Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 3
Brotherhood


Notas iniciais do capítulo

E aqui começa os capítulos que carregam os subtítulos dos jogos ♥ Espero que gostem ;)

Capítulo editado pós postagem!



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Ao menos uma coisa boa Jenny conquistara com sua pequena fuga mal planejada, isolamento. Não que ela já não fosse solitária na escola, sem amigas, mas antes ela era apenas ignorada e agora ela era evitada. Se era por temor ou desprezo ela não saberia de dizer, mas certamente lhe agradava a ideia de que era temida pelas as outras garotas da escola. Com exceção de uma, Ana Winsdor.  

Apesar de Ana não ser, a primeira vista, diferente das tantas outras meninas que ali estudavam, havia sido também defendido por Jenny, ainda que indiretamente. Visto que a Kenway levara toda a culpa pelo ocorrido e salvara o pobre animal e ela de serem alvos de pedras.  Desde então a menina tentava vagarosamente uma amizade com a loira.  

— Então, como está o James?  

Ana aproximou-se de Jenny sem ao menos ser percebida por esta enquanto anotava o tempo daquele dia em seu diário, carinhosamente apelidado de diário de bordo.  Jenny a olhou pelo canto dos olhos e fechou o caderno antes que a menina tivesse chance de ler seu interior. 

— Bem e feliz, eu diria.  

Elas caminhavam em meio ao aglomerado de meninas que deixavam para trás a escola para embarcarem em carruagens que as levariam para suas respectivas casas, onde terem ainda mais aulas. Jenny não queria e não fazia questão de se parecer uma nobre dama, quanto mais longe de se parecer com elas pudesse estar, seria melhor. 

— Foi muito corajoso de sua parte o que fez. 

Os olhos de Ana eram azuis e suas madeixas loiras completavam o perfeito ar e rosto que uma bela dama deveria ter. Além do mais, sua voz suave e seus movimentos perfeitamente educados mostravam a Jenny que a menina mantinha rigorosamente a postura de uma jovem dama. 

— Você também foi corajosa.  

— Talvez, mas sem você lá eu provavelmente estaria com alguns machucados pelo rosto e braços.  

Ana lhe sorriu como um agradecimento silencioso que prestava a Kenway e esta por sua vez lhe olhou do alto, sendo Jenny mais alta que Ana e boa parte das meninas da sua idade.  

— Duvido muito, as meninas não tinham força alguma.  

Elas pararam no limiar dos portões de ferro que agora estavam abertos enquanto uma mulher mais velha guiava cada menina para sua respectiva carruagem privada. Quando a mesma caiu com os olhos sobre Jenny não escondeu o asco que nutria pela menina. Claro, a filha de um bêbado não deveria estar junta das meninas ricas e de classe, o resultado era o que acontecera há não muito tempo. Desordem, pois o sangue sempre falava mais forte e os antigos já diziam, que o filho de peixe, peixe seria.  

Por outro lado e não contrariando o ditado, Jenny não se importava e há tempo deixara de dar importância a qualquer status. Se tivesse que ser vista como a filha de um pirata que assim fosse. Pensava que assim melhor seria, pois de fato a vida dos ricos não lhe enchia os olhos, mas de certo a menina não conhecia a vida dos pobres e dos humildes, como um dia seu pai e sua mãe, a verdadeira e não a nova, vieram a conhecer antes mesmo do seu nascimento e da partida de seu pai. 

— Gostaria de poder vê-lo como um cão de verdade. – Ana lhe dizia alegre, como todas as meninas da sua idade deveriam parecer, sempre alegres. 

— Ele sempre foi um cão de verdade, só estava sujo. - A Kenway deu de ombros quando a menina lhe olhou, talvez arrependida pelo o que falara ou apenas confusa. – Se o deseja, pode vir até a minha casa e vê-lo por si mesma. 

E tão repentinamente veio a tona o sorriso sincero da Winsdor que deixou para trás os modos e abraçou Jenny apertadamente. Desconcertada, a Kenway lhe deu alguns tapinhas sobre as costas e um sorriso amarelo sobre os lábios. De fato era estranho ter uma amiga, se é que poderia já chamar a menina Winsdor de amiga. 

— E quando poderia ser esse dia?  - Ela lhe soltou e tratou de amenizar os amassados de seu vestido proveniente do abraço.  

— Pode ser até agora. 

— Oh! Eu muito me alegraria.  

