Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 17
Battleship




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Aquela sem dúvida foi a mais longa viagem que Jenny fizera em sua vida, o tempo nunca pareceu correr tão lentamente quanto nos últimos dias. Mesmo quando fora encontrar seu pai pela primeira vez, e a distância era certamente maior. Jenny comia uma banana que trouxera de Tulum enquanto arrumava o armazém bélico. A menina foi pega de surpresa quando um marujo desceu as pressas os degraus de madeira que levava ao compartimento de canhões e balas.

— Preparar canhões! Temos um alvo. – O pirata mancou até as balas de canhões enquanto Jenny o fitava estupefata.

— Quem é o nosso alvo?

— Canhoneiras. Três delas. Devem ser vigias. – Ele sorria alegre enquanto separava balas.

Mais marujos chegaram ao local e a Kenway decidiu subir até o convés. Ela sabia que estavam perto de território português e que haveria outras embarcações. Mas não sabia que haveria saque. Ela caminhou contra a pequena multidão de homens que estavam novamente empolgados com um pouco de ação. Seus ombros esbarravam nela durante o percurso até o timão, local onde estava Bonny.

— Melhor arranjar uma arma melhor do que a espada enferrujada de Al. - Mesmo a ruiva tinha alegria em sua voz, o vento estava favorável e fazia suas madeixas ruivas dançarem sobre seus ombros. – Vá até à cabine e pegue algo melhor. Homens! A estibordo!

Um homem de meia idade subiu ofegante os degraus que levavam ao nível do timão e agarrando-se ao corrimão dirigiu-se à capitã.

— Devemos usar os morteiros, capitã?

— Não será preciso Owel. – Ela sorriu ao homem de forma confiante. Era uma capitã inspiradora de fé. Por fim ela olhou mais uma vez para Jenny. – E você ande logo! Ache uma arma e volte para aprender como lutar em alto mar.

A Kenway assentiu e se virou, descendo a escada o mais rápido que seus pés conseguiam. Logo ela abriu a cabine e se fechou lá dentro. A princípio ela deu uma boa olhada em todo o cômodo, sem sai do lugar. Havia uma cama, uma mesa com um mapa sobre a mesma, um baú de roupas, uma pequena miniatura do Gralha a sua direita, um espelho a esquerda e um candelabro com velhas. Só então, depois de muito tempo ela se recordara que quando partira com Bonny, sua zarabatana ficou no Gralha enquanto ela ficou em Tulum. A jovem se adiantou até o baú de roupas, levantando sua tampa e jogando todas as peças dali para fora, até que por fim, no fundo do baú ela a encontrou. Mas havia um problema crucial, ela não tinha dardos. Não trouxera com ela de Tulum e nem mesmo se lembrava daquela zarabatana. Talvez Sexta-feira tenha trago, apesar do mesmo não apreciar armas de longa distância.

Jenny bufou de decepção consigo mesmo com a zarabatana nas mãos. Tencionou sentar-se na cama ao lado, mas assim que encostou o traseiro sobre o travesseiro sentiu algo duro. Ela ergueu-se e se virou para levantar o travesseiro. Havia duas facas ali. A Lâmina era fina, curta e polida. Bonny cuidava delas bem e por hora aquilo teria que servir. Ela prendeu uma em cada lado da calça e rumou para o convés.

— Jenny! Se apresse e suba aqui! – A Ruiva gritou segurando o timão.

A filha de Edward subiu, fazendo o caminho que o próprio fizera tantas vezes. Seu coração batia a mil e seus pulmões trabalhavam para abastecer seu corpo de oxigênio. Ela estava tão ansiosa quanto qualquer homem ali.

— Preparar mira! Ao meu comando, homens! - O Gralha estava a favor do vento e contra o sol. Ainda que estivesse bem próximo das canhoneiras, seria difícil ter uma mira completamente precisa. – Fogo!

— Fogo! – Os homens repetiram levantando suas espadas para o alto.

Os canhões rugiram sobre o solado de madeira e o impulsivo fez o Gralha dar um pequeno sacolejo. A leva de balas afundou de uma vez uma das canhoneiras. A segunda fora atingida de raspão no mastro principal, mas este não aguentara e caiu no mar.

