Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 2
Herança Maldita


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado pós postagem. GRANDES Alterações realizadas.



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O pequeno cão aconchegava-se aos pés de sua protetora e próximo de uma fogueira que lhe fornecia um calor reconfortante. Jenny olhava as gotas de chuva que escorriam uma após a outra na janela acima da lareira que queimava e crepitava. Seus pensamentos retornavam para o momento em que entrara em casa acompanhada de um cachorro pulguento e sujo. 

Sua ama pareceu ter um ataque ao ver o estado de seu vestido e o pequeno indigente abanando o rabo ao seu lado. Para sua falta de sorte, sua madrasta a vira e lhe questionou um motivo para aquilo. "Eu caí". O que na realidade não era uma mentira, mas nem de longe sua manhã poderia ser resumida em duas palavras tão simplórias. Mas Tessa sabia que muito dificilmente arrancaria algo mais de si e por isso fingira que acreditara. 

Ignorou suas tarefas daquele dia para cuidar de James, que com muita felicidade aceitou e degustou de um bom prato de comida que a Kenway furtara da cozinha. Mas ainda que a tarde tenha sido de paz, ela sabia que seu pai saberia assim que chegasse em casa. Certamente algum aviso vindo da escola já teria chego em sua casa. O trio de garotas não se contentariam com o fracasso, pois eram mimadas demais todos os dias

E fora seu irmão mais novo que lhe comprovou suas suspeitas.

— Uau! Um cão de de verdade!

Haythan precipitou-se para dentro da sala até chegar a James que levantou e abandonou o rabo como qualquer filhote o faria. O mais novo dos filhos de Edward ria enquanto seu rosto era lambido algumas vezes pelo cachorro que pulava em cima de si. Jenny ignorava a cena que acontecia bem a sua frente e tornou a bordar.

— Então é realmente verdade? - O garoto ria alegremente acariciando o agora limpo pelo de James.

— O que é verdade? - Ela perguntou com indiferença e sem tirar os olhos da linha e agulha. 

— Que trouxe um cachorro para casa.

— Talvez ele seja só um monstro disfarçado que trouxe para ter comer os dedos dos pés enquanto dorme.

Subitamente Haythan cessou a brincadeira e olhou desconfiado para o cão sentado a sua frente com a língua pendurada pelo lado de fora da boca, pingando baba sobre o tapete. E alternando o olhar para irmã e o filhote, ele juntou as mãos a frente do corpo e disse quase timidamente.

— Papai disse-me para lhe chamar.

Jenny levantou-se e deixou o bordado sobre a poltrona, James veio em seu encalço feito uma sombra e seu irmão  observou ambos parado no mesmo lugar que estava. Ela sabia que encontraria seu pai no escritório dele, mas não sabia o que esperar dele. Uma represália? Um parabéns? Seu coração cheio de dúvidas quase parou quando ela abriu a porta e o encontrou sentado atrás de sua imponente mesa de carvalho polido.

— Boa noite querida.

— Boa noite, pai. - James lhe alcançou e passou logo para dentro do cômodo, roubando por um instante a atenção de Edward.

— Vejo que temos um novo morador nessa casa.

 O Kenway contornou o móvel e dirigiu-se até um sofá a frente da prateleiras de livros que adornava a parede. Ele fez uma breve mensura para que a filha se aproximasse e assim ela o fez, seguidamente do cão.

— Aconteceu alguma coisa hoje? – Ele se sentou ao lado da filha e observou o filhote aninhar-se aos pés dela.

— Aconteceu. – Ela sentou-se e olhou para o animal. – Gostou do James?

— James? Deu meu nome pro cachorro? – O ex-corsário a fitou sorrindo.

— É. Ele me lembra de você. Hoje de manhã as meninas ricas estavam afrontando-o, mas ele não fugiu. As pessoas estão sempre afrontando você, mas você nunca fugiu.

— Não tenho mais motivos para isso.

— Ele também. – Jenny sustentou o olhar para os olhos do pai. – Além de que os pelos dele são iguais os seus, loiros, mas emaranhados e sujos.

— Que bela forma de homenagear o pai. – Ela riu. Diferente das outras garotas e de seus respectivos pais, Edward e Jenny tinham uma relação agradável, conversavam sempre que podiam, compartilhavam seus sonhos e ambições e vez ou outra, Edward ensinava a menina algo sobre navegação.

