Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 45
Os Irmãos Kenway I


Notas iniciais do capítulo

Senhoras e senhores, chegamos! Chegamos a esse capítulo que estou prometendo a muitíssimo tempo. Chegamos a esse encontro familiar... Chegamos ao Casos de Família - Tema de Hoje: irmão vira Templário sem a irmã saber.



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O sol já ia alto quando a jovem Kenway despertou, dormir um sono tranquilo em uma cama de verdade era o tipo de regalia que ela não tinha há muito tempo. Miko lhe cedeu a cama de bom  grado, pois sua casa era pequena e humilde, sendo assim havia apenas um quarto e uma cama. Ela sentou-se e encontrou uma muda de roupas dobradas aos seus pés juntamente a um bilhete.

“Há água fresca para banhar-se e aqui roupas limpas, espero que sirvam.”

Ela foi até o espaço privado do recinto, para fazer sua higiene e desfazer-se daquelas roupas imundas e fétidas. Ao retirar o blusão e ver seu pulso nu, uma pontada passou pelo seu coração, pois a Hidden Blade que Anne Bonny lhe dera já não estava lá e ela não fazia ideia de onde a encontraria. Após estar completamente lavada, Jenny pegou as roupas e quando as esticou se espantou ao ver um vestido.

Não era um vestido elegante, era até simplório, mas tinha lá suas sutilezas femininas. Como Miko teria arranjado aquilo? Ela se perguntava silenciosamente. Para os pés havia um par de meias e sapatos simples de couro, típico usado pela plebe londrina. Ao menos são confortáveis. Pensou ela ao experimentá-los. Antes de descer, a loira passou frente ao espelho e viu seu reflexo com os cabelos soltos que passavam dos ombros. Todos diziam que seu cabelo era exatamente igual ao de seu pai, e ela concordava, por isso tratou de fazer um coque.

Miko já sabia pelo som dos passos que Jenny já havia acordado, mas isso não o impediu de se surpreender ao ver a jovem trajada feito uma senhorita de sua idade. Ele a comprimentou sorrindo e colocou uma garrafa de leite sobre a mesa.

— Eu não sabia o que lhe agradaria como desjejum, então trouxe leite e pão fresco.

— Leite? Eu já tenho quase trinta anos, sabe disse não sabe? – Ela lhe respondeu sorrindo, mas sentou-se à mesa. – A propósito, por que tinha um vestido em casa?

— Eu não tinha. Eu o comprei cedo com uma amiga que costura.

A loira reparou que Miko desviou o olhar e lhe deu as costas enquanto lhe respondia, parecia até mesmo um pouco enrolado com as mãos, talvez a costureira fosse mais que apenas uma amiga.

— Obrigada, é bastante confortável.

— É bom saber disso, foi complicado explicar suas medidas a ela através de um desenho.

Jenny serviu-se e alimentava-se com tranquilidade enquanto Miko parecia ocupado na cozinha fazendo algo para comer. Pelos seus modos, era certo que o homem não dividia a casa com alguém em muito tempo. Um homem muito diferente de seu pai.

— Sei que seria pedir muito, mas quando foi à prisão, por acaso viu minha lâmina oculta?

Ele se virou com um pedaço de cenoura nas mãos e a encarou com curiosidade. – Você tinha uma? Pensei que seu pai havia limitado o treinamento apenas ao seu irmão.

— E limitou, a lâmina que eu usava não foi presente dele e sim de Anne Bonny.

— Ela de fato está morta? – Jenny assentiu secamente e concentrou-se em seu pão, não queria relembrar aquele fatídico dia. – Bom, não a vi pelo caminho, mas duvido que não estivesse na pose de alguém de alta patente.

— Talvez ainda esteja no navio...

— E sabia usá-la? Anne lhe treinou?

— Não ela. Eu estive em Tullum quando parti de Londres, lá encontrei o velho Ah Tabai e outros Assassinos. Foi lá que recebi treinamento.

— Impressionante e como foi parar naquele Man'o War?

A jovem fitou o homem que já havia parado com o que quer que estivesse fazendo na cozinha para se atentar ao seu relato e após limpar as mãos com os farelos de pão ela tomou um gole de leite e iniciou a narração de tudo o que aconteceu desde o dia que Anne Bonny chegou à Londres.

Horas se passaram e Jenny ouviu tudo o que Londres passou nos últimos onze anos de sua ausência, enquanto Miko recebia dela as informações da jornada que a garota fez até chegar ali, em sua casa. A lua já imperava nos céus quando ambos terminaram o jantar com os últimos acontecimentos de cada lado daquela dupla incomum.

