Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 20
Dos Ventos Quentes do Sul


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo maiorzinho conforme o prometido ♥ Espero que agrade.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661108/chapter/20

Assim que Jenny aproximou-se de seu amado Gralha, que pouco se destacava me meio a tantas outras embarcações do porto de Lisboa. E não tardou para que fosse avistada por Sexta-feira que correu em sua direção.

— Onde você esteve? Pusemos todo mundo atrás de você.

A loira não cessou seus passos e fez menos questão ainda de olhá-lo, obrigando o rapaz a segui-la aguardando uma resposta que não vinha.

— Jenny, o que houve? – Ele ínsita, sem entender o porquê daquela atitude que ao seu ver era tão infantil.

— Estive dando uma volta pelo porto, conhecendo o local. – Ela respondeu secamente, demonstrando que não queria prolongar aquela conversa e continuou o percurso até a fragata.

— E por que não me chamou para ir junto? Bonny estava preocupada com você.

O coração dela se apertou ao ouvir aquilo. De certo ela não pensou nas consequências de suas atitudes, o que não era bem uma raridade. Deixando-se levar pela raiva, ela foi embora do navio sem avisar ninguém, mesmo a única pessoa que mais se aproximava de ser sua família hoje, Bonny.

— Irei falar com ela. – Sua voz abrandou-se, mas ela logo virou a esquerda, na doca que dava acesso à rampa do Gralha.

— E quanto a mim? – Sexta-feira a segurou pelo braço e a puxou um pouco forte para fazer a menina por fim parar e o olhar frente a frente.

Jenny o encarou nos olhos e queria expelir tudo o que lhe passava em mente, sentia a vontade de gritar e livrar sua cabeça de todas as dúvidas que lhe tomaram a sanidade há poucas horas, mas ali não era local para isso e havia muitos ouvidos por perto.

— Vamos para o Gralha. – Sem mais ela se virou e rumou para a embarcação que estava há poucos metros de distância a frente de ambos, sacolejando com a leve dança marítima.

Já a bordo, ela cruzou o convés que estava vazio, pois os marujos divertiam-se noite afora pelo porto. Ganhou os degraus que levavam até o nível do timão e esperou que Sexta-feira a alcançasse e ele logo se precipitou em começar a falar.

— O que houve Jenny?

— De onde você é? – Suas palavras eram firmes e seu olhar sustentava a todo instante sua fúria ao encarar sua face sem hesitação.

— Como assim? Eu já lhe contei isso. – Sexta-feira estava confuso com aquela atitude e aquela pergunta tão repentina vindo da amiga que repentinamente estava azeda como uma uva velha.

— Você não me contou nada. Não sei nada de você Sexta-feira, de onde vem, o que estava fazendo quando naufragou, para onde ia ou com quem estava. Enquanto você sabe tudo sobre mim. Não me parece justo essa troca, parece? - Ainda que o tom de sua vez fosse o mesmo ao longo de todas as suas palavras seus olhos eram o espelho do pobre mar revolto em meio a um tempestade.

Jenny suspirou e desviou por fim o olhar de Sexta-feira, como se tivesse tirado um peso que carregava sobre as costas. Doía-lhe pensar que Sexta-feira não tinha plena confiança em si mesmo após tanto tempo e lhe feria ainda mais pensar que ela poderia perder a confiança que nutria por ele.

Sexta-feira deu um passo à frente, tencionou em lhe segurar a mão, mas desistiu no último instante e com uma expressão triste na face fechou os olhos e se rendeu.

— Luanda. - A Kenway ergueu os olhos e o fitou. – É assim que o meu povo chama o local onde nasci. – O rapaz desviou o olhar para o oceano que àquela hora era negro com leves ondas a passear pela superfície. 

— Onde fica?

— Ao sul. No litoral africano. Os portugueses chegaram lá antes mesmo de chegarem ao Brasil.

— Por isso aprendeu a falar português... – A loira parecia ponderar sobre a recente descoberta, mas sua curiosidade aflorava-se ainda mais - Foi sua primeira língua? – Ele lhe negou com a cabeça antes de continuar.

— Kimbundu. Essa é minha língua natal e que aprendi quando mal sabia andar. Eu tinha oito anos quando os portugueses chegaram e me levaram embora. – Sexta-feira apoiava os braços sobre o parapeito do gralha e inclinado a frente parecia de alguma maneira tentar enxergar sua terra natal.

— Já esteve aqui antes não esteve?

— Foi o primeiro local em que estive quando deixei Luanda. Depois Espanha e até mesmo no Brasil. Foi lá que tudo aconteceu. – O rapaz respirou fundo, fechou os olhos por um breve momento e por fim tomou fôlego para continuar. - Há cinco anos, eu estava no Brasil e Crusoé embarcou no navio que voltava para Portugal. Ele ia seguir para a  Inglaterra a partir daqui. Mas uma tempestade enfureceu o mar logo nos primeiros dias da viagem, nosso mastro principal quebrou e o vento levou algumas das nossas velas. Sem controle algum do barco, a proa colidiu-se em um coral e o casco quebrou. Quando a tempestade acabou o navio não passava de pedaços de madeira boiando.

