Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 24
A Fria Realidade


Notas iniciais do capítulo

Consegui! Capítulo da semana postado na quinta certinho e cedinho ♥ Espero que gostem, tem notas no final ♥



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A posição da cama quanto a janela permitia a seus ocupantes alguns minutos a mais longe da claridade dos primeiros raios solares e foi com certo desgosto que Jenny despertara. Insistiu em manter os olhos fechados e sentir seus músculos relaxados em uma cama de verdade após tanto tempo dormindo sobre redes e palhas. Naquela hora toda sua sede de vingança se esvaíra e seu maior desejo era degustar daquela paz. O momento, contudo, perdeu sua plenitude de calmaria quando a Kenway sentiu um movimento em cima de si. Seus olhos se abriram rapidamente e como castigo tornaram-se a fechar devido a luz, e com a mão cedendo certa proteção ela ergueu a cabeça o suficiente para ver Kenna aninhada ao seu lado, com a cabeça repousada sobre seus seios. Ela não precisava de um espelho para ver seu rosto corar instantaneamente e sutilmente ela tentava acordar a rapariga.

— Kenna... Acorde, Kenna.

Tudo o que teve em resposta foram murmúrios e sua perna sendo enlaçada pelas pernas dela. Sendo as roupas de Kenna usadas meramente como adorno de decoração, foi com pavor que Jenny sentiu o sexo de sua companheira de cama roçar contra sua coxa. Ela simplesmente saltou da cama ao perceber a umidade do local. Assustada com a movimentação repentina, Kenna acordou cobrindo-se como pôde com os lençóis da cama.

— O que houve?

Jenny respirava profundamente, ainda ruborizada, permaneceu de costas enquanto vestia suas roupas esfarrapadas de marujo. – Nada. Preciso ir embora. Uma amiga está me esperando.

— Amiga? – Kenna sorriu da forma maliciosa como todas as prostitutas são ensinadas a fazer e parecia já relaxada.

— Sim. – Jenny vestia as calças e quase caiu, o olhar lascivo da outra jovem parecia de alguma maneira afetá-la. Como se temesse não conseguir resistir. – Lembra-se do nosso acordo?

— Sim, me lembro. – A morena revirou os olhos com a mudança de assunto.

— Ótimo!

Por fim, ela alocou os cabelos dentro da boina velha e se virou para a outra menina que ainda estava na cama. Sem delongas, era dirigiu-se até a janela e deu uma boa olhada para verificar se alguém poderia vê-la.

— O que está fazendo?

— Não se esqueça do acordo e boa sorte.

Jenny olhou para a rapariga uma última vez e lhe cedeu um sorriso que poderia ser interpretado de inúmeras maneiras. A loira precipitou-se para fora e agarrando-se nas brechas que encontrou na parede do edifício desceu até o solo. Mantendo os modos de um rapazote, seguiu até o centro da rua sem chamar atenção e tudo parecia bem até uma mão agarrar fortemente seu braço direito.

— O que esteve fazendo no Moinho Vermelho a madrugada toda?

Bonny falava baixo, próximo aso seu ouvido. Não trajava roupas masculinas, mas escondia bem as silhuetas com uma capa que lhe cobria do pescoço até o quadril, presa por cintos na cintura e escondendo pequenas bolsas nas laterais do corpo. Seu manto de Assassina.

— Dormindo.

A ruiva se aproximou, quase a ponto de beijar a orelha dela e inspirou repetidamente.

— Você está cheirosa. Não esteve só dormindo.

— Tomei um banho.

— O que já é mais do que o seu pai fazia

Elas riram e a ruiva deixou para lá os detalhes da noite da mais nova, o que quer que tenha feito, estava feito.

— Tenho mais informações e um plano em mente.

— Vamos para o Gralha então.

Sexta-feira logo veio recebê-las e visivelmente passou a noite acordado a espera delas. Aparentemente o rapaz estava cansado demais para perceber a pele limpa e cheirosa da amiga. O trio foi para a cabine do capitão e querendo não dar brechas para possíveis perguntas que requereriam respostas constrangedoras, Jenny tratou de compartilhar o que descobriu na noite anterior e ambos escutaram atentos.

— E como é o seu plano? – Questionou Bonny que tinha as pernas apoiadas sobre a mesa enquanto permanecia sentada logo atrás desta.

— Uma luta. Sexta-feira pode desafiar o príncipe e tenho certeza que será mais do que capaz de vencê-lo. E após a derrota a escolhida para tratar do Príncipe será você e assim poderemos entrar no palácio.

— Como assim poderemos? – Sexta-feira estava de pé e com os braços cruzados e o cenho franzido.

— Dois guardas acompanham o Príncipe a noite, posso dar um jeito em ambos e pegar suas roupas.

— Não podemos fazer isso, Jenny. – Ane suspirou e retirou os pés de cima do móvel.

— Não posso desafiar o Príncipe. – Sexta-feira relaxou os braços e fitou a jovem que alternava entre olhar para ele e para a ruiva. – O que acha aconteceria se um negro batesse no Príncipe de Portugal?