— Sinto muito pelos seus filhos... – Disse Miko ao retirar os pratos da mesa.

Jenny nada lhe respondeu, a ferida ainda era recente e as lembranças de Nala e Sexta-feira frescas demais em sua memória. O homem pôde ver a tristeza que se apoderava dela edecidiu por outro assunto na conversa.

— Eu estava pensando, você não pode ficar o tempo todo dentro de casa. Acho que enquanto estiver de vestido e com os cabelos preso, poderá caminhar pelas ruas em segurança. – A Kenway o fitou e se se atentou à suas palavras. –Entretanto, não pode andar por aí como Jenny Kenway, Jenny Scott e mesmo como James. Precisará de um novo nome, escolha um que lhe agrade.

— Um novo nome?

— Sim, escolha algum bem fácil e então poderei te apresentar como minha filha, pois logo começarão a falar que estou abrigando uma estranha jovem em minha casa e não é direito que inventem absurdos de você.

Miko falava seriamente enquanto lavava a louça suja e Jenny o observava com certo divertimento, afinal o homem a estava tratando como se fosse realmente seu pai.

— Eu gosto de Caroline, era o nome de minha mãe.

— É um bonito nome. Sinto em não ter um sobrenome para lhe emprestar, mas pretendo lhe recompensar.

A loira arqueou a sobrancelha com curiosidade e o questionou. – Me recompensar com o quê?

O Assassino se virou com um sorriso e encarou a jovem ainda sentada à mesa. – Ora, você ficou muito tempo sem erguer uma espada ou ter alguém para treinar técnicas de combate ou você acha que irei permitir ir até Reginald Birch sem um bom preparo?

Um sorriso desenhou-se nos lábios dela antes de respondê-lo. – Obrigada, Miko.

[#]

No dia seguinte, Jenny repetiu a mesma rotina do dia anterior, contudo desta vez após o café matinal infantil, ambos foram às ruas fazer compras. A Kenway nunca havia feito compras em Londres antes, pois haviam pessoas que faziam em sua antiga casa na Queen Anne Square. Mas sua estadia na África lhe deu conhecimento suficiente sobre legumes, verduras e carnes. Além disso, ela conhecia temperos diferentes e utilidades diferente para folhas e raízes.

Ambos permaneceram atentos a todos os lados, certas vezes alguns guardas passavam em ronda rotineira na proximidade deles, mas Jenny era outra pessoa trajando um vestido e após um bom banho. Para acrescentar, sua educação refinada lhe garantiu a simpatia de alguns vendedores pelo mercado a céu aberto. Alguns inclusive lhe oferecendo gracejos que eram rapidamente reprimidos quando Miko se apresentava como pai da senhorita.

— Bom dia, Miko. – Disse uma velha voz atrás dos Assassinos que já retornavam com as compras.

Ele se virou e Jenny o acompanhou no gesto para dar de cara com uma senhora magra, de cabelos brancos e um tanto quanto baixinha.

— Bom dia, senhora Siegerson. - O homem lhe respondeu educadamente, mas já esperava pelo o que vinha a seguir.

— Todos no mercado só falam da bonita jovem que lhe acompanha, mas eu não acreditei quando disseram que é sua filha. – A velha olhou Jenny dos pés a cabeça enquanto esta mantinha um sorriso amarelo nos lábios.

— Bom... Sim, esta é Caroline. Ela é minha filha.

A Kenway lhe comprimentou com graça ao curvar-se e suspender levemente as saias de seu vestido, tal gesto causou espanto e admiração tanto de Miko quanto de sua vizinha fofoqueira.

— Eu sei que crianças são feitas do dia pra noite, mas não que crescem do dia pra noite. Seria ela filha da costureira Amy?

A loira reprimiu um sorriso ao encarar um Miko envergonhado que ostentava suas bochechas em um tom avermelhado ao se enrolar com as palavras.

— Amy? Não mesmo. Ela é apenas uma amiga que faz alguns ajustes em minhas roupas. Na verdade Caroline não é de Londres.

— Nascera em Crawley então? Lembro-me de já ter visto cartas de lá sendo entregues a você.

Desta vez foi Jenny que se espantou ao notar que aquela velha parecia vigiar os passos do Assassino e não fosse sua condição física, talvez até o seguisse por aí. Ainda bem que ela não é um Templário. Pensou ela com seus botões.

— Na verdade em Bristol. Sua mãe vivia lá e nos conhecemos quando estive de passagem por lá.

