Eu tinha visto em um filme uma vez, que às vezes a gente se sentia mal por fazer o que estava certo. O filme era de verdade, eu não podia chorar, e tinha que falar tudo o que tinha pensado em falar.

Meu nariz fungou um pouco. Eu era um homem, um Grissom, tinha que fazer o que era certo, sem chorar.

— Você ouviu isso? – Vovó parecia zangada. – Você sabe que sempre fui contra a adoção. Esse menino é um bastardo, e ainda queria se chamar Gilbert? Eu... Eu não acredito que ele já tem o sobrenome Grissom. – Ela estava muito braba. – Ele nunca vai se encaixar nessa família, ele nunca vai ser um Grissom, e quando Sara e Gilbert descobrirem isso, será tarde demais. Esse menino nunca vai se acertar nessa família. Nunca. – Ela disse por fim. – Ele tinha que ir atrás da mãe dele, onde é o lugar dele, e ficar com ela. Ele seria muito mais feliz, todos nós seríamos.

Se a vovó soubesse o quanto tinha doído ouvir aquilo. E ela nem queria ser minha avó, e isso tinha me deixado um pouco confuso, mas depois tudo piorou. Quando mamãe foi me buscar, ouvi a vovó falando com ela.

— Sara, eu acho muito bonito vocês quererem adotar, mas não acha que isso foi meio precipitado?

— Não, eu não acho. – Mamãe disse rapidamente.

— Por que diz isso mamãe? – Papai fitou-a.

— Me desculpem a sinceridade, mas esse menino nunca fará parte da família, ele sempre vai se sentir diferenciado quanto a Julia que é a filha de verdade de vocês. Ele não passa de um agregado com o nosso sobrenome.

— O que... – Mamãe ficou irritada.

Logo papai segurou mamãe, e ele acabou com a discussão. Eles não viram que eu tinha ouvido tudo, e então fui para a sala com Oscar e Julia.

Depois disso lembro-me de papai e mamãe brigando em casa por minha causa, e mamãe falou mal da vovó. Papai também ficou brabo. No outro dia eles pareciam estar bem, mas depois quando papai disse que ia visitar a vovó vi que eles ficaram estranhos de novo, e mamãe disse que nem eu e nem Julia iriamos junto, e nos levou no parque enquanto papai saiu. Quando papai ligou dizendo que tinha chego, mamãe disse que estávamos comendo doce, mas era mentira, ela nos levou depois de desligar o telefone só.

Quando voltamos pra casa, eles pareceram estar bem, mais unidos do que qualquer outro dia, e eu sabia bem o que tinha que fazer. Nunca mais ficariam brigados por causa de mim.

— Então, quer nos contar? – A juíza me olhou.

— Gil e Sar – os olhei pela última vez – sempre foram muito bons para mim, me deram carinho, atenção, tudo que eu não tinha tido antes.  Me deram muito amor, mas é estranho.

— O que é estranho. – A juíza me olhou.

— Por mais que eles tentem Julia sempre tá em primeiro lugar e eu sei que eles não fazem por mal, ela é a filha de verdade deles e eu quero ser o filho de verdade de alguém também. Eu queria muito ficar com a Rafaela e com o Flávio. Ela é a minha mãe, e é o meu lugar. – Eu tentei não chorar.

— É isso mesmo que você quer?

Eu apenas fiz que sim com a cabeça.