você é Adewale? – Ele lhe assentiu com a cabeça. – Li sua carta para o meu pai. Por isso fui até lá.

– Chegamos hoje em Londres e apenas descobrimos sobre seu pai à tarde. – Bonny lhe explicou.

– Foi muito arriscado de sua parte ir até lá e onde aprendeu a fazer aqueles movimentos? – Adewale a fitava intrigado.

– Com o meu pai. – Adewale arqueou a sobrancelha direita e cruzou os braços frente ao tronco.

– Sei pai lhe ensinou a saltar e correr daquele jeito? Aqui em Londres? – Ele insistiu até que ela bufou.

– Certo. Ele não me ensinou diretamente. Eu o vi e ouvi fazer isso algumas vezes e um dia terminei por fazer para salvar James, desde então eu peguei a prática.

– Pensei que seu pai a havia proibido. – Jenny não imaginava que Adewale pudesse saber sobre seu castigo, mas não era hora para isso.

– E proibiu nos últimos dois anos.

– Quem é James? – Bonny parecia mais relaxada quanto as habilidades da menina.

– Nosso cachorro. Bom, agora ele é meu. – Jenny recordou-se que James ainda estava em casa, provavelmente com Haythan.

– E por que foi ao bordel? Aliás, como nos achou? – A ruiva lhe questionava mais tranquilamente e tomava a liderança na conversa.

– Sorte. Eu diria. Fui porque sei que são amigos de confiança do meu pai e para vos dizer que meu pai não foi vítima de um assalto e sim de um assassinato. Uma armação ou emboscada. Como preferirem chamar.

– Já sabemos disso. Vi seu pai lutar incontáveis vezes e em desvantagem na maioria delas, ele não seria morto por simples bandidos.

– Templários. – Jenny a interrompeu e chamou a atenção da dupla de assassinos ao mencionar tal palavra.

– Como sabe sobre os templários? – Adewale voltou a interroga-la. – Seu pai lhe contou?

– De certa forma. – A Kenway sacou uma carta qualquer de dentro da bolsa ainda pendurada em seu ombro e deu ao homem que lhe correu os olhos rapidamente.

– É uma carta para a sua mãe. Eu ainda era contramestre dele nessa data. – Ele ergueu o olhar para menina logo ao seu lado direito. – Imagino que todas essas são cartas de seu pai e que já tenha lido todas.

– Não todas. Mas irei certamente. Aqui também tem o mapa dele, sua bandeira e uma roupa feita de peles. – Ela listava as coisas enquanto remexia na bolsa agora a frente do seu tronco. – Ah... Também tem essa zabatana. – Jenny retirou o objeto cilíndrico da bolsa.

– Zarabatana. Era do seu pai. Se não me engano, um presente de Mary. – Disse Adewale ao pegar a arma e analisa-la entre os dedos.

– Imagino quantos presentes de mulheres ele não ganhou. – Bonny riu com o comentário da jovem Kenway. – Desculpe... Eu não quis... – Jenny tentava se desculpar com a ruiva, afinal ela sabia do caso deles dois.

– Não se preocupe. Não vais achar nenhuma roupa minha nos pertences do seu pai. Ele era pouco cuidadoso com os presentes e só guardou este devido sua utilidade.

Jenny se sentiu um tanto envergonhada ao imaginar o pai com dezenas, talvez centenas de mulheres diferentes ao longo de sua vida em alto mar. Quem sabe tinha mais irmãos além de Haythan.

– Jenny. – Adewale se interpôs para cessar tal assunto. – Agradecemos sua iniciativa em vir nos avisar sobre os ocorridos com o seu pai e por guardar esses pertences. Não se preocupe, pois nós iremos achar os responsáveis por esse crime.

– Eu quero ajudar.

Bonny e Adewale se entre olharam e depois olharam a menina que estava entre eles.

– Não podemos. Seu pai não queria isso. – O homem se proferiu antes que ruiva falasse qualquer coisa, mas ela não reprimiu o seu olhar.

– Meu pai está morto e minha mãe também. Não tenho casa ou família para voltar.

– E quanto a Tessa e seu irmão? – Bonny torceu o nariz ao ouvir o nome da mulher de Edward. Agora ex-mulher.

– Meio irmão e Tessa não é minha mãe. Nunca foram minha família e nunca serão. Escutem, por favor, sei que meu pai os ajudava na questão dos escravos, do ouro e mesmo dos nativos colonos. Não quero me casar e parir filhos para um homem rico garantir seu nome no futuro. Quero fazer algo que realmente importe. Quero dedicar minha vida a algo que valha a pena. Meu sofrimento não se compara aos desses escravos, mas eu sei o que é ansiar pela própria liberdade e lutar pelo próprio destino. Por favor, me leve para o mar com vocês.


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Notas finais do capítulo

Sinto saudades desses dois personagens :3



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