— Então sempre foi um homem cansado?

— Não... Foi algo muito rápido, mas nos afeiçoamos.

— Ora só... Eu que sempre acreditei na índole de sua pessoa, Miko. Agora estou a ouvir que engravidou e deixou a mãe da moça em Bristol, sozinha.

A mulher o julgava com os olhos de quem nunca cometeu um erro na vida, o que provavelmente não era verdade e percebendo que Miko não encontrou uma resposta para lhe dar, Jenny tomou as rédeas da situação.

— Na verdade, minha mãe estava prometida a outro homem. Um homem de posses e meu pai não tinha o que lhe oferecer se não seu amor a ela. Ele partiu com o intuito de se tornar um homem rico, mas minha mãe teve que se casar com outro no fim das contas.

A tristeza na voz da jovem era verídica, visto que ele nada falara nada a não ser a verdade. E não havia melhor mentira do aquelas com fundos de verdade. A velha pareceu se recolher, pois a história não era absurda, ao contrário, era até mesmo rotineira.

— Foi um prazer encontrá-la senhora Siegerson. Mas precisamos aprontar o almoço, passar bem.

Miko lhe deu um breve aceno e virou-se para retomar o caminho de casa ao lado de Jenny que acompanhava seus passos.

— Quem é ela? – Perguntou a jovem aos cochichos.

— Uma velha com muito tempo livre, como você pode ver. Ela mora há poucos metros de nós. – Ele respondeu no mesmo tom quando já abria a porta de casa.

— Ela parece saber muito de você... – Ele apenas confirmou enquanto separava legumes e verduras sobre a mesa. – Ela sabe que você é um Assassino?

— Ela nem deve ter ideia do que nós somos. Eu sou para todo o mundo um funcionário do porto que trabalha fazendo alguns transportes de cargas para os comerciantes locais. O que não é mentira.

— E quanto a Amy? – Jenny o encarou e viu o homem deixar os repolhos caírem e rolarem pelo chão.

— Amy é apenas uma costureira que me paga para que entregue roupas e tecidos. – Ele respondeu ao recolher os vegetais.

— Mas ela é sua amiga, me disse isso ontem.

— Sim ela é. Agora, vamos nos concentrar no que temos que fazer, desejo iniciar seu treinamento hoje.

Jenny desistiu do assunto a princípio e tomou para si a responsabilidade de fazer o almoço. A vida precária lhe ensinou a tirar da terra o que precisasse para sobreviver e se virar com o que tinha, por isso Miko surpreendeu-se ao sentir o sabor picante de um guisado de aroma forte feito por ela, ao ponto de que ele nem podia se lembrar quando havia comido algo tão bom em toda a sua vida.

Após a satisfatória refeição daquele dia, eles voltaram a sair de casa, mas desta vez contornaram a construção e caminharam pelas vielas sujas e apertadas que serpenteavam entre os bairros mais pobres e humildes de Londres. Ambos chegaram ao Tâmisa e foi com certo asco que Jenny se viu seguindo Miko até um duto por onde desaguava a fétida água que transbordava dejetos e restos de comida já apodrecidos.

No entanto, quando ela tencionou questionar o Assassino, percebeu que a ele o mal cheiro não parecia incomodar e adentrou o local sem se importar com seus pés afundando em merda inglesa.

— Oh céus... O que estamos fazendo aqui? - A deliciosa comida feita pela Kenway naquela manhã revirava em seu estômago enquanto ela própria evitava pisar em um rato pelo caminho.

— Despistando.

— O bom senso?

Miko deixou um breve riso escapulir, visto que era a primeira vez que a jovem havia soltado um gracejo do gênero.

— Os Templários são orgulhosos demais e elegantes demais para meterem seus caros sapatos em merda, tenha calma e você logo entenderá tudo.

Jenny seguiu com os dedos a tamparem suas narinas e os pés nojentos até os calcanhares, dividindo espaço com roedores e insetos imundos por uma caminhada que parecia interminável, pois os túneis mais pareciam o labirinto de Teseu. E foi com certa admiração e alívio que ela contemplou o que era sem dúvida o destino de Miko. Um amplo salão subterrâneo abriu-se diante de seus olhos, com o solo sem a água dos esgotos e a boa corrente de ar, o local nem mesmo parecia ter alguma ligação com os dutos pelos quais ela e o Assassino a pouco percorreram.

Antes que ela pudesse se recuperar da surpresa momentânea, Miko caminhou até o centro, onde havia um elegante manto branco guardado por de trás de algo que se assemelhava com uma cela.