— E somente você e o Crusoé sobreviveram? – Sexta-feira olhou para ela e por instantes o único som entre eles era puramente das ondas e tornou a observar o oceano.

— Se mais alguém sobreviveu, não o encontrei... – Ele suspirou e deu as costas para o mar passando a acompanhar o movimento do porto. – Há três anos construímos uma jangada e resolvemos partir. Foi quando Adewale nos encontrou e o resto você já sabe.

Quando Jenny abriu a boca para falar qualquer coisa passos ecoaram na escada de madeira e logo a silhueta de Bonny se aproximava dos dois com uma expressão pouco amigável. Ela se conteve no topo da escada e segurou sua cintura com as mãos, exatamente como uma mãe faria ao repreender sua cria.

— Jenny! Onde você estava? – A Kenway sorriu e se aproximou da ruiva que ainda trajava roupas masculinas. – Por que desapareceu assim?

Ambas tinha praticamente a mesma altura o que de certo modo tornava Anne menos intimidadora aos olhos de Jenny do que a mais velha intencionava ser.

— Que bom que chegou, tenho boas notícias.  – A ruiva arqueou a sobrancelha diante da atitude da menina, mas não desfez o semblante sério. – Descobri coisas interessantes na minha volta pelo porto.

— E o que seria? – Sexta-feira cruzou os braços e voltou a sorrir como sempre fazia, deixando para trás todas as tristes lembranças do seu passado.

— Um membro da realeza se diverte pelos pubs da cidade em busca de diversão e libertinagem. – A filha de Edward respondeu com certa euforia na voz, certamente feliz em ter conseguido tamanha informação em tão pouco tempo com os pés em solo firme.

— Que membro da realeza? – Sexta-feira se aproximou enquanto Bonny permanecia em silencio ouvindo todo o relato da jovem. 

— Príncipe Joseph. Ele gosta de participar de lutas, mas parece ter um ego nas alturas e por isso não admite derrotas. – Os olhos de loira alternavam entre Sexta-feira e Anne a espera da reação de ambos com sua pequena conquista, resumindo os acontecimentos daquela noite.

— É José. – Corrigiu Sexta-feira quanto à pronúncia correta do nome em português e a amiga fez uma careta em desagrado.

— Como você descobriu isso Jenny? – Por fim a assassina se pronunciara ao dar as costas para os dois e voltar a descer os degraus.

— Vi uma luta dele. – A garota a seguia e logo atrás tinha seu amigo no encalço. – E John me contou sobre as armações.

— Quem é John? – A ruiva esboçou um pequeno sorriso pelo canto dos lábios enquanto esperava pela resposta.

— O último adversário de José. – A aprendiz esforçou-se para pronunciar corretamente o nome do príncipe de Portugal e evitar mais comentários de Sexta-feira. – O encontrei desacordado em um pub aqui perto.

Anne adentrou à sua cabine sendo seguida pelos jovens, rumando diretamente para a mesa no centro do espaço que continha um mapa da área que Jenny deduziu ser Portugal ao se aproximar do mesmo. A mais velha contornou o mapa e ficou de frente para o casal, mas seus olhos prendiam-se ao papel esticado sobre a madeira.

— O príncipe gostar de uma farra não facilita muito nosso trabalho. Paul certamente estará abrigado dentro da moradia da realeza ou no mínimo em alguma boa residência digna de nobreza. Com guardas, muros e grades provavelmente. Mas primeiramente temos que localizar nosso alvo. – Ela cruzou os braços a frente do busto e sorriu. – Tratem de descobrir onde será a próxima luta de José e eu cuidarei do resto depois.

— O que você vai fazer? – Jenny e Sexta-feira permaneciam do outro lado da mesa, o rapaz estava atento ao mapa diante de si.

— O que eu faço de melhor. Conseguir informações. Mas por hora creio que o melhor que possamos fazer será descansar. – Seus dedos tratavam de enrolar o mapa sem tirar o foco dos seus olhos de cima do casal à frente. – Amanhã iniciaremos a nossa busca.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, não há fatos históricos a serem esclarecidos hoje. Mas quanto a história do Sextinha. No canon, ele é sulamaricano e não africano. Crusoé e ele não estavam no mesmo barco, ele chegou tempos depois, seria sacrifício de algum ritual indígena, mas o Crusoé o salvou. ganhou o nome de Sexta-feira, porque o Robson era pouco criativo e no dia que se conheceram era uma sexta-feira.

OBS.: Luanda é/era uma região da Angola e Kimbundu é uma língua usada até hoje em certas regiões da Angola.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Assassin's Creed: Omnis Licitus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.