Minhas lágrimas já não cabiam em meus olhos, quando olhei para o lado vi Rafaela satisfeita, enquanto Gil me segurava para não cair. Eu teria quinze dias para recorrer a decisão do juiz de ter dado a tutela de Lorenzo a Rafaela.

Por que o faria?

Lorenzo queria ficar com ela. E a única coisa que eu queria em minha vida era a felicidade dele.

Meu chão caiu quando ouvi ele dizendo isso. Será que eu fazia mesmo diferença entre Julia e ele? Beth já havia me dito isto uma vez, será que era realmente verdade e somente eu não via. Não podia ser verdade, amava Lorenzo como um filho. Ele era meu filho.

— Mas você é minha mãe agora, não? – Indagou me abraçando. – E eu te amarei por toda minha vida.

— Eu também meu filho, te amarei para sempre. – Esclarecendo a garganta, tomei coragem de perguntar. – Se sua mãe aparecesse Lorenzo, iria querer ficar com ela?

Senti os olhos dele perdido no espaço e no tempo. Talvez nunca tivesse pensado que teria de escolher entre nós e a própria mãe. Aqueles pensamentos visivelmente o atordoaram por alguns minutos até que tomasse coragem de responder.

— Eu, eu não sei. Vocês são minha mãe e meu pai agora, e vocês nunca me abandonariam, eu não poderia abandonar vocês. Já ela, bem... Ela me deixou, eu não sei por que, mas me deixou e nunca foi me ver, eu acho que ela nunca voltaria. – Ele suspirou por fim, e demos a conversa por acabado.

Eu tinha certeza que ele me escolheria a mim, porém depois daquilo tudo que ele disse, a única coisa que eu queria era enterrar-me em meu travesseiro e chorar durante todos os dias. Queria muito ele comigo, mas sofreria por toda minha vida se soubesse que ele estava feliz longe de mim.

Passaram-se alguns dias, e durante esse tempo minhas únicas fontes de apoio era Julia e Gil. No trabalho eu era uma zumbi, chegava em casa e fazia tudo no automático. Desde então nem com Gil eu cumpria minhas obrigações mais, e ele não me cobrou isso um dia se quer.

Rafaela e Flávio mantiveram Lorenzo na mesma escola, mas não vieram buscar sequer uma muda de roupa ou o material escolar. Provavelmente haviam comprado tudo novo para o filho, deveriam querê-lo muito, já que Gil não encontrou nada sobre ele. Porém ainda não conseguia confiar totalmente naqueles dois.

Sentada na cama de Lorenzo, olhei aquele quarto. O cheirinho de Lorenzo ainda estava lá, e as lágrimas voltaram a cair.

— Sar. – Gil entrou no quarto e sentou-se ao meu lado.

— Me deixe sozinha, por favor. – Suspirou.

— Não, vou ficar aqui com você.

Por mais que eu insistisse sabia que ele não iria sair, então olhei aquele urso de pelúcia azul velho, e lembrei-me quando dei a Lorenzo, foi no primeiro dia que tinha o visto no orfanato. Ele havia me dito que não era menina para brincar com ursos, mas ainda sim ficou com ele, e quando o adotei trouxe para casa junto. Peguei o urso na mão e senti seu cheiro nele, porém quando o apertei, senti um barulho, como de um papel sendo amaçado.

Em um vão debaixo do boneco, consegui tirar uma folha de caderno da hot whells que eu havia comprado para esse ano, abri a mesma e comecei a ler. Não tinha como acreditar no que eu estava lendo.