— Eu encontrei esse local e trouxe seu pai logo depois. É verdade que ele comprou a casa com uma passagem secreta, mas há muitas coisas dele aqui.

— Esse manto certamente não era dele. – Ela disse ainda encantada com a roupa que parecia reluzir em meio à baixa claridade do local.

Miko soltou um curto riso ao perceber a expressão da jovem diante da vestimenta. – De fato, acredito que não era do tamanho dele. Isso já estava aqui antes de nós chegarmos, por isso concordamos em deixá-lo aqui. Além do mais está trancado.

— O manto de meu pai está aqui? – Ela o fitou com certo brilho em seus olhos e o homem sentiu-se mal pela resposta que daria.

— Não, sinto muito. Eu o procurei por toda a sua casa, mas ele simplesmente desapareceu. – Jenny abaixou o olhar tal qual uma criança faria e Miko se apressou em continuar. – Mas há outras coisas que seu pai deixou aqui. Entre elas há algo que sei que ele muito estimava.

O Assassino ergueu as mãos para expor sob a luz que ali penetrava uma Hidden Blade à jovem que logo se aproximou para tocar na lâmina. Os dedos finos dela deslizaram pelo couro que mantinha a arma presa, depois percorreu o aço que tinha o símbolo da caveira pirata de seu pai desenhada e por fim testou o fio que certamente já havia visto dias melhores.

— Experimente.

Jenny o olhou descrente com a sugestão feita e com um pouco de hesitação ela recolheu a arma para pôr em seu pulso direito. Miko analisou o objeto que ficou um pouco largo no braço dela e com um sorriso lhe dirigiu a voz.

— Alguns ajustes e ela ficará perfeita. E é claro, ela precisa de fio depois de tantos anos parada, teste seu mecanismo, você sabe como fazer? - A Kenway anuiu e ejetou a lâmina com um ruído quase estridente em meio aquele silêncio, fazendo o rosto de Miko se contorcer em uma careta. - Certamente um pouco de óleo não fará mal. Irei cuidar disso para você, agora vamos para o próximo item.

Miko se virou para a parede onde a loira só reparou agora conter algumas espadas, pistolas ganchos com corda e algumas facas de arremesso. Era claro, agora, que seu pai manteve próxima os objetos mais intimamente ligados ao Gralha em seu porão e as coisas ligadas à Irmandade naquele local. E enquanto ela observava atenta cada arma ali pendurada, o Assassino tornou a lhe encarar, desta vez com um par de espadas nas mãos.

— Pegue. – Ele disse ao jogar a ela uma das espadas de lâmina curva. –Agora tente me acertar. - Jenny assentiu e o obedeceu de seguida ao desferir um golpe alto que fora facilmente repelido. – Seu pai não era um bom espadachim e você parece a cópia fiel dele. Não posso permitir que vá atrás de Reginald Birch apenas com uma Hidden Blade em seu braço. Olhe minha postura e tente copiar.

A loira fazia conforme lhe era orientado e adquiriu ali os primeiros de muitos hematomas que iriam tomar seus braços e pernas ao longo dos próximos meses. Nos períodos noturnos ela dividia seu tempo entre descansar e estudar os mapas juntamente as cartas náuticas de seu pai. Enquanto isso Miko ia atrás de todos os homens que lhe poderiam ceder qualquer informação sobre a movimentação Templária e principalmente sobre Reginald Birch.

Certa noite, o Assassino vasculhava o porto e teve seu árduo trabalho recompensado por notícias vindas do continente. Para não perder muito tempo, ele retornou às pressas para sua casa, onde encontrou a jovem Kenway a escrever em seu diário as anotações que ela julgava importante em meio as observações de seu pai.

— Miko? Voltaste tão cedo, o que houve? – Ela se levantou espantada com a repentina chegada, mas logo estava curiosa com a atitude do homem.

— Trago boas notícias. Houve algum contratempo na viagem de Birch para a Espanha e por isso ele está atrasado semanas. Não sei quais poderiam ser suas intenções lá, ao menos não ao certo, mas acredito que tenhamos pela primeira vez tempo hábil para encontrá-lo.

— Ótimo, só preciso da cidade onde ele estará. – Disse Jenny ao se erguer seriamente diante do Assassino.

— Partiremos amanhã de manhã para Portugal e de lá seguiremos por terra.

— Partiremos? – Ela franziu o cenho e se aproximou de Miko cautelosamente. – Você não pode ir.