A menina que estava à frente delas já embarca em seu próprio transporte particular e logo a carruagem de Ana se alinhava frente aos portões para que sua senhoria adentrasse.  

— Podemos ir a sua casa em minha carruagem, pois sei que não tens uma. – Ana abaixara o tom de voz conforme progredia com cada palavra, como se temesse uma represália ao revelar ali aquilo que a seu ver era algo que a Kenway se envergonharia. 

— Não. Obrigada. Se quiseres me acompanhar, pode ir caminhando ao meu lado. 

— Caminhar? – Os lábios finos e pequenos da Winsdor separaram-se e seus olhos diziam sem palavras o espanto que a proposta lhe causara. – Mas e quanto a nossos pés? 

— Não sei para qual outro motivo achas que tem pés se não para caminhar, correr e saltar.  

— Mas você não tem medo de caminhar sozinha pelas ruas? 

— Nenhum. Mas não estou sozinha, vem junto a mim a minha babá.  

Jenny indiciou do outro lado da rua a jovem moça que lhe acompanhava em sua caminhada e lhe ajudasse com tudo mais que fosse preciso dentro de sua casa. Ela atravessou a rua e com um pequeno sorrisos se aproximou. 

— Olá senhorita Kenway. – Ela a cumprimentou sem maiores cordialidades. 

— Olá Judy. Então, o que farás tu? – Jenny questionou a menina ao seu lado que estava a essa altura recuperada do susto inicial. 

— Aguarde-me um instante, por favor. 

A Winsdor foi até sua carruagem e falou meia dúzia de qualquer coisa para o cocheiro, ao passo que sua própria babá descera ela própria do interior do veículo. Esta vinha atrás da menina a protestar a decisão que Jenny logo entendeu qual era quando viu a carruagem seguir pela rua, com seu interior vazio. 

O quarteto seguiu pelas ruas que naquele horário ainda estava movimentada por comerciantes, artesãos, tecelões, sapateiros e alfaiates a carregarem para cima e para baixo suas mercadorias. Ninguém parecia notar de fato as duas meninas com suas duas babas que seguiam rumo ao Queen Anne’s Square. No caminho, as mais novas conversavam sobre James principalmente, enquanto as mais velhas poucas palavras trocaram se não mera formalidades como um bom tarde e nada muito além. 

Quando por fim todas chagaram as portas da mansão dos Kenway, logo foram recebidas pelos criados e criadas do local. Boas tardes chegavam de todas as bocas, alguns com sorrisos, outros com olhares de estranheza para a menina que eles nunca viram adentrar junto a Jenny. E assim que ambas puseram os pés no interior da casa, James surgira, sabe-se lá de onde latindo, correndo e abanando o rabo. Ana não se conteve e abaixou-se para receber as lambidas do animal que parecia se lembrar de sua também protetora. Logo ele roçou-se por entre as pernas da Kenway. 

Em meio aos risos das meninas, dos interiores da mansão veio Tessa Kenway receber aquelas que haviam há pouco chego. 

— Olá Jenny! – Cumprimentou Tessa. – Que alegria ver que temos uma convidada sua hoje. Olá, senhorita. 

— Boa Tarde, senhora. – Ana fez uma reverência formal, curvou o corpo para frente e abriu barras das saias para as laterais.  

— Por favor, fique a vontade. Irei pedir um pouco de chá para as duas com um pedaço de bolo.  

— Agradeço a gentil oferta, mas temo não poder me demorar mais. Ainda tenho aula de etiqueta e de francês antes do jantar. 

— Oh! Que mocinha mais prendada. Então, convido-te para nos visitar outro dia, com mais calma e tempo. 

— Certamente o farei. – Ana fez mais uma reverência nobre antes de Tessa partir para os confins da mansão. – Sua mãe é muito bonita e gentil, Jenny. – Pronunciou-se a Winsdor ao virar-se para a amiga. 

— Ela não é minha mãe, não de verdade.  

— Por isso não notei semelhanças. Mas não te enganes, pois és muito bonita também. – Jenny arqueou a sobrancelha, não por estranhar o elogio, mas sim o tom formal na voz da menina, que às vezes parecia envelhecer anos apenas com o modo de falar. – De fato preciso ir. Fiquei deveras feliz em poder ver James e conhecer sua família.  

— Irei pedir que o cocheiro te leve em casa, apenas lhe diga o endereço.  

— Obrigada, Jenny. É muita gentileza. 