— Será uma luta justa e ele não nega desafios a ninguém. – Ela contestou para Sexta-feira.

— Não existe justiça para negros, Jenny. – Ele se aproximou da amiga com a expressão complacente.

Se uma resposta para dar ou melhores idéias para sugerir,  Jenny permaneceu calada. A menina que há pouquíssimos minutos propunha com a empolgação de uma criança se apagou e deu lugar a alguém velho demais e decepcionado demais com o que tinha ouvido. - Seu amigo, John, ele não estaria interessado em uma vingança?

Jenny olhou de Sexta-feira para Bonny e por fim respondeu. – Irei falar com ele.

— Bom... – Concluiu Ane ao se levantar. - Melhor descansarmos por hora.

A Kenway e Sexta-feira deixaram a ruiva e foram para o convés inferior, onde estavam as redes usadas pela tripulação para dormirem. A maioria estava vazia, o que rendia silêncio para o casal descansar. O rapaz logo caiu em um sono profundo, mas a loira permaneceu com os olhos aberto. Estava descansada e sua mente não parava de pensar em Paul e em quão perto ela estava de um dos bandidos que invadiram sua antiga casa. Ela não podia culpar Sexta-feira e nem sua mentora, pois ela bem sabia que encontrar e alcançar os responsáveis pela morte do pai seria tarefa árdua e demorada.

De súbito ela levantou-se e confirmou se seu amigo estava mesmo dormindo, o ronco de Sexta-feira foi o suficiente para lhe confirmar isso. Com passos silenciosos ela deixou o convés, antes de partir deu uma espiada dentro da cabine mestra e viu Bonny adormecida. O velho Owel estava de pé na proa da fragata, um dos remanescentes da tripulação de Edward. Um homem do mar que tinha o respeito de todos a bordo, inclusive de Jenny e foi com uma desculpa fajuta dada ao velho que ela deixou o Gralha e voltou para as movimentadas ruas de Lisboa. Com uma chuva eminente ameaçando despencar, todos pareciam apressados em terminar seus assuntos a céu aberto.

Jenny que ainda estava vestida como James, caminhava sem pressa e sem rumo, observando e ouvindo o que podia. Chegando a uma praça que ela não havia estado antes, encontrou uma igreja. De arquitetura típica dessas construções, uma torre com um sino alto tentava perfurar as nuvens carregadas e com todos ocupados demais em suas próprias obrigações, ela seguiu para os fundos do local e sem maiores dificuldades içou-se pela parede até o telhado.

Como se fosse um castigo divino per perturbar local de tamanha santidade, a garoa surgiu fria e de mau humor. Fazendo as pessoas abrigarem-se sobre toldos, dentro de lojas ou onde mais pudessem obter um mínimo de proteção da água. Mas a Kenway estava acostumada a tempos ruins e continuou a escalar a torre, com mais cuidado, até chegar acima do sino velho. Alguns pombos abrigavam-se ali, mas não ela que permaneceu de cócoras no ponto mais alto das redondezas, observando fixamente o Palácio do alto da colina mais a leste. Lá estaria o Príncipe, estaria Marquês de Pombal, o Rei e Paul.

A chuva tornava-se mais forte à medida que entardecia, mas como as gárgulas que nasciam apenas para perpetuarem nos topos das igrejas, estava Jenny observando cada entrada do palácio, contando os soldados que faziam a rondam, contando o tempo entre cada ronda, contando os pontos cegos, os servos que iam e vinham, as carruagens que iam e vinham com mercadorias e deduzindo em qual arbusto ela poderia encontrar um bom esconderijo. Qual janela a levaria até seu alvo? Como, poderia ela encontrar um homem dentro daquele local grandioso?

Por meses ela se imaginou frente a frente com os lacaios templários que invadiram a mansão Kenway três anos atrás. Por horas ensaiou o que lhes diria, como jogaria todo seu ódio e rancor sobre eles e lhe diria que ela era filha de Edward James Kenway e que estava ali para cobrar o sangue de seu pai derramado. Quanto tempo perdeu ao se imaginar uma Assassina tal qual seu pai fora e agora, no limiar de encontrar apenas o primeiro deles, não tinha certeza se iria conseguir simplesmente lhe tirar a vida.

Foi a primeira vez que ela sentiu o peso do fracasso, o real fracasso, sobre suas costas. Estavam ela, Sexta-feira e Ane em Portugal sem um plano de ação. Tudo o que tinha conseguido fora uma bagunça na Cavé e uma noite em um bordel. Foi ali que Jenny concluiu que havia se iludido ao se imaginar uma Assassina. Ela era apenas uma menina que sabia escalar, correr, saltar e se esconder. Desiludida, a Kenway desceu da torre e depois desceu do telhado.

Estava encharcada, suas roupas já não escondiam bem os seios ou a cintura fina e os cabelos pesados escorreram para fora da boina, mas afogada mais em em suas aflições do que na água, nem percebera o ocorrido e simplesmente andou de olhos fixos no chão. Andou, andou e andou. Não sentia fome, cansaço, frio ou calor e ela poderia ter continuado assim até retornar ao Gralha se alguém não tivesse parado a sua frente e lhe bloqueado o caminho.