— O que está dizendo? Não permitirei que vá sozinha.

— Você é tudo o que Londres tem e é exatamente pensando de maneira pessimista que não posso permitir que vá. Além disso, precisa me deixar ir se realmente confia no seu treinamento. –Jenny esboçou um sorriso e repousou a mão sobre o ombro de Miko.

— Então é melhor por em prática tudo o que lhe ensinei, pois não me permito perder outro Kenway durante minha existência. – Jenny abraçou e sem saber muito bem como reagir, ele apenas a imitou. -  Vamos traçar um plano e preparar sua partida.

Na manhã seguinte, Caroline embarcou para Portugal em um navio mercador, agora com uma cabine própria paga pelo seu pai para que sua filha chegasse à França com todo o conforto que pudesse ter. A parte ruim de não ser parte da tripulação, é que o tempo passava lentamente e ela nem mesmo poderia se exercitar sem atrair suspeitas desnecessárias. Por isso Jenny mantinha sempre junto a si um pedaço de corda a qual dava nós dos mais diferenciados e os desfazia depois. Como o navio tinha pouca carga e seu tamanho exigia pouca tripulação, mais alta era sua velocidade e a Kenway desembarcou nas terras Portuguesas um pouco mais de um mês após sua partida. Certamente um grande feito do capitão Leonard e seus homens experientes.

Já no porto de Lisboa ela procurou por comerciantes de azeite, pois estes precisariam viajar para além da capital, até as fazendas e de lá ela conseguiria outra carona com os próprios comerciantes espanhóis. Com vestidos e chapéus, por mais de uma vez, ela recebia propostas libidinosas dos comerciantes que achavam, em vão, que poderiam conseguir algo de uma menina da cidade indefesa. Mas alguns dedos quebrados foram o suficiente para conter as investidas.

Ao passo que ela se aproximava das fronteiras, mas ficava difícil compreender a língua que parecia se fundir pouco a pouco  entre o sotaque Português e o sotaque Espanhol, até que o “rapariga” se tornou “chica”. Ela os entendia muito mal, hora tentando usar o Português e hora tentando o Inglês, mas havia uma língua que todos entendiam bem: dinheiro. Jenny mantinha sempre consigo o mapa dado por Miko com as áreas onde ela poderia encontrar Birch, e sendo a jovem mais familiarizada a portos, decidiu-se por começar pelo principal porto Espanhol.

O local era enorme, muito maior que o porto Londrino e o porto Português. Contudo, a gritaria parecia terrivelmente pior, os espanhóis falavam tão rápido que ela nem ao menos conseguia perceber quando uma palavra terminava para iniciar-se outra. Sua busca se expandiu até o grande mercado a céu aberto local, mas era como procurar uma agulha no palheiro. E a Kenway estava prestes a partir para outra possibilidade quando a história de um homem misteriosamente assassinado lhe chamou atenção.

Os seguranças do homem relataram ter percebido o ocorrido apenas quando o fedor do corpo passou a exalar forte para fora de suas acomodações e o único suspeito era um vendedor de queijo que se encontrara com a vítima na noite anterior. Entretanto, o que mais lhe chamou atenção era o burburinho a respeito das ligações do morto com uma organização muito poderosa, alguns os chamavam de Templários.

A descrição do vendedor de queijo, porém, não lhe ajudou muito, pelo contrário. Descreveram o suspeito como um homem jovem, elegante e de cabelos pretos sob um chapéu tricorne. Um Assassino local estaria de capuz, ainda que ela nem mesmo soubesse de qualquer Irmandade ali nos últimos anos. E pelas características dadas, ela poderia dizer facilmente que se tratava de outro Templário. A questão era: Por que um Templário mataria um dos seus?

Sabendo que aquela seria sua melhor fonte de informações, ela extraiu tudo o que podia dos homens que tinham como por obrigação, protegerem o comerciante. Meros capangas que não tinham um mero vislumbre a respeito do que se tratava os negócios de seu antigo patrão com os Templários, contudo um deles conseguiu lhe passar as orientações de como chegar ao local onde seu patrão dizia se encontrar com os Templários.

[#]

— Puta que pariu... –Foi como a jovem reagiu ao se deparar com um imponente Forte que mantinha uma rica guarda ao seu redor.

Após uma noite para descanso e preparos para viagem até o local indicado pelo homem no mercado, ela seguiu desde o primeiro raio sol pelas planícies fora da cidade até chegar às colinas onde estavam os Templários. Um belíssimo ponto estratégico, sem dúvida nenhuma. Sua proximidade com o mar permitia ataques contra navios e o relevo ao seu redor dificultava a chegada surpresa de qualquer exército.