Após deixar Ana juntamente com sua babá dentro da carruagem e observá-las partir até sumirem de sua vista, voltou-se para dentro de casa e esbarrou em ninguém menos que seu meu irmão, Haythan. 

— Boa tarde, Jenny. – Ele lhe cumprimentara com um sorriso bobo e típico de crianças.  

— O que te alegras tanto, pirralho? – A loira, por sua vez, levou as mãos até a cintura e como sempre tentava se aproveitar da pouca idade do irmão para lhe tirar vantagem. 

— Em poucos dias será meu aniversário de cinco anos e meu pai disse-me que quando eu tiver cinco anos começará o meu treinamento com espada.  

A expressão debochada da menina se foi e deu lugar à descrença. Sem perceber ou sem entender o porquê sua irmã se calara repentinamente, Haythan partiu para o jardim, deixando uma Jenny catatônica demais. Passando alguns instantes, que poderiam ter sido segundos ou minutos, a menina foi desperta de seu transe pela voz de seu pai que vinha de dentro de sua sala. 

Sem pensar, ela rumou para as duas portas que davam acesso a sala e sem pedir permissão as abriu e as ultrapassou, tão semelhante quanto seu próprio pai fizera diversas vezes por fortes espalhados pelos mares do Caribe. Edward estava sentado atrás da mesa e observou a filha vencer o curto espaço entre ela e sua mesa. As mãos dela foram direto a mesa, com os olhos que herdara dele próprio a faiscarem enquanto ele reprimia internamente a vontade de rir de tal cena. 

— Boa tarde, minha filha. Sinto que tens assuntos urgentes a tratar comigo.  

— O que é isso que Haythan me disse de treinamento de espadas? 

A expressão de Edward, assim como a dela há poucos minutos, transformara-se da água pro vinho, ou nesse caso, do brincalhão ao sério.  

— Seu irmão completará cinco anos no mês que vem e acho que já seja uma idade apropriada para começar a ter aulas de espadas.  

— E quanto a mim? Quando terei a idade apropriada? – Edward a olhava com a face vermelha de raiva, as sardas destacadas e pensou se quando fosse da idade dela teria tido a mesma expressão. O mesmo olhar. 

— Jenny, espadas são instrumentos mortais e brutos. Não devem ser manejados por donzelas e damas.  – Ele se levantou e contornou o móvel que os separava enquanto ela lhe seguia  com os olhos. 

— E o que devo manejar então? Uma agulha? 

— Não podes desejar ter o mesmo tratamento de seu irmão, quando você dois são tão diferentes entre si.  – Edward abaixou-se para ter a altura no mesmo nível da filha.  

— Não. Claro que não. Afinal Haythan é o seu filho varão, aquele que o herdará em tudo. Aquele que dirão, vejam, lá vai o filho do Edward.  

— Não diga isso Jenny. Tu és tão filha minha quanto ele. Ensinei-te a compreenderes os ventos, identificar norte, sul, leste e oeste. A ver ainda distante, tempestades se aproximarem. Entender as ondas, encontrar peixe e mesmo pescar. Mas não pode me pedir para que eu trate a minha filha, minha única filha, como um menino que ela não é. 

Nesse instante Tessa entrou na sala e ambos lhe direcionaram o olhar, ela se retraiu um pouco e delicadamente desculpou-se. 

— Desculpem-me atrapalhar. 

— Não atrapalhas. – Respondeu seu marido. 

Mas ainda movida pela cólera, Jenny virou-se e foi para a porta, sem dizer adeus ou responder o boa tarde que seu pai lhe desejou. Ela a transpassou e subiu a passadas pesadas as escadas até chegar a seu quarto para qual se entregaria ao choro silencioso. 

— Ela não nega o pai que tem. – Comentou Tessa ainda com os olhos sobre o corredor a qual a menina percorreu até as escadas. – O que a irritou assim? 

— O destino. – Ele lhe respondera. – Tal qual a mim quando parti antes dela nascer.  

Os dias se passaram e Jenny manteve-se calada, reclusa quase o tempo todo em seu quarto, ignorando os bordados, as aulas de piano, estas que ela sabia muito bem não ter o mínimo talento. Limitara-se e ser educada com o pai e a madrasta. Seu meio-irmão era apenas ignorado todas as vezes que se aproximava a lhe chamava para brincar.  Até que chegou o tão esperado quatro de dezembro. Naquela noite os quatros saíram para um jantar no lugar favorito do  pequeno. Pai, mãe e filho divertiam-se ao longo da noite, mas não a irmã que mais parecia desprezar aquele menino que sem dúvida era inocente diante de seu destino, pois Haythan não escolheu nascer menino e muito menos tomou a decisão que tanto incomodava a irmã. 