— James?

Jenny ergueu a face e para seu espanto viu John a observando dos pés a cabeça com o cenho franzido. A água da chuva havia lavado James e deixando apenas a menina. Poucas foram as vezes que a loira gaguejou na vida e aquele momento foi um destes.

— J-John... Oi.

Os olhos dele passaram de confusos para raivosos e tão logo Jenny notou que seu disfarce havia literalmente ido por água abaixo.

— Você me enganou. Mentiu pra mim.

— John, por favor, deixe-me explicar...

— Eu achei que você era um amigo. Um bom camarada e eu era grato a você porque me ajudou, mas você estava o tempo todo me enganando.

— Sou menos merecedora de sua gratidão por ser mulher?

— Não. Mas não é merecedora de minha confiança e nem do meu tempo. Passar bem!

John passou por ela a passos pesados, fazendo respingos de lama salpicarem sobre as pernas dela e antes que ele pudesse se afastar demais ela se virou.

— John! Espere! - Ele parou e se virou para encarar a farsante, com as gotas a lhes fustigar a pele e retinir nas pedras e poças que se formavam pelo chão. – Preciso da sua ajuda.

— Eu nem sei quem você é... Por que deveria te ajudar?

— Meu nome é Jennifer Scott Kenway, filha de Caroline e Edward James Kenway. Por favor, vamos conversar e eu lhe explicarei tudo.

John permaneceu parado, olhando para os olhos azuis dela. Mais pareciam um par de loucos parados sob a chuva e completamente molhados. Todo o seu ser gritava para não confiar nela e ir embora, acabar ali com qualquer amizade que ele nutriu por James, mas indiferente se era James ou Jennifer, ela o havia salvado e cuidado dele quando ela nada o devia e no fundo John ainda era um homem de coração mole.

— Ao menos saíamos dessa chuva, preciso de uma boa cerveja.

Ele sinalizou para que ela o seguisse e assim ela fez assim que virou-se de costas e caminhou por algumas ruas estreitas até achar uma taberna suja o suficiente para lhe conceder alguma privacidade. Atrás do balcão um velho português com seu bigode grosso e grisalho trazia da cozinha uma panela de guisado que o olfato de John identificou com prontidão como bacalhau. O marinheiro sentou-se em uma mesa afastada e pouco iluminada, fez a mensura de uma porção do ensopado para ele e para Jenny e assim que servidos ele começou.

— Espero que tenha dinheiro, porque não pago mais nada a você.

Jenny olhou ao seu redor e contou meia dúzia de almas vivas no recinto, todos distantes o suficiente para lhe dar liberdade. Ela limpou a garganta e o respondeu.

— Dinheiro não é o problema, John.

— Você engana estranhos para lhe roubar depois? – Ele levou uma colherada na boca e olhou de forma provocadora, não havia dúvidas que ainda estava chateado.

— Não vou negar que quase peguei as moedas do seu bolso naquela noite, mas não fariam muita diferença pra mim. – A Kenway sentiu o estômago apertar quando farejou o maravilhoso cheiro do ensopado e tratou de experimentar a iguaria. – Não estou em Portugal em busca de dinheiro.

— Então o que queres aqui?

— Vingança.  – John arqueou a sobrancelha boa, pois de certo ele não a levava a sério. – Você tem pais John?

— Já os tive, quando mais jovem. Ambos morreram de febre. Por que a pergunta?

— Minha mãe também morreu doente, embora não fosse exagerado dizer que foi culpa do meu avô. Mas este jaz em Bristol. Então havia me restado apenas o meu pai, mas alguns homens invadiram sua casa há três anos e o assassinaram. – Ela levou mais uma colherada a boca e degustou da sopa. - Descobri que um deles está aqui e vim longe demais para voltar atrás.

— Desculpe se não me comoveu, mas homens não invadem casas a esmo. Por que um bando tão grande invadiu a cada do seu pai?

— Porque ele era um pirata, há uns quinze anos. Como eu disse, dinheiro não é exatamente um problema pra mim.

— E por que precisa da minha ajuda para a sua vingança particular?

— Porque o homem que procuro está no Palácio Real e o Príncipe José é meu caminho mais curto até lá. – John a olhou desconfiado por cima da colher embebida de caldo de bacalhau e para conquistar de uma vez por todas ela concluiu. – E porque isso irá te render lucros suficientes para levar Rosa até Gales.


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Notas finais do capítulo

E Jenny falou ou não falou como uma pirata no finalzinho? Ta honrando o sangue rs Eu queria ter escrito mais nesse cap, mas quis deixar gostinho de suspense rs. Será que John vai ajudar ou não? Será que ele vai pedir revanche? Saberemos nos próximos caps.

Falando em próximo caps... Semana que vem tem feriadão UHUL! O que significa que não sei se conseguirei postar, pois eu teria que adiantar a postagem para quarta. Culpem as Olimpíadas. A probabilidade do próximo cap ser pequeno é grande, então talvez eu consiga, talvez não... Enfim. No máximo nos vemos em duas semanas ok? ;) Mil beijos pra vocês!



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