Jenny seguiu sobre o cavalo velho, o único que suas moedas permitiram comprar, até as árvores que compunham um bosque no declive fora do forte, alguns guardas passavam por ela com olhares desconfiados, mas sem esboçarem nenhuma reação aparente. A loira permaneceu algumas horas por entre as árvores tentando encontrar alguma brecha naquela fortificação. Mas a organização das rondas estava impecável e os muros eram altos demais, demandariam muito tempo e esforços para serem escalados.

Não havia dúvida de que o local estava mesmo sob o poder dos Templários e ainda que Reginald Birch não estivesse ali, certamente haveria alguém com influência suficiente dentro da ordem para regrar um local como aquele.

Perdida em seus pensamentos, ela buscava nas árvores um caminho para seguir, mas os galhos não chegavam próximo o suficiente da muralha. Seus olhos recaíram sobre o cavalo que não aguentaria uma boa fuga, caso fosse necessária. Além disso, o vestido que trajava não era uma vestimenta adequada para qualquer abordagem típica Assassina.

Foi então que ela teve a ideia que poderia lhe levar para dentro do forte. Jenny desmontou do cavalo e com pouco esforço rasgou a manga esquerda de seu vestido para em seguida lhe arranhar o ombro agora exposto. Por fim ela pegou um bocado de terra e sujou seu rosto, assim como sua roupa.

A Kenway respirou profundamente e iniciou os gritos juntamente à corrida rumo ao forte. Logo ela ouviu o som de passos apressados se aproximarem e homens fardados entraram em seu campo de visão.

— Que passa?! Que passa?!

Eles a questionaram quando se aproximaram e ela arranhou o que conseguiu no seu precário Espanhol. – Había um hombre detrás de mí.

— Donde? Donde estás?

A jovem chorava e apontava para uma direção qualquer. Alguns homens seguiram para o local que ela indicou enquanto outros a cercavam e a acudiam a pobre moça que havia sido atacada.

— Oh... Estoy muy asustada.

Ela continuava sua encenação até que os soldados se convenceram de levá-la para dentro do Forte. Os outros soldados se aglomeraram para ver a mulher que era conduzida aos prantos para o interior da fortaleza e descendo as escadas estava um homem muito peculiar. Ele trajava roupas azuis e muito elegantes, no topo de sua cabeça havia um chapéu tricorne e estava tão curioso quanto os outros presentes. A passos lentos, ele trocava palavras com algum soldado que lhe reportava a situação.

— Cuál es su nombre? – Ele a questionou respeitosamente, enquanto ela mantinha a cabeça baixa, com seus cabelos lhe escondendo o rosto.

— Caroline.

— Me puede decir cómo era el hombre?

— Estoy muy confundida...

— Todo está bem ahora, vem conmigo, Caroline.

Jenny assentiu e apoiou-se sobre o tórax do homem que a guiava tranquilamente, ele massageava seu ombro, a procura de um meio para aliviar o sofrimento da jovem. Ela, por sua vez se atentava ao anel com a cruz vermelha que reluzia com a luz do sol na outra mão dele.

— Usted, volver a sus puestos!

— Sí, el Sr. Kenway.

A loira subiu os degraus completamente abismada com o que acabara de ouvir, era seu sobrenome... Ela não podia ter ouvido outra coisa. Mas se seu pai não teve irmãos, não deveria haver nenhum outro Kenway vivo, a não ser seu meio-irmão.

— Haytham? – Sua voz saiu em um cochicho, mas foi o suficiente para que ele a ouvisse.

— Cómo sabes mi nombre?

O Templário afastou levemente a jovem acudida e pôde enfim ver o rosto sujo, mas inconfundível de sua irmã mais velha. Jenny.


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Notas finais do capítulo

Haythan poliglota também rs

Jenny usando a boa e velha tática de Mary Read... Papai que contou essa hein?

Bom, da pra imaginar que o negócio vai feder e feio entre esses dois. E Reginald Birch? donde estará?

A propósito, eu não sei como fazer o ponto de interrogação invertido para as perguntas em Espanhol e estava com muita preguiça de recorrer ao mapa de caracteres, então por favor, deixem isso passar rs

Haythan foi bonzinho com ela, afinal ele tem uma educação invejável apesar de falar "pau".

Preparem seus corações, pois muita roupa suja será lavada entre esses dois...



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