Mas há de calhar que crianças não entendem das artes do amor, estas que geram crianças. Há de calhar que nem Edward e nem Tessa escolhera o sexo do rebento que tiveram. Não havia, portanto, alguém a quem culpar. Alguém a quem Jenny pudesse ir pessoalmente tirar satisfações. Então, sem saber de tudo isso e apenas querendo direcionar sua raiva à um alvo, ela escolheu o irmão que certamente não teria como se defender e muito menos lhe entender. Era um alvo frágil e de fácil acesso no fim das contas e ela por fim se convenceria de que a culpa de seu pobre destino era de Haythan. 

Contudo, havia alguém que era sem dúvida responsável por seu destino e esse ninguém lhe poderia negar a culpa, seu pai. E este era sem dúvida o pior. Como um homem que cruzou mares e vira de um tudo em sua vida podia simplesmente se deixar levar pelas amarras de uma sociedade que  limitava a honra das mulheres em serem puras e boas parideiras. Ela não conseguia entender como seu tão estimado pai, a qual ela mesmo viajou para encontrar, pudesse sonhar com uma filha casada e com uma vida monótona quando ele próprio fugiu dessa vida simples. Talvez fosse culpa de Tessa que viera de uma família rica e fora criada para ser o que é hoje, esposa e mãe. Nada mais e nada menos.  

Com as raízes da dor se apoderando de seu coração e que eram todos dias regadas ao ouvir o som das espadas de madeira colidirem dentro da sala de jogos, Jenny deixou de anotar em seu diário as mudanças temporais. Primeiramente ela pensou em ouvir as aulas as escondidas, mas logo percebera que de nada valeria se não pudesse ver os movimentos e seu pai não lhe permitiria assistir as aulas, alegando que ela teria as próprias aulas de bordado ou qualquer coisa de menina para fazer.  

E em uma tarde qualquer daquele dezembro, as palavras de Tessa provaram-se mais uma vez serem verdadeiras e Jenny tomou por si só a iniciativa para mudar seu destino. Como uma gatuna, furtara um calça que ainda ia grande no irmão mais novo e se apoderou de uma camisa qualquer do pai, rasgando-lhe as mangas para ter livre as mãos. De sua babá conseguira um par simples de sapatos. Um dia o cocheiro esqueceu-se de uma boina maltrapilha no banco da carruagem e ela lhe respondera  que não vira boina nenhuma quando foi questionada. Juntando cada peça e vestindo todas, ela trancou a porta do próprio quarto e pela janela transpassou-se. Tentou encontrar apoio para os pés, mas a tarefa era mais difícil do que calculara, ainda mais para uma criança que ainda tinha pernas curtas. Ela caiu no meio do jardim que Tessa tanto presava. Seu traseiro doía, porém, sem poder se demorar ali, pois logo alguém poderia aparecer as vistas, aproveitou para pular o muro, este que já sofria com alguns tijolos podres devido as chuvas e plantas que lhe rodeavam em busca sempre de mais espaço. 

Já na rua ela correu, primeiramente sem rumo, apenas querendo aproveitar o sabor da vitória e da liberdade, todavia, Jenny seguiu para área de maior movimentação da cidade, onde o comércio se concentrava. Com os cabelos escondidos sobre a boina velha, as roupas que visivelmente não eram do seu tamanho e sujeira de terra que conseguiu ao cair no jardim passou perfeitamente como um menino de rua ou um menino pobre a vagar atrás de um pão. Um ninguém, era isso que ela era agora. Não demorou para lhe apetecer que já sendo uma infratora por fugir de casa não faria diferença desobedecer seu pai, pois já diziam-no antes, o que os olhos não veem o coração não sente.  

A menina subiu por alguns caixotes vazio atrás de uma loja qualquer fedida a peixe e chegou ao telhado desta. Com alegria e um sorriso que contemplou novamente a cidade, ou pelo menos os arredores, visto que o lugar não era tão alto quanto sua escola. Decidiu ali que se Haythan seria mestrado com aulas de espadas e lutas pelo pai, seria ela mestrada pela prática em correr livremente, assim como o vento, indo de telhado em telhado até o entardecer. Voltaria para a casa antes da noite cair e sua babá ir lhe procurar para o jantar. Certamente ninguém lhe descobriria.


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