— Por que nunca me disse sobre como é lá no alto. Você sempre dizia que o mastro de observação era perigoso demais para mim, era muito alto e eu podia cair. Mas você vivia lá e eu sei que você anda no telhado às vezes. Ouço seus passos.

— Serei mais cuidadoso da próxima vez. 

 Ele ajeitou uma mecha rebelde dos fios loiros da menina para trás da orelha dela. Herdara seus cabelos, mas o rosto era da mãe. Ele sempre lhe dizia isso, com exceção dos olhos, iguais aos dele. Não demoraria muito mais para Jenny ficar tão bonita quanto Caroline...

— Hoje eu subi no telhado do colégio para salvar James, era o caminho mais rápido e seguro das outras garotas. 

— Pensei que havia caído. Disse isso a Tessa.

— Eu caí depois.

— Tinha feno em seu vestido. - Jenny praguejou mentalmente quem quer que tenha fofocado ao pai. - Onde exatamente caiu?

— Em uma carroça com feno. Também era o caminho mais rápido... - Ela desviou o olhar para qualquer coisa que não fosse os olhos do pai que ela sabia ser incapaz de enganar. - E você sabe o que descobri?

— Não. O quê?

— Que eu podia ver todas as ruelas ali próximas até o porto, vi nossa casa de lá. Além disso, o padeiro disse que ia guardar os pães de hoje e vender amanhã, pois ninguém notaria a diferença. Um pescador que passava na rua comentou com o homem que o acompanhava que a pesca não havia sido boa e que por isso os peixes estavam caros. Uma jovem combinava com um rapaz de encontra-lo hoje à noite atrás da taberna do pirata cego. Uns caras bem vestidos disseram estar atrasado para a reunião do conselho real, mas o rei estaria ocupado demais para notar a falta deles. E havia tantas outras pessoas, tantas coisas. - Ela suspirou e reunindo toda coragem que uma menina de dez anos poderia ter encarou novamente o Kenway. - Pai, o que você faz em cima dos telhados? Você sai e diz que tem trabalho a fazer. Mas você não navega mais, não tem mercadoria para negociar, não tem loja, não tem nada, só ouro. O que você faz quando está longe?

Edward a olhou, sua menina de dez anos estava ficando mais esperta do que ele previra. Ao menos uma habilidade ela certamente havia herdado dele, o dom de observar. Ela o observara nesses quatro anos a subir em mastros, navegar, empunhar espadas, atirar, negociar e a ouvir. Mas essas eram habilidades assassinas, habilidades que ele aperfeiçoou com o tempo e que não gostaria que sua filha desenvolvesse. Sem saber o que lhe responder e confuso demais, ele a abraçou.

— Jenny, apenas esqueça isso. Não suba mais nos telhados, podem te confundir.

— Por que não me leva junto com você? Sou uma boa garota, sempre me comporto. Sou inteligente, o que me ensinar, eu aprenderei. 

A voz dela transbordava esperança e seus olhos suplicantes eram espelhos que refletia a face de seu pai. Edward a fitou e sorriu orgulhoso, mas triste. Ele nunca poderia fazer o que lhe pedia, levar uma criança em um contrato era arriscar não somente suas vidas, como o sucesso do trabalho. Além de que ela era muito jovem e ele nunca teria coragem de dizer a própria filha que era um assassino da ordem dos assassinos, caçava templários e boicotava seus planos. Ele era um agente das sombras, silencioso e fugaz. Aqui em Londres, ele não podia simplesmente pegar seu Gralha e fugir. Ele era uma águia com ninho.

— Jenny, meu maior trabalho é manter você, sua mãe e irmão seguros. E é tudo o que me importa. Mas eu dei minha palavra a velhos amigos que os ajudaria caso precisassem, são amigos das ilhas pelas quais naveguei. Ex-escravos que estou disposto a ajudar. É por isso que não posso leva-la comigo. Além de pirata, sou um libertador de escravos e os nobres odeiam tanto um como o outro.

— Eu posso te ajudar. - Ela tentava uma última vez convencer seu pai de que poderia e seria útil a ele.

— Não posso por sua vida em risco. Cuide do James, e quando eu estiver fora, tenho certeza que ele cuidará tão bem de você quanto eu, caso ele realmente se pareça comigo.

Ela não disse mais nada, seu semblante estampava nitidamente o sentimento de derrota e decepção. Sinalizou com um leve menear que havia entendido, mas no fundo não havia aceitado.


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