— Jenny! Vá para o Giratório e faça mira. – A garota olhou a ruiva por um instante, ainda sem acreditar que recebera uma missão tão específica e de expressão. – Vá, antes que percamos posição.

A Kenway guiou-se até o canhão a sua direita. A arma era pequena e de fácil manuseio, seu alcance era de até 180º. As balas não eram pesadas e a jovem conseguia carrega-la mesmo com pequeno esforço. Ela endireitou o canhão na mesma reta que a canhoneira danificada e acendeu o pequeno pavio. Quando a chama se explodiu dentro da arma o retorno da mesma derrubou Jenny no chão. A bala não alcançou o alvo, caindo no meio do oceano. Contudo, a canhoneira teve tempo de mirar e acertar uma leva de tiros no casco da fragata.

— Só acerta salmão! – Um homem gritou do convés.

A jovem se levantou xingando bons palavrões de piratas e ajeitou as roupas do corpo. Anne continha o riso enquanto comandava o timão.

— Mais uma tentativa. – A ruiva disse para a garota.

Desta vez Jenny carregou, e mirou com calma, fechou o seu olho direito, esperou pelo vento mais forte e acendeu o pavio. Seus dedos agarram-se ao canhão e ela não caiu. A bala zuniu e desta vez o alvo fora atingido, não em cheio, mas foi o suficiente para danificar a pequena embarcação e afundá-la.

Gritos de comemoração ecoaram por todo o Gralha entre Viva a Jenny! Ou viva a filha do Capitão!

— Capitã! O terceiro está fugindo! – Sexta-feira gritou de dentro do caralho*.

— Preparar canhões de perseguição! Vamos mostrar a esse portugueses que ninguém foge do Gralha!

Os marujos cheios de adrenalina esbravejaram. Orgulhosos do navio que defendiam e de sua capitã. Bonny girou o timão a bombordo enquanto alguns homens abriam as velas auxiliares para ganharem tempo na perseguição. O vento não estava mais a favor e o sol ia descendo aos poucos. Logo seria noite e eles precisavam chegar a Portugal.

— Capitã! Temos alcance do alvo! – Sexta-feira informava do ponto mais alto do navio.

— Fogo!

Os canhões de perseguição tinha munição especial. Em um único tiro duas bolas eram cuspidas, mas essas bolas eram presas entre si por correntes grossas de ferro. Em geral eram usadas para quebrar mastros e consequentemente diminuírem a velocidade do alvo que foge. Mas nesse caso a canhoneira é pequena demais para resistir a um ataque desse tipo, mastro e embarcação foram destruídos e reduzidos a madeira.

Os tripulantes comemoravam já com o rum na mão. Gritavam o nome de Bonny e do Gralha, uma pequena festa para aqueles homens. Mas a alegria foi repentinamente quebrada.

— Capitã! Embarcação inglesa a vista! É um brigue e vem na nossa direção.

Os homens se calaram, entreolharam-se e por fim olharam para Anne que se mantinha firme ao timão. Seu sorriso não se desfez.

— Jenny, prepare o morteiro.

Dois piratas trouxeram munição para Jenny e a ensinaram carregar a arma mais mortal do Gralha. O Morteiro tinha um longo alcance e seu dano era grande se levado em consideração que era apenas um. Se os canhões de perseguição serviam para retardar o inimigo. Alguns tiros de morteiro imobilizava o navio alvo.

— Ao meu comando. Preparem-se. Fogo!

O pavio se foi, assim como o tiro que cruzou o céu até cair no brigue inimigo. Mas os ingleses eram mais versados na arte de batalhas navais do que os portugueses. Jenny não demorou em discernir os pontos pretos que aumentava a cada segundo vindo em sua direção;

— Segurem-se!

A jovem abaixou-se ao lado do morteiro quando o Gralha fora atingido por uma sequência de tiros. As velas auxiliares foram estraçalhadas. O convés sofreu algum dano e ao erguer-se novamente a menina viu o quão perto o Brigue já estava. A embarcação era menor, mais leve e estava a favor do vento.

— Malditos. – Anne segurava firme no timão e antes mesmo de todos os homens se recomporem esbravejou. – A toda velocidade! Vamos quebra-los!

As velas restantes foram abertas para abrigarem todo o vento que pudessem abrigar. Bonny girou o timão com força e o Gralha respondia virando-se para o brigue. Jenny correu até a capitã e ainda ofegante com toda aquela adrenalina proferiu.

— Estamos na reta deles e indo de encontro ao inimigo. –

— Esse é o propósito. Iremos tomar o navio deles.

A Kenway pegou a luneta de seu pai que estava ao lado da assassina e a usou para observar com detalhes os ingleses. Pelas roupas eram todos marinheiros, o capitão estava no timão e era fácil identificar devido à ridícula peruca branca. No convés pelo menos dez homens movimentavam-se de um lado para o outro. Nos níveis abaixo deveria ter mais uma dezena deles. O Gralha por outro lado, tinha meia dúzia de piratas com mais de quarenta anos de idade. Dois noviços, sete homens cuidando dos canhões abaixo e dois no morteiro com ela.

— Estamos em desvantagem numérica, Bonny!

— Seu pai já tomou navio com mais de quarenta homens enquanto ele devia ter umas duas dúzias. Não te preocupas. – A ruiva tragou um gole de rum de uma garrafa velha e empoeirada. – Preparar para o impacto!

Jenny não teve tempo de se segurar. O choque do aríete com o Brigue a levou ao chão. Haviam gritos para todos os lados, ouviu os primeiros tiros e quando notou as cordas já haviam sido lançadas.

— Puxai-vos para um beijo de espadas! – Anne parecia embebecida pela felicidade da batalha.

A jovem viu seus homens invadirem a embarcação inglesa, pendurados pelas cordas das velas e pelos ganchos que se seguravam ao barco inglês. O tilintar de aço contra aço ecoavam aqui e ali. Ela viu Sexta-feira descer do mastro principal e sem pensar duas vezes correu até ele.

— O que devemos fazer? Avançar ou defender o Gralha?

A Kenway não admitiria, mas estava assustada, suas pupilas estavam dilatadas, as mãos suavam demais, o coração havia perdido o controle e as pernas tremiam sem parar. Talvez estivesse tão assustada quanto Al há dias atrás no tempo em que ela o ameaçou.

— Fique aqui. Eu tive uma ideia

Com isso ele a deixou, saltando de um navio para o outro sem dificuldade. No caminho, sua espada perfurou um peito inglês. Bonny acertou um barril de pólvora, matando três marinheiros que estavam próximos. Sexta-feira alcançou o elevador do mastro principal do inimigo e enquanto cortava a corda um jovem se aproximou por trás com espada em punho. Jenny respirou fundo e lançou uma das facas diretamente nas costas do marinheiro. Seu amigo nem mesmo notara sua interferência e já estava no nível do atirador, que fuzilava seus companheiros do alto. Com um soco Sexta-feira o desarmou e o jogou lá do alto, sua arma caiu nas águas junto com o corpo. Ele escalou um pouco mais e chegou à bandeira inglesa. Com cuidado ele cortou a corda que a prendia ao mastro, mas em vez de deixa-la ir, a segurou firme e guardou consigo.

Mais um barril de pólvora explodiu e seguidamente vieram os gritos de vitória. O Gralha venceu a batalha.  Bonny invadiu o brigue e aproximou-se dos sobreviventes. Quatro homens.

— Juntai-vos a nós ou morreis.

Eles abaixaram a cabeça e largaram as armas no convés. Haveria festa, música e rum naquela noite. 


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Notas finais do capítulo

*Caralho no português de Portugal é aquele local onde fica o vigia, é um pouco abaixo de onde fica a bandeia do navio. Aliás o termo vai pra casa do Caralho veio justamente daí, pois ser enviado para ficar de vigia era por vezes um castigo.

A parte deliciosa de escrever essa fic é lembrar da voz do Edward (mentalmente) falando algumas das frases que usei acima. Uma nostalgia linda. Não sei se ficou bem escrito ou claro, mas me esforcei pra não deixar um cap imenso ok? Próximo cap: Portugal!



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